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Capítulo II: A importância da iniciativa novas oportunidades na formação de adultos

I.II. 3: Formação de jovens: educação e formação profissional

As políticas educacionais não olham apenas para a formação de adultos, mas também para a formação de jovens, nomeadamente para aqueles que pretendem integrar-se no mercado de trabalho a curto prazo. Daí que, o olhar dos decisores políticos também recaia

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sobre os cursos profissionais25. A testemunhar o que acabamos de dizer, veja-se o decreto-lei n.º 74/2004, de 26 de março, que veio legitimar a medida política pela qual são introduzidos os cursos profissionais nas escolas secundárias portuguesas. A finalidade do referido decreto-lei teve a ver com a reconfiguração do nosso sistema de ensino. O objetivo desta medida política prendeu-se com a melhoria do aproveitamento escolar dos alunos, facultando uma maior variedade de ofertas educativas e formativas, com o intuito de responder aos desejos de um público diferenciado e, na maior parte dos casos, contribuir para uma maior empregabilidade e, consequentemente, o combate à exclusão social. É um facto que nas últimas décadas assistimos a uma grande preocupação por parte das escolas e, mesmo, das empresas, com a empregabilidade, face às modificações que se têm verificado no panorama das empresas. Essas alterações têm desempenhado uma enorme preponderância nos modelos de atuação profissional, fomentando um número substancial de estudos que aspirem a uma melhor preparação dos trabalhadores e, também, a ensinar-lhes o modo de melhor encararem o presente (Drucker26, 1994, Fukuyama27, 2000).

É um facto, que se têm verificado numerosas mudanças ao longo dos tempos no mundo do trabalho, as quais têm afetado a forma como este é percecionado. Primeiro, com a revolução agrícola e, consequente, a emergência das primeiras inovações técnicas neste setor, dando origem a um substancial aumento da produtividade. Depois, com a revolução industrial e o despertar do aumento urbano, que levou a que as sociedades ocidentais se difundissem, tendo-se assistido a uma adaptação das políticas ao capitalismo. Num período mais avançado do século XX, e como resultado da teoria da organização do trabalho de Taylor28, assistiu-se à racionalização do sistema de trabalho e a uma maior operacionalização das organizações. Mais recentemente, com a fluidez do conhecimento provocado pelas tecnologias da informação e comunicação, com as mudanças iniciadas pela globalização, com o maior nível de competitividade, entre outras, resultaram em profundas alterações ao nível da produção (Berntson, 2008).

A reflexão que desenvolvemos no presente subcapítulo, dedicado aos jovens que frequentam um curso profissional, estende um olhar sobre os contextos de educação e de formação em Portugal. Vale a pena reforçar a ideia, já esboçada na abordagem que fizemos ao tratar da educação de adultos, de que a revolução de Abril de 1974, veio desencadear uma série de mudanças, que afetou todos os setores da nossa sociedade. Quer o contexto político e

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e vocacionais, não sendo estes, objeto de estudo na presente investigação. 26

Uma das ideias defendidas por Peter Drucker é hoje uma regra: Esteja sempre na frente.

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De salientar, que em entrevista concedida em 2012, Francis Fukuyama disse não haver alternativa para a democracia liberal e para a economia de mercado. Mesmo depois de tantos acontecimentos, a democracia ainda é a única alternativa para o mundo. O que precisamos responder é como podemos melhorá-la.

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A teoria da organização científica do trabalho, também conhecida por Taylorismo, é uma das mais conhecidas, prevalecendo ainda hoje numa grande parte das nossas empresas industrias. Informação recuperada em: http://gestor.pt/escola-da-administracao-cientifica-taylor/#ixzz3ySnJyEhT (Novembro 2015).

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económico, quer o cultural e social sofreu uma tal velocidade, que poucas pessoas se terão apercebido “dos desajustamentos que daí resultaram” (Pedrosa de Jesus, in: Patrício, M.F. (Org.), (2006, p. 30), o que, na perspetiva do autor, pode explicar que coexistam “casos de boas práticas” e resultados menos satisfatórios, “quando olhados por padrões internacionais”. O autor entende, que alguns dos problemas da educação provêm da diferença entre seguir a velocidade da mudança e a capacidade das pessoas acompanharem a sua própria adaptação à mudança dos contextos. Seguindo um pouco mais o pensamento de Pedrosa de Jesus (2006), a aposta na formação “é a que pode responder ao presente e ao futuro da sociedade desenvolvida que buscamos” (p.31). Para o autor, a ligação da educação à formação profissional é justificada através daquilo que apelida de “cadeia educativa de cinco elos”29

, ou seja, para o autor, a educação e a formação devem dar resposta às “necessidades das pessoas, organizadas em comunidades, durante todo o percurso da sua vida”.

