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3.2 Os arranjos domiciliares de jovens no Brasil

3.2.2 Formando arranjos domiciliares: jovens que saíram

O fim da co-residência com os pais e o estabelecimento de um novo arranjo domiciliar é um acontecimento fundamental no curso de vida dos indivíduos, pois representa a independência residencial e financeira dos filhos em relação aos seus genitores. Mais que uma mudança em direção à independência econômica, a saída da casa dos pais representa também uma mudança nas relações sociais. É durante essa transição que o jovem deixa a posição de filho, subordinado aos pais, para assumir a posição de responsável ou cônjuge, na qual adquire autonomia tornando-se responsável pelo seu próprio bem-estar, que passa a ser função de sua participação na força de trabalho e de seus próprios recursos

(Mulder et al, 2002). Em média, os jovens esperam que, ao saírem de casa,

aumentem seu nível de independência dos pais e seu nível de responsabilidade, mas, ao mesmo tempo, também esperam uma nítida redução em sua situação financeira (Billari e Liefbroer, 2007).

Ao saírem de casa, os jovens podem optar por um arranjo familiar, casando-se ou coabitando, ou por um arranjo não-familiar, morando sozinho e experimentando a independência residencial pré-marital, ou ainda vivendo em arranjos institucionais, como quartéis ou moradias estudantis. Este último caso, em que o jovem sai do controle e supervisão dos pais, mas vive sob a autoridade a supervisão de outra agência, caracteriza uma situação de semi-autonomia residencial (Goldscheider e DaVanzo, 1989).

Alguns autores acreditam que sair de casa sem o propósito explícito de estabelecer uma residência independente, como é o caso da semi-autonomia, implica uma ruptura, mas, ao mesmo tempo, estes jovens não deixaram a casa dos pais de fato, apenas vivem longe por um período (Buck e Scott, 1993). O

Current Population Survey dos Estados Unidos, por exemplo, considera os

college students (estudantes universitários) como membros do domicílio dos pais.

Neste caso, muitos desses jovens continuam a depender economicamente dos pais e retornam a casa após a conclusão das obrigações militares ou escolares,

fazendo com que “viver fora de casa” (living away from home) não seja

saem por razões de estudo retornam posteriormente, o que é menos provável ocorrer entre os que saem com a finalidade de casar. Porém, se o foco do estudo é a co-residência, os jovens que vivem em semi-autonomia deveriam ser tratados como jovens que saíram de casa (White, 1994), o que não evita que haja uma grande divergência entre a primeira saída de casa e a saída definitiva da casa dos pais (Murphy e Wang, 1998).

A não co-residência diminui o controle parental sobre as atividades do filho e a ligação entre os valores, atitudes e comportamento dos pais e filhos pode ser enfraquecida. Além disso, os jovens que não vivem com os pais estão expostos a uma ampla variedade de experiências e influências que tendem a torná-los menos tradicionais em relação aos papéis de gênero na família que aqueles que vivem com seus pais (Waite et al., 1986).

A fim da co-residência afeta a demanda por moradia, a mobilidade da força de trabalho, a demanda por novos serviços, tanto para os novos arranjos dos filhos quanto para os arranjos dos pais e também as transferências intergeracionais, econômicas e de cuidados. Para os pais, a saída dos filhos pode reduzir tanto as obrigações financeiras como também as contribuições recebidas dos filhos (Johnson e DaVanzo, 1998). Porém, não esgota as transferências entre as gerações, já que podem ocorrer transferências econômicas interdomiciliares (Saad, 1999).

A constituição de um domicílio após a saída do jovem da casa de origem pode ou não ser seguida pela constituição de uma família, já que a formação de um novo domicílio pode derivar tanto da efetivação de uma união, seja ela formal ou informal, quanto também do desejo, ou necessidade, de viver sozinho ou em grupo de não-parentes (Goldscheider e DaVanzo, 1989).

Em 2000, a formação domiciliar predominante (68,1%) entre os jovens brasileiros

que não moravam com os pais era de casal com filhos (Camarano et al, 2006).

Porém, como não há informação retrospectiva nas pesquisas domiciliares brasileiras, não é possível saber se a passagem de uma família para outra ocorreu sem qualquer arranjo intermediário, pois as informações referem-se apenas ao momento da pesquisa e não ao momento em que ocorreu a saída.

Alguns estudos apontam que, no Brasil, cresce a preferência por arranjos não- familiares e pela coabitação (Costa, 2005; Nascimento, 2006), sugerindo que a saída de casa pode ou não ocorrer com a finalidade imediata de formar família e que a união conjugal seria posterior à experimentação de outros tipos de arranjos. A saída do domicílio de origem, geralmente, ocorre mais cedo para as mulheres que para os homens, porém essa tendência foi menos acentuada em 2000 que em 1970 (Mello e Camarano, 2006). Provavelmente, porque a saída das mulheres de casa não é mais motivada exclusivamente pelo casamento, como ocorria anteriormente. Há pouca diferença nos arranjos de homens e mulheres que permanecem em casa, porém uma grande diferença nos arranjos daqueles que saem de casa. Para as mulheres, constituição de um domicílio ainda está ligada mais diretamente ao casamento e à maternidade que ao ingresso no mercado de trabalho, o que explica porque elas são mais prováveis de viverem em arranjos familiares como esposas, enquanto a saída dos homens, motivada mais pela participação no mercado de trabalho, explicaria porque eles são mais prováveis de viver em arranjos não-familiares – sozinhos ou em grupos (Goldscheider e DaVanzo, 1985, Camarano et al. 2006).

4 FATORES ASSOCIADOS À SAÍDA DA CASA DE

ORIGEM

A decisão de constituir ou não um novo domicílio é influenciada por fatores sociais, econômicos, demográficos e culturais atuantes no Estado, na sociedade e na família. O estudo dos determinantes que influenciam a saída da casa de origem é importante para compreender mudanças na formação de uniões, nas relações intergeracionais, nos padrões de fecundidade, na estrutura familiar e na participação no mercado de trabalho.

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