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O Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação (CAPE) conta com professores da própria rede de ensino atuando como formadores. Tal medida tem como princípio a valorização profissional dos professores das escolas públicas municipais, pois prioriza formadores oriundos do próprio meio e, portanto, conhecedores da realidade educacional da rede, presumindo, então, que sejam melhor capacitados a atuarem na formação dos colegas (DINIZ; SOARES, 2010).

Uma estratégia criada pelo CAPE foi a Rede de Trocas que utiliza relatos de experiências como instrumento para formação de professores. Segundo Azevedo (2002), trata-se de uma “apresentação de uma narrativa oral e escrita de experiências de professoras e escolas, na tentativa de organizar a vida escolar e equacionar problemas pedagógicos” (Azevedo, 2002, p. 23). Centrada na importância do relato, o professor, ao organizar suas ideias para o relato, escrito ou oral, tem um momento de reflexão, reconstruindo sua experiência e, ao realizar uma autoanálise de sua prática, termina por criar novas estruturas de entendimento das mesmas. As experiências são compartilhadas em um evento de apresentação que é muito importante, para conhecimento das diferentes formas de trabalho dos professores e para a tentativa de solução dos problemas do cotidiano escolar. Os relatos são organizados e publicadas nos chamados Cadernos de Trocas e, por fim, são divulgadas nas escolas.

Damasceno (2002) destaca, sobre a Rede de Trocas, que

É preciso construir com os professores e não para os professores projetos de formação nos quais eles se vejam como produtores de saberes, resgatando seu lugar de mestre, para que eles passem a arriscar a encontrar respostas para suas incertezas, em vez de se entregarem à inibição, ao silêncio e até mesmo ao abandono da profissão (DAMASCENO, 2002, p.189).

A Rede de Trocas propiciou uma ampla discussão de vários temas ligados à escola, desde a gestão escolar até a atuação do professor em sala de aula. Outra estratégia do CAPE foi a Rede de Formação de Professores do 3º Ciclo, iniciada em 2011, com o objetivo de proporcionar ao professor uma reflexão sobre seu trabalho, ou seja, o planejamento, a metodologia de ensino e a avaliação da aprendizagem de seus alunos, sob a luz das referências curriculares da RME-BH. Isto porque os professores, principalmente do 3º ciclo, apresentaram maior dificuldade na implantação das Proposições Curriculares para a Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte, devido à forte tendência destes em se fixarem nos conteúdos de suas disciplinas e não nas capacidades/habilidades que estruturam as proposições. Aqui o termo

capacidade/habilidade está sendo pregado como um norte, uma meta geral de formação que os educadores tomam como referência para a organização e desenvolvimento das propostas de ensino (BELO HORIZONTE, 2010, p. 12).

Costa (2012) observou que alguns professores, mesmo os que já passaram pela Rede de Formação, consideram a Matriz de Referência da Avaliação do Avalia- BH como sendo uma matriz de ensino, já outros se norteiam pelo livro didático, para determinar os conteúdos a serem trabalhados em sala de aula (COSTA, 2012), em ambos os casos, se percebe a desconsideração às Proposições Curriculares e evidencia-se que o investimento na formação continuada deve ser intensificado.

Tendo em vista a necessidade do envolvimento dos professores com as Proposições Curriculares, pois estas são efetivamente a “referência para a organização e o desenvolvimento das propostas de ensino” (BELO HORIZONTE, 2010, p. 12), a Rede de Formação do 3º Ciclo proporciona, durante o ano letivo, encontros mensais, de 4 horas de duração cada, entre professores de uma mesma disciplina, oriundos de diferentes escolas, com o acompanhamento de assessores pedagógicos, em uma determinada escola, ou regional41. Estes assessores são

41 Regional é como são conhecidas, pela população, as Regiões Administrativas de Belo Horizonte.

São nove subdivisões gerenciais do Município: Barreiro, Centro-Sul, Leste, Nordeste, Noroeste, Norte, Oeste, Pampulha e Venda Nova. Essa divisão atende à necessidade por descentralização e coordenação de programas e atividades adequados às particularidades de cada região da cidade. A administração por Regiões Administrativas favorece a interlocução entre a administração municipal e a sociedade local, proporcionando a democratização da gestão e o gasto mais eficiente dos recursos públicos. As Regionais assumem o papel de coordenação local e de administração de planos de programa relativos à saúde, educação, abastecimento alimentar, cultura, esportes, entre outros; também gerencia o patrimônio municipal, coordena a execução de licenciamento e fiscalização urbana e dá suporte aos conselhos municipais. (Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, disponível em

especialistas nas disciplinas curriculares contratados pela Gerência de Educação das regionais que têm a responsabilidade de acompanhar e avaliar o andamento dos trabalhos. Os assessores, em geral, atuam como professores universitários e têm (apresentam) o propósito de trabalhar com os professores, nos momentos de formação, as Proposições Curriculares próprias de suas especialidades.

