Piloto ou atuador Hidráulico
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2.2.5. Fluidos e circuitos hidráulicos
O fluido hidráulico é a alma, o elemento vital nos circuitos hidráulicos industriais. Ele é o meio de transmissão de energia para a realização do trabalho pretendido. Além disso, assume outras funções no circuito, tais como lubrificante, elemento de vedação e refrigerante, transferindo o calor gerado no sistema.
No mercado, existe disponível uma enorme variedade de fluidos hidráulicos para atender às mais variadas aplicações, desde o acionamento de “munks” em caminhões até o acionamento de válvulas em árvores de natal submarinas (ANM).
As principais características que precisam ser observadas em um fluido hidráulico são:
Viscosidade
• : a viscosidade do fluido garante a lubricidade
para as partes móveis e a vedação. Além disso, fluidos com alta viscosidade são mais estáveis às variações de temperatura e são, portanto, adequados a circuitos em que é gerado muito calor. Por outro lado, a viscosidade oferece resistência à vazão e, portanto, os circuitos que precisam transmitir força hidráulica a grandes distâncias devem utilizar fluidos com baixa viscosidade;
Inibição de corrosão
• : o óleo está sujeito a absorver oxigênio
do ar. Essa característica pode ser intensificada pela presença de resíduos metálicos e temperaturas altas. O oxigênio é circulado pelo óleo e pode atacar as superfícies metálicas, além de reagir quimicamente com o óleo, formando ácidos e ainda aumentando a viscosidade. Dessa forma, aditivos inibidores de corrosão são importantes e visam formar uma película nas superfícies metálicas que os isolam do oxigênio e possíveis ácidos que venham a se formar;
Aditivos antidesgastes
• : protegem pontos do circuito sujeitos
a altas pressões e temperaturas, como pontas das palhetas de bombas ou motores, contra desgastes prematuros;
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Antiespumantes
• : são aditivos que impedem a formação
de espuma, ou seja, aglomerados de bolhas de ar que são transportados no circuito e baixam a capacidade de lubrificação do óleo e ainda absorvem energia gerada na compressão, além de outros distúrbios;
Proteção antichama
• : um dos inconvenientes do fluido à
base de óleo é ser inflamável, uma vez que é um derivado do petróleo. Dessa forma, cuidados devem ser tomados com a sua temperatura, principalmente no retorno ao tanque, quando irá entrar em contato com o oxigênio do ar. Quando esse for o caso, trocadores de calor devem ser utilizados no retorno do fluido ao tanque. Também não deve ser utilizado em ambientes sujeitos à exposição direta a chamas. Uma forma de fugir desse inconveniente é usar o fluido à base de água.
a) Tipos de fluidos
Dois tipos básicos de fluidos estão disponíveis. O mais comum é o baseado em óleo mineral. O outro tipo, muito utilizado, principalmente no E&P, é o fluido à base de água.
Fluido
• à base de óleo mineral: esse fluido é, em sua essência,
um óleo derivado do petróleo, acrescido de diversos aditivos que visam dar ao óleo as características apropriadas ao circuito a que se destina;
Fluido
• à base de água: o fluido à base de água é uma mistura
de água com glicol em percentagens que variam de acordo com a situação. Normalmente, o glicol entra com 25% a 40% na composição e o seu objetivo principal é servir de anti-congelante e melhorar as características lubrificantes do fluido, considerando que a viscosidade da água, em si, é muito baixa. Aditivos são necessários também, conforme descritos acima, além de outros
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O fluido à base de água é largamente utilizado no E&P para comando de sistemas submarinos, por uma série de fatores, a saber:
Baixa viscosidade, o que permite a transmissão da energia •
hidráulica a grandes distâncias; Densidade do
• fluido semelhante à da água do mar, evitando
diferenças de pressão por causa das diferentes densidades das colunas de líquidos. Lembre que algumas ANMs (árvores de natal molhadas) estão localizadas a quase 2.000 metros de profundidade, onde só a coluna d’água corresponde a 200 bar;
Tolerância a contaminações por água do mar. No caso dos •
óleos minerais, a contaminação por água do mar, além de formar emulsões que alteram as características do fluido, ainda proporcionam o crescimento biológico que pode bloquear a passagem do fluido e, portanto, a transmissão da pressão.
A desvantagem dos fluidos à base de água diz respeito também à sua baixa lubricidade e maior absorção de oxigênio, o que requer componentes especiais no circuito, resistentes à corrosão e ao desgaste.
b) Limpeza do fluido
Todos os fluidos possuem impurezas em suspensão. Entretanto, a quantidade dessas impurezas e principalmente o tamanho das partículas sólidas em suspensão pode ser fatal para o bom funcionamento do sistema.
Conforme dito anteriormente, o fluido hidráulico tem por finalidade transmitir potência hidráulica, lubrificar partes móveis, transferir calor e vedar folgas entre algumas partes móveis. No entanto, impurezas presentes no fluido podem impedir a realização dessas funções, uma vez que:
Obstruem a passagem do
• fluido – alguns pilotos de válvulas
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Provocam a abrasão das partes móveis; •
Alteram as características físico-químicas do
• fluido, diminuindo
sua capacidade de retirar calor do sistema, além de formar depósitos que dificultam as trocas de calor.
