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O centro de reabilitação escolhido para esta pesquisa presta atendimento a pacientes desde o nascimento até a terceira idade; reabilitando, adaptando e reintegrando à vida social e familiar indivíduos com paralisias e disfunções causadas por hipertensão, diabetes, acidentes de trânsito, acidentes de trabalho, mergulho, doenças da coluna, meningite, parto com intercorrências, gravidez de alto risco, dentre outras.

O atendimento na instituição é feito através de encaminhamento fornecido por profissionais da área médica que atendem na rede pública conveniada ao SUS. No centro de reabilitação o paciente é encaminhado e atendido em unidades de trabalho específicas, de acordo com a sua patologia e disfunção:

- Unidade de Trabalho Ambulatorial – UTA: tratamento de fraturas, traumatismos, pré e pós operatórios ortopédicos e doenças ortopédicas agudas, crônicas e degenerativas;

- Unidade de Trabalho Neurológica Adulto e Infantil – UTNAI: tratamento de seqüelas de derrames, traumatismos cranianos, paralisias encefálicas e de crianças com atrasos no desenvolvimento total;

- Unidade de Trabalho de Prótese e Órtese – UTPO: confecciona aparelhos para auxílio na locomoção, sustentação e correção dos membros (superiores e inferiores amputados), coletes, confecção de aparelhos que facilitem as atividades de vida diária dos pacientes, efetua a doação de meios auxiliares de locomoção, tais como: muletas, cadeiras de rodas, cadeiras higiênicas; efetua também a concessão de próteses mamárias e coletores urinários de perna;

- Unidade de Trabalho de Internação – UTI: atende seqüelas de derrames recentes, pós-operatórios e traumatismos de coluna e crânio;

- Unidade de Trabalho de Reabilitação Comunitária – UTRC: atende doenças ou acidentes com incapacidades permanentes de longo tempo, faz orientações e visitas domiciliares, avaliação diagnóstica auditiva, tratamento clínico, seleção, adaptação e fornecimento de aparelho de amplificação sonora individual, acompanhamento e terapia fonoaudiológica.

As unidades de trabalho e tratamento são compostas por equipes multidisciplinares nas áreas de Fisiatria, Clínica Geral, Pediatria, Urologia, Otorrinolaringologia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Psicologia, Serviço Social, Enfermagem, Musicoterapia, Nutrição, Educação Física, Odontologia, Protetização e Ortetização.

Nesta pesquisa, o ambiente de estudo escolhido para a coleta dos dados foi a Unidade de Trabalho Ambulatorial (UTA). A UTA tem a missão de promover e executar o atendimento institucional a pacientes portadores de patologias traumato- ortopédicas e reumatológicas, visando prevenir, diagnosticar, orientar e definir metas de

tratamento reabilitacional desenvolvendo suas potencialidades, por meio de um programa de atividades em equipe multidisciplinar, reintegrando-os à família e a sociedade.

São elegíveis ao atendimento deste serviço, pacientes a partir de 12 anos de idade, portadores de patologias traumato-ortopédicas e reumatológicas, com prognóstico de reabilitação, sendo a prioridade verificada através do Risco Reabilitacional (questionário que define a prioridade para o atendimento com base no grau de disfunção de cada paciente).

A triagem é realizada pela seguinte equipe: médico fisiatra, fisioterapeuta, psicólogo e assistente social. Neste processo é definido para qual dos programas oferecidos pela UTA o paciente será encaminhado.

Durante o processo de triagem, antes do início do tratamento propriamente dito, os pacientes assistem a uma palestra com os profissionais da equipe de saúde. O objetivo da palestra é informar as funções de cada profissional na equipe, os tipos de tratamento e abordagens fisioterapêuticas disponíveis na UTA, assim como enfatizar a importância da participação ativa do paciente no processo de reabilitação e sua responsabilidade no sucesso do tratamento.

Cada fisioterapeuta do setor atende 25 pacientes por dia em média, totalizando cinco pacientes por hora para cada profissional. Dessa forma, a rotatividade do setor gira em torno de 100 a 150 pacientes por dia, visto que normalmente são três fisioterapeutas atendendo em cada turno.

Os pacientes participantes desta pesquisa estavam em atendimento no ambulatório da UTA. Os profissionais entrevistados atuam junto à UTA, ligados direta ou indiretamente ao tratamento fisioterapêutico, por meio do trabalho multidisciplinar proposto pela unidade.

O trabalho multidisciplinar nem sempre fez parte do contexto de atendimento na fisioterapia da UTA. A implantação do trabalho em equipe ocorreu com o passar dos anos, envolvendo a inserção dos demais profissionais como psicóloga, nutricionista, educadora física, terapeuta ocupacional, musicoterapeuta e massoterapeuta. A equipe inicial contava com a presença dos médicos, fisioterapeutas e da assistente social. Destes envolvidos na assistência ao usuário do centro de reabilitação, apenas o médico não participa das reuniões semanais de equipe, o que é motivo de insatisfação junto aos demais profissionais.

Quando eu cheguei no CREFES não tinha esse trabalho multidisciplinar, hoje conseguimos reunir quase todos os profissionais da equipe, o médico não participa das reuniões, ainda não é o ideal, mas para o paciente é o melhor que se pode oferecer, ele é tratado por uma equipe (PF01).

O processo de inserção da fisioterapia no centro de reabilitação foi pontuado como lento, já que a princípio, o atendimento era realizado por técnicos em fisioterapia. Nesta época, os fisioterapeutas do setor apenas supervisionavam o trabalho dos técnicos e eram impossibilitados de prescrever, tratar ou dar alta aos pacientes. Essas funções ficavam sob a responsabilidade do médico. A conquista por mais espaço de atuação na instituição foi percebida como um trabalho cansativo, demorado, mas que se tornava gratificante à medida que o reconhecimento da profissão acontecia por parte da equipe médica.

O fisioterapeuta no início aqui no CREFES não tinha nenhum respaldo como profissional, os técnicos é que executavam as atividades que eram nossas, com o tempo

o nosso primeiro ganho foi em nível de prescrição e atendimento. Os médicos não nos viam como fisioterapeutas (PF03).

A organização da instituição, dividida em setores e ambulatórios de atendimento, tem a preocupação de seguir uma filosofia multidisciplinar, oferecendo aos pacientes um suporte de atendimento que integre vários especialistas e profissionais de diferentes áreas de atuação. No entanto, a prática revela um panorama de desajuste deste processo, que pode estar relacionado às altas demandas pelos serviços oferecidos contando com poucos profissionais para muitos pacientes; além de desajustes no que se refere às falhas de comunicação entre os profissionais e os pacientes, e entre a própria equipe.

Sabemos que existe toda uma política de saúde que nos orienta a oferecer um trabalho multidisciplinar, mas veja só, como eu posso atender 05 pacientes por hora, não ter tempo de reunir os profissionais adequadamente e nem ter incentivo em qualificação aos terapeutas, e ainda assim, dizer que existe multidisciplinaridade? As vezes parece piada... (PF01).