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4. Resultados e Discussão

4.2 Estudo de fragmentação dos derivados de 2-aroilbenzofuranos

4.2.3 Formação dos íons produtos gerais B-G

Os íons produtos B (A‒78) e F (m/z 105) são os mais intensos nos espectros de todos os derivados de 2-aroilbenzofuranos (figura 12, tabela 13). A formação destes íons acílios ocorre diretamente do íon precursor por meio de duas vias competitivas (Esquema 22, p. 67): eliminação de benzeno (78 u) (via I) ou de C8H3OR1R2R3 (via II). Íons acílios

com m/z 105 (F) são amplamente descritos na literatura como diagnósticos de estruturas que possuem carbonilas ligadas diretamente a anéis benzênicos [97]. Em EI-MS, a formação destes íons a partir do íon molecular – que é um cátion radical, ou seja, um íon elétron-ímpar – resulta de clivagens α, que levam à eliminação de um radical [130]. No caso

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de B (A‒78) e F (m/z 105), consideramos que estes foram gerados por rearranjo de hidrogênio a partir do oxigênio da carbonila para C1’ e C8 (Esquema 12, p. 28), respectivamente (Esquema 22). Os dados dos experimentos de troca por deutério demonstraram que os íons produtos de [M+D]+ possuem a mesma m/z dos íons produtos

das moléculas protonadas (Tabela 11, p. 64). Estes dados evidenciaram que o próton/deutério ligado ao oxigênio da carbonila, que é o sítio mais básico da estrutura dos 2-aroilbenzofuranos 1-5, está envolvido nas eliminações competitivas que levam à formação dos íons produtos B e F, conforme demonstrado no esquema 22. A formação competitiva de íons acílio já foi descrita similarmente na literatura em um trabalho publicado por Hu e colaboradores em estudos feitos em cetonas aromáticas α, β- insaturadas [131].

Esquema 22. Formação dos íons gerais observados nos espectros de íons produtos dos 2- aroilbenzofuranos 1-5 protonados, suas entalpias (H) e energias de Gibbs (G). Os valores de G e H foram calculados em nível de teoria B3LYP/6-31+G(d), expressas em kcal/mol.

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68 Os dados termoquímicos obtidos por química quântica computacional, empregando nível de teoria B3LYP/6-31+G(d), foram utilizados para investigar as diferenças das intensidades relativas de B (A‒78) e F (m/z 105) nos espectros de íons produtos dos derivados protonados de 2-aroilbenzofuranos 1-5. Os valores de G e H envolvidos na formação de B e F foram bastante similares, o que não explica o fato de possuírem intensidades relativas diferentes para todos os 2-aroilbenzofuranos analisados na mesma energia de colisão. Sendo assim, a diferença nas intensidades relativas destes dois íons produtos não pôde ser associada diretamente às suas respectivas estabilidades relativas. Neste caso, as diferenças podem estar relacionadas à energia transferida para o centro de massa do íon precursor (molécula protonada), que pode ser calculada pela equação Ecom = Elab [mc/(mc+mi)] [88, 90]. Na energia de colisão utilizada (Elab = 20 eV), a energia transferida pela colisão do gás (argônio) para o centro de massa (Ecom) das espécies protonadas de 1 (m/z 315), 2 (m/z 253), 3 (m/z 271), 4 (m/z 223) e 5 (m/z 237) é, teoricamente, 51,9, 62,9, 59,2, 70,1, e 66,5 kcal/mol, respectivamente. Esta energia é suficiente para promover a dissociação de A em B e F (ΔH entre 30 e 40 kcal/mol). Além disto, a energia remanescente do processo de CID quando Elab é 20 eV pode converter a maioria dos íons fragmentos F (m/z 105) em G (m/z 77). Por outro lado, este valor de Elab é suficiente para converter apenas uma pequena fração de íons B em C (H entre 74,4 e 84,1 kcal/mol), D (H entre 68,4 e 78,0 kcal/mol), e E (H entre 49,7 e 58,1 kcal/mol). Em princípio, isto poderia explicar a alta intensidade relativa de B em comparação com as de F nos espectros de íons produtos da maioria dos 2-aroilbenzofuranos investigados em