Nos encontros da Rede de Formação, é proposto ao professor, em um primeiro momento, que elabore um planejamento trimestral das capacidades/habilidades que pretende trabalhar em sala de aula com seus alunos. No segundo momento, é discutida, na Rede de Formação, a relação entre as capacidades/habilidades planejadas com os conteúdos disciplinares trabalhados pelo professor. É quando se trata das metodologias, das atividades e estratégias de ensino apropriadas para que o aluno desenvolva as capacidades/habilidades, conforme planejamento e, também, são abordadas as maneiras de avaliação da aprendizagem. Uma das estratégias desenvolvidas pela equipe de formação, voltada para o ensino de matemática do terceiro ciclo, é a Gincana de Matemática da Prefeitura de Belo Horizonte. Este projeto envolve toda a escola, durante o ano e ao final do ano letivo, o projeto encerra-se com uma gincana entre escolas, que são representadas por seus melhores alunos da disciplina de matemática. Na próxima seção, abordamos este projeto.

2.3.1 A GincaMat-BH

A Gincana de Matemática da Prefeitura de Belo Horizonte (GincaMat-BH) é uma gincana que, como as demais, apresenta um caráter lúdico e competitivo, pensada por uma equipe de professores de matemática que compõem o núcleo de formação de professores do 3º ciclo, com o apoio do professor Révero Campos, da Pontifícia Universidade Católica de Betim (PUC-Betim), que atua como assessor. O objetivo é propiciar uma melhor relação dos estudantes com a matemática e contribuir para que o ambiente escolar, que é um espaço de estudos e também de convivência, se torne mais agradável. Na perspectiva do professor de matemática, funciona como um momento de formação para auxiliá-lo no trabalho com a disciplina

<http://gestaocompartilhada.pbh.gov.br/estrutura-territorial/regioes-administrativas>. Acesso em: 1 out. 2015.

em sala de aula e no desenvolvimento das capacidades e habilidades por seus alunos.

A GincaMat-BH foi elaborada devido: ao baixo desempenho de estudantes em matemática; à necessidade de se articular as ações e projetos oferecidos aos estudantes; à necessidade de se oferecer uma formação continuada aos professores de matemática do 3º ciclo.

Iniciada em 2012, com atividades programadas de fevereiro a novembro, a referida gincana foi pensada para estimular e promover o estudo da matemática entre estudantes do 3º ciclo das escolas municipais de Belo Horizonte. Possui como objetivos: contribuir para a melhoria da qualidade da Educação no 3º ciclo da RME- BH; incentivar o aperfeiçoamento dos professores das escolas municipais; contribuir para a sua valorização profissional; promover a inclusão social, por meio da difusão do conhecimento; promover a inclusão digital, articulada com os conceitos matemáticos; e articular, com as escolas, as ações da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte para os alunos do 3º ciclo.

Formatada para acontecer em duas fases, a primeira delas, chamada de Fase Escolar, ocorre de abril a outubro, e a segunda, denominada Fase Municipal, acontece em novembro.

A Fase Escolar corresponde ao conjunto de ações da GincaMat-BH que deverão ser desenvolvidas pelos professores inscritos nas suas respectivas escolas. Durante esta fase, são promovidas as formações para auxiliar o professor no processo de condução das 3 etapas que compõem a gincana propriamente dita: Desafios Matemáticos, Jogos Matemáticos e CriAções/ Mostra Matemática. Apresentamos, no quadro 11 a descrição de cada etapa.

