• Nenhum resultado encontrado

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.2. CLIMA

2.6.2. Floresta Ombrófila Densa – FOD

A Floresta Ombrófila Densa (FOD) ou Floresta Atlântica é o espaço por excelência da diversidade. Unidade com o maior número de espécies endêmicas do

país, estima-se que a flora arbórea da FOD supere 700 espécies. Semelhante à Floresta Amazônica, esta formação guarda características muito particulares. Sua longa distribuição territorial, acompanhando a linha da costa brasileira do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, e sua altitude média, 900 m, a distinguem da Hiléia (LEITE & KLEIN, 1990).

O intenso regime de chuvas propiciado pelo relevo pode superar os 3.000 mm em alguns locais (IAPAR, 2012). Com tanta umidade e com a alta densidade de árvores, a FOD tem um sub-bosque mal ventilado e solo coberto de serapilheira, com intensa ciclagem de nutrientes. Toda esta atividade é capaz de garantir uma vegetação exuberante sobre solos nem sempre favoráveis (LEITE & KLEIN, 1990; RODERJAN et al., 2002; IBGE, 1992; 2012).

As árvores são o elemento dominante, mas a presença de espécies menores torna este ambiente luxuriante. Cipós, lianas, epífitas, líquens, musgos, hepáticas, herbáceas e plantas arbustivas tornam a FOD quase impenetrável.

As adaptações à enorme quantidade de chuvas são muitas, desde as folhas cobertas de cera às de pontas afiladas que, como os lambrequins da arquitetura, servem para apressar o gotejamento, evitando a instalação de micro-organismos na zona úmida ou impedido que gotas funcionem como lentes de aumento para os indefectíveis raios de sol. Quando estas folhas se desprendem e caem, formando a serapilheira, raízes finas e emaranhadas recuperam os nutrientes nelas contidos, antes que sejam lixiviados pela chuva frequente (ODUM, 1988).

A litologia sob a FOD é quase tão plural quanto as espécies que a compõem, mas há um predomínio de granitos e gnaisses. Altitudes variadas e solos diversos livremente combinados resultam numa gama enorme de ambientes, causa e consequência da biodiversidade.

Cobrindo parte da Planície Litorânea, a encosta leste da Serra do Mar e o norte do 1º planalto, a Floresta Ombrófila Densa apresenta características diferentes de acordo com a altitude: formação das Terras Baixas, Submontana, Montana, Alto- Montana e Aluvial, que diferem em composição florística, fisionomia e estrutura; em aspectos climáticos, como luz, temperatura, vento e precipitação; em aspectos geológicos e pedológicos; e na ciclagem de nutrientes.

2.6.2.1. Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas

A FOD de Terras Baixas é a principal unidade tipológica da Planície Litorânea por sua expressão e diversidade florística. São formações florestais instaladas sobre sedimentos quaternários resultantes da regressão marinha, em cotas que raramente chegam a 20 metros (RODERJAN et al., 2002).

Esta formação apresenta enorme variação segundo seu estágio de desenvolvimento e de acordo com o solo em que vegeta.

Em Organossolos, Espodossolos e Neossolos quartzarênicos com drenagem deficiente, há predomínio de Calophyllum brasiliense (guanandi) (Calophyllaceae), formando dossel entre 20 e 25 metros de altura. São também comuns Tabebuia umbellata (ipê-da-várzea) (Bignoniaceae), Pseudobombax grandiflorum (embiruçu) (Bombacaceae), Ficus luschnatiana, F. adhatodifolia (figueiras) (Moraceae) e Tapirira guianensis (cupiúva) (Anacardiaceae). No sub- bosque, são frequentes Clusia criuva (mangue-do-mato) (Clusiaceae), Pera glabrata (tabocuva) (Euphorbiaceae), Tabebuia cassinoides (caxeta) (Bignoniaceae), Marlierea tomentosa (guapurunga) (Myrtaceae), Guarea macrophylla (catiguá) (Meliaceae), Syagrus romanzoffiana (jerivá) e Euterpe edulis (palmito juçara) (Arecaceae). No ambiente mais úmido, são profusas as epífitas e lianas, com Bromeliaceae, Orchidaceae, Araceae, Polypodiaceae, Piperaceae, Cactaceae, Gesneriaceae, Bombacaceae, Bignoniaceae e Sapindaceae (RODERJAN et al., 2002).

