a) Poderá Portugal afirmar-‐se como um país de articulação transatlântica, designadamente entre a Europa e o Norte de África e entre o Atlântico Norte e o Atlântico Sul, no quadro de um novo contexto de relações geoeconómicas intercontinentais?
b) Em que condições será possível a Portugal, através dos seus meios de segurança e defesa, assegurar, enquanto nação, e num segundo plano, enquanto Estado membro duma Aliança militar, o êxito duma estratégia de “safety and security” para o novo espaço atlântico sob jurisdição portuguesa?
c) Que estratégia de valorização das bases nacionais de ciência e tecnologia poderá garantir o pleno aproveitamento dos recursos oferecidos por uma plataforma continental estendida?
4. Formulação de Hipóteses
A nossa formulação de hipóteses decorre dum quadro conceptual e analítico que consideramos adequado, face à problemática geral em que se insere a tese e tendo em consideração a procura dum conjunto de respostas a um tempo reflexivas e outro tempo operacionais para as perguntas de investigação que anteriormente enunciámos.
Assim, entendemos como possível, no quadro dos conhecimentos actuais sobre a presente problemática (aquilo que em linguagem cientifica geralmente se designa por “Estado de Arte”) e tendo em consideração a necessária procura de respostas para as questões inscritas em tese, a seguinte formulação de hipóteses que irão nortear o nosso trabalho de investigação.
Enquanto em hipótese primeira assumimos que a extensão da plataforma continental portuguesa viabilizará um reforço da posição nacional no Atlântico Norte,
quer se trate da nossa participação em fóruns internacionais, quer no quadro de alianças associadas à defesa e segurança de interesses comuns, quer ainda no contexto do nosso posicionamento estratégico, a um tempo político e outro tempo económico, na geografia global marítima2021.
A nossa segunda hipótese de trabalho baseia-‐se no pressuposto de que Portugal assumirá um papel de relevo na articulação transatlântica entre a Europa, África Ocidental e o Continente Americano. Esta hipótese baseia-‐se na constatação de que três factores de natureza distinta irão concorrer para proporcionar a Portugal um posicionamento claramente favorável no futuro jogo das relações políticas e económicas no espaço Atlântico. Assim, o posicionamento do continente português (território europeu mais próximo, simultaneamente das três Américas) proporciona um leque de possibilidades geoeconómicas ditadas pela geografia. Por outro lado, Portugal desenvolve um quadro de Relações Internacionais valorizadoras de proximidades e cooperação com os conjuntos políticos dos continentes Americano e Oeste Africano, a saber, NATO-‐Estados Unidos da América (EUA), Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)-‐Brasil e Angola e Transatlantic Trade and
Investment Partnership.
A nossa terceira hipótese constitui um corolário lógico das afirmações anteriores e nela se plasma que Portugal poderá vir a constituir-‐se como uma das principais “Portas de Entrada” (Gateway) marítima da União Europeia. O redefinir das lógicas do transporte marítimo2223 associadas a mutações importantes das grandes infra-‐estruturas portuárias e de comunicação internacionais, de que o projecto “Panamax” assume papel de grande relevo, irá impor um conjunto de oportunidades de posicionamento estratégico nacional nas futuras grandes rotas de transporte marítimo. No entanto, importa assinalar que estamos perante um contexto de grande competitividade em que vai ser preciso “lutar” com as grandes infra-‐estruturas
20 Neste contexto ver Arco Atlântico, disponível em http://es.wikipedia.org/wiki/Arco_Atl%C3%A1,
acedido a 16 de Dezembro de 2014. 21
Ver por exemplo, documento Europa 2000+: Cooperation for European territorial development (Commission of the European Communities, 1994).
22 Não esquecer que a marinha mercante e a actividade basilar a ela associada “shipping” sempre
constituiu historicamente a projecção do poder económico e marítimo das nações.
portuárias do norte, que se preparam para essa situação há algum tempo. Assim, coloca-‐se a questão premente de desenvolver um conjunto de estratégias destinadas a conseguir mitigar o problema a que poderíamos chamar de “recuperar tempo perdido”. Será esta uma questão a monitorizar nos tempos mais próximos no quadro da política nacional de transportes marítimos e outras infra-‐estruturas associadas como as vias ferroviárias de serviço aos principais portos24.
Finalmente, não podemos esquecer que todo o conjunto de inter-‐relações económicas e políticas, que anteriormente se fez referência, se constroem e se concretizam no contexto de um determinado ordenamento jurídico. Assim, afirmamos, enquanto hipótese de trabalho, que o futuro ordenamento jurídico (aqui entendido na tripla dimensão, legislação internacional, legislação nacional e jurisprudência/doutrinal) será consentâneo com o correcto aproveitamento e valorização das actividades económicas baseadas no que podemos definir como “Cluster Marítimo” associado ao Atlântico sob jurisdição portuguesa.
Assumimos que a formulação das nossas quatro hipóteses de trabalho decorre duma perspectiva de afirmação duma estratégia assumida em termos nacionais baseada na optimização de um recurso económica, politica e culturalmente relevante, correspondente ao Oceano Atlântico. Assim, será duma resposta positiva às hipóteses acima descrita que dependerá a construção da capacidade portuguesa de, num quadro de segurança-‐estratégica, potencializar o aproveitamento multidimensional da plataforma estendida. Este processo implicará o reforço e valorização das actividades marítimas, uma definição adequada de políticas económicas potenciadoras do desenvolvimento nacional e uma eficaz defesa dos interesses geopolíticos fundamentais do nosso País.
A Figura 1 apresenta, de forma articulada, qual o quadro de referência que presidirá à construção da linha de raciocínio da nossa Tese. Em função de um problema/facto com elevado potencial de impacto geopolítico e geoeconómico, construímos quatro hipóteses de resposta para esse problema, a que aludimos em
24
Refira-‐se, a título de exemplo, a necessária articulação ferroviária entre o Porto de Sines e o centro da Península Ibérica.
parágrafos anteriores. Pretende-‐se, deste modo, uma visualização sintética-‐formal do quadro de hipóteses a testar no presente trabalho de investigação.
Figura 1 – Quadro de referência da Tese – Problema Central e Hipóteses de Resposta
Fonte: Elaboração própria
5. Posicionamento face às Relações Internacionais
É inegável que a sociedade globalizada continua a ver o consumo como um indicativo de progresso25, pois ele gera industrialização e, consequente, o crescimento e o desenvolvimento económico. Contudo, paralelamente àquele conceito (sociedade globalizada), tem-‐se vindo a colocar a premente questão ambiental no que respeita à intensidade de exploração dos recursos naturais disponíveis no planeta. Assim, desde 1973 com a publicação do famoso Relatório Meadows que são crescentes as preocupações com o possível esgotamento de recursos fundamentais para a comunidade humana. Não sendo a presente Tese um exercício de reflexão sobre o domínio fulcral da sustentabilidade, limitam-‐nos, neste ponto, a referir que após a edição do estudo acima referido, outros documentos, hoje amplamente conhecidos e