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A forma e ideologia Em busca da “nova cidade”

1. A construção da Cidade contemporânea o legado funcionalista do movimento moderno

1.1 A forma e ideologia Em busca da “nova cidade”

Sempre exposta a novos contextos, a cidade é o resultado da forma integrada de pensamento e ideologias. A sua caminhada até ao contemporâneo é resultado de inúmeros problemas e soluções urbanas, da teorização de muitos dos modelos, que surgem na constatação do que hoje procuramos e desejamos na cidade. O pensamento paradigmático associa-se a um discurso teórico, no movimento moderno, onde ganhará novos contornos. Na certeza que nunca a cidade vivera a era das máquinas como agora, muitos pensadores temiam os contornos que esta pudesse assumir, e os críticos argumentavam sobre o período moderno, novas formas/ideais de “construir”.

Desse ponto de partida, o movimento moderno manifesta-se também pelas novas abordagens de pensar a cidade. Reacções ao modelo padronizado, e ao modo como se pensava a cidade, marcava-se agora de diferentes ideologias em torno d pensamento da época, destacando alguns aspectos do modelo moderno no seu contraste com o temporalidade vivida, pertinentes para a transformação da sociedade, a partir dos quais podemos compreender alguns dos percursos que a cidade e a especificidade do fenómeno urbano assumira.

Na óptica moderna, a cidade antiga é incapaz de servir as funções da modernidade, não tendo sentido de existir. Assim a cidade moderna impunha-se como uma cidade nova, assumindo-se como a “utopia” que gira em torno da concepção do Homem moderno.

Perante esta realidade fictícia, o movimento moderno iniciara uma nova abertura ao espaço utópico, no qual se podia pensar em outra História, outra cidade ou outra forma de habitar. Sonhos que resultaram do desejo, mas que ao mesmo tempo animaram a ideia de uma sociedade. Desta forma, o sentido de cidade assumir-se-ia num espaço, por excelência, de representação e expressão de um modelo da própria “cidade ideal”

A “cidade real” ou a cidade que temos como nossa, é o resultado extraordinário da criação do homem, mas apesar do seu tempo, lugar ou ambição, todas as cidades continuam, incessantemente, em busca da “cidade ideal”, em busca da sua própria identidade, ou seja, em busca da sua própria “utopia”.

1.1.1 A Cidade "mutante"

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, Archigram (1961-1969)

A ideia do experimental e da liberdade social, à década de 1950, o questionamento de muitas das práticas tradicionais da cidade. Aficionados pela geração do cinema, o pensamento alargado às utopias e à teorização da resolução do “lugar” dos conflitos sociopolíticos através de ideias e projectos nómadas que permitisse uma vida sempre transitória, tal como sugere a Walking City em 1963 proposta pelo grupo Archigram 14.

Este radicalismo questionava o modelo de sociedade industrial e os projectos urbanos que se iam desenvolvendo em 1960 “[…]um movimento mais amplo de libertação do homem das

13 Paul Sigel in Teoria da Arquitectura do Renascimento aos nossos dias. Köln, 2003, p. 370

14 Archigram (architectural + telegram) era um grupo quase um grupo pop de jovens arquitetos criativos que se

reuniram. Formado por Peter Cook(1936), Michael Webb(1937), David Green(1937) , Warren Chalk(1927-1987), Ron Herron(1930-1994) e Dennis Crompton (1935). Suas propostas buscavam um diálogo mais próximo com o contexto cultural da época, inspirados pela tecnologia como forma de expressão. Os projetos hipotéticos, eram assim a tentativa de resgatar as premissas fundamentais para a arquitetura moderna

tendências da cultura contemporânea, uma libertação individual entendida como rejeição a todos os parâmetros formais e morais[…]”15. O lugar no qual o indivíduo se propõe colocar culmina assim, na apropriação da crítica ideológica de forma a resolver os “vazios” entre o público e o privado, entre o indivíduo e a sociedade, voltando-se com novos argumentos e novos projectos, enquadrado num novo contexto cultural e político.

As suas propostas viviam num domínio entre o real e o imaginário, explorando as potencialidades que a era tecnológica proporcionava, defendiam uma abordagem high tech, com infra-estruturas leves, num universo das estruturas insufláveis, computorizadas, ambientes descartáveis, cápsulas espaciais e imagens baseadas nos consumos de massa.

