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Formação de Educadores Ambientais

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Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos. (Fernando Pessoa)

Lembra o poeta, com toda a sua particularidade literária, que estamos em tempo de travessia. A sociedade encontra-se nesse tempo. Os educadores também! Nesse caminho, é importante a formação de educadores ambientais, num viés crítico, os quais sejam capazes, de fato, de atravessar para o outro lado do caminho imposto pela racionalidade econômica e de abandonar as roupas usadas do fazer pedagógico, a fim de transformar sua prática em práxis pedagógica.

Diante do exposto, neste texto de qualificação, são evidenciados desafios e demandas inúmeras do espaço escolar e que os professores se veem ora preparados para atender essas novas demandas, ora reféns deles. Segundo Queiroz (2012), segue o questionamento: Nós, professores, fomos/estamos preparados para esses tantos desafios que nos são impostos?

Num contexto de expansão industrial e urbana, como é o caso de Itaguaí, onde o crescimento demográfico é percebido também nas escolas que recebe novos alunos com realidades e experiências de vida distintas, o professor, na sua prática pedagógica, tende a estar comprometido com as demandas da maioria da população que vive em situação socioeconômica de exploração e exclusão, inclusive de degradação socioambiental. O papel social do educador, diante dessa constatação, é de suma importância para a transformação da realidade posta. Contudo, para tanto, o educador precisa estar comprometido com a formação emancipatória do educando e dele próprio.

Para Giroux (1997), o professor como intelectual transformador é o educador que deve se comprometer com um ensino como prática emancipatória, com a criação de espaços democráticos nas escolas, com a inserção de valores progressistas nas comunidades e com a fomentação de um discurso público ligado aos imperativos democráticos de igualdade e de justiça socioambiental.

Por esse motivo, não há dúvidas de que, em um contexto como o de Itaguaí, é clara a relevância da formação de educadores críticos para se pensar uma forma de organização e desenvolvimento da sociedade oposta ao atual, uma vez que o município e as escolas, além de atender mais alunos devido à migração com a expansão de empregos, estão recebendo de empresas pertencentes ao complexo portuário, “cursos” de formação de educadores ambientais decorrentes de condicionantes de processos de licenciamento, como é o caso do PROCEA da TKCSA.

Com isso, este tópico visa refletir de forma sucinta sobre a formação de educadores ambientais, sobretudo formação crítico-transformadora, conforme explicitado em tópico anterior na perspectiva da Educação Ambiental Crítica, Emancipatória e Transformadora.

23 Assim, a tarefa de formar educadores ambientais, a partir dessa perspectiva, é mais complexa do que se imagina. De acordo com Rodrigues (2010, p. 63):

Preparar o educador, nesse sentido, não é muni-lo de instrumentos para a realização de uma atividade, mas sim é oferecer-lhe a possibilidade de trabalhar, enquanto práxis refletida e reconhecendo-se naquilo que faz – sem estranhamento – para construir e pensar, em um ambiente educativo que une as relações docente-discente, docente-docente, discente-discente e escola- comunidade, em um “movimento coletivo conjunto” que intenciona estabelecer novas relações materiais e não materiais de uma sociedade justa em sua diversidade, que não é desigualdade.

Então, é preciso, antes de qualquer coisa, que a formação de educadores ambientais, em seus diferentes espaços − sejam eles formais ou não formais − ofereça a esses educadores a oportunidade de pensar e fazer valer o seu pensar. Todavia, apesar de comungar com a Teoria Crítica2, uma vez que esta pressupõe um rompimento com as características conservadoras ao adotar um posicionamento de questionamento ao que está posto a fim de construir conhecimentos que levem à emancipação e à transformação da sociedade, e não concordar com o sistema cartesiano que fragmenta o saber, é importante aplaudir a famosa afirmação: Cogito, ergo sum – Penso, logo existo (DESCARTES, 1981).

Diante do exposto, é que chamamos à reflexão de que ser educador ambiental é muito mais do que apenas ensinar o que é certo, esperando que, com isso, cada um faça corretamente a sua parte e disso tenha-se como resultado uma sociedade ambientalmente correta, numa compreensão simplista e reduzida do que é realidade socioambiental (GUIMARÃES, 2006). Dessa forma, emerge a urgência da atuação de educadores ambientais, em sua formação crítica, que se sintam “incomodados” e produzam “incômodos” questionando a realidade socioambiental em sua complexidade. Arrisca-se afirmar que tal processo realiza-se, a priori, a partir:

- Do exercício pela apropriação teórica de uma Educação Ambiental realmente emancipatória e transformadora;

- Da realização de um diagnóstico participativo da realidade e do respectivo planejamento das ações, sendo realizados antes de qualquer ação sobre a temática;

- Da formação de lideranças e de parcerias, o que orientará a práxis pedagógica;

- Do diálogo com os educandos que trazem diferentes realidades sobre o contexto da escola onde o educador atua; pois, de acordo com Tozoni-Reis (2002), os educadores ambientais têm o papel de mediar a interação dos sujeitos com seu meio natural e social; para exercer esse papel, conhecimentos vivos e concretos tornam-se instrumentos educativos.

- E, através de registros, de difusão das ações e de articulação com outras iniciativas, ressaltar a intencionalidade (comunicativa) entre iniciativas particulares e coletivizadas entre as ações locais/globais.

São esses pressupostos que subsidiarão a formação do educador ambiental pautada em relações mais horizontalizadas e dialógicas que estariam na base da superação dos problemas socioambientais da atualidade. Esses problemas se manifestam no predomínio dos interesses particulares (de uma parte), sobre o bem comum/coletivo (de uma totalidade como o meio

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Do Pensamento Crítico: Partindo de pressupostos marxistas, trata-se de mudar as estruturas da sociedade moderna capitalista ou burguesa industrializada. Baseia-se nos estudos sociológicos da Escola de Frankfurt, que se inclinam à utopia de uma construção de uma sociedade onde impere a ordem, a justiça e a superação da pobreza.

24 ambiente), que estabelece a prioridade, a partir de relações de dominação e exploração da parte sobre o todo.

Portanto, o educador ambiental precisa trabalhar a reflexão e a ação sobre as relações de poder que constituem a realidade na organização social do atual modo de produção e consumo. O educador ambiental, em sua formação crítica, necessita criar um ambiente educativo em que novas relações possam ser vivenciadas, em uma práxis pedagógica que reforce práticas diferenciadas das que hegemonicamente constituem o ambiente de grave crise socioambiental que todos experimentamos. Portanto, falamos de uma formação em Educação Ambiental para a transformação da realidade, e não para a manutenção do status quo.

É dessa forma, para municiar este embate, que vimos durante esse tópico construindo algumas diretrizes educativas que possam referendar essa perspectiva crítica de formação de educadores ambientais críticos. Trata-se de diretrizes que podem também demarcar indicadores de acompanhamento e avaliação das ações realizadas por esses projetos; que instrumentalizem a regulação social dessas iniciativas. É uma forma de delimitar se, nessas ações de formação de educadores ambientais oferecidas pelas empresas às escolas, estão presentes essas diretrizes.

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3 A RELAÇÃO EMPRESA-ESCOLA NA CONTEMPORANEIDADE

A educação, e particularmente a ambiental, é potencialmente um instrumento de gestão, por sua capacidade intrínseca de intervir no processo de construção social da realidade, ou para conservá-la ou para transformá-la (GUIMARÃES, 2004, p. 74).

Neste capítulo, objetiva-se perceber como questões contemporâneas políticas no Brasil e no Mundo estão presentes no objeto de estudo e contextualizar a chegada e a atuação da empresa no recorte espacial pesquisado.

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