• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II – ASPECTOS GEOLÓGICOS DA BACIA DE PERNAMBUCO

2.6 A Formação Cabo

A Formação Cabo foi referida pela primeira vez como unidade estratigráfica por Cobra (1960), que a descreveu como uma complexa seqüência clástica constituída por uma fácies brechóide, conglomerática e arcoseana que grada para uma fácies arcoseana em direção ao litoral. Entretanto, Oliveira & Leonardos (1943) e Kegel (1959) já haviam reconhecido um conglomerado composto por seixos centimétricos de rochas ígneas similares às que afloram nas proximidades, cuja ocorrência limitava-se ao município do Cabo. Cobra (1960) expandiu esta ocorrência, mencionando que este conglomerado aflora numa faixa contínua que vai desde as proximidades do município de Ponte dos Carvalhos até os limites do Estado de Pernambuco com o Estado de Alagoas.

A primeira tentativa de subdivisão da Formação Cabo foi proposta por Pedrosa Junior (1969), que descreveu uma seqüência de conglomerados inferiores com intercalações de arcóseos e de argilitos micáceos, sobreposta por conglomerados.

Alheiros (1987) definiu a Formação Cabo como sendo constituída por conglomerados, arcósios e siltitos, e Brito (1992) acrescentou que estas três fácies representam a deposição de leque aluviais (proximal, mediano e distal). Nóbrega (1995) analisou testemunhos de sondagem do poço 2-CP1- PE, e reconheceu também três fácies sedimentares para a formação: a fácies M, que apresenta arenitos que variam de muito grossos a muito finos; a fácies D, que representa os ritmitos areno-pelíticos dos depósitos terminais de leques; e a fácies L, que mostra folhelhos cinzentos a negros, típicos de sedimentação anóxica de lagos.

2.6.1 Arcabouço Estratigráfico da Formação Cabo

Segundo Lima Filho (1998), a Formação cabo abrange toda a borda oeste da Bacia de Pernambuco, limitada pelo embasamento cristalino (maciço de Pernambuco/Alagoas) através de falhamentos normais gerados durante a estruturação da bacia. O

autor dividiu a formação em três fácies: proximal (KC1),

mediana (KC2) e distal (KC3).

A fácies proximal (KC1) de Lima Filho (1998) encontra-se

em afloramentos de borda de bacia, desde a região do Cabo de Santo Agostinho até Sirinhaém. É constituída exclusivamente por conglomerados polimíticos e polimodais de caráter sintectônico. Ocorre em geral sob a forma de morros arredondados, com declividade moderada. Está representada por um conglomerado com padrão de distribuição granulométrica predominantemente polimodal sustentado por blocos e matacões quando próximos às falhas, e com pouca matriz e constituintes de menor dimensão.

O contato desta fácies proximal com o embasamento cristalino ocorre através de falhamentos normais gerados durante a estruturação da bacia. Com a fácies mediana, o contato é aparentemente gradacional, sendo recoberta por esta

fácies (KC2); ou ocorre através de constatos laterais devido, a

falhamentos normais de direção 225ºAZ.

A fácies mediana (KC2) de Lima Filho (1998) de arcósios

conglomeráticos, ocorre de forma descontínua e sub-paralela à

fácies de leque aluvial proximal (KC1), estando distribuída

somente na porção norte e no extremo sul da bacia, o que pode ser explicado pelo rifteamento mais intenso ocorrido na sua parte central. Aflora em morrotes com declividade moderada a baixa. Esta fácies representa um leque aluvial mediano com redução da força hidráulica existente nos leques aluviais proximais, o que se reflete em seus constituintes, que passam a ser arenitos conglomeráticos arcoseanos.

A fácies distal (KC3) é formada por folhelhos

intercalados por siltitos e arenitos médios a finos. Ocorre próxima a linha de costa, sendo melhor observada nas regiões de Tamandaré, da praia de Guadalupe (Sirinhaém), de Itapoama, do norte de Gaibu (Engenho Caramuru) e de Suape. Em uma seção no Morro do Baobá (Suape) há folhelhos carbonosos com restos vegetais e intercalações vulcânicas.

2.6.2 Idade

A Formação Cabo teve sua datação muito controvertida até serem realizadas as primeiras datações de K-Ar e Rb-Sr por

Vandoros et al. Em 1966. Estes autores dataram as rochas

vulcânicas intercaladas aos sedimentos entre 99 e 85Ma, de modo que Feijó (1994) a datou como mais antiga do que o Albiano.

