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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.5 FONTES ALTERNATIVAS RECURSOS RENOVÁVEIS

Há vários séculos que os recursos energéticos têm sido a base estratégica em diversos países, pois para atingirem níveis de crescimento, fez-se necessário desenvolver suas economias, incentivando atividades industriais e comerciais, o que requer, um aumento do consumo de energia. Entretanto, estudos apontam possibilidades do esgotamento das fontes convencionais de energia e, por conta desta escassez, há riscos de conflitos, inclusive guerras, e tensões internacionais.

Rathmann e outros (2005) considerando o petróleo como principal combustível, comentaram que as reservas mundiais totalizam 1.147,80 bilhões de barris e o consumo anual está estimado em 80 milhões de barris/dia, o que representaria aproximadamente 39 anos de consumo. A possibilidade de esgotamento das reservas de petróleo causaria uma elevação dos preços, a tal ponto que, sua utilização como combustível, não seria mais interessante, denotando a necessidade do uso de alternativas energéticas.

O uso intensivo de combustíveis fósseis teria provocado mudanças climáticas que ameaçam as condições de manutenção do planeta. Contudo, o grande desafio dos tempos atuais está em promover o desenvolvimento dos países emergentes, sem causar os mesmos efeitos gerados pelo modelo aplicado nos países desenvolvidos. Este grande paradoxo revela não somente a energia como elemento indispensável, como também o principal fator antrópico do efeito estufa e do aquecimento global. Na Figura 4 é possível visualizar o resultado do consumo mundial de energia primária entre o período de 1981 a 2005, apresentado no Relatório emitido pela EIA (2008).

Figura 4-Consumo Mundial de Energia Primária, 1981 a 2005 Fonte : Adaptado de International Energy Annual 2005

Segundo os dados do Relatório, o consumo de energia primária mundial atingiu em 2008, 11,3 bilhões de toneladas de óleo equivalente, com destaque para o petróleo, no decorrer de mais de duas décadas. A figura ainda revela que apesar da participação muito tímida, as fontes de energias alternativas já são evidências na matriz energética mundial.

No Brasil, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE, 2008), o consumo de energia primária, atingiu em 2008, 256 milhões de Toneladas Equivalente de Petróleo (TEP). O Relatório ainda reporta que o consumo de energia elétrica mundial constitui aproximadamente 15% do consumo total de energia. Estima-se que, até o ano de 2030, a geração de eletricidade mundial chegará a 33,3 trilhões de kilowatt-hora, quase o dobro, em relação ao ano de 2005, que era de 17,3 trilhões de kilowatt-hora. A mais forte projeção está nos países ditos em desenvolvimento, geralmente aqueles que crescem aproximadamente 4% ao ano. Contudo, nota-se que aproximadamente 32% da população nestes países, ou seja, quase 1,6 bilhões de pessoas, ainda não têm acesso à eletricidade.

Na Figura 5 mostra-se a produção mundial de energia elétrica entre os continentes. De acordo com o período apresentado, nota-se um crescimento acentuado na América do Norte, Europa, Ásia e Oceania, destacando-se a Ásia e Oceania, por apresentarem um crescimento contínuo para geração de eletricidade. Os países que estão contidos na América do Sul, como é o caso do Brasil, apesar da pequena participação em relação aos demais continentes citados anteriormente, apresentaram um crescimento moderado.

- 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000 70.000 80.000 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 2002 2005

Petroleo (mil barril/dia) Carvao mineral (milhão ton) Energ. Hidroelétrica (bilhão kWh) Energia Nuclear (bilhão kWh) Geoterm-Solar-Eólica-..(bilhão kWh) Gás (trilhão pé cubico)

Energia Elétrica: geração mundial (bilhão kWh) - 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 4.500 5.000 5.500 6.000 1980 1984 1988 1992 1996 2000 2004

North America Central & South America

Europe Eurasia

Middle East Africa

Asia & Oceania

Figura 5-Energia Elétrica – Geração Mundial (bilhão kWh), 1984 a 2005 Fonte: Adaptado de EIA Energy International Administration, 2005

Segundo a Eletrobrás (2008b), no Brasil o consumo total de energia elétrica, nas últimas décadas, cresceu a uma taxa anual média de 7%. O consumo passou de 23 mil GWh, em 1963, para 497,4 TWh. Apesar do crescimento significativo, esse consumo no País pode ser visto ainda com desigualdades.

Segundo dados do Ministério de Minas e Energia (BRASIL, 2008), estima-se que mais que 20 milhões de pessoas, vivam sem acesso à energia elétrica. Essa população majoritariamente vive no meio rural e em comunidades isoladas do País, ou seja, cerca de 60% das propriedades rurais não tem acesso à eletricidade.

Tratando-se do setor residencial, há forte desigualdade entre as regiões brasileiras. No Nordeste, local onde se concentra a maior parcela das famílias pobres do País, nota-se um menor consumo em relação à região Sul. Apesar de compreender quase 28% da população brasileira, a região Nordeste detém menos de 13% da renda nacional e menos de 16% do consumo residencial de eletricidade (EPE, 2008).

Rosa (2007) argumentou que essas comunidades denominadas de “excluídos elétricos”, têm sido reconhecidas pelas políticas públicas notadamente a partir da edição da Lei nº 10.438/02 que dispôs, entre outras coisas, sobre a universalização do serviço público de energia elétrica, e do Decreto nº 4.873/03, que criou o Programa Luz para Todos.

O Programa Luz para Todos tem priorizado o atendimento à população do meio rural. A Agência Reguladora - Aneel fixou áreas progressivas, aplicando o atendimento tradicional de implantação do sistema de distribuição de eletrificação.

