Capítulo IV: A Reforma Administrativa do Estado Novo nos anos 30: controlo e
5.1. Traços gerais da sociedade portuguesa nas primeiras décadas do século XX
5.2.2. Formação e profissão
Quadro 7: Formação36 e profissão37 dos vereadores da Câmara Municipal do Porto (1926-1933)
Nome Formação Profissão
Anacleto Domingues dos Santos
Curso de Artilharia da Escola de Guerra
Tenente- Coronel de Artilharia Engenheiro Civil
Antão de Almeida Garrett
Curso de Artilharia da Escola de Guerra
Curso Engenharia
Capitão de Artilharia Engenheiro Civil
António do Nascimento Ribeiro Macário
Escola de Enfermaria e Curso de Construções Civis e Obras públicas no Instituto Comercial do Porto
Tenente
António Joaquim de Almeida Valente
Curso de Classe de Sargento das Escolas Regimentais de Infantaria
Major de Infantaria
Aucíndio Ferreira dos Santos -
Tenente de Infantaria Arquitecto
Augusto Sousa Rosa
Escola do Exército Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
Tenente-coronel Médico
Carlos Alberto Garcia Alves Roçadas
Curso de Infantaria da Escola de Guerra
Curso de Medicina e Cirurgia
Tenente Médico
Carlos Alberto Henriques
Curso de Infantaria da Escola de Guerra
Capitão de Infantaria
Dário Tamegão
Curso de Infantaria da Escola de Guerra
Tenente Fernando Peixoto de Magalhães - Capitão Joaquim Gomes Salazar Braga
Curso de Administração militar da Escola de Guerra
Capitão de Administração Militar Luís Amaro de Oliveira Escola Central de Sargentos Capitão
Mário Almeida
Curso de Infantaria da Escola de Guerra
Pedro Carlos Alexandre Pezarat
Curso de Engenharia Militar da Escola de Guerra
Major de Engenharia
Raul Andrade Peres
Curso de Infantaria da Escola de Guerra
Coronel de Infantaria
Desde finais do século XIX, que o acesso a cargos políticos estava praticamente reservado a quem tinha formação superior. Os vereadores da Câmara Municipal do Porto
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Os dados relativos à formação dos vereadores da Câmara Municipal do Porto foram extraídos dos Processos individuais que estão à guarda do Arquivo Histórico Militar.
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A informação relativa à profissão dos vereadores da Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Porto da Ditadura Militar foi compulsada no Arquivo Histórico Municipal do Porto, no fundo documental constituído por Actas da Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Porto, as que se destacam as referentes à tomada de posse dos Presidentes da Câmara Municipal, Raul Andrade Peres (Acta da sessão de
instalação e posse da Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Porto, realizada em 7 de Julho de 1926, Fol.51v-35V) e Augusto Sousa Rosa (Acta da sessão de instalação e posse da Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Porto, realizada em 22 de Novembro de 1930, Fol 50-59v) e
da Ditadura Militar, eram militares de carreira. Do total de 15 vereadores, foi possível apurar informação relativa à formação 13 indivíduos. Assim, a análise desta variável é realizada com alguma reserva.
Com base nos dados disponíveis, apresentados no quadro 7, todos ingressaram jovens na Escola de Guerra, onde frequentaram, especialmente, os cursos de infantaria, artilharia e engenharia. Alguns deles fizeram outro tipo de cursos como o de Administração e de sargentos. Para além da formação militar alguns, como Augusto Sousa Rosa e Carlos Alberto Garcia Alves Roçadas, frequentaram o ensino superior e obtiveram diplomadas de licenciatura em Medicina. Assim, poderemos levantar a hipótese, que o grupo de vereadores que integrou a Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Porto era qualificado.
De acordo com os dados biográficos recolhidos poderá constatar-se que quase todos os membros deste grupo trabalhavam no Exército, com a excepção de Carlos Alberto Garcia Alves Roçadas, que era Tenente Médico da Guarda Nacional Republicana, deve ainda salientar-se que este foi o único vereador da Ditadura Militar que circulou para a vereação do Estado Novo (1933-1936)38.
