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CAPÍTULO 5 – CONSTRUÇÃO DO MODELO 56

5.4 Formalização do fator de reversão de receitas não tarifárias 67

Diante do exposto, chega-se ao valor de rmod, mas como considerar esse valor para fins de modicidade tarifária? Conforme já explicado, a modicidade ocorrerá periodicamente a cada reajuste podendo ser representada por um fator, denominado aqui como M. Mas como escrever formalmente o valor de M em relação às receitas geradas na exploração da infraestrutura concedida (concessão)? E como aplicá-lo sobre os valores de tarifas vigentes para obtenção de novos valores módicos? Primeiramente, toma-se a equação 1, rtot = rnt + rt, mas sem reversão de rnt, para modicidade tarifária. Desta equação, parte-se para uma decomposição e rearranjo dos fatores constituintes da mesma, chegando-se à equação 5. Assim têm-se as seguintes definições e a formalização de M:

rtot = rnt + rt, Def. 1 rt = d × τ, Def. 2 rmod = d × Δτ, Def. 3 M = Δτ/τ, Def. 4

rtot = rnt + rt, (1)

rtot – rmod = rnt + rt – rmod,

rtot – rmod = rnt + d × τ – d × Δτ, rtot – rmod = rnt + d × τ × (1 – Δτ/τ), rtot – rnt – rmod = d × τ × (1 – Δτ/τ), rtot – rnt – rmod = rt× (1 – Δτ/τ), rt – rmod = rt× (1 – Δτ/τ),

(rt – rmod)/rt = 1 – Δτ/τ, 1 – rmod/rt = 1 – Δτ/τ, – rmod/rt = – Δτ/τ,

logo se tem que,

M = Δτ/τ = rmod/rt , (5)

onde,

rtot – valor de receita total,

rnt – valor de receita não tarifária,

rt – valor de receita tarifária,

rmod – valor de receita não tarifária, a ser revertida para modicidade tarifária,

d – demanda ou multiplicador de uma tarifa qualquer, na situação hipotética em que o projeto de concessão considera apenas um valor único de tarifa,

τ – valor de tarifa vigente naquele período no qual se realizaram as receitas rtot, rnt e rt,

Δτ – variação da tarifa vigente obtida pela aplicação de um % de rnt (rmod) para modicidade,

M – termo ou fator de reversão da parcela de receitas não tarifárias ou desconto nas tarifas decorrentes da reversão de parte das receitas não tarifárias a ser definido periodicamente.

Assim, tem-se que, uma vez calculado rmod, calcula-se o fator M em função de rmod e rt, conforme a equação acima. A aplicação do fator M ocorreria no momento de reajuste de tarifas, podendo este fator incidir de duas formas: cumulativa ou pontual. Essas duas alternativas visam dar maior flexibilidade ao modelo proposto. A primeira forma, efeito cumulativo, é uma regra, denominada de regra da catraca, na qual sempre se considerará a

relação rnt/rtot máxima obtida até aquele momento em que se esteja realizando a reversão de receitas não tarifárias para modicidade. A segunda forma considera sempre a relação rnt/rtot vigente no momento da reversão. Essas duas possibilidades são apresentadas e discutidas nas seções seguintes.

5.5 Efeito cumulativo – regra da catraca (menor compartilhamento de risco)

O efeito cumulativo, denominado também de regra da catraca, adiciona um incentivo a mais ao explorador da infraestrutura quanto à manutenção dos níveis máximos de rnt/rtot atingidos ao longo do período de exploração, uma vez que as tarifas estarão descontadas considerando esse nível, independente do valor vigente de rnt/rtot.

Dessa forma, o fator M incidiria no reajuste tarifário periódico como outro fator qualquer, como, por exemplo, um fator de atualização monetária tipo RPI – Retail Price Index (Sibley, 1989 e Bos, 1994) – que no Brasil seria o IPCA, o IGPM ou outro índice geral representativo da variação média dos preços de bens e serviços, ou ainda outro fator qualquer: fator de produtividade (fator X), fator de qualidade (fator Q). Dessa forma, a incidência do fator M em uma formulação de reajuste com efeito cumulativo para o caso de uma regulação do tipo tarifa teto resultaria na equação 6, apresentada a seguir:

ti+1 = ti× (1-Mi), (6)

onde,

ti+1 – valor de tarifa reajustada após o período i e vigente no período i+1,

ti – valor de tarifa vigente no período i,

M – fator de modicidade tarifária no período i.

