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5 PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO DE BELO HORIZONTE SOBRE A GESTÃO DO SISTEMA DE

5.1.2 Formas de incentivo para o controle das águas pluviais na fonte

Uma forma de aumentar a responsabilidade da população na gestão dos recursos hídricos urbanos é criar um programa que incentive a adoção de técnicas compensatórias com controle

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de águas pluviais na fonte. Além de contribuir para a redução de ocorrência de inundações, a implantação dessas técnicas promove a inclusão dos cidadãos na gestão do sistema de drenagem urbana.

Apesar de não expor a necessidade do controle de águas pluviais na fonte com o uso de técnicas alternativas nos sistemas de drenagem urbana, o Art. 9° da Lei Municipal n° 8.260/01 de Belo Horizonte prevê duas diretrizes relativas à drenagem urbana, (i) desenvolver a educação sanitária como instrumento de conscientização da população sobre a correta destinação das águas pluviais e da preservação das áreas permeáveis e (ii) privilegiar ações que minimizem intervenções cujas implicações sejam a expansão de áreas impermeáveis.

Conforme Pompeo (2000), na drenagem urbana, e em muitos outros aspectos, os três eixos do aspecto social da sustentabilidade, cidadania, democracia e cultura, devem ser perseguidos buscando-se a participação como resultado da informação e da comunicação. A sociedade precisa dispor de conhecimentos para instrumentalizar sua participação nos níveis decisórios, executivos e de avaliação de resultados. A educação ambiental, além de informar e transmitir conhecimentos é capaz de promover a mobilização da sociedade para esta participação.

Estudos realizados nos Estados Unidos por Ando & Freitas (2011), Brehm et al. (2013) e Gao

et al. (2016) indicaram que um dos fatores que podem influenciar a disposição dos cidadãos

para instalar reservatórios de aproveitamento de água de chuva e outras técnicas compensatórias é a existência de programas educacionais que possibilitem aumentar a consciência sobre os problemas hidrológicos urbanos e suas soluções possíveis e que incentivem a implantação desses dispositivos de drenagem.

Dentre os instrumentos propostos no Estatuto das Cidades (Lei Federal n° 10.527/01) relacionados ao controle na fonte de águas pluviais destacam-se os institutos tributários e financeiros e os incentivos e benefícios fiscais e financeiros, que podem ser utilizados pela Administração Pública para incentivar os cidadãos na execução de ações que reduzam os impactos oriundos da urbanização. O uso dos microrreservatórios pode ser viabilizado pelo Poder Público através de incentivos fiscais, como redução do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) para os proprietários que reduzam a contribuição de deflúvios (Righetto et al., 2009) ou cobrança de um IPTU hidrológico (Moura, 2004, Mediondo, 2007 e Kawatoko e Mediondo, 2011).

No Art. 10° da Lei Municipal n° 8.260/01 de Belo Horizonte, é previsto que uma das diretrizes do plano diretor de drenagem urbana da cidade é buscar alternativa de gestão que viabilize a auto-sustentação econômica e financeira do sistema de drenagem urbana. Em Belo Horizonte, os cidadãos não pagam por uma taxa exclusiva pela prestação do serviço de drenagem das águas pluviais. Os serviços de abastecimento de água e de coleta de esgotos sanitários são cobrados pela Copasa, concessionária dos sistemas em Belo Horizonte, e o serviço de coleta de lixo realizado pela SLU – Superintendência de Limpeza Urbana, uma autarquia municipal, é cobrado por uma tarifa discriminada no IPTU.

A Lei Federal n° 11.445/07 prevê, em seu Art. 29, a cobrança pelos serviços de manejo de águas pluviais urbanas, na forma de tributos, inclusive taxas. Para isso, devem ser levados em conta, os percentuais de impermeabilização e a existência de dispositivos de amortecimento ou de retenção de água de chuva em cada lote urbano, bem como o nível de renda da população da área atendida e as características dos lotes urbanos.

O município de Santo André/São Paulo foi o primeiro município do Brasil a criar uma taxa de drenagem, instituída pela Lei Municipal 7.606 de 23 de dezembro de 1997. A cobrança é realizada por meio do cálculo da contribuição volumétrica de águas ao sistema de drenagem. O volume é determinado tendo-se por base o índice pluviométrico médio mensal do Município que, associado à área coberta de cada imóvel (impermeabilização), define o volume efetivamente lançado ao sistema.

A forma de cobrança de uma taxa de drenagem em Belo Horizonte foi estudada por Cançado

et al. (2005) e Nascimento et al. (2006) e em um cenário com 100% dos lotes

impermeabilizados em uma bacia simulada, o valor da taxa anual obtido foi de R$ 2,49 (janeiro/2003) por metro quadrado de área impermeabilizada do lote. O valor atual da taxa corrigido pelo Índice Nacional de Custo da Construção - INCC seria de cerca de R$ 7,69.

Baseado nesse valor, Drumond et al. (2015) verificaram que em um cenário em que houvesse a cobrança de taxa de drenagem em Belo Horizonte e fosse permitida a isenção do pagamento aos proprietários dos lotes que implantassem microrreservatórios em seus terrenos, o tempo de retorno do investimento seria de cerca de nove anos. Observou-se ainda que os custos totais de implantação de microrreservatórios na sub-bacia simulada foram próximos aos custos da obra de ampliação da macrodrenagem prevista pela Administração Municipal para reduzir os riscos de inundação na região.

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Apesar dos estudos avaliarem a possibilidade de cobrança de uma taxa de drenagem e de implantação de microrreservatórios em Belo Horizonte, não se verificou a disposição dos cidadãos sobre a implementação da taxa e das estruturas de drenagem.

Considerando ainda a necessidade de se realizar um levantamento da percepção da população de Belo Horizonte sobre outros aspectos relacionados à drenagem urbana, o presente estudo visa responder as seguintes perguntas: Os cidadãos sabem que não pagam por uma taxa exclusiva pela prestação do serviço de drenagem urbana? E estão dispostos a pagar por uma? Os cidadãos tem conhecimento de como funciona o sistema de drenagem? E de que a impermeabilização é uma das causas da ocorrência de inundação? Os cidadãos conhecem os microrreservatórios e são favoráveis a instalação em seus lotes?

As informações adquiridas com essa pesquisa podem fornecer diretrizes ao Município de Belo Horizonte para a criação de um programa que incentive a participação dos cidadãos na gestão do sistema de drenagem e na implantação de técnicas compensatórias com controle na fonte, bem como para avaliar a implantação de uma taxa de drenagem urbana na cidade.

5.2

Metodologia

A caracterização da percepção da população de Belo Horizonte sobre o sistema de drenagem da cidade foi realizada por meio de entrevistas porta-a-porta, com a aplicação de um questionário com 24 perguntas, no período de outubro de 2017 a março de 2018. Esclarece-se que o período chuvoso ocorre em Belo Horizonte entre os meses de outubro e março.

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