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CAPITULO IV. EDUCAÇÃO PARA A ÁFRICA LIBERTA DO COLONIALISMO:

4.1. Formação de Amílcar Cabral e o movimento político

A formação de Amílcar ocorreu em Lisboa, Portugal, diante da difícilsituação de acesso à universidade nos territórios colonizados por Portugal, e a única forma de ingressar no ensino superior era deslocar-se para Europa. Esta dificuldade de acesso permanecia como uma política do governo, para limitar o ensino nas colônias, criando um quadro mínimo de intelectuais.

Com uma bolsa integral Amílcar Cabral cursou Agronomia no Instituto Superior de Agronomia (ISA)no ano letivo de 1945-1946, tendo concluído a parte escolar do curso em julho de 1950:

No Instituto Superior de Agronomia, Amílcar Cabral beneficiou, em todos os anos, de isençãode mensalidades e, além disso, estudou sempre como bolsista da Casa dos Estudantes doImpério. Foi contemplado, no ano letivo de 1948-1949, com o Premio Mello Geraldes,atribuído ao aluno mais classificado na disciplina de Tecnologia colonial. (INEP, 1988,apud CASSAMA, 2014, p.38) Em Lisboa teve contato com outros estudantes africanos de países lusófonos, a necessidade de africanizar-se fez com que criassem o Centro de Estudos Africanos (CEA). Com orientação de Mário Pinto de Andrade e Francisco José Tenreiro o CEA se organizava em três vertentes: A Terra e o Homem, a socioeconomia africana e questões do homem negro (consciência negra através do mundo colonial). (CASSAMA, 2014, p. 43)

Neste período Amílcar conhece o movimento Negritude, pela obra Anthologie de

la Nouvelle Pésie Négre et Malgachede Lepold Senghor, que o impactou de forma

positivae a partir de então na sua escrita poética, que até então não se caracterizava pela cor, passou a tratar das questões raciais (Ibid.).

As experiências no CEAlevaram Amílcar Cabral a refletir sobre a situação de seu povo em Guiné-Bissau. Ao finalizar seus estudos em 20 de setembro de 1952 Amílcar retorna para Bissau, como pesquisador agrônomo na estação experimental de Pessubé, em que o agrônomo se sentia motivado em conhecer melhor o seu país, relata Maria Helena Rodrigues, sua primeira esposa:

Ele queria ir para a África tendo em mente um claro objetivo político. Queria ir para Guiné mais tarde, mas tece a sorte de poder ir logo. Você pode ter certeza de que sua ambição na vida era ir para a Guiné e fazer um trabalho político. Só falava disso. Sempre dizia que tinha de voltar para ―casa‖ e lutar. Costumava dizer que tinha de aprender sobre o seu país e que só lá poderia realizar-se. (CHABAL, apud, LOPES, 2012, p.22)

Em 1953 foi chamado para realizar o recenseamento de Guiné Portuguesa, colheu informações sobre o uso da terra, do cultivo das plantas, condições do solo e de modo não oficial, verificou os conhecimentos estratégicos dos camponeses em relação ao desgosto com a situação colonial e esforço para mobilização anticolonial (LOPES, 2012, p.24).

Como funcionário a serviço de Portugal, Cabral passou por dificuldades para colher informações para o censo agrícola, os indígenas não colaboravam com funcionários coloniais, como forma de resistência e proteção de suas tradições. Contudo seu trabalho foi bem executado e resultou num trabalho publicado no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa e em 1954 publica neste Boletim o estudo chamado, Acerca da utilização da terra na África Negra, recomendando:

A necessidade de aproveitar integralmente todos os recursos da África Negra (…) a necessidade de aplicar a riqueza proveniente desses recursos à própria África Negra; a necessidade de estabelecer uma estrutura agrária que não permita a exploração desordenada e gananciosa da terra; que não permita aexploração a todo custo do homem pelo homem; a necessidade de facultar ao Homem Negro o acesso a todos os meios de defesa contra a adversidade do clima; a necessidade de fomentar o desenvolvimento cultural do afro-negro, o que exige que se tire o máximo partido da sua própria cultura e da dos outrospovos; necessidade de selecionar e aproveitar tudo quanto há de útil nos sistemas afro-negros de cultivo da terra, bem como tudo

quanto, das técnicas europeias, seja aplicável á África Negra. (BOLETIM CULTURAL, 1954, p. 414-415).

O boletim apresenta uma objetiva defesa de Amílcar para com os agricultores locais, faz duras críticas a introdução de práticas e técnicas europeias no cultivo da terra, além de exigir que a produção servisse ao povo negro local.Em 1954 Cabral busca medir o desagrado com o governo colonial nas áreas urbanas de Guiné-Bissau, pois nos centros urbanos que a força colonial era mais presente. Assim organizou o clube esportivo recreativo em Bissau, com o disfarce buscava estimular a consciência política dos frequentadores do clube. Rapidamente as autoridades portuguesas perceberam os objetivos reais do clube, prontamente fecharam o estabelecimento e impediram que Cabral permanecesse na Guiné, só tinha a permissão de visitar a mãe e familiares uma vez ao ano.(LOPES, 2012, P.25)

Em seu exílio Cabral voltaria ainda mais determinado, em uma das visitas autorizada pelo governo português, em 19 de setembro de 1956 ele cofundou o Partido Africano da Independência (PAI). Quatro anos mais tarde, ele vincularia o partido com a necessidade e indispensável independência de Cabo Verde:o PAI se transforma em Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

O objetivo era único: ―independência imediata e total‖(CHABAL, Apud, LOPES, 2012, p.25), sendo que as contradições e antagonismos na Guiné-Bissau eram profundos e apresentavam perigo ao objetivo, além destas contradições havia também as divisões entre grupos étnicos, Lopes apresenta a solução de Cabral:

As―contradições secundárias‖ eram as divisões e os antagonismos étnicos, o tão falado ―tribalismo‖, que Cabral acreditava poder ser resolvido efetivamente com uma educação adequada. Nas áreas rurais, fez a distinção entre as classes dominantes tradicionais, que colaboravam ativamente com as autoridades coloniais, e as massas de camponeses que menos se beneficiavam com o estabelecimento do sistema colonial. (LOPES, 2012, p.26)

Com a desconfiança e divisão social que existia entre guineenses e cabo- verdianos Cabral lança uma carta em 1961 aos cabo-verdianos onde expressa a necessidade dos povos da necessidade de combater a estrutura que foi responsável pela exploração de ambos (Ibid.).

O PAIGC iniciou sua luta nos centros urbanos, para mais tarde expandir para as áreas rurais, através de greves e manifestações pacíficas demostravam os seus interesses aos portugueses. Até então as autoridades coloniais agiam com violência e

intransigência com a população. O ápice dos confrontos ocorreu em 3 de agosto de 1959 em uma greve dos estivadores e marinheiros mercantes que reivindicavam aumento de salários e melhores condições de trabalho. No momento os grevistas foram atacados com armas de fogo pelo governo colonial, mais de cinquenta grevistas morreram e muitos outros ficaram feridos. O governo português não se pronunciou oficialmente sobre o que ocorreu levando o PAIGC a tomar a decisão crítica de mudar o rumo de sua estratégia. (LOPES, 2012, p.27)