Sobre Neossolos quartzarênicos e Espodossolos não hidromórficos, podem ser observadas Ocotea pulchella, O. aciphylla (canelas) (Lauraceae), Tapirira guianensis, Alchornea triplinervia (tapiá) (Euphorbiaceae), Ficus organensis (figueira) (Moraceae), Podocarpus sellowii (pinheiro-bravo) (Podocarpaceae) e Manilkara subsericea (maçaranduba) (Sapotaceae). No sub-bosque são encontradas Andira anthelminthica (jacarandá-lombriga) (Fabaceae), Clethra scabra (carne de vaca) (Clethraceae), Inga spp. (ingá) (Mimosaceae), Ilex spp. (Aquifoliaceae), além das Arecaceae Euterpe edulis, Syagrus romanzoffiana, Attalea dubia (indaiá), Bactris lindmaniana (tucum) e Myrtaceae dos gêneros Calyptranthes, Gomidesia, Myrcia, Psidium, Eugenia e Marlierea (RODERJAN et al., 2002).

2.6.2.2. Floresta Ombrófila Densa Submontana

Não há, no Paraná, unidade mais diversa que a Floresta Ombrófila Densa. E não há, dentro da Floresta Ombrófila Densa, formação mais diversificada que a Submontana. Esta formação é encontrada na Planície Litorânea sobre depósitos coluviais (sedimentos quaternários continentais) e essencialmente na encosta leste da Serra do Mar e no norte do 1º planalto, até 600 m s.n.m.

Na Submontana predominam os Argissolos, Cambissolos e até Latossolos. As chuvas são abundantes e não há ocorrência de geadas. A Submontana se beneficia de todo o carreamento de sedimentos e íons da Alto-Montana e da Montana. O reflexo deste solo mais rico está na cobertura vegetal: florestal, multiestratificada e com dossel atingindo entre 30 e 35 metros (LEITE & KLEIN, 1990).

No sub-bosque superabundam epífitas, como Bromeliaceae e Araceae, e as Rubiaceae Psychotria nuda e Bathysa meridionalis (RODERJAN et al., 2002).

Como espécies indicativas da formação estão Schyzolobium parahyba (guapuruvu) (Fabaceae), Cecropia spp. (embaúbas) (Urticaceae), Euterpe edulis (palmito-juçara) (Arecaceae), Bathysa meridionalis (queima-casa) (Rubiaceae), Virola bicuhyba (bocuva) (Myristicaceae) e Pseudopiptadenia warmingii (caovi) (Fabaceae) (RODERJAN et al., 2002).

São, ainda, típicos desta formação: Ocotea catharinensis (canela-preta) (Lauraceae), Sloanea guianensis (laranjeira-do-mato) (Elaeocarpaceae), Alchornea triplinervia (tapiá), Hyeronima alchorneoides (licurana) (Euphorbiaceae), Cariniana estrellensis (estopeira) (Lecythidaceae), Cabralea canjerana (canjerana), Cedrela fissilis (cedro) (Meliaceae), Vochysia bifalcata (guaricica) (Vochysiaceae) e Machaerium hatschbachii (angico-espinho) (Fabaceae) (LEITE & KLEIN, 1990; RODERJAN et al., 2002).

2.6.2.3. Floresta Ombrófila Densa Montana

A Floresta Ombrófila Densa Montana é encontrada na encosta da Serra do Mar, de 600 a 1200 m s.n.m. A maior altitude causa um rebaixamento da temperatura média entre 3ºC e 6ºC. Maior declividade do terreno, solos menos intemperizados, mais rasos, clima mais úmido e ocorrência de geadas: aqui, os exemplares arbóreos têm menor porte e, no sub-bosque, as epífitas avasculares (briófitas) se tornam muito comuns.

A ciclagem da matéria orgânica diminui à medida que se sobe a serra. O horizonte A que começa incipiente, se torna moderado, passa a húmico e a hístico nas maiores altitudes.

Predominam nesta formação Ocotea catharinensis (canela-preta), O. odorifera (canela-sassafrás) (Lauraceae), Copaifera trapezifolia (pau-óleo) (Caesalpiniaceae), Aspidosperma olivaceum (peroba-vermelha) (Apocynaceae), Pouteria torta (guapeva) (Sapotaceae), Lamanonia speciosa (guaraperê) (Cunoniaceae), Cabralea canjerana (canjerana) e Cedrela fissilis (cedro) (Meliaceae) (RODERJAN et al., 2002).

No sub-bosque da Montana, há Psychotria suterella (Rubiaceae), Drimys brasiliensis (Winteraceae), Weinmannia paullinifolia (Cunoniaceae), Inga sessilis (Mimosaceae), Ilex paraguariensis, I. taubertiana, I. microdonta (Aquifoliaceae) e Dicksonia sellowiana (Dicksoniaceae), além de Myrtaceae e Rubiaceae, também encontradas nos outros pisos de altitude (RODERJAN et al., 2002).

