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CAPITULO 3 CANAIS DE TRANSFERÊNCIA INTERNACIONAL DE TECNOLOGIA

3.1.4 Fluxo de mão de obra qualificada

Constitui um dos mais importantes canais de transferência internacional de tecnologia e ao mesmo tempo o mais antigo. É considerada mão de obra qualificada aqueles trabalhadores com habilidades específicas e técnicas da indústria relacionadas com os negócios e com a produção dos bens. A mão de obra qualificada aporta novos valores e crescimento para as empresas, mediante o desenvolvimento de novas técnicas ou métodos de produção gerando vantagens competitivas ante a concorrência (Vitez, 2009).

Este canal pode ser divido em torno de dois principais mecanismos: de mais longa duração, como a migração de profissionais qualificados e o fluxo internacional de estudantes de graduação e pós-graduação, e de mais curta duração são as viagens internacionais, por exemplo de negócios, participação em congressos, seminários, visitas técnicas e treinamentos no exterior. Esta transferência pode acontecer, tanto por meio de firmas como por meios externos de estas organizações (Odagiri, et al., 2010; Santos, 2014).

Sendo um dos canais menos formais para transferir tecnologia, o fluxo de mão de obra qualificada, possui pouca informação para sua mensuração e mesmo que possuam indicadores como os relacionados com migrações ou viagens, é um movimento complexo e incerto, pois muitos indivíduos não sabem o conhecimento que possuem e como o adquirem ou o transferem (Santos 2014).

No entanto, existe essa dificuldade de mensuração deste canal, sua importância para o desenvolvimento das nações é relevante, pois o movimento e o fluxo dos indivíduos

81 Arreglo de Madrid relativo al Registro Internacional de Marcas. Disponível em:

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qualificados tem levado a criação de redes de contato profissional, a qual permite uma atualização tecnológica entre as fronteiras nacionais, contribuindo para o progresso e desenvolvimento dos países, daí a importância de que os estados façam investimento na educação e qualificação da sua população, oferecendo também oportunidades para os estudantes nacionais de realizar estudos fora do pais e além disso, oferecer programas para estudantes estrangeiros. A este respeito Barreto (1992, p.25) afirma: “a competência tecnológica de um país está diretamente relacionada à educação contínua em todos os níveis, do primeiro grau à universidade e à pós-graduação. Somente o homem qualificado e motivado tem condições de fornecer suporte a um programa de mudança tecnológica”.

Santos (2014) cita em seu trabalho vários estudos de caso, relacionados com este importante canal de mão de obra qualificada:

1. Nos Estados Unidos, os estudantes estrangeiros tem sido um fator importante para o fortalecimento conjunto do Sistema de Inovação americano, bem como dos seus países de origem, tanto por meio da formação de networks internacionais com instituições de pesquisa, firmas, pesquisadores e estudantes estrangeiros, como também por meio da produção interna de novas tecnologias (Saxenian, 2012). Também foi achada uma relação positiva e expressiva entre os estudantes de doutorado e pós-doutorado com o patenteamento nos Estados Unidos (Gurmu, Black e Stephan, 2010).

2. Na Índia, por exemplo, foi analisado o impacto das patentes produzidas entre profissionais indianos que atuaram em empresas estrangeiras e os que não tiveram essa experiência, e foi evidenciado que os primeiros produziram patentes com mais alto impacto que os últimos (Alnuaimi, Opsahl e George, 2012).

Em relação ao segundo mecanismo acima mencionado de fluxos de mão de obra qualificada em formato de curta duração, como viagens de negócio, consultorias internacionais, etc., que são ainda mais difíceis de quantificar, são também muito importantes. Por exemplo, as transferências tecnológicas para a Coréia do Sul até meados da década de 1980 foi realizada por meio das consultorias externas de curta duração, a figura do consultor externo aparece em quase todas as firmas coreanas, como destacado por Amsden (1984, p.234).

