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O DOMÍNIO DAS CAATINGAS

2.2 FISIONOMIAS DAS CAATINGAS: FORMAS E FATORES FÍSICOS CONDICIONANTES

Do ponto de vista das variações fisionômicas existentes nas Caatingas, é possível dizer que as fitofisionomias são muito variadas, indo desde florestas aos espaços que se assemelham a savanas secas, embora originalmente predominasse o primeiro tipo, do qual resultou o nome de origem Tupi-Guarani, que significa “Mata clara” ou “Mata branca” caracterizando o aspecto da vegetação na estação seca. Encravados nesses espaços, em algumas situações de altitude e posicionamento em relação às massas de ar úmidas, também é possível encontrar as Matas de Brejo, “ilhas” de Floresta Atlântica beneficiadas por algumas condições de relevo que favorecem maior umidade e consequentemente a existência desse ecossistema em forma de encrave.

A Caatinga é considerada como uma área prioritária para a conservação da biodiversidade, segundo Ministério do Meio Ambiente (GIULLIETTI et al., 2003), devido a sua variedade fisionômica e de espécies ainda não estudadas, configurando-se como um Bioma único no Brasil e no mundo.

De modo geral, a vegetação da Caatinga não possui características uniformes, uma vez que ocorre grande diversidade de espécies e das formas como essas se comportam. Tal diversidade tem na variação de solos, em sua capacidade de acumular mais ou menos água e em algumas características químicas, as suas principais explicações.

Sá et al. (2003) destacam que entre solo e vegetação existe uma forte interação, isso em decorrência das características de haver maior ou menor capacidade de armazenar água no solo, encontrando-se nessa interação grande parte das razões que fazem com que as fitofisionomias das Caatingas sejam tão diversas, já que a quantidade de água no solo constitui um fator essencial para a ocorrência ou não de determinadas espécies.

Apesar da diversidade, podem ser destacadas três características básicas para a Caatinga e que podem estar ligadas a sua delimitação: 1) a vegetação que cobre o Nordeste semiárido, submetida a um clima quente e rodeada por áreas de clima mais úmido; 2) a vegetação apresenta adaptação à deficiência hídrica; 3) presença de espécies endêmicas a esta área e outras espécies que ocorrem nessa área e em outras áreas secas distantes (RODAL e SAMPAIO, 2002).

O trabalho desenvolvido por Andrade-Lima (1981) relacionado às fitofisionomias da Caatinga é um dos mais consultados e respeitados, por sua proximidade maior com o que se observa em campo. Para uma melhor compreensão sobre a estrutura das Caatingas Andrade- Lima (1981) desenvolveu uma classificação com doze tipos de Caatinga, porém o autor destaca que cada tipo não é necessariamente igual em tamanho, valor econômico ou qualquer outro fator. Ressalta ainda, que os doze tipos definidos não ocorrem como unidades distintas com limites definidos, mas passam gradualmente de um tipo a outro.

Andrade-Lima (1981) observou ainda com sua classificação que duas questões são bastante contundentes: 1) os diferentes tipos vegetacionais resultam da integração clima-solo e o número de combinações e, consequentemente, o número de comunidades vegetais é muito alto; 2) as informações sobre as relações entre vegetação e fatores físicos não são suficientemente conhecidas (GIULLIETTI et al., 2003). Desta maneira o autor escolheu definir grandes unidades com um ou mais tipos de vegetação, reconhecendo a possível existência de um número maior de unidades e tipos. Neste caso, foram reconhecidas pelo autor seis unidades, compostas por um ou vários tipos de Caatinga, que no total chegam a doze tipos (quadro 2). As unidades e tipos de Caatinga foram definidos a partir de estudos em campo, não sendo possível o mapeamento destas unidades devido a passagem gradual de um a outro tipo, mesmo alguns tendo sua ocorrência descrita com maior precisão.

Quadro 2 – Unidades de Caatinga proposta por Andrade-Lima (1981). TIPOS DE VEGETAÇÃO UNIDADES DE CAATINGA FISIONOMIA DESCRIÇÃO Tipo 1- Tabebuia- Anadenanthera- I Grupo Caatinga arbórea alta (mata)

Eventualmente esta unidade pode ser considerada como uma mata seca de

Myracrodruon- Cavanillesia- Schinopsis

porte alto, pois a maioria das árvores deixam cair suas folhas nos períodos secos, apresentando-as novamente apenas no retorno das chuvas, em torno de 5 a 6 meses mais tarde.

