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É importante destacar que o mercado de trabalho que engloba o turismo está muito competitivo e exigindo profissionais capacitados e habilitados no que tange exercer suas atribuições (FERREYROS; ROSINI, 2006). Pelo fato do turismo estar presente no setor terciário, Antunes et al. (2005) afirmam que a base para o desenvolvimento turístico está na prestação de serviços. Isso porque, como já visto no presente trabalho, as pessoas estão cada vez mais informadas e, consequentemente, exigentes na hora da prestação de serviços.

Brito e Ferreira (2012) asseveram que o turismo possui diversas dimensões, sendo elas: sociais, culturais, políticas, psicológicas e econômicas. Lisbôa Filho (2001) também acrescenta que essas dimensões são permeadas de relações sociais e integrantes do espaço natural e social e, com isso, o turismo precisa, cada vez mais, ser estudado e entendido como uma ciência multidisciplinar. Contudo, para os autores citados, a dimensão que tem maior destaque, no que tange o cenário mundial, é a econômica, pois apresenta efeito multiplicador, uma vez que, são geradas receitas que repercutem de forma direta e indireta em outros setores.

Para Lisbôa Filho (2001), o turismo transcende a esfera das relações da balança comercial. O turismo, segundo o autor, é um fenômeno pertencente às ciências sociais e não às ciências econômicas. O autor ainda acrescenta que o turismo não é exclusivamente uma indústria e serve-se igualmente dos três setores: do primário para alimentação, do secundário para a construção e do terciário para todos os serviços de atendimento ao setor, por exemplo, guias de turismo,

hospedagem, transporte, recreação, entre outros. Lisbôa Filho (2001, p.4) assegura que o turismo “é um fenômeno de interação entre o turista e o núcleo receptor e de todas as atividades decorrentes dessa interação”. Além, disso, conforme o autor, a sociedade está ávida por produtos diferenciados, os quais são encontrados no setor de serviços. Portanto, “fica evidente a importância da qualificação e formação profissional dos recursos humanos que desempenham suas funções nas empresas ligadas ao setor de turismo, agregando qualidade e diferenciais na oferta do produto turístico” (BRITO; FERREIRA, 2012).

Lara (2010) analisa que, nos últimos 50 anos, diversas transformações ocorreram e incidiram sobre o crescimento e desenvolvimento do turismo. Ansarah (2002) apud Diettrich e Paiva (2012) observa que a evolução do mercado de trabalho em turismo no Brasil tem relação com a demanda nacional e internacional de turistas. Atualmente, para Fornari (2006), o crescimento do turismo traz consigo a necessidade de capacitação profissional para o setor e agregação de valor às empresas. Ainda de acordo com autora, todas as profissões, não somente as que estão ligadas ao turismo, como condição de empregabilidade e sucesso no mundo dos negócios, estão exigindo de seus profissionais autonomia intelectual, maior capacidade de raciocínio, senso crítico, atitudes inovadoras e empreendedoras, além de aptidão para prever cenários e sanar problemas.

Para Lara (2010), a formação e capacitação de qualidade dos profissionais que atuam ou irão atuar no turismo se tornará mais crítica em razão da realização de dois megaventos esportivos mundiais que acontecerão no Brasil, a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Conforme Silva (2012, p.6), os megaeventos podem trazer benefícios para a atividade turística. O autor afirma que o governo tem expectativa no que se refere “maior aproveitamento do potencial turístico, melhor divulgação de atrações turísticas regionais, ampliação do turismo interno, sobretudo de destinos hoje pouco explorados, e um salto de qualidade dos serviços”. Esses serviços que o autor expõe são os ligados ao setor turístico, os quais os bacharéis em turismo estão inseridos como: hotelaria, transporte, alimentação, entre outros.

Além disso, os investimentos que a esfera privada receberá como, por exemplo, ampliação do parque hoteleiro, propiciará ao Brasil, em específico, no turismo, uma melhora na infraestrutura urbana e na qualificação de mão de obra, acarretando, assim, em uma visibilidade internacional (SILVA, 2012).

A busca por profissionais com melhores qualificações é constante. A identificação com a área de atuação, somando as habilidades específicas da área podem se tornar um diferencial positivo ao profissional que trabalha com o turismo (FERREYROS; ROSINI, 2006). Além disso, Diettrich e Paiva (2012) acrescentam que o capital humano tem como papel-chave ser um elemento competitivo básico e diferenciador no contexto internacional. No entanto, conforme ressaltam Ferreyros e Rosini (2006), essa capacitação exigida ao profissional da área do turismo será obtida por meio do ensino superior.

