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3. AREA DE ESTUDO

3.1. BACIA POTIGUAR

3.1.3. Formação Alagamar

O nome da Formação Alagamar provém da Ilha do Alagamar, e foi proposto por Souza (1982) para designar a seção areno-carbonática sotoposta em discordância à Formação Açu. Vale salientar que essa formação anteriormente estava incluída na Formação Açu (Araújo et

al., 1978), mas apresentava características litológicas diferentes das originalmente atribuídas à

Formação Açu.

A Formação Alagamar pode ser correlacionada com a Formação Muribeca na Bacia de Sergipe, com a Fm. Romualdo na Bacia de Araripe e com a Fm. Marizal nas bacias de Mirandiba, Jatobá e Recôncavo/Tucano (Sampaio and Schaller, 1968; Arai, 2006).

3.1.3.1. LITOESTRATIGRAFIA E AMBIENTE DEPOSICIONAL

A Formação Alagamar está incluída dentro do Grupo Areia Branca (denominação proposta por Araripe & Feijó, 1994), a qual está constituída pelas formações Pendencia, Pescada e Alagamar. Esta unidade foi subdividida no Membro Upanema, Camadas Ponta do Tubarão, Membro Galinhos (Fig. 22); e essa formação é marcada pela passagem gradativa de sistemas deposicionais continentais para marinhos (Pessoa Neto et al., 2007), com influência de subsidência térmica na fase pós-rifte.

3.1.3.1.1. Membro Upanema

Membro basal na sequencia pós-rifte, esse membro é constituído por depósitos sedimentares transgressivos (arenito fino e grosso, cinzento, e folhelho cinza-esverdeado), marcado pelo afogamento gradativo de sistemas flúvio-deltáicos até a deposição dos folhelhos

transicionais do Membro Galinhos. Ocorre principalmente na área norte da bacia (Araripe & Feijó, 1994; Pessoa Neto et al., 2007; Souza, 1982).

3.1.3.1.2. Camadas Ponta de Tubarão

Constituído por pelitos/calcilutitos-calcarenitos ostracoidais e folhelhos escuros euxínicos (Souza, 1982; Araripe and Feijó, 1994; Pessoa Neto et al., 2007). Esse intervalo ocorre amplamente na bacia e segundo dados de biomarcadores e isótopos estáveis são interpretadas como o início da ingressão marinha na bacia (Santos Neto et al., 1990; Trindade et al., 1992; Mello et al., 1993; Penteado, 1995; Vasconcelos, 1995).

Figura 22. Carta estratigráfica apresentando a Formação Alagamar (Aptiano/Albiano inferior) (modificado de Araripe & Feijó, 1994)

3.1.3.1.3. Membro Galinhos

Representam sistemas deltaicos com influência marinha (sistema transicional - nerítico), constituído principalmente por pelitos/calcilutitos e folhelhos cinza-escuros, mas também tem uma interpretação de sistema flúvio-deltáico que apresentam fácies deltáicas e pró-deltas (Moreira, 1987). Os sedimentos ocorrem no norte da bacia, enquanto apenas é possível diferenciá-los no sul da bacia. (Araripe & Feijó, 1994; Pessoa Neto et al., 2007; Souza, 1982).

O início da deposição dos sedimentos da Formação Alagamar aconteceu sobre uma superfície de discordância erosiva, rochas ígneas e metamórficas sobre um embasamento Pré- cambriano, e logo sobre rochas sedimentares da Formação Pendência. Registros de reflexão sísmica detectam discordância angular com mergulhos de direção S/SE na Formação Pendência

e os da Formação Alagamar são sub-horizontais, pois existem semelhanças litológicas entre o Membro Upanema da Formação Alagamar, que dificulta sua identificação por critérios litológicos (Dino, 1992).

A interpretação do ambiente deposicional da Formação Alagamar vai desde ambiente continental (Viviers and Regali, 1987; Dino, 1992) até paleoambiente de influência marinha (Regali and Gonzaga, 1985; Regali, 1986; Castro et al., 1988; Mello et al., 1993; Arai et al., 1994; Do Carmo et al., 1999; Santos Neto and Hayes, 1999; Spigolon et al., 2002).

3.1.3.2. BIOESTRATIGRAFIA

O fato de ter uma incongruência com outros andares internacionais, que foi causado pela ausência de fósseis marinhos no Eocretáceo do Brasil, dificultava uma correlação bioestratigráfica, apurando-se pesquisas nessa área. A idade da Formação Alagamar foi associada ao andar neo-Alagoas, no intervalo Aptiano-Albiano com aproximadamente 6 Ma (Beurlen, 1982; Regali & Viana, 1989), segundo datações bioestratigráficas com palinomorfos e ostracodes (Araripe & Feijó, 1994; Regali & Gonzaga, 1982; Schaller, 1968).

