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3. Aptidão Funcional e Qualidade de Vida em populações idosas

3.1 Aptidão Funcional, Atividade Física e Envelhecimento

3.1.2 Força Muscular

São vários os autores que enumeram uma definição de Força. No entanto, as diferentes capacidades da força e as diversas formas de esta se manifestar tornam pouco consensual a sua definição. Barbanti (1979) define força, como a capacidade do ser humano em exercer tensão muscular contra uma resistência, com base em fatores mecânicos e fisiológicos. Já Tubino e Moreira (2003), referem a força como a qualidade física que permite a um grupo ou grupo de músculos produzir tensão e vencer uma resistência. A estrutura muscular pode desenvolver força sem encurtamento e alongamento, com encurtamento, ou com alongamento.

A força representa também uma grandeza física, e neste contexto, significa toda a causa capaz de modificar o estado de repouso ou de movimento de um corpo traduzido por um vetor (Mil-Homens, 2000).

A produção de força é exercida continuamente e de uma forma sistemática por todos nós, com maior ou menor intensidade e depende de vários fatores: nervosos, musculares/estruturais, biomecânicos e elásticos reflexos (Weineck, 2005).

A capacidade para realizar diferentes atividades diárias, laborais ou recreacionais, é pois determinada em grande parte pela capacidade de desenvolver força muscular (Brill et al., 2000). Nos idosos, um dos efeitos do envelhecimento são as alterações a nível físico, devido ao declínio de diversas componentes físicas. Ao nível da força, verifica-se com o envelhecimento, uma diminuição na produção e na quantidade de MM (Garber et al., 2011). Estas perdas predispõem os idosos a limitações funcionais e debilidades físicas, associadas á perda de autonomia, e ao aumento da morbilidade e mortalidade (Doherty, Vandervoort, & Brown, 1993).

A avaliação da força, sobretudo quantitativa, pode ser realizada através de vários métodos, incluindo protocolos de esforço máximo isométrico, isocinético (Dinamómetro isocinético – Biodex), protocolos de uma repetição máxima (Carga máxima que pode ser movida por uma amplitude especifica de movimento muscular, com uma execução correta) (1-RM) e de repetição múltipla (por exemplo, 3-RM) (Pereira & Gomes, 2003).

Sabendo que são necessários níveis moderados de força para realizar um número surpreendente de AVD (carregar compras, subir escadas, levantar da cadeira ou sair do carro, etc.) e que estes possibilitam a manutenção de uma independência funcional e melhor QV, V. Matsudo et al., (2002) referem que as alterações ocorridas no sistema neuromuscular decorrentes do envelhecimento, são aquelas que têm um impacto mais negativo na mobilidade e funcionalidade do idoso.

Associado ao envelhecimento existe então uma diminuição da função muscular. No entanto, parece não haver consenso quanto á idade em que este decréscimo acontece. Estudos sugerem que a força muscular máxima é alcançada entre os 20 e os 30 anos, mantendo-se mais ou menos estável até á 5ª década, idade a partir da qual parece iniciar o seu declínio. Esta diminuição parece acontecer de forma moderada entre os 50 e os 70 anos (15% por década) e de forma mais acentuada a partir dos 70 anos (30% por década), sendo as perdas mais evidentes nas mulheres (Doherty et al., 1993; Kramer et al., 2006; Larsson, Grimby, & Karlsson, 1979; M. Rogers & Evans, 1993).

No entanto, devemos ter em atenção que estas alterações ao nível da força, não ocorrem uniformemente em todos os indivíduos, sendo influenciadas por vários fatores, onde se saliente a AF. Segundo Garber et al., (2011) os idosos fisicamente ativos que participam em Programas Treino de Força, apresentam uma maior quantidade de MM, são geralmente mais magros e podem ter até 30%-50% mais força que idosos sedentários (Klitgaard et al., 1990). A diminuição da força parece ser então específica de cada individuo e geralmente resulta da perda natural de MM associada ao envelhecimento (sarcopénia).

Spirduso (2005) evidencia que os défices na força podem ainda ser influenciados pelo tipo de contração muscular, pela velocidade da mesma e principalmente devido á inatividade muscular. Assim os músculos usados frequentemente apresentam uma melhor manutenção da produção de força que os músculos menos recrutados (Bosco & Komi, 1980; Wilmore, 1991). Diferentes estudos mostram que a diminuição da força dos MI com a idade é mais acentuada que a observada nos membros superiores (Hughes et al., 2001; Klitgaard et al., 1990).

A diminuição da força muscular é atribuída maioritariamente a perda de MM, seja pela atrofia, seja pela redução do número de fibras musculares (hipoplasia). Este processo de declínio progressivo da massa e consequentemente da função muscular (força, potência e resistência muscular) é designado de sarcopénia, sendo um fator importante na saúde do sistema muscular. A sarcopénia traduz-se então na fragilidade muscular, o que afeta de forma significativa a capacidade funcional do idoso, interferindo na postura e equilíbrio, na mobilidade e locomoção e na realização de AVD (ACSM, 2009).

