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Formação e papel do educador

A figura e o papel do educador, ao longo dos séculos, vêm sendo delineados como os de alguém que desperta espíritos, que mostra o caminho, o artista que tem por missão educar o ser íntimo da criança, como facilitador da aprendizagem significativa, como aquele que inicia um processo de humanização. Diante desta perspectiva, torna-se necessário, portanto, que os próprios educadores estejam conscientes de seu papel, assumindo-o de forma eficaz diante da sociedade.

Procurando estabelecer uma linha de pensamento sobre a figura do educador ao longo da história, encontramos nas obras de Franco Cambi (1999) – História da Pedagogia e de Mario Alighiero Manocorda (1989) – História da Educação – da antiguidade aos nossos dias, importantes informações a respeito de Sócrates, Agostinho, Rousseau, Herbart e Carl Rogers. Temos consciência, porém, que estes nomes não esgotam a lista daqueles que, na trajetória da história da educação, contribuíram para colocar em relevo a figura do educador em suas multíplices matizes.

No quadro abaixo, procuramos compor, a partir da literatura referida acima, uma síntese sobre a função do educador, segundo Sócrates, Agostinho, Rousseau, Herbart e Carl Rogers.

Quadro 3 – Função do educador segundo Sócrates, Agostinho, Rousseau, Herbart e Carl Rogers

Nome Período Função do educador

Sócrates 470/469 a.C – 399 a.C

Ajudar o discípulo a despertar seu espírito, para que ele consiga por si próprio "iluminar" sua inteligência e consciência.

O verdadeiro mestre não é um provedor de conhecimentos, mas alguém que desperta espíritos.

Agostinho 354 – 430 O educador mostra o caminho e o educando o adota; assim brota o saber interior, ou seja, a pessoa que ensina não transmite, apenas desperta.

Rousseau 1712 – 1778 Ser mestre significa iniciar um processo de humanização; o educando aprende a fazer-se homem em contato com seu mestre e, portanto, o mestre é sempre um modelo a seguir.

Herbart 1776 – 1841

O educador ideal devia ser extremamente carismático, possuir uma personalidade adequada para gerar o interesse pela aprendizagem. Considerava o educador tão essencial que o definia como um "artista" que tem como missão educar o "ser íntimo" da criança.

Rogers 1902 – 1987 O educador (professor) é um facilitador da aprendizagem significativa, fazendo parte do grupo e não se colocando acima dele.

Fonte: Franco Cambi (1999) – História da Pedagogia e de Mario Alighiero Manocorda (1989) – História da Educação – da antiguidade aos nossos dias. Organizado por Maria Goretti Reynaud Rodrigues.

Analisando o quadro acima, vem em evidência características que atravessaram os séculos, isto é, o educador que abre o caminho, o facilitador da aprendizagem, o carismático, aquele que inicia o processo de humanização, etc. Encontramos hoje, em muitos educadores contemporâneos e modernos, este mesmo modo de conceber a figura do educador.

Refletindo sobre as condições atuais da educação e os desafios a serem enfrentados para uma mudança significativa, a atenção volta-se para a figura do educador. Toda transformação inicia-se a partir de educadores bem preparados, com maturidade intelectual e emocional, curiosos, abertos a novos desafios e aprendizados, entusiastas, que tenham motivação e saibam motivar e desenvolver o diálogo como instrumento

fundamental na educação. Além disso, o educador deve desenvolver a humildade mostrando o que sabe e, ao mesmo tempo, aprendendo o novo e o desconhecido.

Paulo Freire enfatiza a tarefa renovada do educador na reconstrução do saber, da escola e em sua própria reeducação. Ele (educador) deverá ser mais criativo e aprender com o educando e com o mundo. Numa época de violência, de agressividade, o educador deverá ser o promotor do entendimento com os diferentes e a escola deverá ser um espaço de convivência, onde os conflitos são trabalhados, não camuflados.

No pensamento de João Paulo II (1988), o educador autêntico é aquele que participa da vida dos educandos, que está ao lado deles.

“O educador autêntico participa da vida dos jovens, interessa-se por seus problemas, procura entender como eles veem as coisas, toma parte em suas atividades desportivas e culturais, em suas conversas; como amigo maduro e responsável oferece caminhos e metas de bem, está pronto a intervir para esclarecer problemas, indicar critérios e corrigir com prudência e amável firmeza valores e comportamentos censuráveis. Em tal clima de presença pedagógica o educador não é visto como superior, senão como pai, irmão e amigo” (João Paulo II, 1988, p.13).

