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6. RESULTADOS

6.3 As escolas no meio rural do Distrito Federal

6.3.2. Formação Continuada em Educação do Campo

Na perspectiva de atingir uma compreensão profunda e se articular ao contexto do campo, bem como apropriar do conceito da Educação do Campo, a formação apresenta-se como uma estratégia além de valiosa, imprescindível. A questão é: quanto mais a escola reúne condições para adentrar a realidade que a cerca e conhecer as questões que tem por função

abordar, mais descobre o quanto exercer organicamente a Educação do Campo requer capacitação integral dos educadores.

Nesse sentido, a começar pelo perfil do professor das escolas no meio rural do Distrito Federal, que é bastante diverso, alguns complicadores se acumulam. De acordo com as três escolas pesquisadas, aqueles que têm um pertencimento ao local são minoria. Embora haja disponibilidade de um curso na área, este acaba não tendo uma adesão de muitos professores, que pela distância do local onde é ofertado e o tempo de dedicação que requer, inviabiliza o acesso.

Em apenas uma das escolas pesquisadas foi encontrado um quantitativo maior de professores que já haviam feito o curso em Educação do Campo ofertado pela EAPE, mesmo assim, desses educadores um número reduzido encontrava-se na posição de professor regente, alguns não estavam mais na escola, outros estavam na gestão. Nas demais escolas foram citadas como oportunidade de formação o “Dia do Campo”, momento anual em que as escolas se reúnem para trocar experiências. Houve consenso de que o curso deveria ser ministrado na própria escola.

“Porque não fazer o curso, porque tudo é na EAPE, então tem que trazer pra cá” (Professora na escola A, 2018).

“Eu sei que há uma legislação própria, eu sei que ela é muito específica, mas ela acaba não chegando muito claramente, não... Há um déficit em relação à formação na escola. Se vier pra cá acontece” (Professor (coordenador) na escola B, 2018). “É uma coisa que sempre me incomodou, a escola nunca pode parar pra tratar de um assunto que realmente vai modificar toda escola. Porque não fazermos um curso de um dia, de dois ou três dias, mas que vá fazer toda diferença pra aplicabilidade pra todo o social. Nós chegamos aqui com o que nós conhecemos, nós vamos entrar na sala com o que nós conhecemos. E a escola do campo acontece?” (Professora na escola C, 2018).

Mesmo que não haja um grande quantitativo de professores pertencentes ao local, é perceptível o interesse e a disposição em adequar à Educação do Campo, considerando a importância do curso, na perspectiva da conscientização dos educadores. É claro que em alguns casos específicos há educadores bastante resistentes, que visivelmente assumem essa postura por não estar no local por opção própria.

“Mas é uma opinião minha a respeito da educação do campo, eu não tenho o menor interesse, eu estou aqui nessa escola porque não consegui vaga na cidade” (Professor na Escola C, 2018).

“Falta a conscientização, mas ele vai acontecer a partir da formação. Com essa formação a gente tem a grande expectativa de que a Educação do Campo passe a acontecer realmente” (Professor na Escola C, 2018).

Os educadores apontam entre suas maiores limitações: o trabalho interdisciplinar e coletivo, situações que segundo eles são provocadas pela falta de formação e também pela ausência da possibilidade do encontro, da troca de experiência entre eles, por estarem atuando em turnos diferentes.

“A gente vê assim, que alguns professores têm dificuldade de trabalhar a interdisciplinaridade, não é que eles não querem, é porque eles não conseguem. Tem até boa vontade, mas tem dificuldade” (Gestora na escola A, 2018).

“A escola propõe atividade coletiva, formar equipes para conseguir um bem comum, mas acirra muito a competição ao invés de gerar mais cooperação. A tendência nossa por causa do individualismo é você pender para a competição ao invés da cooperação” (Professor na escola B, 2018).

“Nós ficamos desvinculados porque um grupo é um horário, o outro é em outro horário. Obviamente, a nossa comunicação é muito complicada, nós somos segmentados. Teria que unificar mais pra que houvesse essa discussão no grupão” (Professora na escola C, 2018).

Há entre eles, aqueles que buscam realizar um trabalho interdisciplinar, que integre os conteúdos à realidade da vida no campo, isso parece ser um indicador do quanto praticar o encontro para trocar experiências necessita ser mais estimulado nas escolas.

“Eles já tinham certa prática e eu aproveitei e fui trazendo a questão do conteúdo. Toda vez que eles iam construir alguma coisa a gente tentava enxergar algum conteúdo naquela atividade, a matemática, a geografia, ciências. Todo dia ao final das atividades a gente cobrava um relatório” (Professor na escola C, 2018).

A possibilidade de o curso ser ofertado na escola gera bastante expectativa entre o grupo de professores. Mesmo assim, há os que abordam a necessidade de mudanças na estrutura e metodologia do curso, tornando-se menos pontual e mais sistemático com acompanhamento da implementação das ações na escola, associando teoria e prática. Em uma das escolas está previsto para que o curso aconteça no local, informação nova que o gestor trouxe durante a pesquisa na escola. Para eles, essa é uma oportunidade que tanto viabiliza o acesso aos educadores da escola como de outras escolas nas proximidades, encurtando distancia e integrando educadores de diversas escolas.

“O curso da Educação do Campo, ele é muito teórico, extremamente teórico, a gente gostaria que trabalhasse a prática. Como eu aplicar isso na minha escola do campo? Como trabalhar projeto dentro da minha escola do campo? Troca de experiências ou ideias, porque é isso que falta, porque teoria a gente lê, agora a prática a gente tem que trocar” (Gestora na escola A, 2018).

“Eles conseguiram trazer pra cá agora o curso de Educação do Campo junto a EAPE, aqui na escola e vai vir outros professores da região que queiram participar, esse foi um dos ganhos da semana camponesa. Já é um início” (Gestor na escola C, 2018).