Ansarah (2000) apud Antunes et al. (2005) assevera que o turismo abrange atividades de diversas naturezas. Além do mais, segundo a autora, são tarefas complexas, que demandam a atuação de profissionais especializados, com conhecimento e formação na área, os bacharéis em turismo. Antunes et al. (2005, p.2) observam que, de acordo “com as tendências internacionais que indicam um crescente interesse por viagens e lazer, surgem e se aprimoram as mais diversas áreas profissionais e investimentos ligados ao turismo”. Desse modo, surgem também inúmeros cursos em turismo, de níveis técnico, médio e superior, os quais têm por objetivo capacitar pessoas e gerar mão de obra qualificada para o atendimento das expectativas e necessidades da demanda turística.

Foi a partir da década de 90 que os cursos de graduação em turismo tiveram um crescimento, mais especificamente a partir de 1995, quando houve um aumento considerável destes cursos no Brasil (ANTUNES et al., 2005). Entretanto, devido à complexidade e abrangência das atividades relacionadas ao segmento turístico, além de ser uma área de interesse acadêmico e científico, relativamente nova, ainda há escassez de estudos exclusivos para permitir uma definição precisa de um perfil profissional condizente com as tendências turísticas mundiais e principalmente tendo como norteamento as características regionais dos mercados onde irão atuar os futuros profissionais do turismo3.

Rejowski (2002) apud Ferreyros e Rosini (2006) ressalta que o mercado de trabalho para os bacharéis em turismo, na década de 70, ficava restrito ao trinômio agência de viagens-hotelaria-transporte. Conforme Ferreyros e Rosini (2006), o motivo se devia “ao fato do mercado consumidor ser pouco exigente e da falta de estrutura no mercado turístico que pudesse proporcionar novas atribuições ao

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profissional do turismo.” Porém, Souza (2008) assegura que, nos dias de hoje, é possível perceber a diversificação das possibilidades de atuação para o profissional.

Ansarah (2002, p.42) apud Souza (2008, p.24) desenvolveu a presente classificação para provar a diversidade de estabelecimentos, setores, ações e atribuições cujo profissional de turismo pode estar inserido:

a) Hospedagem: empresas relacionadas à acomodação em geral e com diversas categorias (hotelaria, motéis, camping, pousadas, albergues...), cassinos,

shopping centers e, atualmente, o direcionamento para atuação em hospitais;

b) Transporte: aéreos, rodoviários, ferroviários e aquaviários e demais modais de transportes;

c) Agenciamento: em agências de viagens, operadoras e representações (GSA e consolidadores4);

d) Alimentação: restaurantes, fast food, cruzeiros marítimos, parques temáticos, eventos e similares;

e) Lazer: com atividades de animação/recreação – clubes, parques temáticos, eventos, empresas de entretenimento, agências, cruzeiros marítimos, hotéis, colônias de férias;

f) Eventos: empresas organizadoras para atuação em mini e megaeventos, e também feiras, congressos, exposições de caráter regional, nacional e internacional ou similar;

g) Hospitalidade: atuação no núcleo turístico em atividades de caráter hospitaleiro;

h) Órgãos oficiais: atuação em planejamento e em programas estabelecidos por uma política de turismo, fomento, pesquisa e controle de atividades turísticas; i) Consultoria: atuação em pesquisa e/ou em planejamento turístico;

j) Marketing e vendas turísticas;

l) Magistério: cursos de graduação, pós-graduação, especialização, extensão, atualização e cursos livres;

m) Publicações: empresas e/ou instituições de ensino para atuação em editoração específica, escritor de textos para jornais e revistas especializados;

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Termos técnicos utilizados no mercado turístico. GSA (General Sales Agent) são representantes legais e oficiais de uma empresa turística obrigadas por contrato a seguir padrões de atendimentos e normas de venda. O termo “consolidadores” é originário de GSA, representando canais de distribuição de bilhetes aéreos.

n) Especialização em mercado segmentado: turismo ecológico, social, infanto- juvenil, para idosos, deficientes físicos, de negócios, segmentos étnicos ou culturais em geral;

o) Pesquisa: centros de informações e documentação;

p) Outros ramos de conhecimento humano: algumas áreas novas, quando tomadas em uma dimensão mais ampla, estão surgindo, como geração de banco de dados para o turismo, tradução e interpretação dirigidas para o setor, instituições culturais, informática aplicada ao turismo, entre outras.

