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CAPÍTULO 4 Metodologia

4.2 Formatos Jornalísticos

Até aqui foram feitos dois recortes: o temporal e o espacial. A pesquisa foi realizada nos jornais A Folha de S. Paulo e O Globo, nos períodos que compreendem a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. Porém, devido à grande quantidade de informações encontrada, foi necessário fazer uma nova separação, dessa vez de acordo com a classificação de Marques de Melo (1985, p. 32) em gêneros jornalísticos.

Não obstante a identificação dos gêneros jornalísticos constitua uma tarefa a que se têm dedicado os pesquisadores acadêmicos, na verdade a questão tem origem na própria práxis. Desde o início das atividades permanentes de informação sobre a atualidade (processo livre, contínuo, regular), colocou-se a distinção entre as modalidades de relato dos acontecimentos. E os que fazem a narrativa cotidiana das novidades (jornalistas) estabelecem padrões para discernir a natureza da sua prática profissional.

Para o autor, a classificação em gêneros não busca apenas delimitar o que os jornalistas fazem todos os dias. Foi a própria atividade jornalística que dividiu os relatos em ―gavetas‖. E por mais que para o jornal diário essa divisão seja natural e não tenha importância, com base no trabalho exaustivo de recolhimento de dados desta pesquisa, é possível afirmar que, para a academia, ela é fundamental.

Para essa divisão em gêneros, Marques de Melo (1985, p. 47) identifica duas vertentes: ―a reprodução do real e a leitura do real‖, sendo que ―Reproduzir o real significa descrevê-lo jornalisticamente a partir de dois parâmetros: o real e o novo. Ler o real nutre e transforma os processos jornalísticos‖. Dessa forma, ―O jornalismo articula-se, portanto, em

função de dois núcleos de interesse: a informação (saber o que passa) e a opinião (saber o que se pensa sobre o que passa)‖.

Essa divisão, apesar de muito conhecida e utilizada, não agrada a todos os autores. Chaparro (2008, p.146) acredita que o modelo não contempla as necessidades profissionais e torna as discussões acadêmicas superficiais.

O paradigma Opinião X Informação tem condicionado e balizado, há décadas, a discussão sobre gêneros jornalísticos, impondo-se como critério classificatório e modelo de análise para a maioria dos autores que tratam do assunto. A conservação dessa matriz reguladora esparrama efeitos que superficializam o ensino e a discussão do jornalismo, e tornam cínica sua prática profissional.

Para Chaparro, é mais justo dividir os gêneros com outros nomes, já que ―as ações jornalísticas são duas: relatar a atualidade; comentar a atualidade. Com Opinião e Informação, Informação e Opinião‖. Ou seja, como todos os gêneros englobam opinião e informação, essas palavras não poderiam ser usadas para a separação em gavetas, e o mais correto seria utilizar os termos relato e comentário.

Porém, levando em conta que o objetivo deste trabalho nunca foi discutir o uso e as implicações dos gêneros jornalísticos, e que eles foram utilizados apenas para definir o corpus da pesquisa, optou-se por fazer uso da separação tradicional de gêneros de José Marques de Melo, principalmente por sua importância no Brasil e por sua divisão simples e didática. Como a pesquisa pretende analisar de que forma os fatos que aconteceram nas manifestações realizadas durante a Copa das Confederações de 2013 e a Copa do Mundo de 2014 foram retratados, o gênero escolhido como mais apropriado para a análise foi o informativo, no qual as notícias factuais se encontram.

No entanto, a escolha do gênero informativo não foi suficiente para essa pesquisa. Foi preciso especificar ainda mais as matérias jornalísticas que seriam analisadas. Para isso, utilizou-se uma definição mais recente de Marques de Melo (2009, p. 35):

O campo da comunicação é constituído por conjuntos processuais, entre eles a comunicação massiva, organizada em modalidades significativas, inclusive a comunicação periodística (jornal/ revista). Esta é estruturada, por sua vez, em categorias funcionais, como é o caso do jornalismo, cujas unidades de mensagem se agrupam em classes, mais conhecidas como gêneros, extensão que se divide em outras, denominadas formatos, os quais em relação à primeira, são desdobrados em espécies, chamadas tipos.