Tommaso Sorgi (1990), professor e pesquisador italiano, no discurso proferido durante um Congresso Internacional sobre Educação, realizado em Roma, descreve um tipo de educador que, responde às características de um educador da proposta em tela. Trata-se do educador imerso, aquele que não se contenta apenas em ensinar de modo qualificado e atualizado, mas que acrescenta alguma coisa a mais:

“(...) Ele (o educador) sabe estar no lugar do outro, sabe colher e participar dos problemas pessoais e familiares do aluno. Serve o aluno até quando lhe é possível, também fora da escola, a fim de compreendê-lo profundamente, tornando-se para este, um interlocutor sempre presente, mas discreto. Faz- se presente, mas não invade a liberdade do outro. Agindo assim, não é somente um instrutor ou agente de informações, mas um educador” (Sorgi, 1990, p. 3)

Em relação à participação da comunidade educacional no processo de mudança e transformação da educação, Moran (2001), destaca a importância do envolvimento de todos no processo educativo.

“Um dos eixos das mudanças na educação passa pela sua transformação em um processo de comunicação autêntica e aberta entre professores e alunos, principalmente, incluindo também administradores, funcionários e a comunidade, notadamente os pais. Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial” (Moran, 2001, p.27).

Ainda em relação à figura do educador, vejamos o que nos dizem dois educadores brasileiros: Paulo Freire (1979, 1981), Moacir Gadotti (2000) e ainda a Lei de Diretrizes e Bases – LDB (1996) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)9 (1997).

Paulo Freire, quando se refere à reconstrução do saber, coloca em relevo a figura do educador (professor). Admite que numa época de violência, de agressividade, o educador (professor) deverá ser o promotor do entendimento com os diferentes, este deverá ser mais criativo e aprender com o aluno e com o mundo e a escola por sua vez, deverá ser um espaço de convivência, onde os conflitos são trabalhados, não camuflados.

Na educação adequada, Freire elimina a relação vertical entre educador e educando, colocando os dois como co-autores da educação, isto é, elimina a imposição, instaurando em seu lugar a relação dialógica. Para ele, o educador ao ensinar aprende, havendo uma transferência de conhecimento entre educador e educando.

“Educador e educandos (...) co-intencionados à realidade, se encontram numa tarefa em que ambos são sujeitos no ato, não só de desvendá-lo criticamente e, assim, criticamente conhecê-la, mas, também, no recriar este conhecimento” (Freire, 1981, p.61).

Mais adiante, Paulo Freire (1981, p.79), afirma: “(...) ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, midiatizados pelo mundo”.

No livro Educação e Mudança (1979, p.17), Paulo Freire, referindo-se ao Ímpeto Criador do Homem, afirma que a educação, quanto mais autêntica se tornar, mais desenvolverá o aspecto criador e inovador do homem, portanto, entende-se que

9PCNs - Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um referencial de qualidade para a educação no Ensino Fundamental em todo o País. Sua função é orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros, principalmente daqueles que se encontram mais isolados, com menor contato com a produção pedagógica atual.

considera o educador um mediador de conhecimentos. Afirma que: “Um educador que restringe os educandos a um plano pessoal impede-os de criar”.

Moacir Gadotti (2000) escreve sobre o que significa ser professor, ser educador nos dias atuais.

“… é viver intensamente o seu tempo, conviver; é ter consciência e sensibilidade. (…) Os educadores, numa visão emancipadora, não só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas (…), eles são os verdadeiros "amantes da sabedoria", os filósofos de quem nos falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber (…), porque constroem sentido para a vida (…) e buscam, juntos, um mundo mais justo, mas produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são imprescindíveis” (Gadotti, 2000, p.3).

Apresentamos o perfil do educador segundo o pensamento de alguns filósofos, pedagogos, teóricos, mas, podemos nos perguntar: dentro da realidade e desafios da educação, especificamente no Brasil, o que se espera hoje do educador?

Para responder a este questionamento encontramos na legislação vigente da educação brasileira, a Lei de Diretrizes e Bases 9394/96 (LDB), e nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) que é desejável um educador:

a) de bem com a vida, humano, feliz, idealista, capaz de dar sentido à existência e ao que faz;

b) viva na linha do SER - objetivo máximo da Educação; c) capaz de exercitar a paciência cronológica e histórica;

d) comprometido com a vida e os valores como a ética, a sensibilidade, a estética, a cidadania, a solidariedade, a verdade, o respeito e o bom senso;

e) que norteie-se por três pilares de princípios, previstos nos parâmetros: (1) Princípios

estéticos - que desenvolvem a estética da sensibilidade, estimulam a criatividade e o

espírito inventivo; (2) Princípios Políticos - que propõem a política da igualdade, do direito e da democracia, cuja arte se expressa no aprender a conviver; (3) Princípios

éticos - que visam a ética da identidade, inserção no tempo e no espaço, onde aprender a