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Formulação da Lei de Adaptação Proposta

Considera-se a interface como uma região volumétrica localizada onde pode-se encontrar três diferentes tipos de materiais interfaciais (Figura 6.1). Claramente, esta região é uma camada fina com uma superfície normal muito bem definida providenciando um sistema local de coordenadas. Similarmente a Weinans et al. (1993), utiliza-se este sistema para definir o conjunto de equações constitutivas interfaciais que participarão da mistura que governará o comportamento mecânico do elemento de interface considerado.

As equações constitutivas são escritas diretamente em termos de forças nodais e desloca- mentos relativos (ver Capítulo 5), uma opção comum quando se trabalha com elementos de contato. Para o elemento interfacial bidimensional nó-a-nó, a região de influência é definida pelo comprimento e pela espessura dos elementos sólidos adjacentes ao nó considerado. As quantidades relativas (densidades) de cada tipo de tecido interfacial devem satisfazer:

αb+ αl+ αf = 1 (6.1)

com a força interna do elemento sendo composta como:

αbFb+ αlFl+ αfFf = Fint. (6.2)

onde os sub-índices b, l e f são empregados para indicar a relação constitutiva utilizada no cálculo de cada uma das parcelas da força interna. A Eq. 6.1 é válida quando αb = 1ou αl= 1

ou αf = 1, e para valores de 0 < α < 1 o composto dado pela mistura de diferentes tipos

de interface é considerado um sólido homogêneo com propriedades mecânicas proporcionais à fração volumétrica de cada um dos constituintes.

Capítulo 6 - Modelamento da Adaptação na Interface Osso-Implante 163

Por várias razões, após o procedimento cirúrgico, apenas uma fração da superfície da haste entra em contato com tecidos completamente mineralizados. O resto da superfície do implante toca diferentes tipos de tecidos (isto é, tecidos moles, gordura, ou sangue), todos com reduzida ou nenhuma capacidade de suporte de carga (Viceconti et al., 2001). Na presente proposta, esta situação inicial é modelada com uma condição de contato com atrito em toda a superfície porosa da haste. Esta condição reflete a não continuidade entre o substrato do implante e o tecido vizinho.

Considerando-se os processos de diferenciação tecidual que seguem esta fase inicial, para a evolução da fixação (lei de adaptação interfacial) propõe-se a imposição de um decaimento exponencial da quantidade de interface em contato com atrito, e emprega-se um critério biomecânico para decidir a direção de mudança da parcela diminuída (fibrogênese ou os- teogênese). Como para todo ponto da interface e para todo instante de tempo a soma αb+ αl+ αf = 1, a imposição de uma condição de diminuição gradual da quantidade relativa

de interface em condição de contato com atrito (αl) faz com que as quantidades de osso

interfacial colado (αb) e de tecido fibroso (αf) possam ser definidas por um único parâmetro

β:

αl+ αbf = 1 (6.3)

αb = βαbf (6.4)

αf = (1− β)αbf (6.5)

onde o parâmetro αbf refere-se a quantidade relativa do elemento disponível para evoluir

para fibra (αf) ou para osso colado (αb). A quantidade β é determinada através de um

parâmetro denominado estímulo para a osteogênese, M , o qual é calculado considerando-se os níveis de deformação mecânica aos quais cada elemento de interface é submetido após o carregamento, e a densidade aparente deste elemento. Então, o estímulo (M ) é introduzido como forma de considerar os intervalos dos processos biológicos que podem ocorre na interface osso-implante. Assim, para cada iteração no processo simulado, realiza-se uma avaliação do ambiente mecânico interfacial e, com base na densidade aparente e nos deslocamentos relativos tangenciais e normais de cada elemento finito da interface, faz-se a evolução das

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parcelas de tecido fibroso e osso interfacial para cada elemento. Conforme já apresentado, estudos experimentais têm mostrado que a formação de tecido fibroso é relacionada aos micromovimentos na interface osso-implante.

