• Nenhum resultado encontrado

ARAEOCOCCUS PARVIFLORUS (MART. ex SCHULTES f.) LINDMAN E LYMANIA SMITHII R.W.READ, DUAS ESPÉCIES AMEAÇADAS DA FLORESTA ATLÂNTICA

NORDESTINA

JOSÉ ALVES DE SIQUEIRA FILHO & ISABEL CRISTINA MACHADO*

Departamento de Botânica, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, Av. Prof. Moraes Rego, s. n., Cidade Universitária, CEP 50670-901, Recife, PE, Brasil. e-mail: siqueira@ufpe.br, imachado@ufpe.br

* Autor para correspondência

Título curto: fenologia da floração, polinização e sistema reprodutivo de Araeococcus parviflorus e

Lymania smithii (Bromeliaceae).

FLORAÇÃO SINCRÔNICA, POLINIZAÇÃO E SISTEMA REPRODUTIVO DE

ARAEOCOCCUS PARVIFLORUS (MART. ex SCHULTES f.) LINDMAN E LYMANIA SMITHII R.W.READ, DUAS ESPÉCIES AMEAÇADAS DA FLORESTA ATLÂNTICA

NORDESTINA

JOSÉ ALVES DE SIQUEIRA FILHO & ISABEL CRISTINA MACHADO

Departamento de Botânica, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Pernambuco, Av. Prof. Moraes Rego, s.n., Cidade Universitária, CEP 50670-901, Recife, PE, Brasil.

Resumo: Araeococcus parviflorus (Mart. ex Schult. f.) Lindman e Lymania smithii R. W. Read,

ambas da subfamília Bromelioideae, são espécies endêmicas e ameaçadas da Floresta Atlântica Nordestina, com populações residuais e isoladas. As populações encontradas na RPPN Frei Caneca, localizada no Município de Jaqueira são o primeiro e único registro para Pernambuco. Este trabalho investigou as relações entre as estratégias de reprodução e a raridade destas espécies. Para isto, foi realizado um censo populacional com acompanhamento diário da fenologia da floração ao nível individual e populacional de A. parviflorus (n = 54) e L. smithii (n = 79). A biologia floral, os atributos florais, a razão pólen-óvulo, o registro do volume e de concentração de néctar, bem como os visitantes florais, foram analisadas. Polinizações manuais foram feitas para determinar a existência de auto-compatibilidade nas espécies. Ambas as espécies são sintópicas e florescem sincronicamente em plena estação seca. Enquanto A. parviflorus apresenta pólen como recompensa floral, sendo este um fato inédito na família Bromeliaceae, L. smithii oferece néctar. Não há partição temporal ou espacial de nicho entre estas duas espécies de Bromeliaceae, pois ambas apresentam o mesmo período de antese e ocorrem no sub-bosque da mata, sendo polinizadas por abelhas oligoléticas. Enquanto Chilicola megalostigma e Plebeia cf. minima foram restritas à A.

parviflorus, Ceratinula sp1, Ceratinula sp2 e Trigona sp.nov. visitaram ambas as espécies. Araeococcus parviflorus é auto-incompatível com baixa formação de frutos e sementes em

condições naturais, sendo a formação do tubo polínico interrompida ao nível do estigma. Em contrapartida, Lymania smithii é auto-compatível. Outros fatores podem contribuir para a raridade destas espécies como o hábito epifítico, a especificidade da árvore hospedeira e o sombreamento obrigatório.

Palavras chaves: Araeococcus parviflorus, Lymania smithii, Bromeliaceae, fenologia da floração,

polinização, abelhas, melitofilia, raridade, sistema reprodutivo, Floresta Atlântica, Nordeste do Brasil.