Santos (2014) destaca, também, um estudo realizado pela revista Forbes (2009) com cerca de 180 empresários americanos sobre as possibilidades abertas por meio de viagens ao exterior: 80% dos entrevistados considerou esse canal o mais proveitoso para adquirir conhecimentos

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externos, tendo em vista a oportunidade de estabelecer laços pessoais, quando comparado com outra modalidade.

Dávila (2007) denomina este canal de mão de obra qualificada como “O movimento de pessoas”, definindo-o como o trânsito de pessoas que vai de um país para outro, indicando que esse movimento normalmente acontece de um país em desenvolvimento para outro mais desenvolvido, procurando conhecimentos que não possui seu pais. Ressalta-se que existe o risco que pessoas com talento que vão para outro país, fiquem neste e não tenham o ânimo de voltar para o pais de origem.

3.3 Indicadores

Foram mencionados alguns dos principais canais de transferência internacional de tecnologia, em seguida serão apresentados, de maneira geral, alguns indicadores dos canais mais factíveis de serem mensurados.

Esta parte do trabalho será realizado tomando como base a pesquisa realizada por Santos (2014), que analisou as principais fontes de informação para mensuração dos fluxos internacionais de tecnologia, destacando tanto suas potencialidades como suas limitações, realizando uma análise comparativa dentre elas. Entre as fontes utilizadas pela autora, mencionam-se as bases sobre acordos de cooperação tecnológica (ACTs), balanços de pagamento (BPs), balanço de pagamentos tecnológico (TBP), balanço de pagamentos tecnológicos de países individuais e outras variáveis e dados sobre royalties e taxas de licenciamento (R&L). Todas estas fontes de informação foram avaliadas para determinar dentre outras coisas, qual seria a mais adequada para determinar a dinâmica dos fluxos internacionais de tecnologia em um período compreendido entre 1975 e 2010, uma vez que a partir de 1975 a maioria das grandes economias passaram a registrar essa informação de maneira sistematizada, até 2010.

Observou-se no estudo que grande parte das limitações dessas fontes surgem pela característica difusa da própria tecnologia, uma vez que ela pode-se espalhar por diversos canais tornando quase impossível mensurar e analisar todas as vias pelas quais transita (Santos, 2014). Finalmente a fonte escolhida foi sobre royalties e taxas de licenciamento (R&L) por ser aquele que continha informações razoavelmente uniformes, com o maior número de países possível, para análise da dimensão internacional dos fluxos tecnológicos que se dão de maneira desincorporada.

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Para efeitos deste trabalho utilizaremos o indicador selecionado (R&L), e alguns dados mostrados no trabalho de Santos (2014), ressaltando que em nosso caso serão analisados somente os anos compreendidos entre 1990 e 2010

Serão também objeto de estudo os dados sobre IDE no período 1995 a 2014, tendo em vista a importância que tem também este canal, na transferência internacional de tecnologia, usando como fonte os dados subministrados pela UNCTAD nos relatórios anuais que abrange a informação de um importante número de países. Por fim, serão avaliados os registros de direitos de propriedade intelectual em escala mundial segundo dados da OMPI, desde 1980 até 2014, dado que no caso das patentes é considerado um dos indicadores de produção tecnológica mais usado, e que reflete a capacidade inventiva de um país82, ressaltando que os principais direitos de propriedade intelectual que serão mencionados (patentes, marcas e desenho industrial) quando levados fora das fronteiras nacionais, constituem também um dos principais canais de transferência tecnológica a nível mundial. Salienta-se que os indicadores e períodos analisados compreendem os anos anteriores e posteriores à inclusão da proteção de propriedade intelectual e da transferência de tecnologia no âmbito da OMC, o qual permitirá fazer uma aproximação para constatar se a regulação destes dois instrumentos normativos no âmbito dessa organização, trouxe benefícios para os países em desenvolvimento.

3.3.1 Indicadores relacionados com os registros dos direitos de Propriedade Intelectual