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2.7 FITOSSOCIOLOGIA, AMOSTRAGEM E A ÁREA DE ESTUDO

2.7.1 Fitossociologia e Amostragem

Fitossociologia é um ramo da geobotânica que se ocupa do estudo quantitativo da composição florística, estrutura, funcionamento, dinâmica, distribuição e relações ambientais das comunidades vegetais. É conhecida também por Sinecologia Vegetal, Geobotânica Sociológica, Ciência da Vegetação, Fitocenologia, Fitogeocenologia, Ecologia Quantitativa e Ecologia de comunidades. Apóia-se fundamentalmente em Taxonomia Vegetal e tem estreita relação com a Fitogeografia e as Ciências Florestais (MARTINS, 1991).

De um modo geral, os métodos de levantamento fitossociológicos podem ser classificados em duas categorias, de acordo com a natureza das unidades de amostragem. Considerando que cada parcela representa uma unidade de amostra, elas podem ter uma área fixa ou variável. O grupo de métodos com área fixa pode ter uma única ou múltiplas parcelas, já o de área variável baseia-se em medidas de distância e, por isso, é também denominado de método de distância (MARTINS, 1991). Como as parcelas do segundo grupo de métodos diferem do conceito clássico, isto é, de unidades de área de amostragem, DAUBENMIRE (1968), considerou três grupos de métodos de amostragem fitossociológica: o de parcelas múltiplas, o de parcela única e o sem parcelas.

Para que um levantamento fitossociológico ou inventário seja significativo, deve atender duas condições: que a superfície seja homogênea tanto nas condições ecológicas como na composição florística, e que sua extensão não seja inferior a área mínima da comunidade em questão. Para as florestas tropicais, em que os estratos arbóreos podem apresentar uma grande diversidade de espécies, a área mínima é excepcionalmente maior.

Embora sem comprovação científica, as estimativas indicam que, dependendo da diversidade, a área mínima poderá variar de 500 até 10.000 m2 (BOLÓS, 1990).

HUSCH et al (1972), definem a amostragem em dois tipos básicos: aleatória (com probabilidade) e sistemática (sem probabilidade).

De acordo com HIGUCHI (1986/87), a escolha do tipo de amostragem a ser adotado é normalmente arbitrária, ela depende muito mais do conhecimento que se tem da floresta e de sua extensão do que da precisão e custo. Em estudo comparativo entre os dois métodos, em área de floresta tropical úmida de terra firme, usando amostras de 5.000 m2, o autor concluiu que a amostragem sistemática foi a mais eficiente, quando comparou os resultados encontrados para densidade, área basal e volume.

Por tratar-se de uma grande planície, pequenas diferenças na topografia do terreno provocam grandes diferenças nas condições de umidade. Assim, raramente consegue-se encontrar uma área contínua de 100 x 100 m, que possa ser configurada como várzea inteiramente baixa ou totalmente alta. Neste caso, a várzea baixa sempre apresenta um pequeno percentual de área alta, e a várzea alta, um pequeno percentual de área mais baixa.

A respeito das dificuldades de caracterizar os ambientes de várzea, PIRES e KOURY (1958), já haviam manifestado opinião: “... as composições florísticas das terras firmes e das várzeas são muito diferentes e, nas próprias várzeas, há variações para os diferentes tipos de várzeas, para as diferentes regiões e, mesmo num tipo particular de várzea, a vegetação não tem uniformidade, por causa de aparecerem lugares mais baixos, mais altos, mais encharcados, mais próximos ou mais distantes do rio ou da rede de igarapés drenadores”.

Levando em consideração que o estudo utilizando parcelas de uns poucos metros quadrados poderia implicar na caracterização não adequadamente da flora do ambiente estuarino, optou-se por uma área de dimensões suficientes para expressar, de maneira

contundente, a flora local, mesmo correndo o risco de que algumas espécies de várzea alta fossem incluídas em várzea baixa e vice-versa.

2.7.2 A Área de Estudo

2.7.2.1 Geologia

As áreas de estudo compreendidas entre Macapá e o arquipélago do Bailique enquadram-se na classificação de aluviões quaternários constituído pela faixa costeira do Estado do Amapá e ilhas que compõem o arquipélago do Marajó, no delta do Amazonas, em ambiente de sedimentação marinho e/ou misto, deltaico ou de transição. As coberturas sedimentares do Cenozóico se restringem à orla do Atlântico, representado por uma faixa litorânea de largura variável do quaternário sedimentar, que se estende desde o Oiapoque até Macapá, constituindo vastas áreas de planície de inundação e pantanosas e lagoas residuais, com uma sedimentação mista, marinha e fluvial. São incluídas na região as ilhas do arquipélago de Marajó, como Caviana, Mexiana, Jurupari, Cará e outras (BRASIL, 1974).

A faixa que se estende de Macapá até a foz do rio Jarí enquadra-se na classificação de aluviões quaternários da era cenozóica, e litologicamente, depósitos de planície fluvial, formados por sedimentos pelíticos (lamosos) a areias finas, influenciados diariamente pela ação das marés em depósitos de inter-marés, barras de canal e barras em pontal (ATLAS ZEE/AP, 2000).

