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1. INTRODUÇÃO

1.9 METODOLOGIA DA PESQUISA

1.9.3 As Fontes

Por tratar-se de um estudo acerca de fenômeno urbano, presente na paisagem da cidade (o graffiti) como expressão de uma cultura subdominante e alternativa, proveniente de grupos insurgentes e desviantes (BECKER, 1999), nesta investigação foram utilizados, ao lado de fontes tradicionais e oficiais, também algumas fontes alternativas de pesquisa, dentro da tendência de análise da chamada História Cultural (PESAVENTO, 2003)19 e dos

métodos de pesquisa em ciências sociais para estudo de grupos desviantes, elaborados por BECKER (1999) e VELHO (2013). Assim, o método foi sendo adaptado conforme a necessidade, em função do objeto e do problema. Conforme Becker:

Os sociólogos deveriam se sentir livres para inventar os métodos capazes de resolver os problemas das pesquisas que estão fazendo. É como mandar construir uma casa para si mesmo. Embora existam princípios gerais de construção, não há dois lugares iguais, não há dois arquitetos que trabalhem da mesma maneira e não há dois proprietários com as mesmas necessidades (BECKER, 1999, p. 12).

Dentro dessa perspectiva, são utilizados os seguintes tipos de fontes:

19 “Uma das características da História Cultural foi trazer à tona o indivíduo, como sujeito da História recompondo histórias

de vida, particularmente daqueles egressos das camadas populares”(PESAVENTO, 2005, p. 118). A História Cultural também propicia “a renovação das correntes da história e dos campos de pesquisa, multiplicando o universo temático e os objetos, bem como a utilização de uma multiplicidade de novas fontes” (PESAVENTO, 2005, p. 69).

1.9.3.1 Fontes primárias:

 Notícias de jornais, sites, vídeos, documentários, exposições e revistas, além de legislação federal e local, pertinentes ao tema;

 Registros do Ministério Público do RS, do 3º Juizado Especial Criminal de Porto Alegre (3º JECRIM) e do Tribunal de Justiça do RS (TJRS), que foram analisados na ordem em que se dá o processo judicial: primeiro, o material do Ministério Público (porque a ação penal é o primeiro ato do processo penal); segundo, as sentenças do 3º JECRIM (onde se dá o julgamento das ações propostas pelo Ministério Público); e, por último, os acórdãos do TJRS (que são os recursos às sentenças prolatadas no JECRIM).

Na análise do material das Pastas do Grupo de Trabalho sobre Pichações 2006-2009 (da 2ª Promotoria de Justiça e Defesa do Meio Ambiente de Porto Alegre); das sentenças do 3º Juizado Especial Criminal de Porto Alegre (3º JECRIM), de 2014 a 2019; e dos acórdãos do Tribunal de Justiça do RS (TJRS), foram adotados os seguintes procedimentos:

a) O material do Grupo de Trabalho da promotoria foi examinado na ordem em que se encontrava nas pastas, que seguia uma relativa cronologia decrescente, e foi apresentado da seguinte forma: por meio de um relato sobre as atividades do Grupo, com a demonstração de uma amostra do conteúdo das pastas, de onde foram levantadas algumas reflexões a partir da observação do próprio material;

b) As sentenças do 3º JECRIM foram examinadas agrupadas pela semelhança de seus conteúdos. Após essa análise, foram elaborados alguns subcapítulos com diversas reflexões que surgiram das próprias sentenças;

c) Os acórdãos do TJRS foram analisados como uma complementação às reflexões suscitadas pelo material das pastas do Grupo de Trabalhos da promotoria e das

sentenças do 3º JECRIM. Desses acórdãos também emergem reflexões que são abordadas neste trabalho.

Registro fotográfico (amostragem) de exemplares de graffiti locais, a fim de ilustrar e melhor compreender como o fenômeno se apropria do território analisado;

 Entrevistas semiestruturadas, com caráter qualitativo e exploratório, em conformidade com as Propostas de Entrevistas Semiestruturadas (APÊNDICE 2) e com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE 1).

1.9.3.2 Fontes secundárias:

 Revisão bibliográfica acerca do referencial teórico utilizado;

 Entrevistas que foram concedidas a outros trabalhos acadêmicos, livros e veículos da mídia.

1.9.3.3 Sobre as entrevistas, riscos e custos:

Com a relação às entrevistas, foi utilizada a entrevista semiestruturada (APÊNDICE 2 – Propostas de Entrevistas) onde a entrevistadora/pesquisadora a conduziu com o “uso de um roteiro, mas com liberdade de serem acrescentadas novas questões ”que se fizessem pertinentes (MARTINS e THEÓPHILO, 2007, p. 86). As entrevistas tiveram como objetivos: descobrir aspectos inerentes ao perfil dos grafiteiros e suas motivações para grafitar; bem como descobrir como se deu o desfecho das ações quando foi provocada a intervenção do Ministério Público do RS, do 3º Juizado Especial Criminal de Porto Alegre (3º JECRIM) e do Tribunal de Justiça do RS (TJRS). E assim, as entrevistas propiciaram que se conhecesse as razões desses atores urbanos (grafiteiros e autoridade), aos dar-lhes voz.

Para a definição do público alvo, o roteiro contemplou dois grupos: 1) 05 participantes diretos considerados como aqueles que grafitam no espaço urbano; e 2) 01 participante indireto, considerado como aquele que não produz o fenômeno, mas atua a partir do conflito gerado pelo graffiti, como a 2ª Promotora de Justiça e Defesa do Meio

Ambiente de Porto Alegre/RS. Como critério, ainda foi considerada a maioridade penal dos participantes (maiores de 18 anos).

Como as entrevistas possuem um caráter exploratório e qualitativo, e não quantitativo, o número escolhido de entrevistados representa uma amostragem dos agentes atuantes em Porto Alegre/RS, que foram escolhidos em função de suas expressivas atuações, envolvimento e importância no cenário local.

Entendeu-se que as entrevistas pressupunham alguns riscos aos entrevistados, como o risco de prestarem alguma declaração que acarretasse, para si ou para terceiros, responsabilidade civil ou penal. Para evitar tais riscos, foram tomados cuidados, tais como: garantir que a participação fosse voluntária, dando ao entrevistado total liberdade de optar por não participar ou de desistir da mesma a qualquer momento. Caso o(a) entrevistado(a) escolhesse participar de forma anônima, a sua identidade seria mantida em sigilo (inclusive quando da publicação dos resultados desta pesquisa) e seriam omitidas todas as informações que permitam identificá-lo(a), se assim fosse de sua conveniência, podendo o termo de consentimento ser executado em áudio, conforme previsto na Resolução 510. Esse respaldo foi garantido com o preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE 1), onde consta a anuência em divulgar ou publicitar as informações do sujeito entrevistado e/ou de seu representante legal, livre de vícios (simulação, fraude ou erro), dependência, subordinação ou intimidação, após a explicação completa e pormenorizada sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e incômodos que esta possa acarretar.

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