Abstract: Araeococcus parviflorus (Mart. ex Schult. f.) Lindman and Lymania smithii R. W. Read,

(Bromeliaceae subf. Bromelioideae) are endemic-vulnerable species with residual and isolated populations in the Atlantic forest of Northeast Brazil. The relationship between reproductive strategies and rarity was investigated for both taxa. A population census was conducted by daily monitoring the flowering phenology of A. parviflorus (n = 54) and L. smithii (n = 79), at individual and population levels. Floral morphology, pollen-ovule ratios, volume and sugar concentrations of nectar, and floral visitors were analyzed. Hand pollinations were also made to help determinate the breeding systems of both species. The species are syntopic and blooming synchronously in the dry season. Araeococcus parviflorus offers pollen as a floral reward, the first report for this in the Bromeliaceae. Lymania smithii has nectar producing flowers. We found neither temporal nor spatial niche partitioning between these two species, since both show the same period of anthesis, occur in forest understorey, and are pollinated by small and oligoletic bees. Chilicola megalostigma and

Plebeia cf. minima visits were restricted to A. parviflorus flowers whereas Ceratinula sp1, Ceratinula sp2 and Trigona sp. nov. pollinate both species. Araeococcus parviflorus is self-

incompatible with low fruit and seed in both hand and natural pollinations. In addition, pollen tubes ceased growth in the upper part of the stigma. In contrast, L. smithii is a self-compatible species. Other processes, which could be involved in the rarity of these species, are the epiphytic life form, specificity of host trees and the light requirement (shade obligatory).

Key words: Bromeliaceae, Araeococcus parviflorus, Lymania smithii, flowering phenology,

pollination, bees, melitophily, rarity species, breeding systems, Atlantic rain forest, northeastern Brazil.

INTRODUÇÃO

As Bromeliaceae eram originalmente amplamente representadas na Floresta Atlântica Nordestina, porém, em virtude da diminuição da extensão deste ecossistema encontra-se, atualmente, restrita a pequenos fragmentos isolados (Siqueira Filho, 2002).

Atualmente, Araeococcus com seis espécies e Lymania com sete espécies (Luther, 2002), são gêneros da subfamília Bromelioideae, sendo A. parviflorus e L. smithii, espécies com distribuição restrita ao Sul da Bahia. Recentemente foram reportadas para Alagoas e Pernambuco, sendo, neste último Estado, encontradas em apenas um único fragmento isolado na RPPN Frei Caneca, área de Floresta Atlântica Montana, localizada no município de Jaqueira, sul de Pernambuco (Siqueira Filho, 2002). Por se tratarem de plantas epífitas de sub-bosque e de sombra obrigatória, são espécies sensíveis a intervenções antrópicas, como corte seletivo de madeira.

Araeococcus parviflorus e Lymania smithii preenchem todos os pré-requisitos de raridade

propostos por Primack (1993): a) distribuição geográfica limitada, b) ocorrência em áreas isoladas, c) especificidade de hábitat e d) tamanho reduzido das populações, o que torna as plantas vulneráveis à extinção.

Com exceção de dados existentes para Araeococcus micranthus (Nara, 1998), o presente estudo fornece informações inéditas sobre fenologia, polinização e sistema reprodutivo destes dois gêneros pouco conhecidos. Estes estudos, são importantes para subsidiar a taxonomia do grupo, além do manejo e conservação de espécies raras (Prance, 1990) na Floresta Atlântica, um dos 25 ecossistemas mais ameaçados do mundo (Myers et al., 2000). A subfamília Bromelioideae tem seu centro de diversidade na Floresta Atlântica (Benzing et al. 2000).

O objetivo deste trabalho foi investigar as relações entre a estratégia reprodutiva e a raridade destas espécies (Categoria VII, ver cap. II), através da fenologia da floração, biologia floral e o sistema reprodutivo. Para isto, foram feitas as seguintes perguntas: a) Qual a estratégia fenológica das espécies? b) Qual são os polinizadores destas espécies? c) Há partilha de vetores pólen entre elas? d) Qual o sistema reprodutivo das espécies?