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4 MOVIMENTOS SOCIAIS E UFPB CONSTRUINDO PARCERIAS: ARTICULANDO

4.3 Avanços e impasses da efetivação da Educação do Campo nos cursos de História,

4.3.2 Formar educadores para uma intencionalidade formativa particular

Formar educadores jovens e adultos oriundos do campo com a preocupação de valorizar suas culturas, saberes, modos de produção e de viver é um desafio para os cursos de formação que têm essas especificidades e para todos que estão envolvidos em seu processo, pois são cursos que estão fora da programação regular das universidades, que adotam concepções de educação e de metodologia diferente, suas dinâmicas de tempos e espaços educativos tambem são diferenciadas.

Os desafios já se apresentam na composição dos Projetos Pedagógicos, pelo desconhecimento dos procedimentos metodológicos, especialmente com a metodologia da alternância que faz parte da concepção dos princípios da educação do campo e que não faz parte da educação tradicional experimentada na universidade, como podemos perceber na entrevista concedida pela coordenadora do curso de Pedagogia, Batista (2011):

Nós fomos montando nosso projeto político pedagógico, e a dificuldade para nós, era tentar adequar os princípios da educação do campo, especialmente com a questão da metodologia, com a pedagogia da alternância que para mim era uma coisa totalmente desconhecida.

A questão do vínculo com os sujeitos e sua participação ativa, e a preocupação com a realidade desses sujeitos que são parte do processo educativo fez com que fossem criadas disciplinas específicas na construção do projeto do Curso de Pedagogia, conforme relata a coordenadora (2011):

Disciplinas como Fundamentos Sócio-Históricos da Educação do Campo (disciplina criada especificamente para este curso, que vai justamente introduzir uma discussão sobre os princípios teóricos, filosóficos, metodológicos, pedagógicos da educação do campo); Educação e Desenvolvimento Sustentável; Tópicos em Educação do Campo; Pesquisa e Práticas Educativas I, II e III; Projeto de Pesquisa e Extensão I e II. Outras disciplinas como Educação em Movimentos Sociais, Educação Popular, Teoria e Prática da Educação Popular, Educação de Jovens e Adultos, que teve três disciplinas voltadas para a educação de jovens e adultos em função da área de aprofundamento, todas elas contribuíram, desenvolveram os seus conteúdos, relacionando com a questão do campo.

No Curso de Pedagogia do PRONERA constavam disciplinas comuns ao curso regular de Pedagogia do Centro de Educação tais como: de fundamentos sociológicos, filosóficos, psicológicos, históricos e de formação pedagógica e de política educacional, mas a presença dos alunos do campo fez o diferencial também nessas disciplinas, como afirma a Coordenadora do curso (2011).

Apesar das outras disciplinas serem iguais ou semelhantes às disciplinas do curso regular de Pedagogia, o foco acabava sendo sempre no campo pela presença dos alunos, pela discussão, pela problematização trazidas por eles. Isso foi chamando a atenção de todos os professores que se envolveram com o curso, porque a maioria deles também não tinha conhecimento da realidade do campo, mas, a problematização trazida pelos alunos fez com que as disciplinas deles também abordassem a realidade do campo.

Essa questão também foi abordada pelo Coordenador do curso de Ciências Agrárias (2010) quando enfatiza que “o PPP do curso se ajustou à turma, à medida que os próprios professores começaram a ter os contatos com os alunos, os conteúdos começaram a ser redefinidos, uma vez que o projeto pedagógico havia internalizado um projeto pré-existente e que, portanto, ele era desvinculado desse tema”.

No Curso de Ciencias Agrárias foram os alunos e professores convidados ligados aos movimentos sociais e à Educação do Campo que inseriram a essa perspectiva educacional como enfatiza o Coordenador do Curso, Marcos Barros de Medeiros (2010):

A gente também não tinha nenhuma percepção do que era essa educação do campo, com o advento do curso nós passamos a conviver com os professores ligados ao campo da educação do campo através de encontros, através de reuniões, seminários, congresso nacional, tivemos acesso a toda a leitura, a todos os textos produzidos, e a gente comprou esse material, chegamos a distribuir com todos os alunos da turma, os professores também tiveram acesso a esse material, e passou a ter um pouco de diálogo sobre o tema.

Essa informação de Medeiros expressa como os movimentos sociais contribuem para a formação docente que atenda às necessidades específicas da realidade do campo.

Em Arroyo (2010, p. 13) “essas experiências de formação que vêm dos movimentos sociais especificamente do campo contrapõem-se a essas tendências e a esses perfis de formação docente, neutros, descontextualizados”. Para o autor (ib idem, 2010, p. 13), a formação compreendia na relação de engajamento social e coletivo com os objetivos da luta do movimento social difere da formação de muitos professores que atuam nas escolas classificadas como rurais que “não são formados nas especificidades da realidade do campo, suas formas de produção camponesa e de sociabilidade, cultura e identidades. Desconhecem a dinâmica econômica, social, política, cultural e de lutas nos campos”.

Os movimentos defendem a necessidade de formar militantes e educadores(as) docentes fundamentados nas pedagogias dos movimentos com enraizamento nas identidades, lutas, culturas do campo. Os cursos devem partir desse diferencial, conforme afirma Jonas Duarte Costa (2010), ao se referir ao Curso de História:

Veja, esse curso tem uma característica nova do ponto de vista do método como ele é construído e tem uma característica política importantíssima. Do ponto de vista da construção metodológica do curso, ele não é um curso que a universidade oferece à sociedade, solto, à uma sociedade dispersa. Não! Ele é um curso que é construído a partir de uma demanda concreta dos movimentos sociais, que são os nossos principais parceiros, e, o curso que tem o financiamento do INCRA nosso parceiro, e que a universidade se envolve nesse tripé. Então veja, ele é uma construção de parceiros, todo com objetivos bem definidos, bem delineados.

O fato é que os Cursos analisados constituem-se como espaços de formação específica de educadores, definindo, assim, uma intencionalidade formativa particular, apesar de que nem todos os professores formadores tinham conhecimento ou proximidade com as questões do campo.

Nos referidos cursos foram vivenciados espaços de diálogo que tiveram um papel importante na troca de conhecimentos e saberes entre professores e estudantes, o que possibilitou a todos os envolvidos uma aprendizagem, um crescimento mútuo, um repensar os conhecimentos científicos a partir da reflexão trazida pela voz dos educandos, suas realidades, seus saberes foram refletidas à luz dos conhecimentos cientificos e vice versa, os conhecimentos cientificos foram repensados à luz da prática problematizada pelos estudantes, como afirma a coordenadora do Curso de Pedagogia (2011): esse é um diferencial “que faz

com que tanto nós professores, como eles, aprendamos muito mais, porque nós aprendemos com eles a experiência que trazem da realidade do campo, e eles aprendem conosco o conhecimento, a provocação com os conhecimentos que levamos até eles”.

Esse novo formato de curso de formação docente tem proporcionado aos professores desses cursos valiosos momentos para que repensem e reavaliem suas práticas ao lidarem com um público que está disposto a participar da construção do processo de sua própria formação. Ao tempo em que os estudantes passam a olhar com novos olhares suas experiencias da vida no campo. Isso é algo novo para o próprio contexto universitário.