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3. A atribuição do TCU na fiscalização dos requisitos de acessibilidade e de inclusão social

3.5. Fiscalizações anteriores à Lei 13.146/2015

Antes mesmo da instituição do Estatuto da Pessoa com Deficiência pela Lei 13.146/2015, o TCU tomou algumas medidas a fim de promover a acessibilidade e a inclusão das pessoas com deficiência nos órgãos e entidades que fiscaliza.

Desde 2012, as condições de acessibilidade integram o rol de itens de verificação obrigatória no Fiscobras – plano de fiscalização anual que contempla o conjunto de ações do TCU para verificar o processo de execução das obras públicas financiadas com recursos federais. Tal iniciativa constituiu importante ação para garantir que as diversas obras financiadas com recursos públicos federais, espalhadas por todo o país, desde os municípios menores até as grandes cidades, sejam projetadas e executadas em conformidade com os requisitos de acessibilidade indispensáveis à autonomia e segurança das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Essa decisão está formalizada na Ata 39, de 21 de setembro de 2011, da Sessão Ordinário do Plenário do TCU.

A partir do exercício de 2014, um ano antes da aprovação da Lei 13.146/2015, o TCU determinou as suas unidades jurisdicionadas que, ao prestarem suas contas anuais ao TCU por meio de relatório de gestão, informassem as medidas adotadas com o objetivo de cumprir as normas de acessibilidade. A partir do exercício seguinte, as unidades jurisdicionadas que apresentam relatórios de gestão customizados também passaram a ter a obrigatoriedade de apresentar tais informações.

O relatório de gestão mencionado acima decorre da sua competência constitucional de julgar as contas dos gestores públicos, conforme prevê o art. 71, II, da Constituição Federal:

II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público;

Entretanto, apesar de já existir considerável legislação estabelecendo requisitos de acessibilidade e de inclusão das pessoas com deficiência no sistema jurídico brasileiro, o TCU realizou poucas fiscalizações nessa área. No caso da acessibilidade, as normas

jurídicas anteriores à LBI já forneciam aos órgãos de controle critérios objetivos de avaliação, apesar de não obriga-los a realizar tais fiscalizações.

Em 2012, o Tribunal de Contas da União concluiu auditoria de natureza operacional com o escopo de avaliar a acessibilidade nos prédios e serviços públicos dos órgãos e entidades da Administração Pública Federal. Como resultado dessa auditoria, o TCU prolatou o Acórdão nº 2170/2012-TCU-Plenário, no qual fez determinações e recomendações de natureza corretiva aos órgãos e entidades fiscalizados.

A auditoria foi realizada em seis órgãos e entidades públicas que possuíam a maior quantidade de unidades que prestavam atendimento ao público e nas quais havia maior afluxo de cidadãos na busca de atendimento presencial: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Correios), Caixa Econômica Federal (Caixa), Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Secretaria da Receita Federal do Brasil (SRFB) e Defensoria Pública da União (DPU).

Ao se analisar o referido Acórdão, verifica-se que a maior parte das determinações teve como fundamento, exatamente, o descumprimento de dispositivos normativos relativos à acessibilidade. A falta de medidas para a promoção da acessibilidade, como visto, constitui desrespeito às normas legais e infralegais, o que tornou perfeitamente cabíveis deliberações no sentido de determinar ao órgão ou entidade pública o saneamento das falhas apresentadas, sob pena de o gestor público ser responsabilizado com multa caso não as cumpra. Uma das determinações do Acórdão 2170/2012-Plenário foi endereçada à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República para que elabore plano de abrangência nacional “com o objetivo de dotar órgãos e entidades públicas federais de plena acessibilidade”.

Destaca-se que algumas das ocorrências apontadas pelo TCU na auditoria realizada não se referiam ao descumprimento de leis, em sentido lato sensu, mas somente à indicação de melhorias. Nesse caso, o Tribunal fez apenas recomendações aos órgãos e entidades fiscalizadas. A não implementação das referidas recomendações não tem o poder de responsabilizar o gestor público, tendo em vista que não houve descumprimento de nenhum dispositivo legal.

Em outras fiscalizações, o Tribunal de Contas da União não agiu de ofício, mas por provocação por meio de denúncias e representações. De acordo com o art. 53 da Lei 8.443/1992, que dispõe sobre a Lei Orgânica do Tribunal de Contas da União, qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para denunciar

está regulamentada no art. 237 do Regimento Interno do Tribunal de Contas da União, que define que têm legitimidade para representar ao TCU:

I – o Ministério Público da União, nos termos do art. 6º, inciso XVIII, alínea c, da Lei Complementar nº 75/93;

II – os órgãos de controle interno, em cumprimento ao § 1º do art. 74 da Constituição Federal;

III – os senadores da República, deputados federais, estaduais e distritais, juízes, servidores públicos e outras autoridades que comuniquem a ocorrência de irregularidades de que tenham conhecimento em virtude do cargo que ocupem;

IV – os tribunais de contas dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, as câmaras municipais e os ministérios públicos estaduais;

V – as equipes de inspeção ou de auditoria, nos termos do art. 246; VI – as unidades técnicas do Tribunal; e

VII – outros órgãos, entidades ou pessoas que detenham essa prerrogativa por força de lei específica.

Um exemplo de denúncia, com base no art. 53 da Lei 8.443/1992, que foi considerada procedente pelo Tribunal de Contas da União na área de acessibilidade foi acerca do descumprimento do art. 26 do Decreto 5.626/2005 e do art. 47 do Decreto 5.296/2004, que tratam, respectivamente, da obrigatoriedade de prestação de atendimento na Língua Brasileira de Sinais (Libras) pelos órgãos da administração pública, pelas empresas prestadoras de serviços públicos e pelas instituições financeiras em seus sítios eletrônicos e da acessibilidade nos portais e sítios eletrônicos da administração pública na rede mundial de computadores (internet), para o uso das pessoas portadoras de deficiência visual. Por meio do Acórdão n° 505/2016-TCU-Plenário, o Tribunal determinou à Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (SLTI/MP) que tomasse medidas com vistas a cumprir a legislação acima e garantir a acessibilidade das pessoas surdas aos serviços públicos e das pessoas cegas aos portais e sítios eletrônicos do governo.

Há também casos em que a fiscalização teve como base representação, conforme previsto no art. 237 do Regimento Interno do Tribunal de Contas da União. Um exemplo foi a representação formulada pelo Ministério Público de Contas acerca do descumprimento do art. 93 da Lei 8.231/1991 por parte da Caixa Econômica Federal, caracterizado pelo não preenchimento de postos de trabalho por pessoas com deficiência, no percentual mínimo indicado no inciso IV do citado dispositivo legal. O Acórdão 2977/2016-TCU-Plenário determinou que a referida empresa pública passasse a adotar metodologia a fim de verificar periodicamente o cumprimento do percentual mínimo de contratação de 5% de seus empregados, em relação ao total de empregos de seus quadros, conforme disposto no inciso IV do art. 93 da Lei 8.213/1991.

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