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A Formação de Blocos Frente ao Cenário da Economia Global e a Preocupação com o

2. CAPÍTULO 1 – O CONSUMIDOR INTERNACIONAL

3.1. A Formação de Blocos Frente ao Cenário da Economia Global e a Preocupação com o

A nova ordem mundial levou a existência de uma Economia Global, demonstrando que a noção de Estado, que baseou a evolução social e política das histórias Moderna e Contemporânea, não era suficiente para o pleno desenvolvimento econômico que a globalização pressupõe, de interações econômicas progressivamente mais intensas e complexas47. O volume de acordos bilaterais e multilaterais cresceu para fomentar o comércio internacional e os países começaram a caminhar no sentido de se integrarem com o intuito de fortalecerem o mercado regional para que houvesse adequada inserção internacional e melhores condições de vida para os seus habitantes.48

Antes do surgimento deste novo cenário mundial, as organizações internacionais apoiavam-se no modelo da cooperação, em que os Estados deliberavam mediante pleno acordo de todos os envolvidos. Este modelo revelou-se insuficiente frente às necessidades de os Estados firmarem a relação monopolista das economias através de união de esforços entre eles e de as empresas transnacionais atuarem simultaneamente em países diferentes sem barreiras.49 A solução, portanto, foi de superar o modelo da cooperação e migrar para a regionalização.

A regionalização é uma contrapartida dos Estados aos efeitos sentidos por estes diante do fenômeno da globalização, buscando incentivar a centralização econômica e defender os interesses empresariais da integração econômica regional. Apesar de aparentemente oposta à globalização, a regionalização atua de forma análoga, pois é uma forma de países com interesses em comum terem maior competitividade no mercado mundial e relevância num contexto em que prevalecem a comunicação estreita entre Estados e o aumento do comércio internacional.

Nas últimas décadas, os países viram a necessidade de se unirem em blocos a fim de reduzirem barreiras tarifárias e incrementarem o comércio internacional para competirem no

47 KLAUSNER, Eduardo Antônio. Direito Internacional do Consumidor: a proteção do consumidor no livre-comércio internacional..., p.32

48 GAIO JÚNIOR, Antônio Pereira. O Consumidor e Sua Proteção na União Europeia e Mercosul: pesquisa conjuntural como contribuição à Política Desenvolvimentista de Proteção Consumerista nos Blocos,... p. 29.

49 Idem, p. 26-27.

mundo globalizado50. Desta forma, as economias nacionais se integram para permitirem criar novas condições de desenvolvimento e de organização das atividades produtivas.

GAIO JÚNIOR expõe que níveis maiores de integração são atingidos através de etapas que se complementam de acordo com os objetivos dos chamados Estados-membros de cada bloco econômico. São eles, em ordem crescente de integração: Zona de Preferência Tarifarária, Zona de Livre Comércio, União Aduaneira, Mercado Comum e União Econômica.51

A Zona de Preferência Tarifária consiste em dois ou mais Estados com adoção mútua de tarifas reduzidas para condições privilegiadas de comercialização. A Zona de Livre Comércio baseia-se em dois ou mais Estados com alíquota de zero por cento no comércio entre os Estados-membros, sendo os produtos do bloco identificados através de certificado de origem, excetuando determinados setores considerados sensíveis a uma redução imediata e abrupta, tendo tais setores um maior prazo para adaptação à esta nova realidade tarifária.

A União Aduaneira é a etapa de integração em que os Estados-membros, de forma imediata ou gradual, eliminam reciprocamente barreiras alfandegárias e comerciais à circulação de mercadorias entre eles e adotam políticas comerciais comuns com relação a países alheios aos membros, denominada Tarifa Externa Comum (TEC).

O Mercado Comum é caracterizado pela livre circulação dos fatores de produção, capital e trabalho, mercadorias e serviços pelos nacionais do território integrado. Finalmente, a União Econômica junta a TEC às características do Mercado Comum e as associa à existência de uma moeda única, sendo esta etapa a última de desenvolvimento da integração econômica regional.

Insta mencionar que o processo de globalização não está finalizado; pelo contrário, desenvolve-se conjuntamente com os esforços estatais para que haja uma interação cada vez maior entre eles, resultando em uma sociedade global.

A globalização estimula a regionalização, uma vez que intensifica a formação de blocos econômicos regionais para favorecer o comércio entre os Estados integrantes deles;

consequentemente, surgiu um Direito Comunitário, formado pelos princípios e normas

50 ABREU, Paula Santos de. A Proteção do Consumidor no Âmbito dos Tratados da União Europeia, Nafta e Mercosul,… p. 2

51 GAIO JÚNIOR, Antônio Pereira. O Consumidor e Sua Proteção na União Europeia e Mercosul: pesquisa conjuntural como contribuição à Política Desenvolvimentista de Proteção Consumerista nos Blocos,... p.39. O autor explica que tais etapas são oriundas de um processo empírico a partir de experiências de integração regional ocorridas neste processo e atuantes no presente.

resultantes desse processo de integração econômica.52

A preocupação em não haver obstáculos à integração dos Estados acabou por deixar a questão da proteção do consumidor no âmbito dos blocos de lado inicialmente, por conta de equivocado pensamento de que a defesa do consumidor significaria uma barreira ao livre comércio, já explicado no capítulo anterior. Contudo, os blocos mais avançados atualmente consideram o consumidor como parte essencial para o êxito da integração.

A prática da regionalização pelos Estados, a priori, foi marcada pelo objetivo de união de economias nacionais para uma entrada relevante no mercado mundial; a questão social foi, contudo, olvidada. O que ocorreu posteriormente foi que, para que os blocos se fortalecessem e atingissem níveis mais elevados de integração, assim alcançando os respectivos objetivos e tendo destaque no comércio internacional, atentar-se para os direitos humanos e considerar o indivíduo como agente do mercado tornou-se ponto relevante, sob pena de estagnar o evoluir do processo integracionista.

Uma vez que o consumidor é agente e beneficiário do mercado, é enorme a sua importância relacionada aos blocos regionais. A proteção do consumidor, e não só o benefício do empresário que investe dentro do bloco regional, deve ser a meta da integração econômica. O consumo contribui para a formação de mercados únicos, pois

"(…) possui um efeito acelerador do investimento, pois aumenta o investimento e a riqueza que, bem distribuída, proporciona melhoria das condições de vida das pessoas, meta última do Estado de Bem-Estar Social (…)"53

Se os blocos querem fomentar o seu comércio, devem estimular o consumo, inclusive o internacional dentro do bloco, garantindo confiança e segurança jurídica aos seus habitantes.

Ciente deste fato, a União Europeia (UE), zona considerada atualmente como a mais avançada em questão de bloco regional econômico e também social, trata da proteção do consumidor como um objetivo primordial para a sua existência. Procurando seguir os mesmos passos, o Mercado Comum do Sul (Mercosul), ainda de forma embrionária, também procura avançar na defesa do consumidor e considerar a sua vulnerabilidade, atento ao fato de que isto é necessário para atingir os objetivos do bloco. O tema em tais blocos será analisado a seguir com mais especificidade.

52 KLAUSNER, Eduardo Antônio. Direito Internacional do Consumidor: a proteção do consumidor no livre-comércio internacional..., p.34

53 Idem, p.44.