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Formação da Laguna de Aveiro

1. I NTRODUÇÃO

2.2. E NQUADRAMENTO G EOLÓGICO E G EOMORFOLÓGICO

3.1.2. Formação da Laguna de Aveiro

Devido à natureza morfodinâmica e sedimentar, a linha de costa portuguesa, e principalmente na área em estudo, tem sofrido grandes variações ao longo dos tempos. É indispensável, ao analisar a evolução do cordão dunar e da praia emersa desta área, relacioná-la com o desenvolvimento histórico da laguna de Aveiro.

A formação da laguna de Aveiro é muito recente e apresenta uma evolução muito dinâmica, como é característico dos sistemas litorais. Esta sofre um processo de transformação que dura há cerca de 800 anos, relacionado, em parte, com a evolução do cordão litoral, formado através da acumulação de areias de duna, que dificultou, ao longo dos tempos, a saída das águas do rio Vouga para o mar. Este processo evolutivo foi interrompido no século XVIII, após a individualização da laguna, através da acção humana e desde aí, o seu equilíbrio dinâmico tem-se mantido artificialmente, como resultado de constantes intervenções de engenharia na embocadura que permitem a manutenção da ligação da laguna ao mar. A diminuição da influência marinha e o progressivo assoreamento da laguna foram processos que se acentuaram ao longo da sua evolução, tendo um efeito muito importante na alteração das características ecológicas e sócio- económicas da laguna.

Como já foi referido, a formação desta laguna é, geologicamente, bastante recente. A formação da flecha arenosa inicia-se apenas no século X. Anteriormente a esta data, o Oceano Atlântico banhava toda a área ocupada pela laguna nos dias de hoje, estando a linha de costa junto às localidades de Esmoriz, Ovar, Estarreja, Aveiro, Ílhavo, Vagos e Mira, formando uma baía litoral (fig.4) (Amaral, 1968 in Boto, 1997).

A formação da laguna deve-se a um elevado fornecimento de sedimentos continentais, determinando assim, uma tendência essencialmente regressiva do litoral português, uma vez que o processo lento de submersão do litoral português permitiu, e ainda permite, o assoreamento de certos rios e de certas reentrâncias, observando-se este fenómeno principalmente nas costas baixas, sobretudo entre o Rio Douro e o Cabo Mondego (Martins, 1947).

Figura 4 – Reconstituição da costa entre Espinho e o Cabo Mondego. As setas indicam a provável incidência da corrente e dos ventos marítimos predominantes, que teriam auxiliado a deposição e orientação dos cabedelos que hoje separam a Ria de Aveiro do Oceano (Adaptado de Boto, 1997)

A individualização da laguna foi devida à presença e evolução de dois grandes cabedelos: um a Norte, formando uma flecha arenosa, que se estendia desde o Carregal (Ovar) até às proximidades de Mira, que progrediu rapidamente para Sul e onde viriam a fixar-se as povoações de Espinho, Ovar e Murtosa; e outra a Sul, apoiada no Cabo Mondego, onde hoje se encontram as Gafanhas e as terras vizinhas de Vagos e Mira, como é possível observar na figura 5.

Figura 5 – Estádios da formação e evolução da laguna de Aveiro desde o séc. X (adaptado de Gomes, 1992) Após 1850 1750 1640 Séc. XII Séc. X

Entre o século XV e o século XIX ocorreu o período denominado Pequena Idade do Gelo, na qual se verificou uma maior deposição de sedimentos com consequente aumento da tendência de acreção na costa, devido às alterações climáticas que se fizeram sentir (Dias, 1987 in Boto, 1997).

A Pequena Idade do Gelo corresponde a uma época em que ocorreu uma deterioração climática, verificando-se a fase de transição do Pequeno Óptimo Climático para este episódio entre o século XIV e o século XVI; a Pequena Idade do Gelo ficou definitivamente estabelecida por volta do ano 1550 e terminou, segundo alguns autores, no final do século XIX.

«Grande parte das modificações tendentes a regularizar o litoral e equilibrá-lo com as condições (climáticas, oceanográficas e sedimentológicas) actuais, parece ter ocorrido no último milhar de anos, provavelmente na sequência de períodos mais frios e de possíveis pequenos abaixamentos do nível do mar, como o verificado na Idade Média. Com efeito, vários indícios apontam para a possibilidade do nível do mar ter estado ligeiramente abaixo do actual, há cerca de 2 000 anos (Baixo Nível Romano), na Idade Média (Baixo Nível Medievo) e ainda mais recentemente (Pequena Idade do Gelo)» (Dias, 1987 in Boto, 1997).

Estes períodos, segundo alguns autores, terão sido os mais fustigadores, tendo ocorrido na Península grandes cheias, frequente congelação dos rios, períodos de chuvas contínuas, embora no século XVIII estes fenómenos sejam mais escassos ou quase inexistentes (Dias, 1987 in Boto, 1997).

As modificações climáticas repercutiram-se no litoral, já que terá ocorrido um aumento substancial do transporte sedimentar, por via fluvial, sendo a transferência dos materiais para o litoral e para a plataforma favorecida pelas grandes cheias e pelo presumível abaixamento relativo do nível do mar. Talvez seja por isto que se terá formado tão rapidamente a restinga arenosa que individualizou a laguna de Aveiro e que terão ocorrido as modificações do litoral entre Espinho e o Cabo Mondego.

Da união dos depósitos acumulados surge a definição da configuração actual do litoral e a individualização da laguna de Aveiro, a qual terá ocorrido no século XVIII. Na figura 6 é possível observar o local onde posteriormente se fixou a Vagueira.

Figura 6 – A -Provável situação no concelho de Vagos antes da junção dos dois depósitos; B – Litoral actual após a junção dos dois depósitos e a individualização da laguna de Aveiro (adaptado de Reigota, 2000).

Ao longo de todo o processo de evolução do sistema lagunar, a barra foi ocupando diversas posições. Na figura 7, é possível observar as várias posições que a barra ocupou ao longo do tempo até à sua fixação definitiva.

Na tabela intitulada Etapas de formação e individualização da Laguna de Aveiro, posição, situação e obras de fixação da barra no Anexo I apresenta-se, de forma resumida, os acontecimentos mais importantes ligados à formação da laguna e das diversas posições da barra e o seu estado, tais como as diversas obras e projectos que foram implementados até à sua posição e fixação definitivas.

O mar chegaria perto de Paredes de Torre, cerca de 5 km para o interior, relativamente à posição actual. O canal de Mira não existia, sendo ocupado pelo oceano. O rio Vouga desaguava directamente no mar. A vila de Vagos estaria muito perto da costa antiga.

Com os depósitos, o mar recuou cerca de 5 km relativamente à posição da costa velha, formando-se o cordão dunar que separou as águas provenientes dos rios do mar, promovendo a formação da laguna.

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