• Nenhum resultado encontrado

2 ESTADO DA ARTE: DIVERSIDADE, DESIGN E DEMOCRACIA DIGITAL

2.2 Design ao serviço da sociedade e da diversidade

2.2.2 Formas de pensar Design para a inclusão

As diferentes abordagens de design para a diversidade têm vindo a fundir-se, tornando-se cada vez mais difícil de distinguir umas das outras. Por exemplo, numa nota na recomendação da reunião de Ministros da UE de 2009, os termos ‘Design Para Todos’, ‘Acessibilidade Integral’, ‘Design Acessível’, ‘Design inclusivo’, ‘Design Sem Barreiras’, ‘Design Transgeracional’ e ‘Acessibilidade Para Todos’ são considerados convergentes para uma abordagem comum (Persson et al., 2014, p. 7). Um conceito subjacente a estas abordagens é “acessibilidade”. Este termo é usado em muitos contextos diferentes, o que faz com que possa significar coisas diferentes e por vezes até ser ambíguo quando

20 em relação ao mesmo contexto: “Acessibilidade é um conceito de qualidade que é interpretado de forma diferente dependendo da abordagem de design usada para o desenvolvimento.”(Persson et al., 2014, p. 2) (Tradução própria).4F

5 Por exemplo, empresas e organizações acabam por usar o termo

“acessibilidade” sem defini-lo completamente, quando aquilo a que se referem pode estar mais alinhado com Design Para Todos, Design Universal, ou Design Inclusivo. A acessibilidade no contexto de mercado de trabalho mostra que a qualidade de vida pode ser melhorada, a ter em foco os indivíduos que, por conta da falta de acessibilidade nos postos de trabalho, não seriam capazes de realizá-lo (Persson et al 2014). De seguida, explicitam-se três perspetivas de Design ao serviço da inclusão de uso mais frequente.

2.2.2.1 Design Para Todos

Um conceito de uso comum atualmente é o Design For All ou Design Para Todos. Na União Europeia (UE), este termo é utilizado principalmente como uma característica de tecnologia assistiva adequada, da mesma forma que Design Universal ou Design Inclusivo são usados noutros fóruns. Entretanto o principal objetivo deste movimento é de que os produtos devem ser projetados para uma ampla base de clientes e que um produto seja criado para ser utilizável pelo maior número possível de pessoas (Persson et al., 2014). Este termo detém diversas definições. Segundo Persson et al. (2014), o European Institute of Design and Disability (EIDD), uma plataforma europeia de Design Para Todos, definiu esta abordagem como sendo projetar “para a diversidade humana, inclusão social e igualdade” (Persson et al., 2014, p. 4) e estes autores sugerem que provavelmente esta é a definição com maior propagação.

O Design Para Todos visa permitir que as pessoas tenham oportunidades iguais de participação em todos os aspetos da sociedade. Defende que tudo o que for projetado tem de ser pensado para uso de todos na sociedade e ser adaptável à diversidade humana em evolução, seja construindo ambientes, objetos do quotidiano, serviços, cultura e até mesmo a informação.

2.2.2.2 Design Universal e os seus sete princípios

Persson et al. (2014) defendem que o Design Universal pode ser considerado como sinônimo para o termo Design Inclusivo, que descrevem como sendo o “conceito de design de produtos e

21 ambientes para as necessidades das pessoas, independentemente de sua idade, habilidade ou status na vida” (Persson et al., 2014, p. 5). A primeira publicação do Universal Access Handbook em 2001, intitulada User Interfaces for All: Concepts, Methods and Tools, foi dedicada ao “design para todos” na interação homem-computador e, nesse mesmo ano, o ISO Guide 71 foi introduzido, formulando diretrizes para atender às necessidades de pessoas idosas e pessoas com deficiência (Persson et al., 2014).

Em 1994, o Center for Universal Design iniciou um projeto de pesquisa e demonstração no qual uma das atividades foi desenvolver um conjunto de diretrizes do Design Universal. Este projeto foi financiado pelo Instituto Nacional de Pesquisa em Deficiência e Reabilitação do Departamento de Educação dos EUA (NIDRR) e foi concluído em 1997 (Preiser & Smith, 2011). Esta atividade resultou em sete princípios a serem seguidos para um resultado satisfatório. Os Sete Princípios do Design Universal contam com o propósito de orientar o processo de design, permitir a avaliação sistemática de projetos e auxiliar na educação de designers e consumidores sobre as características de soluções de design mais utilizáveis (Preiser & Smith, 2011). No livro Universal Design Handbook, Preiser e Smith (2011, p. 60) descrevem os princípios como:

Uso equitativo: O Design deve ser utilizável para pessoas com diversas necessidades Flexibilidade no uso: Projetar para atender a grande variedade de preferências e

habilidades individuais.

Uso simples e intuitivo: A usabilidade deve ter foco para que independentemente da

experiência, conhecimento, habilidades, do idioma ou nível de concentração durante o uso pelo utilizador, ainda seja de fácil compreensão.

Informação percetível: Projetar para entregar efetivamente as informações necessárias,

independentemente das condições ambientais ou das habilidades sensoriais do utilizador.

Tolerância a erros: Projetar para minimiza os riscos de ocorrerem ações acidentais ou não

intencionais e suas consequências adversas.

Baixo esforço físico: Projetar para tentar usar o design com eficiência, conforto e com um

mínimo de esforço do utilizador.