Tipo 2 - Myracrodruon- Schinopsis- Caesalpinia Tipo 3 - Caesalpinia- Spondias- Commiphora- Aspidosperma Tipo 4 - Mimosa- Syagrus- Spondias-Cereus Tipo 6 - Cnidoscolus- Commiphora- Caesalpinia II Caatinga arbórea média e baixa (mata) e Caatinga arbórea aberta

Esta unidade é uma típica mata de caatinga, caracterizada por um estrato arbóreo pouco denso com alturas variando entre 7 a 15 metros, apresentando muitas espécies espinhosas. O estrato rasteiro frequentemente é esparso e as gramíneas são quase ausentes. Por haver nesta unidade um conjunto de tipos de Caatinga, a variação de altura, densidade e composição é bastante presente. A vegetação classificada nesta unidade é bastante comum em toda parte do nordeste brasileiro, várias das espécies dominantes na unidade I também aparecem como elementos espalhados aqui na unidade II. Tipo 5 - Pilosocereus- Poeppigia- Dalbergia- Piptadenia

III Caatinga baixa (mata) arbórea

A vegetação presente nesta unidade é caracterizada por um porte que varia entre 5 a 7 metros, com galhos delgados e relativamente eretos, apresentam pequenas folhas e folíolos que permitem a penetração da luz com mais facilidade. É uma vegetação muito restrita às áreas de solos arenosos no centro sul de Pernambuco (tabuleiro Moxotó) e norte da Bahia. Tipo 7 - Caesalpinia- Aspidosperma- Jatropha Tipo 8 - Caesalpinia- Aspidosperma Tipo 9 - Mimosa- Caesalpinia- Aristida Tipo 10 - Aspidosperma- Pilosocereus IV Caatinga arbustiva de alta a baixa

Determinar se esta unidade é natural ou induzida pelo Homem é uma tarefa difícil; ela ocupa uma grande área e pode ser encontrada em todas as partes do domínio das Caatingas. Tipicamente ela cresce em solos derivados de granitos, gnaisses e xistos, com pluviosidade anual entre 250 e 800 mm, distribuídos entre 4 a 5 meses. A vegetação arbustiva torna-se densa onde os solos são fofos e profundos e têm alguma capacidade de armazenamento de água. Apenas algumas espécies podem ser usadas economicamente como madeira ou combustível.

Tipo 11 - Calliandra-

Pilosocereus V

Caatinga arbustiva baixa

Esta unidade cobre pequenas áreas dispersas nas caatingas, necessita de uma combinação de baixa pluviosidade (350 a 400 mm), períodos secos prolongados (8 a 9 meses), solo pedregoso ou solo arenoso raso e uma superfície plana ou levemente ondulada.

Tipo 12 - Copernicia- Geoffroea-Licania

VI Mata de palmeiras em várzea de Caatinga

Esta unidade também apresenta limitações, é uma vegetação característica de mata ciliar ao longo dos principais rios com curso em direção norte. Trata-se de uma mata de palmeiras que crescem melhor em solos aluviais, encharcados na maior parte do ano, porém em regiões com umidade do ar muito baixa. Em lugares que isto não ocorre, a cera que cobre a superfície da folha não é produzida.

Fonte: Adaptado de Andrade-Lima (1981); Prado (2003); Giullietti et al. (2003)

Autores como Prado (2003) e Giullietti et al. (2003) se utilizaram da classificação de Andrade-Lima (1981) no desenvolvimento de vários dos seus trabalhos, porém considerando a existência de outras espécies não classificadas naquele momento.

Em relação a grande diversidade de plantas, Duque (2004, p. 63), destaca que:

A caatinga, de onde saíram essas plantas, é um complexo vegetativo sui generis, diferente das associações vegetais das outras partes semiáridas do mundo; ela é um museu de preciosidades, um laboratório biológico de imenso valor, que urge ser preservado como fontes de espécies botânicas para estudos e aproveitamentos futuros em beneficio dos brasileiros e da humanidade. Essa flora da caatinga demorou milênios de evolução para atingir o estado atual de adaptação e para adquirir as propriedades fisiológicas e de elaboração dos produtos variados.

Na Caatinga, as plantas não têm características uniformes, mas cada uma destas, associadas aos fatores ambientais que afetam a sua presença, são distribuídos de maneira que suas áreas de ocorrência tem um grau de sobreposição razoável. Assim, é possível identificar áreas nucleares, onde um número maior das características consideradas básicas se sobrepõem, e áreas marginais, onde este número vai diminuindo até os limites com as áreas onde as características das plantas e do meio definem outro tipo de vegetação e Bioma (SAMPAIO e RODAL, 2000). Esta não é uma forma convencional de classificação, mas tem

ficado implícito nos trabalhos que buscam desenvolver uma classificação da vegetação de Caatinga.

Conforme foi destacado anteriormente, os solos exercem papel fundamental no estabelecimento dos tipos de Caatingas. A seguir, destacaremos esse elemento natural e as influências diretas nesse tipo de vegetação.