A cidade compreendida por este grupo é vista como um local des-hierarquizado, vista como uma rede. 16 A nova vida urbana e a sua mobilidade ou metamorfose, a necessidade de adaptar a cada nova situação, conferia à data, o aparecimento de uma arquitectura descartável, móvel, mutável e aberta. 17

Exemplo, o projeto de Peter Cook (1936), a Plug-in City em 1964, propunha uma cidade "tentacular", construída com base na rede e nas vias de comunicação, na estratégia computorizada, onde a estrutura fixa.

A cidade é o hardware onde os suportes de apoio são conectados pelos softwares as unidades arquitetónicas, móveis e mutáveis. A base de planeamento da Plug-in-City é inspirado na computação e na sua possibilidade de re-programação, no qual era possível uma constante readaptação ao longo do tempo e do espaço.

15 Andrea Branzi apud Francisco Jarauta “Construir a cidade genérica”, Revista da UFMG V. 20, N.1 P. 24-35.

Jan/jun.2013

16 Ao qual Manuel Castells (1942) viria a chamar a sociedade em rede

17 Entre os principais trabalhos de Archigram estão "Walking City" de Ron Herron (1964), "Plug-in-City" de Peter Cook,

(1962-1964) e "Instant City" de Cook, Crompton e Herron, (1969-1970)

Figura 6 Peter Cook, Plug-In City, 1964

1.1.2 A cidade da memória, Aldo Rossi

Numa postura totalmente oposta, a concepção ideológica18 de Aldo Rossi (1931- 1997), reage como crítica ao funcionalismo do séc. XX. Rossi defensor das permanências dos valores arquitectónicos, recusa a ideia de cidade ergonómica, onde a forma segue à função, ou seja, a arquitectura decorre da definição das funções, o que conduziria na sua óptica à perda do valor arquitectónico e onde a sua relação com o passado e o presente, estabelece uma barreira na continuidade história da cidade. O autor tem uma posição mais conservadora e, portanto, menos radical. Para Rossi a cidade só se pode desenvolver a partir das referências e não, na maneira Corbusiana, a partir de um ideal.

A cidade é assim valorizada como uma construção ao longo do tempo: o que a enriquece é a sua constante transformação, ou seja, os diferentes tempos presentes num mesmo núcleo urbano, demonstrativos duma cultura em transformação. Uma cidade dinâmica compreende a continuidade e o desenvolvimento tanto da cidade histórica como da cidade “nova”.

18 Gilbert Lupfer in Teoria da Arquitectura do Renascimento aos nossos dias. Köln, 2003 , p. 782. Figura 7 Alfama, cidade histórica de Lisboa

1.1.3 A cidade "comunicativa", Robert Venturi

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A obra teórica de Robert Venturi (1966-1972) apresenta o movimento moderno na sua complexa sociedade. Compreendido pelas experiências da vida quotidiana, a sua lógica de pensamento é estabelecida através da relação do espaço urbano com a arquitectura. O problema da arquitectura e do urbanismo modernos, diz Venturi, é serem “excessivamente reducionistas”. Na sua perpectiva, a arquitectura ergue à cidade uma relação de vivacidade e estímulos para os seus habitantes. As cidades vivas são aquelas capazes de se regenerar, ao contrário das cidades monótonas, referidas por este, como as cidades modernas que estariam condenadas à própria destruição.

A crítica de Venturi ao reducionismo moderno resulta nos novos propósitos de união espaço- homem, valendo-se dos símbolos e significado, capazes de possibilitar interações múltiplas de como experienciar os novos contextos e vias de comunicação.

Assim, em Learning from Las Vegas, Venturi dedica-se à análise de "Main Street", numa perspectiva da comunicação arquitectónica em detrimento da análise das formas arquitectónicas. Para Venturi, em Las Vegas não é a arquitectura que domina o espaço, mas é o signo, a sua forma escultural, a sua silhueta e os seus efeitos de luz, que cria uma cidade "transbordante de vida" de significações e de contradições. A ideia de cidade é tida como uma sequência de imagens em movimento acelerado e a arquitectura como o suporte da informação. Uma das ideias mais sugestivas é a respeito das duas modalidades de arquitectura comercial: o hangar decorado (decorated shed) e o pato (duck). O "pato" representa a apropriação da arquitectura pela forma simbólica, a construção comercial torna-se escultura, enquanto o hangar decorado representa uma construção funcional onde a decoração e indicação de função, se apresentam pela forma de um cartaz publicitário, de forma a destacar a arquitectura.

19Gilbert Lupfer in Teoria da Arquitectura do Renascimento aos nossos dias. Köln, 2003, p.790.