• Nenhum resultado encontrado

3.1. Bacia hidrográfica do rio São Francisco

3.1.4. Fitogeografia e Fauna

Um tema muitas vezes esquecido, mas de grande relevância, é relativo à manutenção da biodiversidade de uma bacia hidrográfica. Segundo o Comitê de Bacias Hidrográficas do São Francisco (CBHSF, 2015), o levantamento biótico permitiu identificar, até o momento, 1.194 taxa de flora e 1.701 taxa de fauna. No total, 155 espécies de flora e 140 espécies de fauna listadas apresentam estatuto de ameaça (nacional e/ou internacional), o que representa, respectivamente, aproximadamente 13% e 8% em relação do total identificado.

As ameaças relativas ao estado de conservação da fauna e flora da bacia estão associadas ao desmatamento de mais de 47% da área, principalmente na região do Médio São Francisco, seguindo-se as regiões do Alto, Submédio e Baixo São Francisco. Entre as áreas protegidas por lei, destacam-se as 125 Unidades de Conservação (UCs) existentes e destas, 56 designadas a partir de 2004. Ao todo se somam 69 UCs de proteção integral, cobrindo uma área menor que 1.9% da bacia.

A vegetação predominante na bacia do rio São Francisco é o cerrado (58.0%) e a caatinga (38.6%), Esses biomas apresentam características de áreas que possuem duas estações do ano bem definidas: uma chuvosa e uma seca. Na bacia também é possível observar a ocorrência da floresta tropical e da mata seca em menor proporção (3.4%) (GUIMARÃES e BRAGANÇA, 2003). (Figura 3.9).

106 Conforme se pode constatar na Figura 3.10, as áreas florestais vêm sendo devastadas quase que totalmente pelas pastagens, pelo uso agrícola e pela expansão urbana e industrial das cidades, aumentando a produção de sedimentos e intensificando os processos erosivos. A Mata Atlântica encontra-se em níveis extremamente críticos de destruição, contudo, ainda ocorrem fragmentos de florestas, pequenas matas de serra, mangues e vegetação litorânea (FERNANDES, 2015).

O Bioma do tipo Cerrado fez com que a Conservation International o incluísse na lista das 25 biodiversidades “hotspot” da Terra onde, embora dotados de riqueza biológica, estão sob ameaça de destruição. Myers et al., (2000) registram a enorme abundância de espécies endêmicas, além de uma excepcional perda de habitat no cerrado brasileiro. Do ponto de vista da diversidade biológica, o Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais rica do mundo. É o segundo Bioma brasileiro que mais sofreu alterações com a ocupação humana, depois da Mata Atlântica, e vem sendo degradado pela expansão da fronteira agrosilvopastoril e também pela exploração predatória de seu material lenhoso para produção de carvão. Os grandes remanescentes do Bioma, dentro e fora da BHSF, estão quase todos dentro de unidades de conservação, terras indígenas ou áreas onde o relevo é ruim para a agricultura. (MMAb, 2016). Figura 3.9. Carta Biomas e seus remanescentes na bacia do São Francisco.

Fonte: (MMAa, 2016)

Na região fisiográfica do Alto São Francisco o desmatamento mais intenso registrado entre 2002 e 2011 ocorreu no Oeste, sobre Savana (Cerrado) Gramíneo-Lenhosa com Floresta de

107 Galeria e a Savana Parque com Floresta de Galeria e no centro, na região da Barragem de Três Marias se observa que sua porção centro-oeste e norte tiveram todo seu território antropizado, com perda da cobertura vegetal nativa. Considerando a área original total de ocupação por Bioma, observa-se que o processo mais intensivo de desmatamento, no Cerrado (54,52%) e na Mata Atlântica (69,63%) ocorreu até 2002 (Idem).

Segundo dados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, formulado pela SOS Mata Atlântica e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Minas Gerais, somente, é responsável por cerca de metade do desmatamento observado na Mata Atlântica, ou seja, 10.572 hectares, para implantação de eucalipto, inclusive em APP, realizados por grandes empreendimentos. A Bahia, de acordo com os resultados, foi o terceiro estado que mais desmatou no período de 2013 a 2014, em área equivalente a 46 km² (Idem).

