• Nenhum resultado encontrado

III – RESULTADOS

65 Fontes de segurança e insegurança

Ao longo das várias entrevistas realizadas, foi possível encontrar nos discursos as principais fontes de segurança e insegurança de cada indivíduo. Neste estudo, consideraram- se como fontes de segurança e insegurança os aspetos físicos de um espaço, os aspetos sociais de um ambiente e os aspetos temporais que fomentam o sentimento de insegurança na amostra. Estas fontes foram reportadas de forma espontânea quando foram questionados aos entrevistados, por exemplo, que aspetos seriam importantes num ambiente para se sentirem seguros, revelando-se semelhanças nas respostas, ao serem enunciadas características em si muito próximas e relacionadas. Para a apresentação destes resultados, optamos por contrapor as fontes de segurança e as fontes de insegurança, sendo estas distinguidas dentro dos vários tipos de contextos – contextos físicos (as características físicas de um ambiente, a forma como o espaço é percecionado), contextos sociais (o ambiente social propriamente dito, as pessoas que o frequentam, a relação com o ambiente) e contextos temporais (aspetos relacionados com a temporalidade, período do dia).

Contextos físicos

Um dos aspetos referidos como securizantes por parte da amostra (duas mulheres do meio urbano) são os ambientes amplos: “zonas amplas, com uma boa vista, que me permitem respirar ou sentir-me livre.”. Os ambientes amplos podem significar uma maior sensação de liberdade, controlo sobre os seus movimentos e capacidade de interação com os outros, que, como supramencionado, são significados associados ao sentimento de segurança. Paradoxalmente, para uma entrevistada do meio urbano, esta mesma característica revelou-se uma fonte de insegurança, pela possibilidade de ser surpreendida e/ou abordada por estranhos. Para ela, há uma rua específica na cidade onde vive que evita pelo “facto de ser uma zona muito ampla e escura parece que a qualquer momento qualquer pessoa pode aceder”.

Outro aspeto considerado crucial para a segurança percebida foi a iluminação das vias públicas. A luminosidade, sobretudo à noite, foi um fator mencionado em sete discursos (não existindo diferenças nos sete indivíduos em termos de área de residência e sexo), pela ligação à maior visibilidade e por sua vez, pela perceção de maior controlo sobre aquilo que os rodeia, sendo menor a probabilidade de serem surpreendidos por alvos alheios. Com efeito, consideremos os discursos de dois entrevistados relativamente a este ponto:

“Acho que um aspeto muito normal é a questão da luminosidade, ambientes mais claros, com mais luz transmitem mais tranquilidade..”

66 (Mulher, 23 anos, meio urbano)

“também me sinto mais seguro se os sítios forem bem iluminados, não gosto de estar em zonas muito escuras.. com pouca visibilidade à minha volta...”

(Homem, 56 anos, meio rural)

Como vimos anteriormente, para sete indivíduos a iluminação é um aspeto relevante para se sentirem seguros, não sendo por isso surpreendente que desses sete entrevistados, quatro tenham mencionado como uma medida importante para o aumento da segurança pública, o incremento da iluminação das vias públicas (medida mencionada por cinco sujeitos no total de vinte). Nos seus discursos, a iluminação pública contribui para o aumento do campo de visão e previne acontecimentos criminais, ao dissuadir potenciais ofensores nas zonas públicas. Além disso, esta medida relaciona-se com a escuridão e noite, que veremos mais à frente como fontes de insegurança para alguns sujeitos. Dos cinco indivíduos que evidenciaram a importância desta solução, encontramos como relevante diferença entre eles o género, uma vez que quatro são mulheres e um é homem.

Com efeito, na resposta a que medidas deveriam ser adotadas para aumentar a segurança pública, estes entrevistados referem:

“aumentar a luminosidade também é importante, acho que ajuda conseguires ver bem as coisas à tua volta, teres o teu campo de visão alargado...”

(Mulher, 20 anos, meio urbano)

“a iluminação das vias públicas... acho que é um aspeto muito importante...” (Mulher, 50 anos, meio rural)

A par da luminosidade, para três entrevistados, um dos aspetos mais importantes para um ambiente seguro são as zonas cuidadas e organizadas. Observa-se, com base nos discursos dos entrevistados, a associação do aspeto cuidado de um local à ausência de lixo nas ruas, à inexistência de casas e carros abandonados, de graffitis e do consumo de álcool e estupefacientes. Além disso, este fator surgiu intimamente relacionado com o tipo de indivíduos que frequentam esse local, surgindo, em três entrevistados, a ligação entre ambientes degradados e desorganizados e a ocorrência de mendicidade. Para eles, o aspeto ordenado e cuidado de um espaço e as pessoas que o frequentam são características essenciais para a sensação de maior segurança, como patente no seguinte discurso:

“À partida se eu vir assim os edifícios bem tratados, zonas bem iluminadas, um aspeto das coisas não sei tipo bem organizadas, e até as próprias pessoas

67

que frequentam esse espaço, até o tipo de veículos que estão estacionados... isto parece um bocado parvo mas eu sinto-me mais seguro em estar em zonas onde me parece que as pessoas que lá vivem têm algumas condições financeiras...”

(Homem, 25 anos, meio rural)

Nesta linha, por sua vez, o vandalismo e a degradação física do espaço revelaram-se uma fonte de insegurança para seis entrevistados (quatro mulheres e dois homens, quatro do meio urbano e dois do meio rural). Ocorre que os lugares abandonados com sinais de vandalismo foram uma vez mais associados a espaços onde, segundo eles, facilmente podem ocorrer comportamentos de violência, rotulando esses ambientes como inseguros. Esta perceção de insegurança traduz-se, observando-se os discursos, na possibilidade de ocorrência de criminalidade, que no caso de uma entrevistada do meio urbano é algo frequentemente presenciado na zona onde reside: “...nessa rua há muitos assaltos a carros, com vidros partidos e tudo.. muitos mendigos em conflito.. e pronto, nesses ambientes não me sinto lá muito segura não...”. Neste seguimento, as palavras de outro entrevistado retratam a relevância do aspeto físico do espaço para o sentimento de segurança:

“O aspeto de higiene logo à primeira vista, um bairro ou rua visivelmente degradado eu associo à insegurança”

(Homem, 24 anos, meio urbano)

Contextos sociais

De entre os vários aspetos do ambiente social, uma das fontes de segurança mais mencionada foi a familiaridade com o meio. Esta familiaridade foi traduzida na frequência de locais conhecidos, ou no estarem rodeados da família e dos amigos. Mais especificamente, trata-se de conhecerem bem o espaço, a forma como este se organiza, as pessoas que o frequentam e identificarem-se com ele. O conforto de conhecerem pessoas associa-se, ainda, à perceção de que podem recorrer a elas em qualquer circunstância, traduzindo-se numa maior sensação de segurança. Este aspeto foi reportado por um total de nove indivíduos, sete mulheres e dois homens, igualmente distribuídos por zona de residência. Leiamos dois dos discursos que referem esta fonte de segurança:

“Ambiente seguro é estar no meio de pessoas que... que conheço que são próximas de mim (...) gosto de ir a sítios que conheço já quem trabalha e quem os frequenta.. gosto que me pareça um ambiente familiar.”

68