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Formulação da política educativa: Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 13/001)

Seção III – Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 13/01)

3.2. Formulação da política educativa: Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 13/001)

Formulação de políticas é, para Lasswell (1936), Ball (2006), Mainardes (2006), Viana (1996) e Dye (2008), o segundo momento da trajetória ou processo decisório de políticas; é o contexto no qual se produz o texto da política, que expressa o conteúdo sintético da demanda social, o sonho e as aspirações do povo, assuntos que ganham espaço e prioridade na agenda governamental; é o momento no qual se anexam às políticas legitimidade, transformando-as em dispositivos jurídico-legais que, posteriormente, passam a obrigar a todos.

O texto político formulado é, para esses autores, o resultado, a expressão viva das disputas, negociações e acordos decorrentes desse contexto, ―[…] pois os grupos que atuam dentro dos diferentes lugares da produção de textos competem para controlar as representações da política‖ (BOWE et al. apud MAINARDES, 2006, p.52).

Em resposta ao cenário educativo acima descrito, a 31 de Dezembro de 2001, a Assembleia Nacional de Angola aprovou a Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE) (Lei n.º 13/2001) – documento no qual está expressa a esperança, o sonho do povo angolano, relativamente à matéria de educação. Estabelece novas diretrizes, princípios e as racionalidades norteadoras da nova política. Recomenda e impõe a realização da segunda reforma educativa e curricular.

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Nesse mesmo âmbito, foi aprovado o Plano de Implementação progressiva do Novo Sistema de Educação – documento amparado pelo Decreto n.º 2/05 de 14 de Janeiro –, que estabelece a calendarização (cronograma) da transição do antigo sistema para o proposto.

A urgente necessidade de reformular o ensino em Angola também pode ser entendida, por ocasião das entrevistas realizadas para este trabalho, a partir das falas dos técnicos e gestores do Ministérios da Educação, os quais respondendo às perguntas da entrevista (Questão n.º1) informam que

Dentre vários motivos, temos: primeiro é que o sistema educativo anterior estava sob o modelo colonial de educação e não podia atender à realidade própria de Angola, além de não garantir maior cobertura à rede escolar, dando maior acesso às crianças ao ensino. Além disso, a situação político-militar impedia expandir infraestruturas escolares; o excessivo índice de analfabetismo, reprovação e evasão escolar reinavam no sistema. Por essa razão, o Ministério da Educação propôs a 2ª reforma do ensino, de modo que a demanda social fosse atendida. (GMED I).

Toda ruptura, quer política ou social, quer econômica, produz novos paradigmas de sociedade. As mudanças ocorridas no campo político e econômico angolano favoreceram a necessidade de reformar o ensino. O Governo adotou novas modalidades em função das mudanças que o país sofreu, de modo a adequar o sistema e os currículos à demanda atual do Estado angolano. (TMED II).

Uma reforma, em qualquer campo de atividade que seja, carrega esperança de dias melhores (Lessard, 1992).

Gestores e técnicos do Ministério da Educação veem a reforma vigente como um projeto sociopolítico que se manifestou com fim de superar as anomalias educacionais anteriormente expressas aqui. