2.2. Modelos de Otimização
2.2.3. Geração de energia hidroelétrica
Quando um dos usos de um dado sistema é a geração de energia elétrica, o problema de operação de reservatório deve ser complementado pelas funções que regem a produção energética, como segue (BRANDÃO, 2004):
t i t i h t g t
i g HB QT
E, = .
ρ
⋅η
⋅η
⋅η
⋅ , ⋅ , (14)onde:
g = aceleração da gravidade em m/s2; ρ = massa específica da água em kg/m3;
Ei,t = a geração média do reservatório i no intervalo t em MW-médios, que é a energia correspondente à potência média gerada ao longo de um mês ou de um certo número de meses;
ηg,ηt e ηh = respectivamente, os rendimentos médios do gerador, turbina e circuito hidráulico (adução e restituição). Esses rendimentos, especialmente os da turbina e o do circuito
hidráulico, variam com a vazão turbinada e a queda, contudo para passo de cálculo mensal podem ser considerados constantes;
HBi,t = queda bruta média mensal do reservatório i, no intervalo t em metros. Diferença entre os níveis d’água do reservatório e do canal de fuga da usina;
QTi,t = vazão turbinada pela usina correspondente ao reservatório i, no intervalo t em m3/s.
A geração de energia elétrica de uma usina está limitada à sua capacidade máxima de geração que é função da sua potência instalada e da disponibilidade de máquinas. Essa disponibilidade pode ser representada por um fator de redução da sua potência instalada denominado índice de disponibilidade que engloba as paradas programadas para manutenção e as paradas forçadas.
A vazão turbinada é limitada pelas características da turbina e pela capacidade do gerador. Para cada tipo de turbina há uma geração mínima a ser respeitada, abaixo da qual não é recomendável operá-la. Além disso, quando a queda atinge um determinado valor mínimo, a turbina não consegue produzir sua potência máxima havendo, portanto, uma limitação superior para a vazão turbinada em função da queda. Por fim, caso haja disponibilidade suficiente de queda, há a limitação de geração imposta pela capacidade do gerador, que também se configura com um limite superior para a vazão turbinada.
Outro tipo de defluência que ocorre nas usinas hidrelétricas são os vertimentos pelo extravasor do reservatório. Esses vertimentos são também, variáveis de decisão, uma vez que a vazão defluente total, que é a soma das vazões turbinada e vertida, afeta a queda, em virtude da flutuação do nível d’água do canal de fuga da usina. Além disso, algumas políticas de operação podem indicar o deplecionamento prévio de determinados reservatórios, de forma a abrir espaço para afluências futuras e, dessa forma, otimizar a operação do sistema ao longo do horizonte de estudo. Assim, a vazão defluente total será dada por:
t i t
i t
i QT QV
QD, = , + , (15)
onde:
QTi,t = vazão turbinada pela usina correspondente ao reservatório i, no intervalo t em m3/s;
QVi,t = vazão vertida pela usina correspondente ao reservatório i, no intervalo t em m3/s.
A relação entre a vazão defluente e o nível d’água do canal de fuga (nível d’água de jusante) é dada pela curva-chave da usina.
Geralmente, as funções cota-volume, cota-área e as curvas-chave, que envolvem o problema proposto, são não-lineares. No caso das funções em questão, muitas vezes elas atendem às condições de monotonicidade, concavidade e convexidade exigidas pelos diversos algoritmos de PNL. O MINOS exige que essas condições sejam satisfeitas para que tais funções sejam deriváveis, dentro do seu intervalo de utilização.
Na seqüência, apresenta-se o equacionamento do problema de operação de reservatório voltado para a geração de energia elétrica. Neste caso, utiliza-se uma função-objetivo que busca a maximização da energia média gerada ao longo do período de análise.
∑ ∑
=
= m ⋅
i
t i n
t
t i
n QT PRT Max
1
, 1
,
... (16)
sendo:
t i h t g t
i
g HB
PRT
,= . ρ ⋅ η ⋅ η ⋅ η ⋅
, (17) onde:PRTi,t = produtibilidade da usina i, no mês t em MW/m3/s.
