• Nenhum resultado encontrado

4. Considerações sobre abordagem quantitativa e omissões

4.1 Pontos em que os livros de História Geral no Brasil devem ser

Um exemplo que faço questão de citar é o desenvolvimento do tráfico de escravos. O tráfico de escravos foi um ato desumano como forma de negociar internacionalmente o ser humano como bem material em alta escala entre os

séculos XV e XIX, pela rota do Oceano Atlântico.

Embora seja difícil de estimar o número exato de pessoas escravizadas e comercializadas, pode-se afirmar que a quantidade fica entre no mínimo três milhões e meio e no máximo cinqüenta milhões. É muito difícil saber exatamente porque grande parte de pessoas arrancadas de suas famílias, de suas comunidades, foi levada da África como objetos transportados em navios.

Não tem paralelo na História Mundial, sobre essa forma de comércio e pode ser chamado de maior tráfico humano compulsivo ou maior movimento forçado de seres humanos. O tráfico de escravos enviou artigos industriais para a África, levados da Europa, para fazer a troca por seres humanos para serem vendidos como escravos nos Estados Unidos, para serem vendidos como mercadoria. Formou-se um comércio triangular que ligou três continentes em troca de açúcar e tabaco para a Europa.

Embora Portugal tenha monopolizado em princípio esse comércio, Países Baixos e França Britânica, também aderiram posteriormente, após o século XVII.

Os comerciantes da Europa não executavam a caça direta aos escravos, normalmente compravam os escravos de homens nativos que tinham poder, de outros traficantes que invadiam as tribos e faziam os escravos, arrancando-os à força de seu meio. Os mercadores de escravos europeus não se envolviam diretamente na caça dos escravos. Para persuadir os poderosos nativos a venderem parte de seu povo ou de tribos vizinhas ou inimigos eram usados materiais como tecidos de lã, vidros, instrumentos de metal, entre outros artigos.

Mais tarde começaram a ser oferecidas armas de fogo. Os escravos adquiridos ou tomados eram inspecionados em detalhes, no corpo, na idade, doenças.

Os que passavam na triagem eram marcados como gado com ferro quente no peito ou no braço e entregues ao comerciante europeu para a carga do navio de escravos. Os navios eram carregados de qualquer jeito, abarrotando os porões de negros acorrentados uns aos outros. Não podiam se movimentar, o ambiente era abafado e fétido, úmido e sem condições sanitárias. Durante as viagens muitos adoeciam, morriam, se suicidavam levados pelo desespero. Também aconteciam rebeliões que de nada adiantavam.

A rota da África para os Estados Unidos foi chamada de ´´Rota Mediana``.

Essa rota era muito difícil e perigosa para os traficantes de escravos que tinham medo das rebeliões, dos naufrágios, dos ataques piratas e outros perigos que passavam. Um navio vindo da África só chegava nos Estados Unidos dois ou três meses depois e no seu caminho ia jogando ao mar os corpos dos negros que morriam, dos doentes ainda vivos, sem nenhuma humanidade. Ao chegarem os negros nem sentiam o alívio. Os sobreviventes que vinham de tão longe logo eram submetidos a exame físico severo novamente e leiloados para fazendeiros que os trocavam por produtos que seriam vendidos na Europa. Os escravos eram usados nas plantações com condições de trabalho insuportável.

O longo período de tempo que durou o tráfico e uso de mão-de-obra escrava, a Europa acumulou grande riqueza, avançou na industrialização e atingiu a modernização. Por outro lado, a África Ocidental, em sua sociedade e civilização sofreram a perda crucial de sua população mais valiosa: homens e mulheres fortes, jovens, durante mais de três séculos. A sociedade e a cultura desses povos sofreram grande prejuízo, devido a essas perdas de adultos e jovens que foram suprimidos do desenvolvimento econômico da África, causando o

subdesenvolvimento.

