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Capítulo 03: As políticas públicas federais de turismo

3.2 O reflexo das políticas públicas federais de turismo no aquecimento

3.2.2. Fluxo doméstico

Segundo o documento referencial “Turismo no Brasil 2011/2014”, elaborado pelo Ministério do Turismo em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (Brasil, MTur, FGV, 2010:34):

O aumento da renda média e do consumo das famílias e a emergência de uma nova classe média no Brasil constituem uma oportunidade ímpar de fortalecimento deste mercado e de reconhecimento do Turismo como importante fator de desenvolvimento econômico e social.

De fato, o ambiente econômico nacional favorável, num cenário de redução de taxa de juros e balança de pagamentos equilibrada, tem proporcionado crescimento do produto interno bruto do País a taxas superiores às observadas em níveis mundiais,

-8.000 -6.000 -4.000 -2.000 0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

o que tem fortalecido o aquecimento do mercado interno e, por consequência, o fluxo de viagens domésticas.

Gráfico 26: Evolução do PIB brasileiro e mundial (%) 2002 a 2009. Fonte: Brasil, MTur, FGV, 2010.

Em adendo, a pesquisa mensal de emprego realizada pelo IBGE atesta que no período de 2002 a 2009 houve um crescimento médio de 57,6% na renda média do trabalhador. A composição social do País também sofreu alterações positivas: 31 milhões de brasileiros ascenderam de classe social entre os anos de 2003 e 2008 – a classe AB (grupo com renda domiciliar mais elevada, superior a R$ 4.807,00) e a classe C passaram a constituir quase metade da população brasileira, ou seja, as classes média e alta passaram a ter maior representatividade populacional no País e, consequentemente, objeto de demanda para o turismo doméstico (Brasil, Mtur, FGV, 2010). 2,9 3,6 4,9 4,5 5,1 5,2 3 -0,8 2,7 1,1 5,7 3,2 4 5,7 5,1 -0,2 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Mundo Brasil

Com efeito, a pesquisa amostral domiciliar realizada sob encomenda do Ministério do Turismo revela que houve expansão de 12,5% no período de 2005 a 2007, quando foram realizadas cerca de 156 milhões de viagens domésticas, sendo computados os domicílios com rendimentos superiores a um salário mínimo. Se considerarmos os dados estimados para 2009, esta expansão salta para 26,5%.

Gráfico 27: Viagens domésticas realizadas, em milhões de viagens. Os anos de 2008 e 2009 possuem dados estimados.

Fonte: Brasil, MTur, FGV, 2010.

A casa de parentes e amigos ainda continua sendo o meio mais utilizado nos locais visitados pela maioria dos turistas (56,3%), seguido por meios de hospedagem – hotéis, pousadas, campings e resorts (30,8%). Os veículos particulares são utilizados por cerca de 45% do total de viagens domésticas realizadas.

138,71 147,10 156,00 165,43 175,44 0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00 140,00 160,00 180,00 200,00 2005 2006 2007 2008* 2009*

Gráfico 28: Principal tipo de hospedagem utilizado na viagem doméstica. Fonte: Brasil, MTur, FGV, 2010.

Gráfico 29: Meio de transporte utilizado na viagem doméstica Fonte: Brasil, MTur, FGV, 2010.

Referente ao transporte aéreo, o gráfico 30 registra uma crescente demanda no seu uso: entre 2002 e 2009, o crescimento dos desembarques domésticos foi da ordem de 70%; a queda no preço dos bilhetes aéreos, sem dúvida foi o fator que propiciou a sua popularização. 56,30% 30,80% 12,90% casas de parentes meios de hospedagem outros 45,10% 11,30% 30,80% 12,80% veículos particulares avião ônibus outros

Gráfico 30: Desembarques nacionais em milhões. Fonte: Brasil, MTur, FGV, 2010.

Em adendo, a pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicos (FIPE) para o Ministério do Turismo, com dados coletados em 2005, revela que a região Sudeste destaca-se por ser preponderantemente emissiva de turistas, sendo responsável por 62,2% do fluxo emissivo brasileiro, ou seja, mais da metade da população brasileira que realiza viagens domésticas reside nesta região, o que a configura como o maior mercado para o setor. Embora distantes dos valores de emissividade do Sudeste, as regiões Sul e Nordeste também se destacam como centros emissivos: 18,9% e 11,1%, respectivamente (gráfico 31).

Por outro lado, a relação emissivo/receptivo aponta a região Nordeste como sendo preponderantemente receptora de fluxo turístico, ou seja, o fluxo receptivo é maior que o emissivo para esta região, o que justifica a alta incidência de resorts ao longo da costa nordestina, como veremos no capítulo seguinte. Já para a região Sul, há um equilíbrio nos fluxos emissivo/receptivo.

32,9 30,7 36,5 43,1 46,3 50,0 48,7 55,9 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Gráfico 31: Relação Emissivo/Receptivo, por região. Fonte: Brasil, MTur, FIPE (2007).

