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4 ENTRAVES ÀS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS NO COMÉRCIO

4.4 FORMAÇÃO DO CAPITAL HUMANO PARA O COMÉRCIO EXTERIOR

No Brasil, o sistema educacional público é marcado por baixos salários,

professores despreparados, famílias que dependem do trabalho de suas

crianças, dificuldade de acesso a universidades, evasão escolar antes do

término do ensino fundamental. Segundo Silva Júnior (2009), esses são um

dos fatores que classificaram o Brasil na 49ª colocação entre 59 países no

ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), segundo o

relatório da OCDE (2008), que afirma que o país continua apresentando

péssimos resultados em comparações internacionais.

Ainda segundo o autor, o Brasil possuía em 2000 a menor média de

escolaridade entre 11 países da América do Sul, apesar de apresentar o quarto

maior PIB per capita.

Sob o enfoque da teoria do capital humano, os indivíduos investem neles

mesmos de várias formas, entre elas a educação. Esses investimentos com o

tempo terão como resultado um impacto no desempenho econômico do país no

qual esses indivíduos atuam. Maior qualidade na educação, dessa forma, trará

aumentos na renda individual dos agentes e, ademais, no crescimento

econômico (SILVA JÚNIOR, 2008).

Nessa ótica, a importância da educação tem sido percebida pela

sociedade brasileira e o Estado tem dado maior importância ao tema nos

últimos anos. A começar pela Constituição Federal de 1988 que prevê a

educação como direito de todos e dever do estado e da família. Nessa linha, outras ações governamentais foram lançadas, como o Programa “Bolsa

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Escola”, o Programa para a erradicação do Trabalho Infantil – Peti, os sistemas

de avaliação SAEB (Sistema de Avaliação do Ensino Básico) e ENEM (Exame

Nacional do Ensino Médio), dentre outros.

Nessa seção procuraremos mostrar, a partir de evidências empíricas, a

relação entre qualificação de mão-de-obra e atividade exportadora, refletindo a

importância da formação do capital humano no comércio exterior.

Nos últimos anos a estrutura de demanda por trabalho tem sofrido

mudanças como conseqüência de inovações tecnológicas e da liberalização

comercial. Entretanto, não existe consenso a respeito da intensidade dessas

causas nessa mudança. Alguns pesquisadores defendem que a queda da

demanda por mão-de-obra qualificada decorre precipuamente da mudança

tecnológica, pouco tendo contribuído para o fato a abertura comercial. Por

outro lado, alguns atribuem ao comércio internacional a causa desse fenômeno

(MAIA e ARBACHE, 2001)

Segundo Maia e Arbache (2001), vários resultados empíricos

demonstram a alteração da demanda de trabalho dos trabalhadores menos

qualificados para os mais qualificados, tanto em países desenvolvidos quanto

em vários países em desenvolvimento, contrariando a teoria-padrão de

comércio internacional e remuneração de fatores de produção. Tal fato é

surpreendente, pois países em desenvolvimento, nos quais o fator abundante é

o trabalho, de acordo com a teoria proporções de fatores ou H.O. (Heckscher-

Ohlin), não deveriam experimentar esse aumento de demanda por mão-de-

obra qualificada. Segundo os autores, o processo de liberalização comercial

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Entretanto, a liberalização comercial não chegou a inverter a intensidade dos

fatores e o País manteve seu padrão de vantagem comparativa.

De acordo com Machado (1997), a remuneração do trabalho foi utilizada

em vários estudos para mostrar a heterogeneidade da mão-de-obra,

classificando-a em qualificada e não-qualificada. Outros utilizaram categorias

de trabalhadores que mostrassem diferentes níveis de treinamento, como

profissionais de nível superior, gerentes, pessoal de escritório, vendedores e

outros profissionais a fim de identificar essa distinção. Segundo o autor,

algumas conclusões mostravam que países que tinham grande quantidade de

mão-de-obra qualificada concentravam suas atividades em indústrias

intensivas nesse fator, ao passo que os países escassos em mão-de-obra

qualificada, de maneira análoga, concentravam-se em indústrias intensivas em

mão-de-obra pouco qualificada.

Segundo Arbache (2003), capital, trabalho qualificado e trabalho não

qualificado são considerados fatores de produção relevantes na literatura sobre

o comércio internacional e distribuição de renda, justificando-se, para isso,

haver uma complementariedade entre capital e trabalho qualificado. Segundo o

autor, o fator trabalho é separado em duas categorias (qualificado e não

qualificado), cujos retornos podem ser afetados de forma diferente pelo

comércio internacional.

Arbache (2003) investiga a relação entre comércio internacional,

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abertura comercial e outras reformas tiveram profundos efeitos na economia do

Brasil.

A partir do trabalho de Arbache e De Negri (2001), que investigou os

determinantes do comércio exterior brasileiro, utilizando uma base de dados ao

nível da firma, que reúne mais de 5 milhões de trabalhadores empregados em

mais de 31 mil firmas do setor industrial brasileiro, Arbache (2003) relata que

os trabalhadores das firmas que exportam apresentam distinções dos

trabalhadores de firmas que não exportam.

Entre as distinções apresentadas pelos trabalhadores das firmas que

exportam e das firmas que não exportam, Arbache (2003) constata que os

salários dos trabalhadores das firmas exportadoras são superiores aos salários

das firmas não-exportadoras, sugerindo que a produtividade dessas firmas é

superior àquelas e que deve haver algum tipo de adicional de produtividade

que leve as firmas exportadoras a pagarem um prêmio salarial.

Segundo o autor, os trabalhadores das firmas exportadoras são mais

qualificados que os das firmas que não exportam, tanto no tempo de educação

como no tempo de emprego. Observa, ainda, o autor, que o aumento da

escolaridade média dos trabalhadores da firma contribui significativamente para

explicar a sua inserção internacional. Uma firma, cujos trabalhadores tenham

escolaridade média relativa ao segundo grau completo, tem probabilidade

350% maior de exportar do que uma firma cujos trabalhadores sejam, em

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Como vimos, muitas têm sido as ações do Estado a fim de contornar os

problemas educacionais do País. Dados do IBGE mostram que o índice de

analfabetismo vem diminuindo no Brasil nos últimos anos, caindo na última

década de 20,1% para 13,6 %. Em 2002, considerando-se as pessoas com 10

anos ou mais de idade, a população do país tinha uma média de 6,2 anos de

estudo. Em comparação a 1992, houve um aumento de 1,3 anos de estudo na

média nacional. Apesar da melhora nos índices citados acima, o Brasil ainda

tem um longo caminho a percorrer para que esse fator não continue sendo um

entrave ao crescimento da competitividade dos produtos brasileiros.

Ademais, é preciso criar no país uma vocação exportadora, que reflete o

grau de abertura que o país tem com o mercado externo, no qual as empresas

devem pensar como extensão de seu mercado doméstico.

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