Nos Estados Unidos homens negros e escravos tiveram trabalho extorsivo extremamente duro imposto por plantadores brancos e por causa disso sofreram grande discriminação racial que não existia na África.

Este sistema de escravidão extremamente desumano teve seu processo de extinção iniciado ao final do século XIX com sucessivas abolições de escravaturas. Porém, mesmo após abolição e extinção do comércio de escravos a presença do preconceito entre raças e a discriminação permaneceu e causou antagonismo social separando as pessoas por raça.

Portanto, após abolição da escravatura permaneceu o preconceito racial que causou confrontos sociais entre pessoas de raças diferentes. Este tráfico de escravos deixou grande mácula na História da humanidade. Com esse fato nada honroso, a Europa conseguiu sua modernização antes do resto do mundo. Os países da Europa usam o resto do mundo como mercado para obtenção de matéria-prima barata – em muitos casos como colônias exploradas – e como compradores de artigos industrializados e caros. Isso gerou a base da estrutura econômica atual no mundo, com divisão do planeta entre países ricos e países em desenvolvimento.

Embora este seja um simples exemplo dentro de um universo amplo, meu objetivo é mostrar que os livros japoneses para o Ensino de Nível Médio de História Geral são feitos para os estudantes com dados concretos e convincentes que levam à análise objetiva sobre fato histórico criminoso que países europeus também cometeram no passado, dando ao estudante o caminho da reflexão global sobre o sofrimento humano de seres e povos vítimas de situações das

quais não puderam escapar e que foram causa de problemas que estão presentes no mundo atual, como o mostrado claramente na divisão Norte/Sul de desenvolvimento e subdesenvolvimento.

O fato histórico passado não termina, sempre influencia o mundo atual, é o que o estudante precisa ter em mente. O estudante sempre tem que pensar, analisar, como o passado influencia o presente. O livro de História Geral do Japão faz essa ligação para que o aluno mantenha essa reflexão sempre na mente e sempre faça análise das consequências da História passada sobre o presente.

Já , nos livros de História Geral do Brasil, este ponto precisa melhorar. A solução é difícil se o autor não tem consciência deste problema ou se não tem coragem de inovar e reestruturar o tradicional livro didático.

O autor de livro de História Geral do Brasil necessita mostrar o ponto de vista do povo da América Latina, da África e da Ásia. Está na hora de cortar a influência estrangeira, , em especial da Europa e Estados Unidos, colocando nos seus livros o ponto de vista dessas outras regiões – América Latina, África, Ásia – e reestruturar redistribuindo a quantidade e diversidade de informações de forma mais homogênea.

Se não houver essa mudança nunca haverá valorização da cultura dessas regiões atualmente omitidas nos livros, tanto para os estudantes como para os imigrantes e seus descendentes , que se dependerem das informações de História ensinadas no Brasil , perderão por completo a ligação com suas raízes, desconhecendo suas origens. Em um dos seus livros escritos sobre o Japão, onde esteve várias vezes, estudando profundamente os hábitos, arquitetura, objetos, técnicas e muitas outras peculiaridades, Edward Morse documentou

detalhadamente tradições que se perdem acentuadamente com a acelerada ocidentalização do Japão. No prefácio traduzido para o português4 diz que:

´´O Brasil é a maior nação japonesa fora do Japão e mesmo assim, para os brasileiros, aí incluídos muitos dos descendentes de japoneses que aqui nasceram, o Japão continua sendo um grande espaço em branco Ou, como é habitual dizer-se, um ´ilustre desconhecido`.

Além de falta de conhecimento da História Antiga até a atualidade de muitos países importantes como a Índia, a China, regiões como o Oriente Médio ou Oeste, o Japão, a Austrália, que causam lacuna que traz discriminação de vários tipos sobre pessoas e povos. Desde atitudes agressivas e demonstração de desprezo ou temor até disseminação de piadas jocosas. O desconhecimento traz o preconceito.

4 MORSE, Edward S. Lares Japoneses: seus jardins e arredores.

Documentos relacionados