Contudo, mesmo que existam diversas opções de atuação para esses profissionais, ainda há barreiras no adentro ao mercado de trabalho. Isso acarreta na desmotivação e, até mesmo, na busca por novas áreas de atuação (SOUZA, 2008). Fonseca (2005) apud Souza (2008) afirma que um dos fatores geradores desse descontentamento presente nos formados em turismo é o distanciamento existente entre teoria e prática, no que se refere ao ensino superior nessa área.

Souza (2008, p.26) ressalta que:

No decorrer do processo formativo, a prática se constitui em parte indispensável para o desenvolvimento dos conteúdos teóricos. O profissional que atua no turismo precisa saber aplicar os conhecimentos adquiridos frente às diversas realidades que lhes serão colocadas e ter capacidade crítica e reflexiva sobre as circunstâncias que o cercam. Ele precisa pensar o sentido de suas ações, interrogando-se sobre possíveis alternativas, planejando e avaliando os resultados alcançados com o desenvolvimento do turismo. Por isso, é necessário oferecer aos alunos, durante sua formação, experiências práticas, contatos com a realidade que conduzam ao questionamento e, principalmente, contato com o mercado de trabalho.

Fornari (2006) também acrescenta que os profissionais de turismo estão recebendo críticas quanto à inadequação das suas formações frente às exigências do contemporâneo mercado de trabalho em turismo. É notória uma crescente necessidade de interação entre a academia e o setor produtivo, para que possa haver “sintonia entre as demandas de capacitação do mercado e o modelo pedagógico adotado nas instituições de ensino” (FORNARI, 2006, p.24).

Não obstante, segundo Souza (2008), as instituições de ensino superior não podem ser voltadas estritamente para o viés mercadológico. Segundo Frigotto (2000) apud Souza (2008, p.27) “essas instituições não podem subordinar a qualificação humana às leis do mercado e à sua adaptabilidade e funcionalidade aos

organismos que os representam”. É preciso haver diálogo entre as instituições de ensino superior e o mercado, para que haja articulação da teoria com a prática. Dessa forma, o bacharel em turismo precisa ter uma formação que lhe possibilite ampliar seus conhecimentos teóricos e práticos em diferentes campos: político, social, ambiental, pedagógico, ético, entre outros (SOUZA, 2008).

Lara (2010) atenta que, para se vivenciar o turismo, é preciso uma formação plural do bacharel em turismo. Com isso, para o autor, os recursos humanos assumem destaque considerável frente às práticas pedagógicas desenvolvidas pelas instituições de ensino superior. O processo de ensino/aprendizagem se torna significante na formação do bacharel em turismo, pois esse profissional será capaz de participar do desenvolvimento do turismo. Fornari (2006, p.26) acrescenta que, como o turismo também é uma atividade de prestação de serviços, a qualificação dos recursos humanos “favorece o aproveitamento racional e rentável para o setor, auxiliando do desenvolvimento da atividade turística”.

Um bacharel em turismo qualificado deve atender as demandas do turismo, e, assim, agir com conhecimento de causa, além de implementar mudanças necessárias que a atividade turística exige (LARA, 2010). O bacharel em turismo precisa ser um tipo de profissional flexível e adaptável perante as variadas realidades com as quais se depara em sua profissão. Além disso, o autor agrega que esse profissional necessita ter também uma consciência ecológica, pois possibilitará analisar e julgar problemas ambientais que estão presentes no cotidiano.

É válido destacar que esses apontamentos e reflexões presentes nesta seção serviram como base para a realização de um grupo focal com estagiários e ex- estagiários pertencentes ao curso de turismo da Universidade Federal Fluminense, o qual é apresentado no próximo capítulo deste estudo.

3 PERCEPÇÕES DOS ESTUDANTES DE TURISMO ACERCA DO MERCADO DE TRABALHO

Esse capítulo apresenta a metodologia empregada para realização do presente trabalho, além dos principais resultados obtidos no grupo focal, método adotado para coletar as informações necessárias com intuito de alcançar o objetivo geral.