Figura 3.10. Carta Avanço da ocupação das terras na bacia do São Francisco, anos 2000, 2010 a 2012.

Fonte: (MMAa, 2016)

A Agência 10envolvimento, membro da Rede Cerrado com atuação no oeste baiano, encaminhou carta denúncia ao Ministério do Meio Ambiente (MMAb) e vários órgãos envolvidos com a proteção ambiental, em decorrência da emissão de licença ambiental autorizativa de 45 processos de supressão de vegetação nativa no Cerrado do oeste baiano, envolvendo 76.242 hectares, entre os meses janeiro e junho de 2015. A denúncia destaca o fato das autorizações ocorrerem sobre áreas de recarga do aquífero Urucuia, que comprovado por estudos, vem provocando o rebaixamento da vazão dos rios do oeste baiano, vitais contribuintes do Rio São Francisco. A instituição demonstra preocupação com o desmatamento oficial estadual

108 do Cerrado, uma vez que a ele se deve somar as autorizações municipais e os contínuos desmatamentos ilegais (Idem).

Na região do Médio São Francisco, o processo de desmatamento registrado para o período indica que 84% da Mata Atlântica original ainda se mantêm na macrozona, enquanto que, no Cerrado e na Caatinga, restam pouco mais de 56% e 54%, respectivamente, na cobertura nativa original. As causas de desmatamento no Médio São Francisco se repetem de forma idêntica às causas do Alto, com a expansão da área de agropecuária no Cerrado no centro-oeste e dos perímetros irrigados mais a norte, na Caatinga da Bahia (Idem).

No Submédio São Francisco a Caatinga sofre pressão em áreas pontuais, como nos perímetros irrigados em Petrolina, com expansão para Santa Maria da Boa Vista, Lagoa Grande e Terra Nova, além dos municípios ao longo do Canal do Sertão Pernambucano, com perímetros irrigados implantados (25 projetos de responsabilidade da Codevasf e 10 implantados pela Chesf), ou em estudo, com a possibilidade de novas áreas de irrigação a partir da implantação do Projeto de Integração do Rio São Francisco ou com o extrativismo florestal para fornos de calcinação das empresas gesseiras nos municípios no entorno de Araripina.

A mineração da gipsita também traz seus impactos no processo extrativo, com importância na intervenção na Caatinga em Pernambuco. Na Bahia, a exploração de fosfato em Luís Eduardo Magalhães, de cromo no município de Andorinhas e a mineração de urânio em Caetité, dão sua contribuição para o desmatamento e contaminação do solo, águas e de operários e moradores da região.

Ademais, o maior índice de desmatamento deste bioma é registrado até 2002 (43,77%), caindo nos sete anos seguintes, com desmatamento na ordem de 2,5%. Considerando o acumulado no desmatamento até 2009, a área residual nativa de Caatinga fica próxima a 54% no Submédio sanfranciscano.Atualmente a Mata Atlântica equivale a 18,95% da área total do Baixo São Francisco, e a Caatinga a 81,05%, equivalendo a 19.982,50 Km² de área original. Deste total, até 2002 a Caatinga foi desmatada em 85,28%. Nos sete anos seguintes, mais 2,97% da Caatinga foi erradicado. A situação mais crítica ocorreu na Mata Atlântica, que teve 96,24% de sua área desmatada até 2002, com mais 0,27% nos anos seguintes. Da área original dos Biomas as áreas residuais eram, em 2009, não mais que 3,49% da Mata Atlântica e 14,75% da Caatinga. Segundo o Atlas de Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, no período 2013-2014 não houve registro de desmatamento nas áreas de mangue, sendo computados 229,31 km² do ecossistema

109 associado dentro de Sergipe, a quarta maior área do país, após Bahia, Paraná e São Paulo (MMAb, 2016).

Cabe lembrar a Meta Brasileira da Biodiversidade Nº11, que estabelece o fortalecimento até 2020, do Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, de modo que seja alcançando um percentual mínimo de 17% para os biomas contidos na BHSF: Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica, em áreas de proteção integral, ou seja, excetuando-se APAs, RPPN, RLs (Reservas Legais), APPs (Área de Proteção Permanente), territórios indígenas e territórios quilombolas.