Um dos grandes efeitos da diminuição da força com a idade, sobretudo ao nível dos MI, é o aumento do risco de quedas, sendo este considerado um problema de Saúde Pública. O risco de fratura nestas idades é muito elevado devido a um aumento da fragilidade óssea. Isto implica custos sociais, e na sua maioria o recurso á situação de acamamento favorecendo deste modo, uma aceleração da senescência do idoso (Sipila, Multanen, Kallinen, Era, & Suominen, 1996). Torna-se assim evidente que o declínio da força com a idade é um processo multifatorial, que vai depender do género, de fatores individuais, fatores genéticos, do grupo muscular, da velocidade, do tipo de contração muscular, do desuso e da redução das cargas de trabalho, da nutrição e principalmente da inatividade física (Hakkinen et al., 1996; Spirduso, 2005).

Como foi referido anteriormente, as fragilidades musculares que ocorrem com a idade, contribuem para alterações na mobilidade e autonomia, bem como, para o maior risco de quedas e fraturas nos idosos. A força influencia ainda a capacidade de realizar diversas tarefas, como ir às compras, subir e descer escadas, levantar-se de uma cadeira, o que torna o idoso dependente e limita o seu dia-a-dia (Spirduso, 2005). Daí ser fundamental a preservação dos níveis de força muscular, por forma a manter ou melhorar a ApF e independência do idoso.

Como tal, tendo por base os benefícios da prática regular e sistemática de AF na atenuação dos efeitos do envelhecimento, são notórios os efeitos do EF sobre o sistema músculo-esquelético. De fato, um adequado Programa de Treino de Força em particular, parece resultar na manutenção ou melhoria da função e da MM, no aumento da resistência às fraturas, na melhoria/manutenção da DMO com redução do risco de osteoporose, e

melhorias na coordenação neuromuscular e estabilidade postural (ACSM, 2009).

Vários estudos têm evidenciado ganhos na força e MM decorrentes da prática geral de AF, com maior prevalência em programas de treino de resistência muscular. Sipila et al., (1996) encontraram uma velocidade da marcha significativamente mais elevada, quer após 18 semanas de um programa de treino de força, quer após 18 semanas de treino de resistência em mulheres idosas entre os 76 e os 78 anos. Fiatarone et al., (1994) observaram após um programa de treino de força de elevada intensidade, alterações positivas na mobilidade (velocidade da marcha e velocidade de subir/descer escadas) e na AF espontânea em idosos residentes em lares entre os 72 e 98 anos. Campbel, Crim, Dallal, Young e Evans (1994) verificaram, após a aplicação de um programa de EF englobando principalmente exercícios de força para os MI e exercícios de equilíbrio e marcha (30min/dia, 3xsemana), uma redução significativa do número de quedas em sujeitos idosos com idade média de 80 anos, comparativamente ao grupo controlo com idade semelhante. O ACSM (2009), após revisar vários estudos evidencia que os idosos sujeitos a programas de treino de resistência muscular podem obter ganhos de força média, que variam de mais de 25% a mais de 100% (Ferketich, Kirby, & Alway, 1998; Fiatarone et al., 1990; Frontera, Meredith, O'Reilly, Knuttgen, & Evans, 1988).

Para além dos benefícios já referidos, o treino de força parece ter também efeitos positivos sobre o metabolismo e sobre a CC, ajudando a diminuir a quantidade de gordura principalmente na região abdominal (Hurley & Roth, 2000).

Verifica-se então no idoso, associado a prática de AF um efeito positivo e uma série de benefícios no sistema músculo-esquelético. Estes benefícios parecem no entanto estar dependentes do carácter contínuo e regular do EF. Connelly e Vandervoort (1997) observaram após um ano de cessação de AF num grupo de idosos com idade média de 83 anos e submetidos a um programa de treino de força durante 8 semanas, uma diminuição da força nos músculos extensores do joelho de cerca de 25% comparativamente aos valores pós-treino e de 10% em relação aos valores pré-treino. Já Taaffe e Marcus

(1997) descreveram perdas de 30% dos ganhos iniciais da força muscular após 12 semanas de destreino na sequência de 24 semanas de treino de força.

Concluindo, verifica-se que a preservação do sistema muscular dependente da quantidade de AF que um individuo pratica e/ou praticou ao longo da sua vida. Então os idosos que permanecem fisicamente ativos tendem a ter níveis de força superiores aos indivíduos idosos sedentários.

O desenvolvimento de estratégias para preservação e/ou aumento da massa e força muscular constitui-se como um meio importante para a melhoria da independência funcional e diminuição da prevalência de algumas doenças crónicas comuns neste escalão etário. Ficou demonstrado, que independentemente da idade e do sexo, com programas de treino adequado é possível aumentar ou manter a força dos músculos exercitados e melhorar a autonomia do idoso, a locomoção, a postura e equilíbrio, a capacidade para realizar AVD e consequentemente a saúde e QV do idoso.

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