Elab = 20 eV. Entretanto, os íons produtos B e F têm intensidades relativas similares no caso do derivado de 2-aroilbenzofurano 2. Os valores de H e G envolvidos na conversão de [2+H]+ em F é por volta de 4,0‒8,6 kcal/mol maiores que os dos processos

de dissociação correspondentes para os compostos 1 e 3-5. Esta diferença não está associada à estabilidade relativa de B; ela é resultante do aumento da estabilidade da molécula protonada 2 devido ao efeito mesomérico elétron-doador do grupo metoxila ligado ao anel aromático A deste composto, conforme demonstrado nas estruturas de ressonância (Esquema 23, p. 69). Portanto, é necessário uma quantidade maior de energia para produzir F a partir de A (H = 40,1 kcal/mol e G = 26,8 kcal/mol) para o composto 2 do que para os outros derivados de 2-aroilbenzofuranos 1, 3, 4 e 5 (H  31,5‒36,1 kcal/mol; G = 18,4‒22,8 kcal/mol). Como consequência disto, o íon produto F do composto 2 se dissocia menos em G (m/z 77), o que torna sua intensidade relativa

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maior no espectro de íons produtos do composto 2 que nos espectros dos outros derivados de 2-aroilbenzofuranos investigados neste trabalho.

Esquema 23. Estruturas de ressonância do composto 2 protonado representando efeito de estabilização da molécula protonada pelo grupo metoxila no anel A.

De acordo com os dados dos experimentos de MS3 (disponíveis no Anexos

A58-A62, p. 157-159), os íons produtos gerais C, D e E originam-se de B, conforme representado no esquema 22 (p. 67). Estes íons resultam de eliminações competitivas de CO (28 u), CO2 (44 u) e, a princípio, de C2O2 (56 u), respectivamente. A formação de C

envolve uma clivagem heterolítica da ligação C8‒C10 (Esquema 12, p. 28) com transferência de carga e formação de um cátion vinílico. Por outro lado, a conversão de B em D ocorre em duas etapas: (1) formação do intermediário B’ (H entre 36,1–62,7 kcal/mol), que envolve a expansão do anel furânico para produzir um anel δ‒lactônico; e (2) eliminação de CO2 por meio da contração do anel de seis membros formado para um

anel de quatro membros, segundo um mecanismo concertado. As eliminações de CO2 também têm sido descritas na literatura para outros sistemas heterocíclicos, tais como flavonas, flavonóis e flavanonas desprotonados [132, 133].

Por outro lado, a estrutura do cátion benzociclopropenila (E) já havia sido reportada na literatura em um trabalho de Givens e colaboradores para compostos aroilbenzofurânicos, utilizando ionização por elétrons (EI-MS) [112]. Neste trabalho, inicialmente, consideramos que o íon produto E foi formado devido à eliminação de etilenodiona (C2O2) a partir de B. Tal eliminação já havia sido reportada por

benzodiazepinas, que foram investigadas por ESI-MS/MS [134]. Entretanto, Schröder e colaboradores descreveram a etilenodiona como uma molécula de tempo de vida curto, que se dissocia rapidamente em duas moléculas de CO [135]. Levando em conta os dados termoquímicos obtidos, verificou-se que a entalpia relativa de E em relação ao íon precursor A (H=0,0) quando é considerada a perda de C2O2, é maior que a entalpia para a

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70 formação de C e de D em relação à molécula protonada em 25,7–44,0 kcal/mol e 31,8– 50,0 kcal/mol, respectivamente. Entretanto, os dados obtidos dos experimentos de MS/MS demonstraram que o íon produto E, cuja formação compete com a de C e D, é o mais intenso no espectro de íons produtos de todos os compostos analisados, fato que torna incongruente tal evidência teórica. Por outro lado, quando se considera que o íon produto E é resultante da eliminação consecutiva de duas moléculas de CO, observou-se que sua formação é energeticamente favorecida (menor H) em comparação a C e D, o que está em concordância com a intensidade relativa destes íons nos espectros de íons. Sendo assim, pode-se afirmar que a formação de E a partir de B ocorreu por eliminação de duas moléculas de CO e não da eliminação de C2O2.