2.7.2.2 Geomorfologia

O ambiente de estudo enquadra-se na área classificada como planície fluviomarinha Macapá-Oiapoque, uma faixa de terrenos quaternários que se estendem desde a cidade de

Macapá até a foz do rio Oiapoque. A evolução dos processos morfogenéticos da faixa compreendida entre a cidade de Macapá e a foz do rio flechal está ligada às circunstâncias fluviais do sistema da foz do rio Amazonas (BRASIL, 1974).

As ilhas da foz do Amazonas são de construção quaternária e de topografia muito plana. A ilha Caviana, a maior delas, foi mapeada como planícies e terraços com áreas inundáveis. A cobertura vegetal predominante nas ilhas da foz do Amazonas e na faixa de diques da margem esquerda do canal Norte é a floresta latifoliada interpenetrada por campos inundáveis (BRASIL, 1974).

A faixa que se estende de Macapá até a foz do rio Jarí, em direção aos Andes, enquadra-se na classificação de planícies fluviais inundáveis; planícies fluviais colmatadas, limitadas por diques marginais e planícies fluviais alagadas, que se alternam e se interpenetram ao longo de suas ocorrências (ATLAS ZEE/AP, 2000).

2.7.2.3 Clima

As semelhanças climáticas entre as regiões do baixo Amazonas são grandes. De acordo com FALESI e SILVA (1999), o tipo climático predominante em áreas de várzea do município de Santarém, de Alenquer e de Monte Alegre é o Ami da classificação de Köppen. Tipo climático semelhante foi encontrado por VASQUEZ e RABELO (1999) nas áreas de várzea do Amapá.

Ainda de acordo com FALESI e SILVA (1999), o tipo Ami é definido como:

A – Clima cuja média mensal de temperatura mínima é superior a 18 oC, constituindo, assim, habitat da vegetação mesotérmica;

m – Estação seca de pequena duração, porém com umidade suficiente para manter a floresta tropical;

i – Amplitude térmica inferior a 5 oC, entre a temperatura média do mês mais quente e a do mês mais frio.

De acordo com VASQUEZ e RABELO (1999), a região estuarina amapaense se caracteriza por apresentar altas temperaturas (média anual de 27oC); alta umidade relativa (acima de 80%); elevado índice pluviométrico (média anual variando entre 2000 mm e 2500 mm); com um pequeno período seco de 3 a 4 meses e outro chuvoso (dezembro/junho)

2.7.2.4 Solo

Em estudos realizados na ilha de Santana, Município de Santana, Estado do Amapá, VALENTE et al, (1998), detectaram a ocorrência de dois tipos predominantes de solos, muito comuns na região do estuário, que representam muito bem os solos existentes nas áreas onde as parcelas amostrais foram instaladas:

Gleissolo Háplico:

De um modo geral, são solos minerais, hidromórficos, pouco desenvolvidos, de profundidade variável, pouco porosos, mal drenados, de baixa permeabilidade, apresentando cores acinzentadas com mosqueamentos decorrentes dos processos de redução e oxidação dos compostos de ferro que ocorrem em meio anaeróbico, uma vez que esses solos se desenvolvem sob forte influência do lençol freático próximo à superfície, na maior parte do ano, devido ao regime de marés a que estão sujeitos. Ocorrem em áreas de relevo plano sob vegetação de floresta equatorial de várzea e são originados de sedimentos, predominantemente do quaternário, apresentando perfil do tipo A, BG (B greizado) e Cg.

Ao contrário dos solos de terra firme, os greissolos identificados na ilha de Santana são quimicamente férteis (eutróficos), com níveis altos de nutrientes solúveis disponíveis às plantas. Vale ressaltar, todavia, que apesar da alta fertilidade química, os solos de várzea

nessa área apresentam restrições de utilização, pelo fato de que as constantes inundações limitam o desenvolvimento de um grande número de culturas, principalmente, as de ciclo longo que não se adaptam às condições de má drenagem interna dos solos.

Neossolo Flúvico:

São solos minerais, hidromórficos, pouco desenvolvidos, que apresentam apenas um horizonte A diferenciado, sobrejacente a camadas estratificadas, as quais, normalmente, não guardam relações pedogenéticas entre si. Ocorrem em áreas de relevo plano e sob vegetação de floresta equatorial higrófila de várzea. Possuem cores variando de bruno-acinzentado- muito-escuro, matizes variando de 2,5 a 10YR, valores variando de 6 a 3 e cromas variando de 2 a 1.

São solos originados de sedimentos aluviais recentes, depositados periodicamente durante as inundações nas margens dos rios e lagos, constituídos por sucessão de camadas estratificadas gleizadas, com variação de cor e/ou textura.

Estes solos apresentam seqüência de horizontes do tipo A, C ou A, 2C e 3C, com horizonte superficial freqüentemente do tipo A moderado, sobrejacente a camadas com características físicas e químicas diversas em função da heterogeneidade dos sedimentos depositados. As características físicas e químicas desses solos são muito dependentes da textura e composição dos sedimentos.

2.7.3 Vegetação

A área de estudo enquadra-se na classificação Floresta Ombrófila Densa Aluvial, uma formação ribeirinha ou “floresta ciliar” que ocorre ao longo dos cursos de água ocupando os terraços antigos das planícies quaternárias (IBGE, 1992).

3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 ÁREA DE ESTUDO

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