Quadro 11: Etapas da GincaMat-BH

Desafios Matemáticos Jogos Matemáticos Criações/Mostra Matemática

Discussão e orientação com os professores de formas de organização do tempo, do espaço e de execução do trabalho, em sala de aula, ou em ambiente adequado para realização das atividades do GincaMat-BH. Sugestão de atividades para a preparação dos alunos para esta etapa. Instruções para os professores do lançamento da pontuação dos alunos, a forma de envio e quais desafios deverão ser praticados.

É o momento de proposição e escolha das atividades lúdicas matemáticas a serem trabalhadas em sala de aula e de qual forma o professor deve proceder para realizar a atividade.

Esclarecimento das regras e da materialidade necessária para realização das atividades.

Apresentação e orientação dos instrumentos para registro da pontuação das atividades.

CriAÇÕES Matemáticas são quaisquer atividades extracurriculares que destaquem a matemática. Podem ser, por exemplo, um jogo inédito, desafios relâmpagos, duelos de matemática, abordagem de um tema sobre história da matemática, ou sobre matemática no dia a dia. A Mostra de Matemática é o momento da escola apresentar as ações da GincaMat-BH, realizadas durante o ano letivo.

Fonte: Núcleo de Formação de Professores do 3º Ciclo. Elaboração do próprio autor.

Toda a organização da GincaMat-BH é realizada em encontros presenciais, entre os professores de matemática da RME-BH e a equipe de formação de professores do 3º ciclo da GincaMat-BH. Ao término da primeira fase, após o computo da pontuação dos alunos, tendo sido enviados participantes por seus professores, há uma classificação das escolas, para a realização da segunda fase.

Esta fase é desenvolvida na Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, no mês de novembro, durante dois dias. Com atividades para reforçar as ações desenvolvidas na escola durante a primeira fase, são propostos desafios, jogos e apresentações culturais, todos com fundamento matemático.

Acontece uma solenidade de abertura, com recepção às escolas, formação da mesa de convidados, desfile, Hino Nacional, hasteamento de bandeiras e apresentação cultural. Há uma fala oficial da autoridade máxima presente no momento, a qual declara o início das atividades.

Novamente, os pontos conquistados nesta fase são computados, ao final, para efeito de classificação das escolas participantes e, então, há uma cerimônia para premiar os alunos representantes das escolas, classificadas em 1º, 2º e 3º lugares, com medalhas de ouro, prata e bronze, respectivamente.

A GincaMat-BH propicia momentos de aprendizagem coletivos e individuais e outros, de colaboração entre os alunos, para a realização das tarefas diferentes da rotina de sala de aula. Também favorece a reflexão e a troca de experiências para os professores, em suas práticas de trabalho, fomentando (promovendo) a relação

professor-aluno, o trabalho em equipe, a disposição de ambos em querer e obter êxito no processo e o interesse e à participação dos estudantes.

Uma crítica da própria equipe de formação da GincaMat-BH, com relação aos professores, é a baixa frequência nos momentos de formação e a demora dos docentes em responderem aos e-mails da equipe organizadora. E, com relação às escolas, apontam as eventualidades, que atrasam o calendário de realização das atividades, e a falta de apoio de diretores e coordenadores pedagógicos para realização da primeira fase. Outro ponto levantado é o escasso número de aulas de matemática, disponíveis na grade semanal, para que o professor possa trabalhar sua programação anual mais a GincaMat-BH, como relata uma professora, no documento final da primeira edição da gincana em 2012:

Como só tenho três aulas semanais por turma, e decidi incluir todas as cinco na GincaMat.BH, fiquei muito atarefada e com pouco tempo para realizar tantos trabalhos; e sem contar alguns, que nem consegui desenvolver. Como já foi colocada nas formações, acho que a Secretaria (SMED) deveria fixar uma grade comum a toda a rede, pois quem tinha 4 ou 5 aulas conseguiu atingir melhor os objetivos e com uma distribuição de tempo também melhor (Relato Professora participante - Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, p. 31, 2012).

Mas ainda é a baixa adesão de escolas (em 2012, 33,9% das escolas do 3º ciclo e, na edição de 2013, 38,5%) um dos maiores desafios. A equipe de organização aponta a necessidade de aumentar o número de escolas participantes. Por envolver os alunos com bom desempenho em matemática, o projeto propicia atividades diferentes e interessantes que motivam os alunos a estudarem mais a disciplina.

3 PLANO DE AÇÃO EDUCACIONAL: MELHORANDO O NÍVEL DE