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PERFIL FENÓLICO

4. FONTES E CONSUMO

Para o Homem, a principal fonte de flavonóides são os vegetais, frutos e seus derivados (Shi, 2001), devendo-se considerar ainda o vinho e o chá como importantes contribuintes (Yao eia/., 2004).

Yao e co-autores (2004) referem que a quantidade diária de flavonóides ingerida poderá estar compreendida entre 100 e 1000 mg/dia. No mesmo sentido, Johnson (2001) refere que esta quantidade possa situar-se à volta de 1 g/dia. Miller e Ruiz-Larrea (2002) referem valores bastante inferiores (23 mg/dia) relativos à ingestão média de flavonóides na Holanda, referindo que as consideráveis melhorias analíticas que ocorreram nos últimos anos poderão

Capítulo I - Perfil fenólico

ser a justificação para a discrepância dos valores descritos na literatura. No entanto, parece ser opinião da generalidade dos autores que se debruçaram sobre esta questão, que é difícil estabelecer estimativas concretas, não somente devido à diversidade de hábitos alimentares entre a população mundial, mas sobretudo porque os dados sobre quantidades de compostos específicos, como ácidos fenólicos e flavonóides, nos diversos alimentos e bebidas são ainda muito escassos, havendo um longo caminho a percorrer neste sentido. Por outro lado, há ainda que considerar a existência de uma variabilidade natural dos níveis destes compostos, os quais podem ser influenciados por factores genéticos, ambientais e outros, como o estado de maturação e o tipo de processamento culinário a que os alimentos são sujeitos (Yao et ai., 2004).

5. UTILIZAÇÃO

Os compostos fenólicos, bem como as plantas que os contêm, podem ser utilizados para fins medicinais, para a preservação dos alimentos ou pelas suas qualidades organolépticas (Chu et al., 2002; Sakakibara et ai., 2003).

A nível industrial, é frequente a adição de antioxidantes a produtos alimentares, tais como óleos refinados, de forma a retardar possíveis fenómenos oxidativos e aumentar o seu prazo de validade (Fujisaki et ai., 2000). Apesar dos antioxidantes mais utilizados com esta finalidade serem o BHA (butil-hidroxianisol), o BHT (butil-hidroxitolueno) e o TBHQ (ferc-butil- hidroquinona) a utilização de antioxidantes naturais é cada vez mais frequente, indo de encontro às expectativas dos consumidores que preferem a utilização de produtos naturais, uma vez que os consideram melhores e mais seguros que os sintéticos.

Têm sido levados a cabo numerosos estudos equacionando a utilização de plantas, ou seus extractos, contendo antioxidantes naturais tais como flavonóides, catequinas ou ácidos fenólicos (Evans, 1997; Wanasundara e Shahidi, 1998; Yanishlieva e Marinova, 2001; Yanishlieva, 2001). Estes estudos demonstraram a eficácia dos produtos naturais, frequentemente superior à apresentada pelos antioxidantes sintéticos. Por este motivo, a utilização de plantas, extractos ou compostos delas extraídos, é cada vez mais encarada como possível substituto de antioxidantes sintéticos. Apesar das culturas de células serem uma possibilidade para a obtenção destes compostos, o elevado grau de especialização e os custos que lhe estão associados tornam o método muito oneroso. Outra possibilidade consistiria na utilização da biologia molecular, desenvolvendo organismos geneticamente modificados (OGM) de modo a produzir uma maior quantidade destes produtos específicos. Contudo, as dúvidas e renitência ainda existentes, por parte dos consumidores e não só, relativamente à utilização de OGMs, levam a crer que esta via não seja desenvolvida proximamente. Assim, a agricultura tradicional e as subsequentes metodologias de extracção continuam a ser as preferencialmente utilizadas para a obtenção destes compostos (Hall, 2001).

Parte I - Folhas de aveleira e de nogueira

5.1 Folhas de aveleira e de nogueira e a medicina tradicional

Desde sempre, a medicina baseada no uso de plantas desempenhou um importante papel na saúde pública. Actualmente, a fitoterapia continua a ser utilizada nos cuidados de saúde e prevenção da doença, especialmente nos países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento. Embora as motivações subjacentes sejam diferentes, também nos países desenvolvidos se tem assistido a uma procura crescente das virtudes curativas de certos vegetais. Na Europa, existe actualmente um aumento de interesse pelo uso de plantas com propriedades terapêuticas, embora a sua importância varie consideravelmente de país para país (Silano era/., 2004).

As folhas de aveleira (Corylus avellana L), se bem que, tanto quanto nos é dado saber, não sejam comercializadas actualmente, foram e continuam a ser utilizadas em medicina tradicional. O seu uso deve-se essencialmente às suas propriedades vasoconstritoras e anti- hemorrágicas, sendo por isso utilizadas como tónico venoso em situações de varizes, fragilidade capilar, edemas e ainda na sintomatologia hemorroidal. As preparações galénicas podem ter utilização tópica em varizes, úlceras, hemorróides e inflamações orofaríngeas (Cunha e Pereira, 2003). Alguma literatura refere, ainda, propriedades antidiarreicas, antifúngicas, cicatrizantes e adstringentes (Bruneton, 1993; Fraisse ef ai., 1999; Cunha e Pereira, 2003).

Até à presente data, poucos são os estudos disponíveis na literatura sobre as folhas de aveleira, estando apenas referida a identificação dos compostos fenólicos maioritários: ácido 5-cafeoilquínico, miricetina 3-ramnósido e quercetina 3-ramnósido (Tissut e Egger, 1972; Fraisse ef ai., 1999). Um dos objectivos deste trabalho consistiu na caracterização da folha de aveleira no que diz respeito à composição fenólica, uma vez que estes compostos podem estar relacionados com os efeitos terapêuticos descritos para esta planta.

A folha de nogueira (Juglans regia L.) tem sido largamente utilizada em medicina tradicional no tratamento de insuficiência venosa e sintomatologia hemorroidal, bem como pelas suas propriedades antidiarreicas, anti-helmínticas, depurativas e adstringentes (Van Hellemont, 1986; Bruneton, 1993; Wichtl e Anton, 1999). Foram igualmente descritas propriedades queratolíticas, anti-fúngicas, hipoglicemiantes, hipotensivas e sedativas (Valnet, 1992; Gírzu et ai., 1998). Várias destas actividades poderão dever-se à acção dos taninos, descritos na literatura (Cunha e Pereira, 2003), mas também poderão ser devidas à acção de outros compostos fenólicos, nomeadamente flavonóides e ácidos fenólicos.

A folha de nogueira está incluída na 10a Edição da Farmacopeia Francesa (1989), a qual sugeria que o controlo de qualidade químico se efectuasse mediante a detecção, por TLC, da quercetina 3-galactósido e da quercetina 3-ramnósido. No entanto, este teste revela-se insuficiente, tendo em conta que estes compostos são ubiquitários na natureza.

Capítulo I - Perfil fenólico

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