Sujeito a:
- Continuidade:
[
it it it it]
itt i t
i VF QA QT QV QC K EV
VF, = ,−1+ , − , − , − , ⋅ − , (18)
Limites de armazenamento:
mês i t
i
i VF V
V min ≤ , ≤ max , (19)
Capacidade da usina:
i i t
i t
i QT PI ID
PRT, ⋅ , ≤ ⋅ (20)
Limites para vazões turbinadas:
i t
i
i QT QTmáxima
QTmínima, ≤ , ≤ , (21)
Limites para usos consuntivos:
i t
i
i QC QCmáxima
QCmínimo, ≤ , ≤ , (22)
Vazões não negativas:
t
QT
i, eQV
i,t≥ 0
(23)onde:
PIi = potência instalada da usina i em MW;
IDi = índice de disponibilidade de máquinas da usina i, que define a potência média disponível ao longo do tempo, descontadas as horas paradas para manutenção programada ou forçada e demais reservas.
As demais grandezas presentes nas eqs.(16) a (23) já foram descritas ao longo do texto.
A função-objetivo representada na eq.(16) é não-linear, pois PRTi,t é uma função não-linear do volume do reservatório e da vazão defluente. Para se obter o valor de PRTi,t, deve-se calcular a queda bruta média ao longo do intervalo t. Essa queda é obtida pela diferença entre o nível d’água do reservatório (nível de montante) e o nível d’água de jusante. O nível d’água do reservatório é calculado com base na sua curva cota x volume. O nível d’água de jusante é obtido a partir da curva-chave (relação cota-descarga) do canal de fuga da usina. Ambas as relações são representadas por equações não-lineares. O setor elétrico brasileiro adota, para representação dessas funções, polinômios de até quarto grau. O equacionamento a seguir demonstra claramente essas questões.
( )
[
it it it]
h t g t
i g NA NA NJ
PRT , = ⋅ρ ⋅η ⋅η ⋅η , + ,−1 /2− , (24)
4 , 3
, 2
, ,
1
,t 0i 1 it 2i it 3i it 4i it
i a a VF a VF a VF a VF
NA = + ⋅ + ⋅ + ⋅ + ⋅ (25)
4 , 3
, 2
, ,
1
,t 0i 1 it 2i it 3i it 4i it
i b b QD b QD b QD b QD
NJ = + ⋅ + ⋅ + ⋅ + ⋅ (26)
onde:
NAi,t = nível d’água do reservatório i, ao final do intervalo t;
NJi,t = nível d’água a jusante do reservatório i, ao longo do intervalo t;
a0i...a4i = coeficientes do polinômio cota-volume do reservatório i;
b0i...b4i = coeficientes do polinômio cota-vazão defluente do reservatório i.
Segundo Lopes et al. (2002), o equacionamento da relação entre a vazão máxima turbinada (QTmáximo,i) e a queda bruta (HBi,t) pode também ser representada por uma função polinomial análoga às eqs. (24) e (25).
Na resolução das equações do problema em questão, há um processo iterativo que envolve o cálculo da área média e do nível d’água médio do reservatório, ao longo do intervalo de tempo de cálculo. Para o cálculo dessas variáveis, o modelo deve conhecer os valores da área e do nível d’água no início do passo de cálculo. A solução global do problema de otimização deve atender a essas condições.
Além da função-objetivo apresentada na eq.(16), que visa a maximização da produção energética, existem outras formas de função-objetivo que podem ser empregadas no caso da otimização de sistemas hidrelétricos. Barros et al. (2003), apresentam além da função já citada, mais três formas alternativas para a função-objetivo, como segue:
Minimizar a perda da energia potencial armazenada:
( )
∑ ∑
= =
⋅ +
⋅
m
i n
t
t i i t i
i QT cv QV
ct Min
1 1
,
... , (27)
onde cti e cvi são, respectivamente, os coeficientes de ponderação para a vazão turbinada e a vazão vertida para o reservatório i. Para minimizar vertimentos adota-se um valor alto para cvi.
Minimizar a soma dos desvios quadráticos dos armazenamentos em relação a volumes-meta:
( )
∑ ∑
= =
−
m i
n t
t i t
i T
VF Min
1 1
2 ,
... , (28)
onde: Ti,t é o volume-meta para o reservatório i ao final do intervalo t.
Minimizar a energia vertida:
( )
∑ ∑
= =
⋅
m i
n t
t i t
i QV
PRT Min
1 1
,
... , (29)