Tamanho e espaço para abordagem e uso: Fornecer tamanho e espaço apropriados

para abordagem, alcance, manipulação e uso, independentemente do tamanho, postura ou mobilidade do utilizador.

22 Um exemplo das vantagens gerais (a incluir pessoas que teoricamente não necessitam de acessibilidade) é um site comercial relançado numa nova versão que levou em consideração os problemas de acessibilidade e aplicou as WCAG 1.0. A partir de então, as pessoas com diversidade passaram a ter mais facilidade para acessá-lo, no entanto como efeito colateral, os custos de manutenção da página foram reduzidos em 66%, o tempo de carregamento foi reduzido em 75% e o tráfego proveniente dos buscadores online também obteve um aumento de 30%. Isto mostra que tornar acessíveis produtos e serviços de TIC, além de dar mais acessibilidade as pessoas com diversidade, gera benefícios muito mais amplos (Persson et al., 2014).

2.2.2.3 Design Inclusivo

O termo Design Inclusivo é usado principalmente no Reino Unido, onde também é descrito no British Standard on Managing Inclusive Design. Persson el. al. (2014) dizem que existem algumas definições diferentes de Design Inclusivo e que uma delas surgiu do pensamento de normalização de que o design dos edifícios deve ser tão inclusivo quanto possível, tendo em vista o maior número de pessoas. Este conceito tem semelhanças com o de Design Universal e Design Para Todos, porém com a obrigação de incluir também o conceito de “razoável” na sua definição (Persson et al., 2014). Persson et al. (2014) relatam que os direitos das pessoas com diversidade são absolutos e incondicionais segundo a Convenção das Nações Unidas e alertam que, por inserir a palavra “razoável” no contexto, este conceito pode sugerir equivocadamente que a inclusão destas pessoas pode ser desconsiderada caso se julgue ser muito difícil ou caro para se alcançar.

A emergência do Design Inclusivo trouxe consigo um novo modo de pensar, uma tendência internacional com o propósito de integrar pessoas idosas e com diversidade funcional na sociedade (Clarkson et al., 2013). De acordo com John Clarkson, a primeira vez que foi publicada uma referência ao design inclusivo foi em 1994 no artigo “The Case for Inclusive Design”. Isto ocorreu durante o 12º Congresso Trienal da Associação Internacional de Ergonomia em Toronto no Canadá (Clarkson et al., 2013).

Para que possamos ter uma ideia melhor sobre o assunto, podemos dizer que a definição mais simples de Design Inclusivo é considerar as pessoas em primeiro lugar. É projetar produtos pensando em pessoas com necessidades especiais como pessoas com deficiências permanentes, temporárias, situacionais ou mutáveis. Podemos dizer que o real significado é projetar pensando em todos as pessoas (Swan et al. 2017). Um ponto importante a destacar sobre o Design Inclusivo é que este não almeja que se projete para “todo mundo”, pois tentar fazer um produto que atenda a todas

23 as pessoas é algo impossível. O Design Inclusivo mostra que o certo a se fazer é tentar excluir o mínimo ou incluir o máximo de pessoas possíveis, a fim de garantir que o produto ou sistema seja adaptável a maior gama possível de necessidades e preferência individual dos utilizadores (Nicolle & Abascal, 2001).

É interessante termos em mente que o Design Inclusivo não beneficia apenas as pessoas mais velhas ou com diversidade, mas sim a todos nós. Nicolle e Abascal comentam que qualquer pessoa pode apresentar dificuldades em certos ambientes, inclusive nós. Trazem como exemplo a utilização de um comando quando estamos com a sensibilidade das mãos comprometida por estar muito frio, quando estamos num ambiente com baixa iluminação, ou até mesmo quando estamos no estrangeiro e não conhecemos a língua local. Portanto, projetar para as pessoas mais velhas e/ou com

diversidade acabará por ajudar a garantir que seja mais fácil e conveniente para todos utilizarem o produto (Nicolle & Abascal, 2001).

Ao utilizar os conceitos do design inclusivo num projeto, a participação do utilizador é crucial. Nicolle e Abascal (2001) alertam para a frequente negligência das necessidades especiais de

utilizadores por parte dos designers, que deveriam sempre ter tidos em consideração na hora da conceção dos projetos. Outro ponto importante é que, apesar de as tecnologias assistivas estarem a fornecer cada vez mais ferramentas que permitam pessoas com diversidade e idosos a terem acesso a informação e serviços, estas tecnologias nunca irão adivinhar a intenção dos designers na estrutura do projeto. Por isso, a interface implementada deve ser capaz de fornecer as informações, por meio visual ou outros, para que o utilizador possa utilizá-la, seja por meios próprios ou com tecnologias assistivas (Nicolle & Abascal, 2001).

Newell & Gregor (2000) trazem uma sugestão de que o Design Inclusivo Sensível ao Utilizador (DISU) seja uma extensão do DCU, principalmente porque deve haver mudanças na metodologia o Design Centrado no Utilizador (DCU) quando usado em situações no qual pessoas com diversidade estejam incluídas no grupo de utilizadores. O termo “sensível” pode tomar o lugar do “centrado” e foco será necessariamente a grande variedade de características de utilizadores, pois isto é o que torna muito difícil obter uma pequena amostra representativa de um grupo de pessoas, como também projetar produtos que sejam acessíveis a todos os potenciais utilizadores (Persson et al. 2014).

24