O gráfico seguinte explicita a relação emissivo/receptivo por Estado. Neste, fica claro que, à exceção do Estado do Espírito Santo, os demais estados da região Sudeste mantêm altas taxas de emissividade, seguidos do Rio Grande do Sul e Paraná.

Para Cruz (2003), a emissividade no turismo exibe forte correlação com o fenômeno urbano associado à concentração populacional e renda. São nos lugares emissores em que se proliferam agências e operadoras de viagens: a criação e/ou adaptação das infraestruturas locais às necessidades do fluxo turístico, incluindo-se aqui os aeroportos, rodoviárias e estradas. No tocante ao fluxo receptivo, observa-se novamente a região Sudeste (à exceção do Estado do Espírito Santo) a liderar a atratividade de fluxo, seguida pelos estados de Santa Catarina, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná. 0 10 20 30 40 50 60 70 SE S N CO NE % %Emissivo %Receptivo

Gráfico 32: Relação Emissivo/Receptivo, por Unidade de Federação. Fonte: Brasil, MTur, FIPE (2007). Organizado pela autora.

Não por acaso, portanto, os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais são considerados os grandes polos de turismo emissivo e receptivo do País. Os fluxos intra-regionais correspondem, em média, a 70,7% das viagens domésticas realizadas: o fluxo turístico se dá dentro da própria região. No caso da região sudeste, 44,3% de seus residentes viajaram na própria região, o que explica o alto fluxo receptivo nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

As regiões Sul e Sudeste respondem juntas a 58,3% do fluxo intra-regional. Certamente a malha rodoviária consolidada na região Sudeste, além dos fatores concentração populacional e renda já mencionados, explicam a alta concentração de viagens intra-regionais nesta região.

0 5 10 15 20 25 30 35 40 SP MG RJ SC BA RS PR CE PE GO ES RN MT MS PB AL DF PA MA SE AM RO PI TO AC AP RR % %Emissivo %Receptivo

Por fim, a matriz origem-destino, reproduzida na tabela abaixo, além de evidenciar a importância do fluxo intra-regional para o turismo doméstico, permite-nos aferir a forte relação de emissividade do Sudeste às demais regiões do País, assim: (i) para cada 1 turista que o Nordeste envia para o Sudeste, o Nordeste recebe 4,5 turistas advindos do Sudeste; (ii) para cada um turista que o Norte envia para o Sudeste, o Norte recebe 2,5 turistas advindos do Sudeste; (iii) para cada um turista que o Sul envia para o Sudeste, o Sul recebe 1,6 turistas advindos do Sudeste; (iv) para cada um turista que o Centro-Oeste envia para o Sudeste, o Centro-Oeste recebe 2,2 turistas advindos do Sudeste.

Matriz Origem - Destino das Viagens Dométicas, por Região (em %)

Região de Origem Região de Destino

S SE NE N CO Total S 14,8 2,9 1,0 0,1 0,8 19,6 SE 4,6 44,0 7,2 0,5 3,1 59,4 NE 0,2 1,6 10,2 0,2 0,3 12,5 N 0,0 0,2 0,5 1,8 0,2 2,7 CO 0,7 1,4 1,1 0,3 2,2 5,7 Total 20,3 50,1 20,0 2,9 6,6 100,0

Tabela 8: Matriz Origem/Destino por região em 2005. Fonte: Brasil, Mtur, FIPE (2007). Organizado pela autora.

A coluna “total” nos permite avaliar a emissividade por região, já a linha “total” mostra os dados da participação de cada região no turismo receptivo doméstico. Assim, conforme já avaliamos, a região Sudeste aparece como preponderantemente emissiva (59,4%) e receptiva (50,1%). Já as regiões Sul e Nordeste se destacam mais pelo turismo receptivo (20,3% e 20%, respectivamente) do que emissivo (19,6% e 12,5%, respectivamente). As células em destaque, na diagonal, representam os fluxos intra-regionais que somam 73% dos fluxos no País; do total de turistas domésticos no País, 44% é composto por famílias residentes no Sudeste

que circulam na própria região, seguido de 14,8% de famílias que circulam na região Sul.

A dimensão do turismo doméstico no País, na ordem de 175 milhões de viagens e 56 milhões de desembarques, é trinta e cinco vezes maior do que o fluxo receptivo internacional; e este universo de demanda, notadamente crescente nas duas últimas décadas, tem propiciado incremento nas oportunidades de geração de trabalho e renda, como veremos a seguir.

Antes de passarmos para o próximo tema, resta avaliar que, se o Decreto 448/92 preconizava em seu artigo 3º o aumento dos fluxos turísticos, taxa de permanência e gasto médio de turistas estrangeiros, a constatação do tamanho do turismo doméstico, mesmo registrando um gasto per capita diário na ordem de quatro vezes menos que os valores gerados pelo fluxo turístico internacional (Brasil, MTur, FIPE, 2007), fez com que os planos seguintes, PNT 2003-2007 e PNT 2007 – 2010, focalizassem o turismo doméstico em suas metas e macroprogramas, como visto: uma correção estratégica importante, ao nosso ver, ao se avaliar a potencialidade do mercado doméstico que o País dispõe.

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