Essa formulação se aplica tanto a regulação baseada nas evoluções de price cap e revenue cap, como nas regulações baseadas no modelo de fluxo de caixa descontado (Damodaran, 2004), tais como taxa interna de retorno fixa, cost plus e cost-based.

Nas regulações baseadas em fluxos de caixa descontados, pode-se reajustar o valor de tarifa em função do fator M da equação 6, onde ti seria o valor de tarifa para restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro conforme condições do contrato de concessão sem se considerar no cálculo desse valor de ti as receitas não tarifárias. Outra opção seria simplesmente considerar o valor de rmod na equação de fluxo de caixa descontado para fins de definição do novo valor de tarifa, sem necessariamente se aplicar a equação 6.

Para cálculo do valor de rmod considerando o efeito cumulativo (regra da catraca) têm-se alguns ajustes. O resultado da equação 4 deverá ser multiplicado por rnt menos o produto entre a máxima relação de rnt/rtot obtida até aquele momento e a receita total referente ao período em tela. Caso essa máxima relação de rnt/rtot obtida até aquele momento seja inferior ao limite L0 (já explicado na seção 5.3), não há de se falar em reversão de receitas não tarifárias, pois as receitas não tarifárias já foram consideradas em sua totalidade quando do fluxo de caixa inicial do projeto.

Assim, no primeiro período, onde a máxima relação de rnt/rtot obtida até aquele momento supera L0 ter-se-ia para cálculo do rmod o produto entre o resultado da equação 4 e “rnt – Lmax×rtot”. A variável denominada aqui de Lmax representa a máxima relação de rnt/rtot obtida até aquele momento. A partir daí Lmax assumirá sempre o maior valor de rnt/rtot obtido em todos os períodos anteriormente observados para fins de reversão de receitas não tarifárias.

Cabe salientar que período se refere a um intervalo de tempo no qual são realizados: o cômputo de todas as receitas arrecadas na concessão e a reversão de parte das receitas não tarifárias para modicidade das tarifas. Esse período seria o mesmo entre um reajuste tarifário e outro, normalmente 12 meses para concessões de infraestrutura. Assim, têm-se as equações 7 e 8: % 0 mod max → = <L r r r se tot nt , (7)

pois, até rnt/rtot atingir o valor de Lmax, todas as receitas não tarifárias foram consideradas nos períodos anteriores, ou seja as tarifas já estão descontadas para fins de modicidade para

(

nt tot

)

a tot nt tot nt r L r b L r r r L r r se × − × ⎥ ⎥ ⎥ ⎥ ⎥ ⎦ ⎤ ⎢ ⎢ ⎢ ⎢ ⎢ ⎣ ⎡ ⎟⎟ ⎠ ⎞ ⎜⎜ ⎝ ⎛ − − = → ≥ max 0 mod max 1 , (8) onde,

Lmax – maior valor da relação rnt/rtot observado nos períodos anteriores ao período vigente - podendo assumir valores maiores que L0 e menores ou iguais a 100%. Os demais parâmetros e variáveis já foram previamente explicados.

Destaca-se que a definição de Lmax, a formulação final do modelo (equações de cálculo de

rmod e M) e esse tipo de efeito cumulativo resultam naquilo que foi denominado como regra

da catraca, por não permitir retorno a valores anteriores (desreversão).

Nesse caso, o regulado terá forte incentivo à manutenção da máxima relação de rnt/rtot obtida até aquela revisão, pois o mesmo terá suas tarifas descontadas para fins de revisão por todo o período restante de concessão para o máximo nível já obtido até então de rnt/rtot. Em outros termos, no caso de uma oscilação que gere perdas de receitas não tarifárias, o regulado arcaria com todo o risco dessa perda, inclusive mantendo as tarifas reduzidas para o máximo nível de rnt/rtot já obtido. O compartilhamento de risco entre regulado e regulador só acontece no caso de oscilações de receitas não tarifárias para mais, ou seja relações maiores de rnt/rtot. O mecanismo de catraca não permite o incremento da tarifa devido à queda da participação das receitas não tarifárias; o termo de reversão atua sempre no sentido de preservar ou reduzir os valores cobrados.