Estudos palinoestratigráficos aportaram com o tempo a caracterização do andar Alagoas na bacia Potiguar, mediante uma superzona Exesipollenites tumullus (P-200), que a sua vez está composta por cinco biozonas: Transitoripollis crisopolensis (P-230), Foveotriletes sp. (P-250),

Inaperturopollenites turbatus variverrucata (P-270) e Caytonipollenites? sp. 1 (P-280) (Regali

& Gonzaga, 1985) (Fig. 23). Na fauna de ostracodes, está composta pela biozona Harbinia 201/2018, código 011 referente ao Andar Alagoas (Schaller, 1969).

Figura 23. Palinoestratigrafia do andar Alagoas na Bacia Potiguar. (baseado em Regali & Gonzaga, 1985; Arai et al., 1989; Dino, 1992; Araripe & Feijó, 1994)

Na Tabela 4 são observadas as biozonas que definem a Formação Alagamar, segundo os dados bioestratigraficos de Viviers & Regali (1987), Dino (1992) e Araripe & Feijó (1994).

Tabela 4. Biozonas da Formação Alagamar. (adaptado de Viviers & Regali, 1987; Dino, 1992)

Biozona Cronoestratigrafia Litoestratigrafia

P-230 Aptiano Inferior (topo) Porção inferior do Membro Upanema

P-270 Aptiano Superior

Porção média e superior do Membro Upanema, camadas Ponta do Tubarão (CPT) e porção inferior e média do Membro Galinhos

P-280 Albiano inferior Porção superior do Membro Galinhos

3.1.3.3. GEOQUÍMICA

Análises de biomarcadores praticados anteriormente em rochas sedimentares (óleos e extratos orgânicos) da Formação Alagamar diferem nas suas características geoquímicas, o que proporciona uma interpretação mais acertada da composição da matéria orgânica até agora preservada nos sedimentos, dando como resultado dois ambientes distintos: continental de água doce-salobra-hipersalina e transicional (marinho hipersalino) (Mello et al., 1993, 1988a, 1988b; Mello & Maxwell, 1991; Penteado, 1995; Rodrigues, 1983; Santos & Rodrigues, 1986; Santos Neto, 1996; Santos Neto et al., 1990; Santos Neto & Hayes, 1999; Spigolon, 2003; Trindade & Brassell, 1992; Vasconcelos, 1995).

Na Formação Alagamar são reconhecidos dos tipos de origem de matéria orgânica: fonte de ambiente lacustre e fonte de ambiente evaporítico (marinho), sem esquecer a mistura entre eles. A fonte de ambiente lacustre foi associada aos folhelhos do Membro Upanema (porção inferior da Formação Alagamar), onde os dados geoquímicos indicam um ambiente deposicional lacustre de água doce à salobra, embora sejam evidenciadas condições de hipersalinidade pela abundância relativa de β-caroteno (licopano), isoprenóides (i-C25 e i-C30)

e gamacerano, além de razões hopanos/esteranos e pristano/fitano mais baixas. Diasteranos em pequenas proporções sugerem um baixo influxo de siliciclásticos (Mello et al., 1993; Mello & Maxwell, 1991; Santos Neto & Hayes, 1999; Spigolon, 2003; Trindade et al., 1992)

Enquanto a fonte de ambiente evaporítico esteja associada aos folhelhos e margas das camadas Ponta do Tubarão e Membro Galinhos, a presença de C30 esteranos e dinosteranos

hipersalinos com influência marinha (Santos Neto et al., 1990; Trindade et al., 1992; Mello et al., 1993; Penteado, 1995; Vasconcelos, 1995) (Tab. 5).

Tabela 5. Parâmetros principais de biomarcadores e composições isotópicas de carbono da matéria orgânica da Formação Alagamar, bacia de Potiguar (adaptado de Santos Neto & Hayes, 1999)

Parâmetro Membro Upanema Membro Galinhos e CPT

Enxofre (%) 0,01 - 0,10 0,30 - 1,46 δ13C org (‰) -28,1 a -31,2 -25,4 a -26,6 Pristano/Fitano 1,3 - 2,2 0,5 - 0,9 n-Alcanos C21 - C23 C18 a C20 Hopano/Esterano 6,1 - 15,0 0,7 - 2,0 Ts/Tm 0,72 - 2,20 0,50 - 0,90 Índice de Diasteranos 20 - 40 6 - 18 Índice de Gamacerano < 50 > 60 Índice de bisnorhopano n.d. ou < 5 > 10 Hopanos C35/C34 < 1 > 1 Hopanos C30 (ppm) 200- 300 > 800 Esteranos C27 (ppm) < 50 > 800

Do ponto de vista micropaleontológico, a grande quantidade de matéria orgânica depositada durante o Aptiano-Albiano obedece a eventos de mortalidade em massa durante as mudanças ambientais radicais e de curta duração (Mello et al., 1993).

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