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Programas televisivos com bonecos THE MUPPET

6.2 CONSIDERAÇÕES ESPECÍFICAS SOBRE OS PROGRAMAS

6.2.1 Formatos e técnicas

Os três casos analisados fazem uso da serialização episódica para contar suas histórias. Em termos de televisão, a fórmula do seriado permite que a dinâmica de produção seja rápida. Na nossa proposta, estamos tratando de produtos baseados em narrativas de ficção. Mesmo para padrões industriais de produção, como os que são possíveis nos Estados Unidos, o trabalho com bonecos exige outros cuidados do que interpretações realizadas em live-action. Se pensarmos na realidade de uma televisão educativa brasileira, a lógica de produção é ainda mais lenta, com cada episódio de 15 minutos levando cerca de 40 dias para estar finalizado, entre a escritura do roteiro, ensaios e gravações com os bonecos e a edição, como calcula Maria Inês Falcão.

É preciso levar em conta que os três programas usam técnicas adaptadas de outras áreas, que vão além das demandas da televisão, na qual o produto final é

126 apresentado. The Muppet Show e Pandorga se baseiam em diferentes instâncias do teatro de bonecos, desde a manipulação direta um-a-um, conforme vimos na figura 9 (página 48), até quadros inspirados no teatro japonês Bunraku, com diversos marionetistas em cena. Já Frango Robô usa o stop-motion do cinema.

A movimentação dos bonecos, nos dois primeiros exemplos, depende da interação do manipulador, simultaneamente à captação da imagem, incluindo nisso a gravação da voz dos personagens bonecos e encenação com personagens humanos. Frango Robô usa a técnica do movimento quadro a quadro, na qual as mudanças no corpo dos bonecos são realizadas entre as tomadas. Para as falas, a produção usa uma espécie de adesivo em duas dimensões, que são modificados cena a cena, para conferir as expressões faciais dos olhos e bocas. A versão em inglês de Frango Robô destaca-se pela dublagem de atores como Seth Green, Seth McFarlane, Mila Kunis, Macaulay Culkin, entre outros.

Em relação à construção dos bonecos, observamos que a produção do The

Muppet Show foi realizada, em inúmeros casos, pelas mesmas equipes de atuação.

É possível encontrar, nos sites que referenciam o programa, como MuppetWiki e MuppetCentral, as concepções desenhadas por Jim Henson para os personagens. O próprio criador do show escolhia os materiais e confeccionava os bonecos, como é o caso do sapo Caco. Mesmo tendo um âmbito semelhante em função do tipo e características de manipulação dos bonecos, o nacional Pandorga terceiriza a execução de seus personagens, o que resulta em uma estagnação em termos de dos trejeitos possíveis dos bonecos. E também, muito em função aos baixos orçamentos de produção, o elenco de Pandorga usa sempre as mesmas roupas.

De tal forma, no universo Muppet é marcante a diversidade de tipos de bonecos, entre os quais estão sapos, porcos, galinhas, seres fantásticos e até mesmo bonecos reversíveis, conhecidos como Whatnots, cada qual com diversidade de vestimentas e acessórios, com partes do corpo intercambiáveis – cabeça e braços, olhos, sobrancelhas e nariz.

Ao assistirmos aos capítulos de Frango Robô, percebemos que a decisão de trazer para a cena bonecos populares criados para outros usos e disponíveis em larga escala comercial, como os brinquedos de Transformers, permitiu à produção uma infinidade de opções narrativas, que são definidas quando da roteirização de

127 cada episódio. Dos nossos três exemplos, este é o que apresenta a maior cartela de quadros e cenários. Embora o programa se aproprie destes bonecos, algumas necessidades específicas precisam ser adequadas, sendo então possível advir modificações nos brinquedos originais, em termos de movimentação e figurinos. A produção de Frango Robô também recorre à estratégia de corpos e cabeças variáveis, sendo o corpo construído pela equipe e os rostos implantados, vindos de outros bonecos industrializados. Isso faz ainda com que a proposta tenha seus cenários adaptados a cada quadro, contextualizando com as temáticas escolhidas.

Assim, em termos de cenários, a ambientação dos episódios é o pano de fundo para que toda a ação aconteça. The Muppet Show revela os bastidores de uma casa de espetáculos teatrais, com cenários fixos, como o camarim, o backstage que serve de sala para Caco, a portaria, o balcão de Statler e Waldorf, etc. As cenas no palco do teatro são intercambiáveis, transformadas de acordo com a demanda do roteiro. No episódio com o ator Roger Moore, por exemplo, cria-se uma sala de estar para o convidado e um zoológico para o número de encerramento.

Pandorga utiliza fundo em Chroma key, com imagens de cenário fixo,

representando peças de uma residência, como sala, quarto, cozinha, etc. Os bonecos do programa também são levados para a rua, para realizarem reportagens que mostram eventos culturais, locais de passeio, museus e outros pontos turísticos. Em termos de edição, consideramos que cada um dos programas analisados apresentou um ritmo diferenciado de narrativa, com um fluxo de imagens que nos leva a crer que estes seriam análogos com linguagens de outras áreas, sendo

Frango Robô aproximado do videoclipe, The Muppet Show é musical e teatro

filmado e Pandorga, que tem cortes mais lentos e enquadramento padronizado, remetendo aos primórdios da telenovela.

A música é fundamental para a ambientação e o roteiro de The Muppet Show, sendo muitas das canções escolhidas bastante populares e/ou integrantes de trilha sonora de filmes e seriados. Os temas musicais também sofrem interferência na atração, ao serem parodiadas para a situação apresentada em cena. Já os outros dois programas não dedicam tamanho destaque para os elementos musicais como forma de narratividade, aproveitando-se do recurso quase como um efeito especial de sonorização.

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