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7 Conclusões e recomendações

3.2 Movimento de vertente

3.2.5 Fluxos

Estes processos de deslocamento nas vertentes, caracterizam-se por serem movimentos espacialmente contínuos onde as superfícies de tensão tangencial são efémeras e frequentemente não preservadas. A distribuição na massa deslocada assemelha-se à de um fluido viscoso. A velocidade de descida do material é máxima à superfície diminuindo com a profundidade.

De acordo com Varnes, (1978), nestes movimentos de vertente, verifica-se uma transição gradual de deslizamentos para fluxos dependendo do conteúdo de água, mobilidade e evolução do movimento. Os deslizamentos de detritos podem transformar- se em fluxos de detritos extremamente rápidos ou em avalanches de detritos à medida que o material deslocado perde coesão, ganha água ou encontra declives mais íngremes. Este tipo de movimento afecta principalmente formações com grande conteúdo de argilas, valores superiores a 35%, visto que este tipo de material possui uma propriedade que permite adquirir um comportamento plástico quando acontece um aumento de humidade.

Assim, além da existência de materiais finos, a ocorrência de fluxos implica também a existência no rególito de um elevado conteúdo de água, sendo por isso características de regiões montanhosas e húmidas.

Na ilha da Madeira, os fluxos são um dos perigos naturais que mais ocorrem, responsáveis pela perda de algumas vidas ao longo da história (Rodrigues 2005).

Exemplos deste tipo de movimento, são os eventos acontecidos em São Vicente (2001), e no Funchal e Serra de Água (2010) (Figura 21).

19 Fluxos de terra

Nos movimentos de terras o material, geralmente rególito, entra em liquefação e desloca-se para posições inferiores. A forma geral é alongada e apresenta forma lenticular característica.

A zona de cedência fica registada por uma depressão e, normalmente, por um pequeno escarpado. A parte frontal corresponde a uma pequena elevação correspondente à principal área de deposição.

Os fluxos em rochas são deformações gravíticas profundas e movimentos lentos e mais ou menos permanentes no tempo, que afectam massas rochosas muito diaclasadas ou estratificadas, geralmente em vertentes moderadas a íngremes, em que os materiais correspondem a sedimentos finos (Zêzere, 1997).

Estas movimentações tanto podem acontecer em condições em que não há envolvimento de grandes quantidades de água, como em situações em que o solo está saturado com água, desenvolvendo-se então, movimentos do tipo fluxo detrítico.

Fluxos de detritos

Os fluxos de detritos consistem numa mistura de materiais heterogéneos finos (areia, silte e argila), e grosseiros (calhaus e blocos), com uma quantidade de água variável, formando uma massa que se desloca em direcção à base da vertente, normalmente por impulsos sucessivos induzidos pela força da gravidade e pelo colapso repentino dos materiais de suporte (Zêzere, 1997).

São induzidos, frequentemente, por períodos de elevada pluviosidade, podendo desenvolver-se todos os termos de transição entre cheia constituída quase apenas por água da escorrência superficial e fluxos de elevada densidade em que a quantidade de matéria em suspensão é muito grande.

Normalmente são muito fluidos e, por isso, deslocam-se através da rede de drenagem pré-existente. Podem, assim, atingir grandes distâncias, mesmo deslocando-se em vales com inclinação suave (Figura 22).

Zona de ruptura Zona de deslocamento Zona de depósito a) b)

Figura 22: a) Fluxos de terra; b) fluxos de detritos.

Deslocamento por reptação ou creep

É a movimentação muito lenta, geralmente contínua, de rególito numa vertente, causado por tensões tangenciais suficientemente fortes para produzirem deformação permanente, mas insuficientes para conduzirem a ruptura brusca (embora, por vezes, dela sejam precursoras). Praticamente todas as vertentes são afectadas por este tipo de movimentação, embora os ritmos a que se verificam sejam muito variados (Rodrigues, 2005).

Génese e evolução de vertentes na Ilha da Madeira

Universidade da Madeira - 2011

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Com frequência as evidências de reptação são árvores inclinadas, estradas e vedações deslocadas, etc (Figura 23).

fendas árvore inclinada poste inclinado vedação distorcida

Figura 23: Efeitos da reptação numa vertente (Adaptado de Clowes e Comfort, 1987).

Este tipo de movimento verifica-se um pouco por toda a ilha, mas principalmente na costa sul entre Machico e Ponta de Sol, (Rodrigues, 2005) (Figura 24).

Figura 24: Observação do efeito de creptação no Sítio dos Moledos - Ponta do Sol (Foto do autor 14-02-2011).

A gravidade está sempre presente no deslocamento por reptação conduzindo a uma descida progressiva das partículas na zona superficial da vertente, ainda assim, de acordo com (Cabral, 1998), existem vários processos ou mecanismos impulsionam:

• Levantamento resultante de expansão por hidratação, seguido de assentamento por dessecação;

• Levantamento resultante da expansão térmica, seguido de assentamento por retracção térmica;

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• Levantamento por congelamento de água, seguido de assentamento por fusão do gelo;

• Acção de seres vivos, como deslocamentos induzidos por crescimento e morte de raízes ou deslocamentos induzidos por escavações de animais.

No caso dos processos físicos, as partículas seguem inicialmente uma trajectória de expansão, perpendicular à superfície da vertente, seguindo depois uma trajectória de retorno, na vertical, devido a acção da força gravítica (Figura 25).

ele va çã o expansão subida descida g trajectória de contracção trajectória de expansão

Figura 25: Movimento de partículas gerado por expansão e contracção (Adaptado de Clowes e Comfort, 1987).

O movimento de reptação tem capacidade para actuar até uma profundidade de cerca de 1 m, sendo a sua velocidade maior a baixas profundidades, perto da superfície da vertente, diminuindo o seu valor com o aumento de profundidade, até se anular totalmente (Figura 26).

superfície da vertente

posição inicial

distância percorrida num determinado período de tempo

ve loci dade reg ólit o

Figura 26: Perfil de velocidade de descida de material numa vertente por efeito de reptação (Adaptado de Clowes e Comfort, 1987).

Mais uma vez a cobertura vegetal tem um papel importante na eficácia deste tipo de movimento, visto que a acção fixadora das raízes retarda a descida dos detritos pela vertente.

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O deslocamento por reptação tende a produzir um perfil convexo nas vertentes, isto acontece devido ao aumento de velocidade necessário para remover as quantidades de detritos que se vão acumulando ao longo das vertentes.

Classificam-se os movimentos de massa pela velocidade de seu movimento, como se pode verificar no Quadro 4, que mostra a classificação dos movimentos de maciços terrosos em função das velocidades com que eles se processam de acordo com Varnes (1978).

Quadro 4: Classificação dos movimentos segundo a sua velocidade (Varnes, 1978)

VELOCIDADE DESCRIÇÃO DA VELOCIDADE TIPO DE MOVIMENTO

> 3 m/s Extremamente rápida Desmoronamento 0,3 m/min – 3 m/s Muito rápida Desmoronamento 1,5 m/dia – 0,3 m /min Rápida Desmoronamento e

Deslizamento

1,5 m/mês – 1,5 m/dia Moderada Deslizamento

1,5 m/ano – 1,5 m/mês Lenta Deslizamento e Creep

0,06 m/ano – 1,5 m/ano Muito lenta Creep

< 0,06 m/ano Extremamente lenta Creep

3.3

Relação entre os movimentos de massa e os complexos

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