O único macrofóssil encontrado nessa formação corresponde a uma espécie de peixe que ocorre nos folhelhos, referida por Costa et al. (1979) à espécie Dyplomysthus longicostatus Cope, 1910. O holotótipo desta espécie foi anteriormente encontrada nos sedimentos do Grupo Ilhas, Bahia, neocomianos sendo de ambiente estuarino, de águas rasas e tranqüilas.

A parte inferior da Formação Cabo é tida como aptiana, considerando a presença do polinomorfo Turbatus

inaperturopollenites, que corresponde à zona palinológica P-

260 (no intervalo entre 2953-1890m do poço 2-CP-1-PE). A parte superior da formação é considerada albiana, pela ocorrência de

Sergipea variverrucata e Pustulosus vitreisporites,

equivalente às zonas palinológicas P-270 e P-280, respectivamente, no intervalo entre 1890-66m do mesmo poço (Feijó, 1994; Nóbrega, 1995). Em outro poço (9-JG-1-PE) estes autores citam que as zonas palinológicas P-270 e P-280 ocorrem nas profundidades de 801 a 1100m, indicando uma idade neo- alagoas/ptiano/eo-albiano.

2.6.3 Interpretações Paleoambientais e Sistemas Deposicionais da Formação Cabo

Alguns dos trabalhos não chegam a uma conclusão sobre a origem dos conglomerados e de seu paleoambiente, e os mais importantes admitem a hipótese de o conglomerado ser um depósito coluvial de blocos formados por deposição sub-aérea (Andrade & Lins, 1961).

Bigarella & Andrade (1964) consideraram o material proveniente da desagregação física sob condições climáticas úmidas a secas, e posteriormente depositado ao pé de uma nova escarpa em regime de corrida de lama sob um clima semi-árido.

Alheiros (1987) considera a Formação Cabo como tendo sido depositada por um sistema de leques aluviais coalescentes, formados em ambiente continental ao pé de falésias de falhas normais de grandes rejeitos, progradando para um lago tectônico. Sobre os leques houve o desenvolvimento de um sistema fluvial entrelaçado que evolui para E-SE, sendo o sistema lacustre invadido pelos clastos grossos dos leques aluviais progradantes, ciclicamente governado pelos pulsos tectônicos.

Costa et al. (1979) correlacionaram a Formação Cabo com a

Formação Rio Pitanga, do Cretáceo Inferior da Bacia SE/AL.

Alheiros et al. (1989) correlacionaram a Formação Cabo à

Formação Muribeca (Membro Carmopólis), da Bacia SE/AL. Estes autores sugeriram, portanto, o prolongamento da Bacia SE/AL para o sul do Recife.

Lima Filho (1998) confirmou a presença de três diferentes fácies para a Formação Cabo, cuja variação lateral caracteriza um sistema de leques aluviais subaéreos ou sublacustres em clima árido.

FÁCIOLOGIA E ARQUITETURA DEPOSICIONAL

3.1 Fácies Sedimentar e Sucessão de Fácies

O estudo de fácies sedimentares e DE sistemas deposicionais é intimamente relacionado, fornecendo ambos subsídios muito importantes para a reconstituição paleoambiental de determinada área sedimentar (Dott, 1988).

Sistemas deposicionais são seqüências sedimentares inter- relacionadas que representam tridimencionalmente um determinado ambiente de deposição (Fisher & McGowen, 1967). Ou, como definem Posamentier et al. (1988), são associações tridimensionais de litofácies geneticamente relacionadas por processos ou ambientes inferidos. Sistemas deposicionais diferem de ambientes deposicionais (ou de sedimentação), que correspondem ao cenário de sedimentação, isto é, um compartimento geomorfológico da superfície da Terra onde domina uma série de processos deposicionais que permitem distingui-lo dos sistemas adjacentes Borghi (2000).

O termo fácies foi criado por Nicholaus Steno (1669), e significava o aspecto total de uma parte da superfície da Terra durante um certo intervalo de tempo (Teichert, 1958). A palavra fácies é derivada do Latim facia ou facies, que significa aparência externa. O termo fácies foi introduzido por Gressly (1838), significando a soma total de aspectos litológicos e paleontológicos de uma unidade estratigráfica (Walker, 1984). Para Selley (1970), fácies é “uma massa de sedimentos ou de rocha sedimentar caracterizada e distinguida das demais pela litologia, geometria estratal, estruturas sedimentares, petrotrama, cores, fósseis e atributos direcionais”. Subdivisões de um corpo rochoso em fácies

Documentos relacionados