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Flexibilização da duração do trabalho na Argentina

CAPÍTULO 2. FLEXIBILIZAÇÃO DA DURAÇÃO DO TRABALHO NO DIREITO

2.6. Flexibilização da duração do trabalho na Argentina

A duração horária do trabalho é regida pela Lei 20.744/76 (Lei de Contrato de Trabalho) e pela Lei n. 11.544/29. Segundo o art. 197 da Lei de Contrato de Trabalho, é faculdade privativa do empregador a distribuição das horas de trabalho e a diagramação dos horários, seja pelo sistema de turnos fixos ou pelo sistema rotativo de trabalho por equipes. Porém, devem ser respeitadas as disposições sobre limitação da duração do trabalho, bem como um intervalo mínimo entre jornadas não inferior a doze horas consecutivas garantido a todos trabalhadores. O art. 1º da Lei n. 11.544 fixa a duração do trabalho máximo em oito horas diárias e 48 semanais. O Decreto n. 16.115/33 admitia, por sua vez, a distribuição desigual das 48 horas semanais, desde que o excesso não ultrapassasse uma hora diária e que o trabalho ao sábado terminasse às 13:00 horas.106

O art. 3º da Lei n. 11.544/29 estabelece exceção em relação ao trabalho em equipes, no qual a duração do trabalho pode ser estendida além de oito horas diárias e 48 semanais, desde que a média num período até três semanas coincida com estes limites

106ETALA, Carlos Alberto. Contrato de trabajo. Buenos Aires: Astrea de Alfredo y Ricardo Depalma, 2000.

máximos. Em complementação, o Decreto n. 16.115/33, por sua vez, em seu art. 2º estabelece para o trabalho em equipes pode ter distribuição desigual num período de três semanas consecutivas ou totalizar 144 horas em 18 dias trabalhados, de forma que a média não seja superior a oito horas diárias e 48 semanais, não podendo em nenhuma semana extrapolar 56 horas trabalhadas.

O Decreto n. 16.115/33, que no seu art. 13 estabelecia um limite de 30 horas extras mensais e 200 anuais, foi modificado pelo Decreto n. 2882/79, que passou a permitir a prestação de três horas extras diárias, 48 mensais e 320 anuais. Posteriormente, o Decreto n. 484/2000, em suas considerações, apontou que os indicadores sociais da época revelavam uma quantidade expressiva de trabalhadores em jornada excessiva – em média de 50 horas semanais - prevalecendo ainda a contratação de modalidades precárias de emprego e elevado nível de desemprego. Em vista deste panorama, este Decreto, com declarado intuito de gerar novos empregos, retomou os limites anteriormente estabelecidos, para fixar a partir de 29 de junho de 2000 o limite máximo de 30 horas extras mensais e 200 anuais, sem necessidade de autorização administrativa prévia, devendo ser respeitadas as demais previsões legais de duração do trabalho e descanso.

A Lei Nacional de Emprego, Lei n. 24.013/91, criou o banco de horas, proibindo a indexação salarial, e ainda inseriu no ordenamento jurídico argentino novas modalidades de contratos por tempo determinado. O contrato de lançamento de nova atividade, com prazo fixado entre seis a 24 meses, voltava-se para o desenvolvimento de uma empresa nova ou de uma atividade nova em uma empresa já existente. O contrato de prática laboral tinha prazo máximo de um ano e favorecia jovens até 24 anos recém- formados e em busca do primeiro emprego. O contrato de trabalho-formação possuía prazo limitado entre quatro e 24 meses, dispensava formação escolar para o primeiro emprego, e objetivava inserir jovens até 24 anos no mercado de trabalho, fornecendo-lhes preparo teórico e prático para determinado serviço. O contrato de trabalho por temporada ligava-se à sazonalidade de determinado serviço ou da empresa, com repetição ano após ano, recebendo salário somente no período de efetivo labor. Por fim, o contrato de trabalho eventual visava atender ao acréscimo extraordinário de serviço ou necessidade transitória

decorrente de aumento da produção. Estas modalidades contratuais foram abolidas em 1998 em virtude dos abusos no seu uso.107

Pela Lei n. 24.265/95 foi introduzido o contrato a tempo parcial no art. 92 da Lei de Contrato de Trabalho, o qual prevê a possibilidade da contratação de serviços em número de horas inferior a dois terços da habitualmente praticada em determinada atividade num período de um dia, uma semana ou um mês, sendo que sua remuneração não poderá ser inferior à proporção daquela paga ao trabalhador a tempo integral. As horas extras não são permitidas, a não ser para prestar auxílio em caso de perigo grave e iminente aos empregados ou bens da empresa.

Segundo Uriarte, embora o Presidente Alfonsín tivesse deixado o governo com alto índice inflacionário, a taxa de desemprego era de somente 6%. Com o início do processo de flexibilização em 1991, tal taxa alcançou o percentual de 20%, e o número de contratos precários chegou aos 85% anuais. Como reação, em 1997 foi promovida a contratação de longa duração, em detrimento aos contratos de “promoção do emprego”, provocando a queda da taxa de desemprego para 14 ou 15% em no início do ano de 2000. Com a reinserção de medidas flexibilizadoras através da Lei n. 25.250/2000 (Lei do Emprego Estável), a taxa de desemprego aproximou-se, em 2001, aos altos percentuais dos anos de 1996 e 1997.108

As inovações flexibilizantes promovidas por Calos Menem a partir de 1990 afundaram o país numa profunda recessão, sendo que, aliada à dolarização da economia, o número de argentinos com condições de vida abaixo da linha da pobreza veio a aumentar de 44,2% para 49,1%, subindo de 14,5 milhões para 16,2 milhões de pessoas.109

Neste sentido, a redução do limite legal da prestação de horas extras pelo Decreto n. 484/2000 representou uma iniciativa importante, embora ainda permita uma sobrejornada excessiva, consistindo em possível fator de crescimento dos níveis de emprego. Em informe estatístico divulgado pelo Ministério do Trabalho, Emprego e Seguridade Social Argentino divulgado em janeiro de 2007, destaca-se o contínuo

107MARTINS, Sérgio Pinto. op. cit., p. 30. 108ERMIDA URIARTE, Oscar. op. cit., p. 57-58.

crescimento a partir do final de 2002 até novembro de 2006, sendo que somente no último ano o crescimento registrado no nível de emprego foi de 5,8%.110

Analisando as inovações em matéria de duração de trabalho, observam-se medidas positivas como a limitação de horas extras anuais, seguindo o exemplo dos países europeus e a eliminação de modalidades contratuais que restaram viciadas pela prática.

2.7. Considerações acerca da flexibilização da duração do trabalho nos países