Para Patrício (2006), os conceitos de educação e formação profissional, na atualidade, são inseparáveis, isto porque, na opinião do autor, tanto a educação, como a formação profissional, incidem “sobre o ser humano, enquanto tal”, considerando, por isso, haver “alguma relação entre educação e formação profissional” (Patrício, 2006, p.85). No entanto, o autor acrescenta que, pese embora o sujeito dos dois processos seja o mesmo, a formação profissional distingue-se da educação, quer no que diz respeito ao “conteúdo”, quer quanto à “intencionalidade” e à “finalidade dos processos”. De facto, tanto a ideia de Pedrosa de Jesus, como a de Patrício parece mover-se num mesmo sentido, na medida em que, consideramos, que estes fatores - educação e formação profissional - devem estar interligados. Isto porque o aluno, autor da sua própria aprendizagem, pode decidir ao longo do seu percurso educativo30, qual o momento certo para se encaminhar para uma outra modalidade de formação, como, por exemplo, a formação profissional. Ou seja, o aluno pode manter a sua formação de base, até ao 9º ano de escolaridade, mas, no momento em que decide ser o instrumento do seu próprio amadurecimento, pode, ou não, utilizar a sua autonomia de forma organizada na construção do seu projeto de vida. Esta aprendizagem, que envolve a interação de conhecimentos, competências e motivações do aluno, como aprendente, ajuda-o a posicionar-se, face ao ato de aprender, tendo em conta as próprias necessidades. O desenvolvimento do seu espírito crítico, fornecido pela escola, permetir-lhe-ão organizar e avaliar as variantes que possam reforçar aquilo que considere serem os seus limites do ato do aprender, elemento indispensável a quem estuda.

Para Patrício (2006), “formação pode ser sinónimo de educação, ou de paideia, mas nunca o será de formação profissional” (p.86). O autor acrescenta o equívoco existente entre

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O autor ao mencionar “a cadeia educativa dos cinco elos” refere-se aos vários ciclos de ensino, que incluem “a educação pré-escolar, a educação de base composta pelos primeiros 9 ou 10 anos de escolaridade; a educação geral e o ensino profissional; a educação superior ou terciária; a educação de adultos ou educação contínua”.

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os referidos conceitos (formação e formação profissional), sendo que, explica, o primeiro, prende-se com a preparação do homem para ser homem e, o segundo, tem a ver com “prepará-lo para o exercício de uma atividade profissional”, ou seja, na nossa interpretação, para a empregabilidade. Patrício (2006), salienta o equívoco das instâncias europeias e nacionais no modo como utilizam o conceito de formação, quando querem falar de formação profissional e, acrescenta, ser este um “equívoco perigoso” levando a que se entenda que o homem existe para a economia, quando, na verdade, “é a economia que existe para o homem”. Para o autor, houve sempre preocupação com a economia, por parte das sociedades,uma vez que esta é produto do homem, ou seja, é o resultado da sua própria criação, considerando o autor, ser esta também uma forma de cultura, a par de outras. Patrício (2006) acrescenta que, no entanto, com a globalização, muita coisa se transformou, sendo que o homem se tornou escravo dessa cultura, funcionando mesmo “ao serviço da economia” (p. 87).

O estabelecimento de relações sociais, quer no trabalho, quer na vida pessoal (a família, os amigos), são contributos essenciais para o indivíduo, fazendo parte do seu crescimento, e, consequentemente, ajudam ao desenvolvimento da comunidade.

De salientar, a perspetiva de Epstein (2009) ao atribuir uma grande relevância às relações sociais praticadas entre a escola, a família e a comunidade, sendo, na perspetiva da autora, uma das vias para a promoção do sucesso dos alunos, evitando problemas e resolvendo aqueles que emergem.

O autor Rui Canário (2005, p.145), ao revisitar a obra de Croizier e Friedberg (1977) sobre a relação entre as dimensões individual e coletiva da acção humana, reforça a noção de «actor». Atualmente, a sociologia do «actor», pressupõe uma capacidade dos alunos para participar da construção social das situações em que estão implicados, procedendo à construção das suas próprias experiências.

De realçar, também, que nos anos 70 do século passado, assistimos em Portugal, a uma grande propagação do ensino, tendo este facto contribuído para um aumento substancial de alunos a frequentar o sistema escolar, originando uma grande diversificação de públicos.

Carneiro (2010), (Coord)31 em estudos que realizou, elaborou um relatório que previa dar resposta aos “novos desafios que se colocam na dimensão institucional” (Carneiro, 2010, p. 44)32, tendo o autor evidenciado, na sua análise, “a necessidade de trabalhar mais de perto e em parceria com empregadores” (p.45). Perfilhamos a ideia de Carneiro, uma vez que, entendemos a importância do trabalho em parceria, nomeadamente entre a escola e as empresas, como um agente privilegiado no desenvolvimento das instituições. Também o facto de a parceria acontecer em ambiente de educação, de formação e de trabalho, permite às pessoas implicadas na relação escola-empresa ter uma ideia positiva de futuro e do modo como o enfrentar, devido às competências pessoais e profissionais adquiridas pela educação-

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Ver Relatório Roberto Carneiro online em: Agência Nacional para a Qualificação, I.P. (2010).

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formação. Nunca é demais reconhecer a importância da educação, formação e qualificação das pessoas como impulsionadores essenciais de desenvolvimento pessoal e profissional e, consequentemente, como um transmissor de progresso das sociedades, das culturas e das economias. Sintetizamos esta ideia, dizendo que o futuro da educação e da aprendizagem fica marcado, entre outros fatores, pela globalização, pela tecnologia e pelo conhecimento.

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