6.3.1

Critério biomecânico para osteogênese (β =1) e fibrogênese

(β =0)

O critério é baseado na Teoria de Diferenciação Tecidual proposta por Carter e colegas (Carter et al. 1988), segundo a qual células progenitoras que experimentam uma história de carregamento de baixa deformação de distorção e baixas tensões hidrostáticas compres- sivas são mais aptas em tornarem-se osteogenicas (formadoras de osso), assumindo-se um suprimento sanguíneo adequado. Entretanto, se o tecido reparado é exposto à deformações distorcionais excessivas, ocorrerá fibrogenese, ao passo que tensões hidrostáticas compres- sivas e baixa vascularidade resultariam em formação de cartilagem ou fibrocartilagem. A representação gráfica simplificada da hipótese de Carter é apresentada na figura 6.2. Nesta, as deformações distorcionais são representadas pelo valor absoluto dos deslocamentos tangen- ciais relativos (abscissas) e a ocorrência de tensões hidrostáticas compressivas é relacionada aos delocamentos normais compressivos (pressão de contato - ordenadas). Assim, os deslo- camentos relativos entre o implante e o tecido adjacente são adotados como a principal variável mecânica envolvida na diferenciação do tecido interfacial. O estímulo osteogênico (M ) é avaliado considerando-se os limites |UT max| e −UN max, de forma que um elemento in-

terfacial que experimentar deslocamentos relativos abaixo destes limites estará contribuindo para a formação de osso interfacial (β = 1), ao passo que para deslocamentos fora dos limites a direção de mudança tende para fibrogênese (β = 0). Nenhum estágio fibrocartilaginoso é considerado. Uma zona de transição é incluída em torno de cada um dos limites máxi- mos para suavizar a resposta do critério (ver detalhe da Figura (6.2)). Deslocamentos na direção normal que excedam o valor de penetração normal limite −UN max são entendidos

como detrimentais à interface, e portanto ocasionam fibrogênese.

Conforme apresentado anteriormente, a evolução da parcela em contato αl é imposta

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Figura 6.2: Representação esquemática do critério de osteogênese proposto.

αl(t) =−e−pt (6.6)

onde p é um fator que regula o grau de decaimento e t é o número da iteração atual no processo de remodelamento.

A evolução das quantidades relativas αb e αf é realizada com o emprego de um equação

de taxa para uma única variável:

˙β = (M − β) ν (6.7)

onde ν é um parâmetro relacionado com a taxa de evolução, introduzido para que não ocorram mudanças abruptas entre os diferentes tipos de tecido interfacial, e M é o estímulo considerado. Para deslocamentos relativos menores do que o limite máximo considerado em cada direção, o estímulo M assume valor máximo indicando o aumento de β (formação de osso).

Com isto, a atualização das variáveis controlando a evolução da condição de fixação osso-implante é dada por:

βk+1 = βk+ ˙β ∆t (6.8)

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αk+1f = (1− βk+1) αk+1bf (6.10)

onde k refere-se ao valor atual da variável considerada.

A lei de adaptação permite que, a qualquer momento durante a simulação do remodela- mento ósseo em torno da prótese, cada elemento de interface regule a razão de tecido fibroso e osso interfacial necessária para cumprir o critério de adaptação interfacial proposto. En- tretanto, a capacidade do osso interfacial em suportar esforços trativos e transmitir esforços compressivos e cisalhantes dependerá do conteúdo mineral que este tecido interfacial possui. Como, paralelamente a adaptação interfacial, encontra-se em curso o processo de remode- lamento periprotético, tem-se que a densidade dos elementos de interface variam de acordo com este último. Para contemplar esta ocorrência é proposto que, durante todo o curso da simulação, a rigidez da parcela óssea colada na interface seja dada como uma função da densidade óssea do elemento interfacial correspondente. Assim, acopla-se as mudanças adaptativas periprostéticas e a adaptação da interface.

As forças de um elemento de interface são definidas, para as direções normal e tangencial, como:

FN(μ) = αf FNf + αb FNb (μ) + αl FNl (6.11)

FT(μ) = αf F f

T + αb FTb (μ) + αl FTl (6.12)

Com isto, as forças normais e tangeniais da parcela óssea colada dependem (não linear- mente) dos parâmetros de rigidez kb

N e kTb que por sua vez dependem do nível de minerali-

zação em que este osso se encontra. Como este nível é definido pela densidade aparente μ da interface, propõe-se a seguinte relação:

kNb (μ) = μ n kbCortN , k b T(μ) = μ n kbCortT (6.13)

onde kbCortN e kbCortT referem-se à rigidez do osso cortical e n é um parâmetro da influência da

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