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2 PCN, ENSINO DE LÍNGUA MATERNA, TEXTO e COESÃO: uma

3.4 O folhado textual

Para o Interacionismo Sociodiscursivo, todo texto é organizado em três superpostos e em parte interativas, que definem o que chamamos de folhado textual.

A organização de um texto vista por esse prisma é constituída a partir de três camadas superpostas. São elas: a infraestrutura geral dos textos, os mecanismos de

textualização: a conexão, a coesão nominal e a coesão verbal, e os mecanismos enunciativos.

A infraestrutura geral do texto é considerada o nível mais profundo do texto, que é constituído pelos tipos de discurso, pelas modalidades de articulação entre os tipos de discursos e pelas sequências que nele aparecem, podendo ser assim resumido:

o plano geral refere-se à organização de conjunto do conteúdo temático, mostra-se visível no processo de leitura e pode ser codificado em um resumo; (...) a noção de tipo de discurso designa os diferentes segmentos que o texto comporta; (...) as articulações entre tipos de discurso podem tomar diferentes formas; (...) ‘e’ (grifo nosso) a noção de sequência (ou de sequencilidade; cf. Adam, 1992) designa modos de planificação mais convencionais ou, mais especificamente, modos de planificação de linguagem (...), que se desenvolvem no interior do plano geral de texto (...) (BRONCKART, 2012, p. 120- 121).

Em se tratando dos mecanismos de textualização, de acordo com Bronckart (2012), independentemente da diversidade dos constituintes da infraestrutura de um texto empírico, ele – o texto - constitui uma coerência – uma unidade comunicativa que

50 se articula a uma situação de ação e destinada a ser compreendida pelo seu destinatário. Esse todo coerente é formado pelo funcionamento dos mecanismos de textualização e pelos mecanismos enunciativos.

Bronckart (2012) vem dizer que:

os mecanismos de textualização são (...) articulados à progressão do conteúdo temático, tal como é apreensível no nível da infraestrutura. Explorando as cadeias de unidades linguísticas (ou séries isotópicas), organizam os elementos constitutivos desse conteúdo em diversos percursos entrecruzados, explicitando ou marcando as relações de continuidade, de ruptura ou de contraste, contribuindo, desse modo, para o estabelecimento da coerência temática do texto (BRONCKART, 2012, p. 259-260).

Dentre os mecanismos de textualização, podemos agrupá-los em três conjuntos: a conexão, a coesão nominal – foco de nossa pesquisa – e a coesão verbal.

Acerca dos mecanismos de textualização, Bronckart (1999) assim os conceitua: a conexão contribui para a marcação das articulações de progressão temática e realiza-se por meio dos “organizadores textuais”. Esses organizadores, além de assinalarem as articulações locais frasais, também indicam as transições entre os tipos de discurso e as formas de planificação constitutivas dos textos. Desse modo, os mecanismos de conexão marcam as relações entre estruturas, isto é, explicitam as relações existentes entre os diversos níveis de organização de um texto.

Assim, podem exercer a “função de segmentação”: em um nível mais global, explicitam as articulações do plano textual, delimitando as partes que o compõem e assinalando os diferentes tipos de discurso correspondentes a essas partes. Quando exercem a “função de demarcação” ou “balizamento”, estará em seu nível inferior e marcam as articulações entre as fases de uma forma de planificação. Em um nível mais inferior - as estruturas frasais – tanto pode assumir a função de empacotamento, quanto explicitar as modalidades de integração das frases sintáticas à estrutura que constitui a fase de uma forma de planificação; pode, pois, exercer a “função de ligação” - coordenação, justaposição - ou de “encaixamento”- subordinação -, articulando duas ou várias frases sintáticas em uma única frase.

Tratando-se da coesão verbal, o autor afirma que é um mecanismo que colabora para explicitar as relações de continuidade/descontinuidade e/ou de oposição existentes entre os elementos de significação expressos pelos sintagmas verbais. Dessa maneira, a

51 coerência temática é marcada pelas escolhas dos lexemas verbais e pelas escolhas de seus determinantes (flexões verbais e auxiliares), isto é, dos “tempos verbais”.

À guisa de esclarecimentos, sobre os mecanismos de textualização, não nos deteremos aqui em nos aprofundar nas noções de conexão e de coesão verbal, pois o foco da nossa pesquisa está no estudo da coesão nominal, que será retomada na seção

Coesão Textual – perspectivas.

Por fim, sobre os mecanismos enunciativos, eles contribuem para a estabilidade da coerência pragmática do texto. Focar-nos-emos aqui na abordagem do estatuto específico do autor e das suas instâncias formais de enunciação.

O autor é agente de ação de linguagem concretizado em textos empíricos; também é responsável “pela totalidade das operações que darão a esse texto seu aspecto definitivo” (BRONCKART, 2012, p. 320). O autor decide o conteúdo temático a ser semiotizado, escolhe o gênero de texto adaptado à situação comunicativa, seleciona e organiza os tipos de discurso, gerencia os mecanismos de textualização.

Portanto, quando se trata de produção de linguagem (produção de texto), “a noção de autor (...) é ‘aquele que está na origem’ e ‘aquele que é responsável’” (BRONCKART, 2012, p. 320).

Assim:

todo texto (...) procede do ato material de produção de um organismo humano e, como em toda ação humana, esta intervenção comportamental está em estreita interação com o acionamento de um conjunto de representações, que estão necessariamente inscritas nesse mesmo organismo. Logo, tanto do ponto de vista comportamental quanto do mental, o organismo humano que constitui o autor é realmente quem está na origem do texto (BRONCKART, 2012. p. 321).

Vê-se, assim, que esses três aspectos – a infraestrutura geral dos textos, os mecanismos de textualização e os mecanismos enunciativos, que constituem o folhado textual, - são imprescindíveis para o ISD no processo de produção e compreensão textual. No entanto, em nossa pesquisa, quando tratamos dos mecanismos de textualização, nosso foco está voltado à coesão nominal, que representa o nosso objeto de estudo e que será, portanto, discutido na seção a seguir.

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