Sendo assim, tanto a qualificação do fluido usado quanto a utilização de filtros no circuito são medidas fundamentais para o bom funcionamento e a preservação da vida útil do sistema hidráulico.
c) Reservatório de fluido
O reservatório do fluido precisa, pelo menos, ser dotado de uma “chicana” ou placa defletora, a fim de evitar que o fluido, ao retornar, encontre um caminho preferencial direto para a sucção de volta para o circuito, de forma a depositar arrastes e dissipar calor residual.
Chicana
Nas unidades hidráulicas utilizadas para acionamento de ANMs, normalmente divide-se o reservatório em duas câmaras absolutamente independentes, às quais são denominadas de “retorno” e supply (suprimento). O fluido que retorna do circuito é direcionado ao reservatório de retorno. Uma bomba específica faz o fluido recircular, através de um filtro. Amostras são tiradas do fluido e é verificado o seu grau de limpeza em comparação com padrões (norma NAS -1638 - Cleanliness requirements of parts used in hydraulic systems - Requisitos de limpeza de peças utilizadas em sistemas hidráulicos - em geral é adotada a classe 6). Quando a classe de limpeza é atingida, o fluido é transferido, então, para o reservatório de supply. Esse procedimento garante a qualidade do fluido no circuito hidráulico.
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Exemplo de circuito hidráulico
d) Tubulações e conexões
É necessário verificar os tipos mais comuns de tubos e conexões utilizados em circuitos hidráulicos disponíveis no mercado.
Tipos de tubos
• : os tubos são escolhidos por várias
características, dentre as quais as mais importantes são: diâmetro nominal, material, classe de pressão e característica construtiva (com ou sem costura).
Essas características estão normalmente especificadas de forma inseparável em tabelas. A norma Petrobras N-1931 (Material de tubulação para instrumentação) estabelece alguns padrões para tubos utilizados em instrumentação, que podem também ser aproveitados para os circuitos hidráulicos.
Diâmetro nominal e classe de pressão
• : a escolha do diâmetro
nominal segue padrões métricos (em milímetros) ou ingleses, em polegadas, que são os mais comuns. Os diâmetros mais utilizados são os de 3/8”, 1/2”, 3/4”, 1”, 1¼”, 1½”, 2” etc. Geralmente (há exceções) o diâmetro nominal equivale ao diâmetro externo do duto. A espessura de parede é determinada em função da classe de pressão do tubo e impacta no diâmetro interno do tubo. Dessa forma, dependendo da utilização pretendida, deve- se atentar o real diâmetro interno do tubo escolhido.
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A classe de pressão para os tubos diz respeito à pressão máxima de operação. Normalmente, é estabelecida em psi (libras por polegada quadrada) ou também em bar. As mais comuns são 150 psi, 600 psi, 1.500 psi, 3.000 psi e 5.000 psi, porém, existem muitas outras padronizadas.
Existem duas outras especificações, em termos de pressão, que não devem ser confundidas com a classe acima. São elas:
• Pressão de teste: é a pressão de teste hidrostático. Normalmente, corresponde a 1,5 vezes à pressão máxima de operação;
• Pressão de ruptura: é a menor pressão capaz de romper o tubo.
Além disso, muitas vezes, é estabelecido também um fator de segurança (ex: 1/3) que representa a relação entre a pressão de teste e a pressão de ruptura do tubo.
Materiais
• : existem muitos materiais disponíveis no mercado,
entretanto, o mais comumente utilizado nos circuitos hidráulicos de unidades offshore é o aço inox AISI-316L. O aço carbono é utilizado em alguns casos de menor responsabilidade, mas exclusivamente em circuitos nos quais o fluido hidráulico é o óleo mineral.
Características construtivas: •
• Tubos com costura: é chamada de costura a solda para fechamento do tubo feita a partir da calandragem de chapa. Esse é o tipo mais comum e mais barato de tubo, mas, por outro lado, o mais susceptível a rupturas por falhas na solda.
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• Tubos sem costura: são fabricados de uma peça única e sem emendas ou soldas. São, portanto, mais resistentes a rupturas. Em circuitos hidráulicos, pneumáticos e também para linhas de impulso usadas offshore, são utilizados apenas tubos sem costura.
Tipos de conexões
• : existe uma variedade enorme de conexões,
como as curvas, joelhos, tês, nipples, luvas etc. que podem ser identificadas nos catálogos dos fabricantes.
É importante, entretanto, avaliar as formas como essas conexões são fixadas aos tubos e entre si, que podem ser: soldadas, roscadas e roscadas/anilhadas.
• Conexões soldadas: há dois tipos a serem considerados.
De topo: a solda é feita como em qualquer tubulação:
Soquete: o tubo é encaixado na conexão que recebe a
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• Roscadas: esse tipo de conexão normalmente é o mais usado em tubos de maiores diâmetros, em função da necessidade de abertura de rosca nos tubos:
• Roscada/anilhada: cada fabricante define um formato diferente de anilha, que pode ser simples ou dupla (mostrada na ilustração a seguir). O princípio de fixação é parecido entre eles. A idéia é que a anilha se deforme junto com o tubo, formando um engaste entre eles provendo um tipo de vedação metal-metal. Esse tipo de conexão é o mais utilizado para as terminações dos tubos, pela facilidade e confiabilidade das vedações.
Anilha traseira Ponto de encunhamento Porca Anilha frontal Corpo de conexão Tubo