2.6.2.4 Floresta Ombrófila Densa Alto-Montana

As formações florestais denominadas Alto-Montanas ocupam as regiões mais elevadas da Serra do Mar, em geral, acima de 1.200 m s.n.m. Sua feição, evidenciada por árvores de pequeno porte, é modelada pelos extremos: ventos fortes, neblina constante, solo raso e instável, ciclagem mínima com camada expressiva de serapilheira. São típicos os Neossolos litólicos e Organossolos não- saturados (LEITE & KLEIN, 1990; RODERJAN et al., 2002).

A instabilidade do substrato desenha troncos tortuosos. Na busca da posição vertical, árvores redirecionam seu crescimento à medida que, centímetro a centímetro, o solo desliza encosta abaixo. De maneira apropriada, estas formações são chamadas "matinhas nebulares". A neblina diminui a transpiração e modifica a fisiologia das plantas. Sua constância faz às vezes de espécie pioneira. As espécies mais comuns na Floresta Ombrófila Densa Alto-Montana são as típicas do sub- bosque. São características Ilex theezans (caúna) (Aquifoliaceae), Siphoneugena reitzii (camboim) (Myrtaceae), Podocarpus sellowii (pinheiro-bravo) (Podocarpaceae), Drimys brasiliensis (cataia) (Winteraceae), Ocotea catharinensis (canela-preta) (Lauraceae). São exclusivas desta formação Tabebuia catarinensis (ipê-da-serra) (Bignoniaceae), Weinmannia humilis (Cunoniaceae) e Clethra uleana (Clethraceae), entre outras. Aqui o epifitismo vascular é menos expressivo e há predominância do avascular (musgos e hepáticas) (LEITE & KLEIN, 1990; RODERJAN, 1994; PORTES, 2000; RODERJAN et al., 2002).

Neste ambiente, a fixação de carbono no solo é muito maior do que numa floresta tropical, onde o carbono está principalmente na biomassa.

Aqui, como em outras formações extremas, as falhas nas rochas são uma espécie de oásis luxuriante. Terreno estável, maior aporte de nutrientes por lixiviação dos terrenos vizinhos e paredões protetores garantem indivíduos de maior porte, tronco ereto e maior profusão de espécies.

Espécies em comum com as formações das terras baixas litorâneas são o testemunho das idas e vindas da vegetação nos períodos de glaciação e interglaciação. Acostumadas a exigir pouco do ambiente, seguem presentes tanto no alto das serras quanto na planície de solos ainda incipientes.

2.6.2.5. Floresta Ombrófila Densa Aluvial

As florestas aluviais estão presentes nos espaços desenhados pelo transbordamento dos rios nas cheias. Quanto maior a decantação lateral, maior sua influência sobre a vegetação em torno. Nesta formação, as espécies instaladas venceram as limitações do ambiente. São típicas: Cytharexylum myrianthum (jacataúva) (Verbenaceae), Sapium glandulatum (leiteiro), Alchornea triplinervea

(tapiá), A. iricurana (tapiá-guaçu) (Euphorbiaceae), Pseudobonbax grandiflorum (embiruçu) (Malvaceae) e Schizolobium parahyba (guapuruvu) (Fabaceae). Também são frequentes Syagrus romanzoffiana (jerivá) (Arecaceae), Cariniana estrellensis (estopeira) (Lecythidaceae), Coussapoa microcarpa (figueira-mata-pau) (Urticaceae), Ficus organensis (figueira) (Moraceae), Talauma ovata (baguaçu) (Magnoliaceae). No sub-bosque estão Inga sessilis e I. marginata (ingás) (Fabaceae), Geonoma elegans (palheiro), Euterpe edulis (palmito-juçara) (Arecaceae), Marlierea tomentosa (guapurunga) (Myrtaceae), Pera glabrata (tabocuva) (Euphorbiaceae), Clusia criuva (mangue-do-mato) (Clusiaceae) (LEITE & KLEIN, 1990; RODERJAN et al., 2002).

A planície, hoje tomada pela agricultura, tem sua formação diretamente relacionada aos processos de morfogênese e pedogênese que ocorrem na Serra do Mar. As partículas carreadas do alto da serra pelos rios são depositadas na planície durante as cheias, caracterizando uma origem preponderantemente aluvionar. Os solos que compõem esta região são essencialmente de textura média e argilosa.