A equipa de vereadores da Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Porto, entre 1933 e 1945, não era tão homogénea no que diz respeito à formação e profissão como a da Ditadura Militar (1926 e 1945), uma vez que são regimes políticos diferentes e que, por isso, eram constituídos por grupos de indivíduos com perfil escolar e profissional distinto.
Quadro 8: Formação e profissão dos vereadores da Câmara Municipal do Porto (1926-1933)
Nome Formação Profissão
Alberto Pinheiro Torres Direito Jornalista e advogado Alfredo Mendonça da Costa
Ataíde Filosofia
Professor da
Universidade do Porto António de Almeida Costa Matemática
Professor da
Universidade do Porto Américo Claro da Fonseca Direito Advogado
Ana José Guedes da Costa Enfermagem Enfermeira
António Bragança Direito Advogado
António de Seixas Soares
Júnior - Empregado bancário
António Domingos de Freitas - Homem de negócios António Pedro de Mesquita
Carvalho Magalhães Direito Advogado António Valeriano Mota - Industrial Carlos Alberto Garcia Alves
Roçadas Medicina Militar e Médico
Carlos Teixeira da Costa
Júnior - -
Carlos Teixeira Marques Medicina Médico Carlos Vasco Michon de
Oliveira Mourão Direito Advogado
Flávio Augusto Marinho Pais Engenharia Engenheiro Francisco Augusto Homem da
Silveira S. de Almeida e Melo Engenharia Engenheiro João de Espregueira Mendes Medicina
Médico e professor da Universidade do Porto João de Paiva Faria Leite
Brandão - Militar
Jorge de Azevedo Maia Medicina
Médico e professor da Universidade do Porto Jorge de Viterbo Ferreira -
Homem de negócios e proprietário agrícola José Júlio Martins Nogueira
Soares Engenharia Engenheiro
José Pinto Menéres Direito Advogado
Luís Albertino Mourão - Homem de negócios Luís Guilherme de Barros
Virgolino Engenharia Engenheiro
Luís José de Pina Guimarães Medicina
Professor da
Universidade do Porto
Manuel Avides Moreira - -
Manuel Barreto da Costa Engenharia Engenheiro Paulino Celestino da Silva - Militar Paulo Emílio Alberto de
Figueiredo Garcia - -
Pedro Maria Fonseca - Homem de negócios
Ricardo Spratley
Curso de idiomas e de
comércio Homem de negócios
A pesquisa realizada sobre a formação e a profissão dos vereadores da Câmara Municipal do Porto que exerceram actividade entre 1933 e 1945, que constituem um
universo de 31 indivíduos, permitiu obter informação relativa à formação de 20 vereadores e à profissão de 28 vereadores. Por isso, a análise que se segue é realizada, com as devidas cautelas, assumindo desta forma um carácter provisório, que pretende ainda assim abrir pistas de leitura e criar alicerces, que sirvam de impulso para outras ibestigações.
De acordo com o quadro 8, é possível observar que a maior parte dos vereadores (no total 31 indivíduos) eram licenciados, sendo que 18 indivíduos tinham diploma do ensino superior, 9 indivíduos não eram licenciados e de outros 4 não foi apurar qualquer informação. Mesmo, com dados provisórios relativos à formação escolar/académica deste grupo é possível verificar, que as vereações eram constituídas por indivíduos que tinham formação escolar acima da média da grande maioria da população portuguesa, o que demonstra que a administração dos negócios municipais estava a cargo de um grupo de indivíduos letrados e que ocupavam posições sociais e cargos profissionais de destaque na cidade do Porto, com por exemplo os professores universitários (Alfredo Mendonça da Costa Ataíde39, António de Almeida Costa40, João de Espregueira Mendes41, Luís José de Pina Guimarães42), os advogados (Alberto Pinheiro Torres43, Américo Claro da Fonseca44, António Bragança45, António Pedro de Mesquita Carvalho Magalhães46, Carlos Vasco Michon de Oliveira Mourão47, José Pinto Meneres48), os homens de negócios e industriais
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Arquivo Histórico Municipal do Porto. Boletim da Câmara Municipal do Porto. Ano VII, n.ºs 300 e 301, vol. XVII, Porto, 3 e 10 de Janeiro de 1942. "Presidência, Ordens de Serviço, N.º 2/42" (3 de Janeiro de 1942), Fol. 12-13; Diário da Manhã, 27 de Novembro de 1941, p.1.
