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2.1. Gerenciamento de Resultados

2.1.2. Formas de Gerenciamento de Resultados

Martinez (2001) apresenta três formas de gerenciamento de resultados: target earnings, income smoothing e big bath ou take a bath.

Em relação ao target earnings ou gerenciamento dos lucros visando a determinadas metas, este ocorre quando estas estão acima ou baixo do resultado do período, então levando os gestores a algum tipo de manipulação para atingir o alvo desejado. Martinez (2001) destaca como exemplo disso o lucro necessário para que os gestores recebam bônus ou o nível de

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satisfação esperado pelo mercado.

Gestores se utilizam da discricionariedade para gerenciar os lucros para baixo, quando seus bônus já tiverem atingido um nível máximo, e para possibilitar o reconhecimento futuro de lucros, ou direcionar o gerenciamento do lucro para cima, caso precisem atingir um certo nível para ser elegível a um plano de bônus. Sujeitos a exigências de capital regulatório, os bancos com menor capital regulatório são motivados a aumentá-lo. Consequentemente, podem gerenciar os lucros para atingir esse objetivo (Barth, Landman, & Lang, 2008).

O income smoothing, ou suavização de resultados, tem como objetivo deixar o lucro estável ao longo do tempo, passando, assim, uma imagem de confiança ao mercado, pois isso é útil para melhorar a marca da empresa em relação à sua solidez financeira e a seu bom desempenho. Moraes et al. (2016) definem suavização de resultados como amortização intencional dos resultados da empresa, feita pelo gestor, em ordem de reduzir a variação dos lucros e transmitir para o mercado consistência entre passado, presente e futuro versus desempenho.

Menezes Junior (2017) define income smoothing como a prática discricionária dos gestores para diminuir a variação dos lucros, sendo que um alto resultado implicará, futuramente, em resultados consequentemente menores, de tal forma que seja considerado melhor um nível normal pela administração do que o aparecimento de resultados que extravasem este nível. Sendo assim, esse procedimento suaviza o resultado entre os períodos, visando à estabilidade ao longo do tempo, uma vez que variações no resultado podem ser vistas como medida de risco pelo mercado.

Kilic et. al. (2012) mostraram que os bancos americanos suavizam resultado para evitar fiscalizações regulatórias. Eles examinaram se a regulação de derivativos, – que tem requisitos de reconhecimento rigorosos e assim reduzem a habilidade dos bancos de suavizarem resultado –, encoraja os bancos americanos a usarem a PCLD para suavizar os resultados reportados, em vez de depender de derivativos. Eles encontraram evidências de que bancos americanos usam PCLD para suavizar resultado, quando a regulamentação da divulgação contábil dificulta o uso de derivativos para isso.

Já o big bath ou take a bath, ou reduzir os lucros correntes pensando nos lucros futuros, Martinez (2001) define como o conjunto de ações que geram a piora dos resultados no presente, pensando na melhora dos resultados futuros. Essa prática pode ocorrer quando uma empresa não consegue mais recuperar seu resultado mesmo através do gerenciamento de resultados; então, escolhe por piorá-lo ainda mais, para que a próxima apresentação de demonstrações contábeis seja melhor que a atual. Isso ocorre através do adiantamento das despesas ou do

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adiamento das receitas. Essa medida é tomada levando-se em conta que, no futuro, o mercado entenderá isso como melhora, após um resultado negativo.

Menezes Junior (2017) resume tal estratégia como a intenção de reduzir o resultado de uma empresa por um determinado período, dado que os gestores não conseguiriam alcançar sua meta de qualquer maneira; então, os valores usados para piorar o resultado serão reservas futuras para melhorar os próximos e, assim, auxiliarão no alcance das metas.

Um tema emergente na literatura sobre PCLD é o conflito entre os objetivos regulatórios prudenciais e normas contábeis. Depois da crise financeira de 2008, reguladores bancários exigem que os bancos adotem medidas proativas ou prospectivas para provisionamento que incluam manter provisões suficientes (ou altas) mesmo quando o risco de crédito esperado for aparentemente baixo. Assim, os bancos podem ter reservas suficientes para amortecer a iminente perda de empréstimos que ocorrerão em maus momentos.

A prática de manter as provisões acima do nível proporcional ao risco de crédito esperado dos bancos é consistente com o objetivo de estabilidade e segurança bancária dos reguladores sob a perspectiva de regulação prudencial. Entretanto, essa prática é criticada pelas normas contábeis porque consiste em manipulação de risco dos números contábeis que reduzem a confiabilidade das estimativas de PCLD, relatada nos relatórios financeiros, e pode enganar as partes interessadas no banco assim como os analistas de mercado.

Abaixo segue quadro-resumo das principais formas utilizadas pelos gestores quando gerenciam resultado:

Quadro 2 – Resumo das Formas de Gerenciamento de Resultados

Forma Descrição Autores

Target Earnings Quando o lucro está acima ou abaixo do esperado, o gestor

pode gerenciar para atingir o alvo desejado.

Martinez (2001), Barth et al. (2008)

Income Smoothing A suavização de resultados tem o principal objetivo de

deixar o lucro estável ao longo do tempo

Martinez (2001), Kilic et al. (2012), Morares, Meli e Nakao (2016), Menezes Junior (2017)

Big Bath

Quando o lucro já está abaixo do esperado e não é mais possível atingir o que se espera, o gestor pode piorar o

lucro presente, visando ao futuro

Martinez (2001), Menezes Junior (2017)

Fonte: Elaboração própria (2019).

Dado o contexto do primeiro tópico da literatura sobre gerenciamento de resultados, seus incentivos e formas de se fazer, designa-se formalmente a primeira hipótese deste trabalho, a fim de reforçar os achados prévios da literatura apresentada:

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