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A Formação Inicial de Professores

3- EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES

3.3 A Formação Inicial de Professores

Desde a última década do século XX as TIC suportadas por redes influíram profundamente na sociedade atingindo inevitavelmente a Escola, facilitando as práticas de construção e de aquisição de saberes e, portanto, as modalidades de aprendizagem. Estas mudanças incitam ao desenvolvimento de competências digitais por parte do professor, ao domínio das tecnologias e capacidade de uso em situações de aprendizagem, no sentido de prepararem os alunos para responder às exigências impostas pela Sociedade do Conhecimento.

Em Portugal, têm sido realizados diversos estudos acerca da utilização das tecnologias pelos professores, como por exemplo as investigações de Coutinho (1995), Ponte e Serrazina (1998), Pais (2002), Paiva (2002), Silva (2004) e Coutinho (2005). Com o intuito de perceber a evolução ao nível da aquisição de competências em TIC por parte dos professores importa referir as principais considerações desses estudos.

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No estudo de Coutinho (1995), os professores em formação inicial na Universidade do Minho revelam atitudes positivas face ao uso das tecnologias, sobretudo ao nível de algumas funções da comunicação.

Ponte e Serrazina (1998), no estudo sobre a formação em TIC proporcionada aos alunos dos cursos de formação inicial de professores em Portugal, mostraram que as TIC desempenham um papel real, ainda que modesto, nos programas de formação inicial de professores. Foi possível verificar também que as instituições possuem recursos humanos e estruturas para trabalhar nesse domínio, embora apresentem diversas insuficiências, como é o caso do uso do correio electrónico e da Web.

O trabalho de Pais (2002) centrou-se na existência das tecnologias educativas nos currículos de três cursos (Educação de Infância, Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico e Educação Visual e Tecnológica do 2º Ciclo do Ensino Básico) das Escolas Superiores de Educação, que lhe permitiu concluir a necessidade de incluir uma componente formativa em tecnologias.

Paiva (2002) na sua investigação nacional sobre a utilização das tecnologias pelos professores, de todos os níveis de ensino, à excepção do Ensino Superior, colocados em estabelecimentos da rede pública e privada, no ano lectivo de 2001/2002, verificou que 49% dos professores nunca tinha realizado formação em TIC.

O estudo realizado por Silva (2004) sobre a utilização das tecnologias em contexto educativo permitiu evidenciar que somente 14,5% dos inquiridos de uma escola secundária adquiriram competências em TIC na sua formação inicial, que apenas 5,6% as utilizavam em contexto educativo e que só 3,2% as utilizavam para produção de material pedagógico.

Atkinson (1997) refere que, para termos professores empenhados e atentos devemos incluir, no seu programa de formação, as novas tecnologias no sentido de valorizar as pedagogias clássicas e de lhes fazer entender que as TIC não são antagónicas dos métodos tradicionais, mas antes os dois interpotenciam-se. Também Ponte e Serrazina (1998) defendem que o sucesso da integração das novas tecnologias na escola depende em larga medida do que for feito no campo da formação de professores. Esta formação deve proporcionar uma visão ampla das futuras funções docentes, uma preparação para os modos de pensar e trabalhar inerentes a esta actividade, bem como o uso crítico e criterioso das novas tecnologias.

Um dos papéis primordiais da formação inicial de professores é o de preparar o professor para o uso das TIC no processo ensino/aprendizagem. Neste sentido, segundo Ponte

53 e Serrazina (1998), a formação inicial deve: proporcionar as atitudes, os instrumentos e as competências base para a prática futura; dar a conhecer ao professor o modo de usar as TIC; promover nos professores a sua confiança na relação com as TIC, tornando-os aptos a utilizá- las com facilidade e versatilidade; fornecer uma perspectiva acerca das suas possibilidades em termos de utilização educativa.

Relativamente ao estudo de Coutinho (2005), que abrangeu instituições de ensino superior público em Portugal e teve como objectivo retratar o ensino da Tecnologia Educativa nos cursos de formação de professores, possibilitou verificar que: a Tecnologia Educativa está profusamente representada nos currículos das instituições públicas que, em Portugal, oferecem formação inicial e pós-graduada de professores dos diferentes graus de ensino; as disciplinas da área científica da Tecnologia Educativa caracterizam-se, em termos gerais, pelo seu carácter teórico-prático, por adoptarem metodologias activas e participativas e por um sistema de avaliação que inclui trabalhos realizados individualmente e em grupo; as disciplinas dos subsistemas da Tecnologia Educativa - Informática e TIC em Educação – incidem em especial nos cursos de formação inicial de Educação de Infância e Professores do 1º Ciclo; verifica-se, também, nesses programas um forte sentido de “alfabetização informática” (domínio pelo docente dos aspectos técnicos do “hardware” e do “software aplicacional”), ficando os aspectos pedagógicos relegados para uma posição secundária. Tal como refere Coutinho (2005), outros autores chegaram a idênticas conclusões, como Alba et al. (1994) numa análise a programas de formação inicial de professores em Espanha e ainda Pais (2002) numa análise a programas de Escolas Superiores de Educação em Portugal, que na opinião de Garcia Vera (1994), corresponde a uma visão desactualizada de “literacia informática” (computer literacy) que, considera, urge modificar no sentido de facultar ao professor a capacidade de utilizar as aplicações do computador como parte de estratégias individuais para a recuperação da informação, comunicação e resolução de problemas.

Os diversos estudos mostram que, apesar de existir alguma formação de professores e atitudes positivas face às tecnologias, o uso das TIC deve acompanhar o progresso tecnológico, mas também evidenciar as potencialidades, a adequação e integração das TIC em contexto educativo, pois as TIC podem ser inseridas no espaço escolar como elementos pedagógicos promotores de aprendizagem e autonomia (Brito & Purificação, 2006).

A introdução das TIC na formação inicial de professores deve orientar o futuro profissional para a sociedade tecnológica e prepará-lo para realizar o seu trabalho. Ou seja, com aptidão para dominar um conjunto de situações e de processos complexos, agindo com

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discernimento, o que pressupõe: dispor de recursos cognitivos pertinentes, de saberes, de capacidades, de informações, de atitudes, de valores; conseguir mobilizá-los e colocá-los em sinergia, no momento oportuno, de forma inteligente e eficaz (Perrenoud, 2002).

Vários foram os autores que identificaram as competências necessárias ao professor no domínio das TIC. Ponte e Serrazina (1998) estabelecem como principais competências: o conhecimento de implicações sociais e éticas das TIC; a capacidade de uso de software utilitário; a capacidade de uso e avaliação de software educativo; e a capacidade de uso de TIC em situações de ensino/aprendizagem. Para Miguéns (1998), existe a necessidade do professor ser capaz de lidar com a enorme diversidade de exigências que a sociedade lhe coloca e que requerem profissionais reflexivos, investigadores, criativos, participantes, intervenientes e críticos.