40
Arquivo Distrital do Porto. Governo Civil do Porto. Correspondência Expedida, I Semestre ,Iª Repartição,Livro n.º 1190, Ofício n.º: 355 – A; O Século, 17-05-1936, p.6.
41
Arquivo Distrital do Porto. Governo Civil do Porto. Correspondência Expedida, I Semestre ,Iª Repartição,Livro n.º 1190, Ofício n.º: 355 – A; O Século, 17-05-1936, p.6.
42
Arquivo Distrital do Porto. Governo Civil do Porto. Correspondência Expedida, I Semestre ,Iª Repartição,Livro n.º 1190, Ofício n.º: 355 – A; O Século, 17-05-1936, p.6.
43
Diário da Manhã, 27 de Novembro de 1941, p.1
44
Arquivo Distrital do Porto. Governo Civil do Porto. Correspondência Expedida, I Semestre, Iª Repartição,Livro n.º 1190, Ofício n.º: 355 – A; O Século, 17-05-1936, p.6.
44
Diário da Manhã, 27 de Novembro de 1941, p.1
45
O Comércio do Porto, 8 de Junho de 1933, p.1; Diário da Manhã, 4 de Junho de 1933, p.12.
46
Diário da Manhã, 27 de Novembro de 1941, p.1.
47
Arquivo Distrital do Porto. Governo Civil do Porto. Correspondência Expedida, I Semestre ,Iª Repartição,Livro n.º 1190, Ofício n.º: 355 – A; O Século, 17-05-1936, p.6.
(António Domingos de Freitas49, António Valeriano Mota50, Jorge de Viterbo Ferreira51, Luís Albertino Mourão52, Pedro Maria Fonseca53, Ricardo Spratley54). Curiosamente, apesar da Constituição de 1933, transferir a responsabilidade de ocupar cargos políticos para os civis, note-se que entre 1933 e 1945, alguns militares (Carlos Alberto Garcia Alves Roçadas55, João de Paiva Faria de Leite Brandão56 e Paulino Celestino da Silva57) pertenceram à vereação da Câmara Municipal do Porto, o que revela que não foram arredados completamente da esfera do poder local.
A carreira profissional dos membros das equipas dos vereadores da Ditadura Militar (1926-1933) e do Estado Novo (1933-1945), também devem ser analisadas separadamente, uma vez que cada contexto político teve preferência por perfis socioprofissionais diferentes. No primeiro regime predominaram os militares e no segundo prevalecerem os civis na Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Porto.
As informações relativas à carreira profissional dos vereadores civis do Porto (1926 -1945) são escassas, os processos individuais dos militares que estão à guarda do Arquivo Histórico Militar, dão alguma informação sobre este tema, contudo, não permitem fazer uma descrição e uma análise aprofundada. Também se deve referir o facto dos vários dicionários biográficos e enciclopédias consultados, não possuírem informação sobre grande parte destes indivíduos. A ausência de informação sobre as biografias, remete para a possibilidade dos vereadores da Câmara Municipal do Porto não terem sido personalidades de grande prestígio no seu tempo, ou de não se terem destacado em algum domínio da sociedade, como por exemplo, o exercício de altos cargos políticos ou o
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Diário da Manhã, 4 de Junho de 1933, p.12.
50
Diário da Manhã, 4 de Junho de 1933, p.12.
51
Diário da Manhã, 4 de Junho de 1933, p.12.
52
Diário da Manhã, 4 de Junho de 1933, p.12.
53
Diário da Manhã, 4 de Junho de 1933, p.12.
54
Diário da Manhã, 27 de Novembro de 1941, p.1
55
Diário da Manhã, 4 de Junho de 1933, p.12.
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exercício de actividades profissionais prestigiadas. O facto de estes indivíduos não terem sido biografados no Quem é Alguém (Dicionário publicado na década de quarenta do século XX, de intelectuais portugueses) ou na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, não significa que não tenham sido personalidades do seu tempo e da sua cidade. Até porque para acederem ao cargo de vereador, teriam de deter certo prestígio e reconhecimento social, uma vez que o cargo de vereador, seria desejado por muitos membros das elites portuenses, por significar o acesso ao interior do poder local.