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3 MODELAGEM E ESTUDO DE CASO

3.4 E STUDO DA TENDÊNCIA MODELIZADA

3.4.1 Fluxo Populacional

Conforme a Figura 17 apresentada acima e a configuração da estrutura modelada, o cenário futuro do fluxo populacional apresenta um crescimento positivo da população, ou seja, um cenário com constantes retroações positivas, onde não foram consideradas as flutuações provocadas pela migração dos indivíduos a partir de determinados cenários de crescimento e decrescimento dos meios produtivos. Neste caso, a população cresce a uma taxa de 0,42% ao ano, média dos anos de 1991 a 2007. Temos assim um crescimento contínuo, não associado diretamente às variações do setor econômico e a saída da população em busca de outras oportunidades como estudo e trabalho.

Os índices de desenvolvimento humano comprovam que a localidade tem gradualmente se desenvolvido. Este desenvolvimento está atrelado a diversos fatores: incentivos de programas governamentais a partir de complementação de renda à população carente; impulso provocado pelo estabelecimento da região como nova fronteira agrícola do estado de Goiás; fortalecimento da pecuária com fazendas de confinamento e exportação de carnes para o mercado interno e externo; aumento da arrecadação de impostos provocados pela dinamização do setor primário e pela introdução de empreendimentos estruturantes de energia e transportes.

Apesar de todo este incremento positivo nos índices de renda e escolaridade, na região da sub-bacia do rio Corrente a questão de saúde pública é ainda um gargalo que necessita ser solucionado. Fatores como saneamento básico e leitos hospitalares estão aquém do ritmo de crescimento local. Entretanto, tal configuração não foi abordada no modelo, mas discutida dentro da dissertação.

3.4.2 Recursos Hídricos

Segundo a configuração apresentada no modelo e a Figura 17 acima apresentada, a quantidade de água disponível para uma população crescente na região será cada vez menor. Na região do estudo de caso, a disponibilidade hídrica da sub-bacia do rio Corrente é de 54,20 m³/seg, no ponto de capitação em Alvorada do Norte (ANA, 2000).

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Com o passar dos anos tem-se que as retroações serão sempre positivas para o consumo dos recursos hídricos, seguindo proporcionalmente o crescimento socioeconômico da região aliado ao crescimento das áreas de produção agrícola. O somatório destes fatores faz com que a disponibilidade de recursos hídricos para os usos múltiplos diminua proporcionalmente ao crescimento destas variáveis. Associado à diminuição da quantidade da água há também a questão da qualidade dos recursos hídricos que podem tornar-se cada vez mais eutrofizados à medida que as emissões de efluentes não tratados aumentem, agregado ao uso constante de insumos químicos na produção agrícola.

Partindo desta proposição, tem-se que os conflitos pelo uso dos recursos hídricos podem advir do crescimento populacional e econômico, uma vez que isso pode levar ao desencadeamento de diversos processos de impacto negativo do meio ambiente.

Segundo Abramovay (1999, p.08) a continuidade da agropecuária extensiva e intensiva nos Cerrados pode configurar num esgotamento dos recursos naturais presente neste ecossistema. O fato é que a dependência crescente em insumos químicos e irrigação constituem numa ameaça não só ao ecossistema como um todo, mas à própria continuidade as explorações agropecuárias.

Segundo Christofidis (2001, p.142), no Brasil considerando-se os volumes de água derivados dos mananciais para os principais usos consuntivos, os indicadores são de: 61% para uso agrícola, 18% para o indústrial e 21% para o consumo humano. Na região do estudo de caso onde não há um setor indústrial formado, grande parte do volume de água consumida é para uso agrícola: irrigação e dessedentação de animais.

Considerando o nordeste goiano como nova área de expansão agrícola do estado de Goiás com a chegada de culturas em escala como a soja, sorgo, arroz, milho e cana-de-açúcar, o uso de insumos químicos é crescente, e com isso há uma diminuição da resiliência dos recursos hídricos dos Cerrados, tornando o sistema mais frágil e menos adaptado às condições ambientais normais.

Outro aspecto é o forte apelo à irrigação destas culturas, uma vez que o mercado é crescente e nos períodos de seca característicos dos Cerrados fazem que tal prática seja utilizada principalmente nesta época. Segundo dados da SEPIN (2007), a área total irrigada no

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estado de Goiás é de 198 mil hectares, dos quais, 145.600 hectares sob pivôs. O consumo de energia elétrica só pelos irrigantes de Goiás cresceu mais de 115% e o consumo de água necessário ultrapassou 3,5 bilhões de litros de água/dia, consumo maior que a capital do estado de Goiás, Goiânia.

Para Barbosa (1999), o Cerrado é o alimentador das bacias hidrográficas brasileiras, principalmente devido à quantidade de aqüíferos presentes no subsolo deste bioma. No mesmo artigo, o autor pontua sobre o uso inadequado do solo com a ocupação dos chapadões de forma mais intensa, que trouxe como conseqüência a retirada da cobertura vegetal, sua substituição por vegetações temporárias de raiz subsuperficial insuficiente para reabastecer os aqüíferos e conseqüentemente passa a caracterizar como uma possível (in) disponibilidade hídrica.

Assim, tem-se a necessidade de uma proposta de gestão para o uso dos recursos hídricos, a partir da formação e consolidação do comitê de bacia101 Araguaia-Tocantins, com vistas à otimização dos benefícios da gestão e de sua operação em relação ao meio ambiente, e vice-versa, mantendo como foco o desenvolvimento a partir do uso dos recursos hídricos para a geração de eletricidade, irrigação, consumo humano, indústrial, pesca e recreação (ANEEL/ANA, 2002).

