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Partindo da confirmação de Sacristán e Gómez (1998) sobre o que deve ser um educador que busca a formação continuada, “[...] o docente é o profissional interessado e capacitado para provocar a reconstrução do conhecimento experiencial que os alunos adquirem na sua vida” (SACRISTÁN, GÓMEZ, 1998, p. 353). Um professor Suzuki vai muito mais além da Educação Musical propriamente dita. Ele incita o aluno a raciocinar motivando-o a buscar respostas para suas dificuldades, desenvolvendo a habilidade de resolução de problemas, é um mediador nesse processo.

A Música é uma arte que é praticada também em grupo. Assim sendo, a formação continuada que prepara o professor proporciona a vivência musical reflexiva, visto que a troca de experiências enriquece o trabalho.

Quando a formação continuada ocorre em grupo, o conhecimento pode ser construído de forma coletiva, possibilitando criações e adaptações para cada realidade.

Práticas de formação contínua organizadas em torno dos professores individuais podem ser úteis para a aquisição de conhecimentos e de técnicas, mas favorecem o isolamento e reforçam uma imagem dos professores como transmissores de um saber produzido no exterior da profissão. Práticas de formação que tomem como referência as dimensões coletivas contribuem para a emancipação profissional e para a consolidação de uma profissão que é autônoma na produção dos seus saberes e dos seus valores (NÓVOA, 1992, p.

15).

O processo de formação do professor contempla uma vasta gama de interpelações que podem ser distinguidas como estratégia didática, buscando contribuir na emancipação do educador.

Perez Gómez (1998) distingue quatro perspectivas básicas sobre abordagens pedagógicas. São elas: perspectiva acadêmica; perspectiva técnica; perspectiva prática e perspectiva de reconstrução social.

Para uma descrição didática, vamos nos ater às duas últimas abordagens sem, porém, deixar de descrever brevemente as duas primeiras. Segundo Sacristán e Gómez (1998), para a perspectiva acadêmica, o ensino está em primeiro lugar. É um processo de construção de conhecimentos acumulado pela sociedade e o docente é um especialista nas disciplinas. Na perspectiva técnica, “[...] o professor é um técnico que domina as aplicações do conhecimento científico produzido por outros e transformado em regras de atuação” (SACRISTÁN e GÓMEZ, 1998, p. 356).

Na perspectiva prática,

A formação do professor se baseará prioritariamente na aprendizagem prática, para a prática e a partir da prática. A orientação prática confia na aprendizagem por meio da experiência com docentes experimentados, como no procedimento mais eficaz e fundamental na formação do professorado e na aquisição da sabedoria que requer a intervenção criativa e adaptada às circunstâncias singulares e mutantes da aula. [...] enfatiza a prática reflexiva (SACRISTÁN e GÓMEZ, 1998, p. 363).

As capacitações Suzuki apresentam um calendário de formação continuada durante todo o ano e que ocorre em alguns países das Américas, sendo um deles o Brasil. Os cursos contemplam desde a prática instrumental, dinâmicas de aulas individuais e em grupo, até atividades para as famílias. A metodologia desses encontros

contempla estratégias de ensino, vídeos de trechos de aulas que são socializados pelos cursistas (professores) para que todos possam trocar experiências de docência, confirmando o objetivo da formação e prática instrumental com enfoque na didática das peças referentes a cada livro de instrumento. De acordo com o pensamento de Nóvoa (1992), este momento de trocas não tem como objetivo acumular conhecimentos, mas propor uma reflexão crítica sobre as práticas e uma reconstrução permanente da identidade do profissional.

Na perspectiva de reconstrução social, Sacristán e Gómez (1998) reforçam que a reflexão é característica básica de um professor que busca, na formação continuada, o aprimoramento da didática.

O professor é considerado profissional autônomo que reflete criticamente sobre sua prática cotidiana para compreender tanto as características dos processos de ensino e de aprendizagem quanto do contexto em que o ensino ocorre, de modo que sua atenção reflexiva facilite o desenvolvimento autônomo e emancipador dos que participam do processo educativo (SACRISTÁN e GÓMEZ, 1998, p. 373).

O professor deve ser o profissional que vive integralmente a educação e o conhecimento para que o ensino e a aprendizagem ocorram de maneira tranquila entre os envolvidos no processo. No diálogo, nas reflexões, nos compartilhamentos formamos a nós e os que nos cercam.

Isto se relaciona com as capacitações Suzuki, pois nelas os professores socializam suas práticas (como agiram), trocam experiências (refletem em conjunto) e propõem novas estratégias (novas ações) para garantir um ensino de melhor qualidade, com motivação e contribuindo para a formação integral dos seus alunos.

Na Filosofia Suzuki, como dito anteriormente, há uma premissa que diz: “caráter primeiro, habilidade depois” (SUZUKI, 2008, p. 88). Isso significa que a educação ética antecede a capacidade de ser um excelente músico e essa função didática-pedagógica-social também é papel do professor. No entanto, muitos professores de música utilizam o repertório Suzuki por ser mais cômodo e não se envolvem com questões filosóficas do método.

Tal método propõe uma mudança de atitude diante da vida pessoal e profissional, não permitindo que as ações dessas vertentes sejam separadas, mas que

sejam vividas plenamente em uma trajetória de reconstrução constante, por meio das reflexões, da prática pedagógica, contribuindo para que o desenvolvimento da criança não seja apenas o “acúmulo de informações”, mas ocorra no crescer ético como bem lembra a educadora Violeta Gainza (1988).

O objetivo da formação dos profissionais de educação, segundo Nóvoa (1992), não é acumular conhecimentos, mas propor uma reflexão crítica sobre as práticas e uma reconstrução permanente da identidade do professor. É esse o perfil de um professor pesquisador que busca na ação-reflexão-ação a análise e reconstrução constante de sua prática.

A proposta de constante reflexão e compartilhamento entre professores dos grupos de referências se fortalece e contribui com a formação continuada, refletindo na qualidade do ensino com as crianças.