A subdivisão em formatos foi utilizada para a seleção das matérias analisadas no presente trabalho. O gênero informativo, já apontado como o escolhido acima, pôde ser

subdividido em quatro formatos: nota, notícia, reportagem e entrevista. Onde cada item possui características próprias que o tornam único.

A distinção entre a nota, a notícia e a reportagem está exatamente na progressão dos acontecimentos, sua captação pela instituição jornalística e a acessibilidade de que goza o público. A nota corresponde ao relato de acontecimentos que estão em processo de configuração e, por isso, é mais frequente no rádio e na televisão. A notícia é o relato integral de um fato que já eclodiu no organismo social. A reportagem é o relato ampliado de um acontecimento que já repercutiu no organismo social e produziu alterações que são percebidas pela instituição jornalística. Por usa vez, a entrevista é um relato que privilegia um ou mais protagonistas do acontecer, possibilitando-lhes um contato direto com a coletividade. (MARQUES DE MELO 1985, p. 49)

Dessa forma, as matérias jornalísticas que abordavam o tema das manifestações no período escolhido, foram selecionadas e divididas de acordo com o formato a que se encaixavam. Porém, depois de realizar a pré-análise do material, conforme manda a análise de conteúdo, foi constatada a grande quantidade de material visual presente nos jornais sobre o assunto escolhido. Fotos, boxes e infográficos dominaram o espaço dedicado à informação, desde as capas até às páginas que tratavam do tema das manifestações. Por conta disso, analisou-se que eliminar qualquer material que não se encaixasse na divisão de formatos de Marques de Melo (2009, p. 36) seria de grande prejuízo para o resultado final da pesquisa.

Conforme aponta Beltrão (1969, p. 393), a notícia ilustrada nasce antes mesmo da notícia escrita. As ideias são transmitidas por meio de desenhos desde a época que ―nosso ancestral, o homem de Cro-Magnin, deixou gravadas nas cavernas da França meridional, em rústicos desenhos, a sua experiência e interpretação dos fatos e coisas que via ao seu derredor‖. Dessa forma, não se pode negar sua importância na imprensa até os dias atuais.

Com maior vigor e alcance do que a palavra, até o século atual, quando esta apenas era transmitida em limitados recintos ou de boca em boca, e imprimindo força e vida à escrita, privilégio ainda hoje de apenas uma parte da humanidade – a notícia ilustrada foi meio de expressão jornalística, que reteve e ampliou de tal modo o seu prestigio que o século atual é considerado a época da civilização da imagem. (BELTRÃO, 1969, p. 393)

Dessa forma, os dados recolhidos nos dois jornais analisados, durante o período definido, foram divididos nos seguintes formatos:

 Nota  Notícia  Reportagem  Entrevista  Infográfico  Foto–legenda  Fotorreportagem  Foto  Capa

É importante esclarecer que foi necessário dividir o item foto em três, devido à grande diversidade encontrada. Assim, foto-legenda entende-se por uma foto seguida de texto explicativo, a fotorreportagem consiste em três ou mais fotos que falam sobre um mesmo assunto, ou, segundo a definição de Marques de Melo (1985, p. 61), ―quando as imagens são suficientes para narrar os acontecimentos‖. E por último, quando aparece apenas uma foto sem texto, classificou-se apenas como foto. Além disso, nota-se a presença do item capa, que também não faz parte de nenhuma classificação. Porém, durante leitura prévia, constatou-se o grande destaque que se deu ao tema das manifestações nos jornais e períodos escolhidos. Como a capa serve para destacar os principais acontecimentos do dia e vender o jornal, quantificar o número de vezes que o assunto foi estampado nela é, também, fornecer dados do destaque que as manifestações tiveram para a inferência.