Para comunidades cuja localização e concentração populacional se tornam de complexa distribuição, resta apenas a aplicação de soluções não-triviais e critérios especiais de atendimento. As concessionárias, nos seus planos de atendimento, têm priorizado para estas comunidades a aplicação de tecnologias de menor custo, de modo a fazer parte de um pacote de ações para redução da pobreza local, com a geração e distribuição de energia elétrica em pequena escala, redução de impactos ambientais, melhoria das condições de saúde, habitação, educação, lazer e geração de renda. Pelas razões apresentadas, a proposta de utilização de formas renováveis de energia, através da biomassa, poderá ser mais vantajosa, considerando- se os demais ganhos externos associados. No Brasil, segundo dados da Eletrobrás (2008a), a oferta de energia renovável já representa aproximadamente 45% do total da oferta de energia.

O PROINFA, instituído pela lei 10438/02, é um programa que contempla a instalação de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), biomassa e energia eólica. Este Programa estabelece valores diferenciados de tarifas. Além de ser considerado o único Programa brasileiro focado na redução das mudanças climáticas a partir da diminuição das emissões dos GEE em conformidade com a CQNUMC, possibilita o aumento da participação das energias renováveis na matriz energética brasileira.

Coldebella (2006) menciona que, para a escolha correta de uma ou mais formas de energias alternativas, alguns parâmetros devem ser levado em conta, dentre eles: a distância da rede elétrica principal, a disponibilidade de recursos energéticos, a competitividade da fonte renovável em relação à energia tradicional, a relação que a forma renovável possa estabelecer com as atividades locais a fim de se aproveitar resíduos, recursos e mão de obra local e, principalmente, a cultura regional, sendo fator básico para que se obtenha sucesso e aceitação local.

Vários projetos de implantação de sistemas de geração de eletricidade às comunidades isoladas, a partir de fontes renováveis de energia, já foram realizados no Brasil, tanto por iniciativa do governo quanto por empresas particulares de energia elétrica e ONGs. São projetos com sistemas fotovoltaicos, eólicos e PCHs. Contudo, pouco foi feito quanto o uso de sistemas baseados em biomassa. Entretanto, percebe-se que ainda é preciso avançar no

desenvolvimento das tecnologias de biodigestão para que esses sistemas sejam confiáveis e competitivos (WALTER, 2000 apud ALMEIDA, 2007).

Rosa (2007) apresenta experiências de modelos de eletrificação rural da China e Índia, tendo destaque no uso de fontes alternativa renováveis.

O governo da China, a partir de 1958, começou a desempenhar uma política na promoção da eletrificação rural, inicialmente para irrigação, prevenção de inundações e outras atividades produtivas, dentre as tecnologias empregadas tinha-se como principais as microcentrais hidrelétricas e o biogás. Dados de Un-Habitat (1993), nos anos 1990, aproximadamente 25 milhões de chineses usavam biogás para cocção e iluminação, ademais, cerca de 10 mil biodigestores de grande e médio porte estavam em operação em fábricas de alimentos e fazendas de criação de animais.

Enquanto que na Índia, a eletrificação rural é de responsabilidade do Ministério de Energia Elétrica e do Ministério de Fontes Não Convencionais de Energia (MNES) que busca o atendimento por meio de fontes renováveis, como PCHs, solar, eólica, biomassa, energia das marés e geotérmica, não somente para eletrificação, mas também para o uso do biogás para cocção de alimentos, além da geração de renda para comunidades rurais por meio dos projetos de energia. A aplicação das tecnologias para eletrificação rural foi feita de acordo com as estratégias de curto, médio e longo prazo. No curto prazo, a dinâmica envolvia a implantação de painéis solares fotovoltaicos, biomassa e microturbinas.

O uso do biogás na Índia é evidenciado desde o ano de 1937. Em 1950, foi desenvolvido e aperfeiçoado um biodigestor com tampa flutuante que ficou conhecido como modelo indiano ou KVIC. Em 198410, a Índia chegou a possuir quase 1,5 milhões de plantas a biogás implantadas (UN-HABITAT, 1993 apud ROSA, 2007), porém, muitas foram desativadas. As unidades que permaneceram operando continuamente foram aquelas localizadas em áreas onde a disponibilidade de excrementos sólidos de animais eram mais significantes.

10 Devido à política de subsídio do governo ao uso do biogás (cobrança da tarifa de energia em um quinto do

Um caso de sucesso e de referência internacional de implantação de biodigestores está na Planta de Pura, situada na região semiárida da Índia, que foi construída com o objetivo de promover o uso do biogás em substituição à lenha e, principalmente, a conversão do gás em eletricidade para abastecimento da água e iluminação. O desejo em obter água limpa fez com que o sistema de biogás fosse utilizado para atender às casas, por meio de micro-redes, e à moto-bomba de poços artesianos.

Apesar dos dados do Ministério de Energia da Índia apontar ainda a existência de mais de 50% unidades rurais sem energia, ou seja, 78 milhões de casas, o governo indiano considera o programa de eletrificação rural, vital para o desenvolvimento sócio-econômico das comunidades. Portanto, para o Brasil, o uso do biodigestor poderá tornar-se uma boa solução de acesso à energia especialmente para locais como o sertão nordestino, servindo de substituto ao gás de cozinha e ao uso da lenha para cocção e alternativa à eletricidade convencional. Além disso, proporciona outros benefícios, como maior participação do gás na matriz energética reconhecidamente menos poluente, a substituição dos fertilizantes convencionais e ganhos financeiros com os créditos de carbono.

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