3.4.3 Uso do Solo

O uso do solo é diretamente ligado aos recursos hídricos e aos fatores econômicos, uma vez que seu uso ou sua manutenção está ligado aos afluxos e efluxos destas estruturas. Tem-se que, quanto maior o crescimento econômico atrelado ao crescimento populacional, maior são os usos dos bens naturais, e conseqüentemente deriva num desequilíbrio do sistema em questão.

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101 Já existe um Comitê de Bacias Araguaia-Tocantins, mas ainda está em consolidação já que seus trabalhos

iniciaram efetivamente em agosto de 2007. A data de criação do comitê foi em 31/05/2006 em Brasília. O trabalho inicial consiste na revitalização da bacia Araguaia-Tocantins a partir da montagem de um banco de dados dos principais órgãos governamentais envolvidos no projeto e seus respectivos estados: Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Pará, Mato Grosso e Maranhão (SEMARH, 2007).

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Conforme a Figura 17 acima apresentada, da diminuição dos insumos referentes às arrecadações que dinamizaram a economia local, é apresentado na modelagem que na medida que estas entradas de arrecadações das pequenas centrais hidrelétricas tendem a diminuir, as saídas tornam-se maiores dentro do uso do solo, como uma tendência para a continuidade do crescimento econômico aliado ao crescimento populacional constante, ou seja, as retroações neste caso serão também sempre positivas, mas com uma tendência que se mostra pequena no início da construção do cenário e com sua alteração de fluxos, torna-se acentuado.

Baseado nas constatações acima e associado à predisposição natural do nordeste goiano que é a pecuária extensiva em grandes áreas de cerrado, com o gado alimentando-se tanto de gramíneas natural deste ecossistema, assim como de gramíneas exóticas como a braquiária, tem-se uma configuração de crescimento exponencial da produção pecuária com o foco em gado de corte, onde as áreas deste tipo de manejo tendem a aumentar. Segundo Abramovay (1999), é fundamental a adoção de formas adequadas de manejo do solo, já que pelo menos 80% das pastagens plantadas nos Cerrados brasileiros apresentam algum tipo de degradação. Isso influi consideravelmente na produtividade do rebanho.

Em situações de degradação de pastagens, os solos podem apresentar sinais de desertificação, sobretudo em solos areno-quartizosos, povoados por cupinzeiros e tomados por plantas infestantes como o assa-peixe, o capim amargoso e a vassourinha. Ravinas e voçorocas começam a fazer parte desta paisagem, já que há escassez de forragens naturais. Áreas de pastos se estendem até as matas de galerias, veredas e covais, afetando o sistema hídrico dos Cerrados. Em algumas regiões, pode-se observar o secamento de riachos e ribeirões no período das secas, o que tem levado muitos pecuaristas ao recurso da construção de açudes de reserva de água (SHIKI, 1997, p.149).

Nas áreas de lavoura, os impactos têm-se mostrado menores, principalmente pela adoção do plantio direto. Entretanto, no nordeste goiano prevalecem práticas agrícolas aos quais os impactos mostram-se desfavoráveis como o uso do “correntão” e da queimada das áreas naturais. Compreende-se que o Cerrado é uma “floresta de cabeça para baixo”, com estrutura radicular espessa, às vezes, a mais de 20 metros de profundidade e de possuir a maior parte de sua biomassa subterrânea (GOMES, 2003). Por isso, os desmatamentos destas áreas compreendem ao uso de espessas correntes amarradas em tratores que vão arrancando sua vegetação profunda, o “correntão”. Além disso, as queimadas facilitam este processo.

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Com a simplificação do ambiente natural, necessária à produção de grãos em larga escala, tem levado ao aumento da resistência de pragas e doenças e, portanto ao uso crescente de doses de agrotóxicos. Isso provoca uma contaminação dos solos e, por conseguinte das águas. Além disso, a não observância dos tempos de pousio faz com que os rendimentos de produtividade decaiam rapidamente ao uso crescente da agricultura.

Segundo Abramovay (1999) a estratégia de conservação do uso do solo dos Cerrados a partir do desenvolvimento agrícola sustentável são metas práticas de se conseguir. A principal premissa para a implantação de uma estratégia que transforme a preservação ambiental em vantagem e não em ônus, é que os Cerrados deixem de ser vistos como fronteira cuja vocação central é a produção de commodities (produtos agrícolas, como arroz, soja, carne) e passem a ser valorizados pela riqueza do seu ecossistema.

Os Cerrados possuem uma tripla vocação: áreas para agricultura e pecuária; no aproveitamento das riquezas naturais a partir de sua vegetação e recursos hídricos; e na manutenção das áreas naturais para a preservação do seu ecossistema. É fundamental trabalhar com o estímulo à rotação de lavoura e pecuária, aliada com a preservação ambiental no aproveitamento econômico destes recursos seja no consumo direto através da alimentação, seja na fabricação de fármacos, através de plantas medicinais já conhecida a partir dos costumes tradicionais e outras que podem ser pesquisadas. Além é claro de se preservar um dos hospots mundiais de biodiversidade que concentra um terço da biodiversidade nacional e 5% da flora e fauna mundial (KLINK & MACHADO, 2005 apud MYERS et al., 2000; SILVA & BATES, 2002). Há pelo menos 137 espécies de animais que ocorrem no Cerrado que estão ameaçadas de extinção (FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS, 2003; HILTON- TAYLOR, 2004) em função da grande expansão da agricultura e intensa exploração local de produtos nativos.

Estas atividades acima descritas podem ser tratadas em consonância e não apenas na apropriação do uso do solo para fomentar o crescimento socioeconômico como apresentado no modelo.

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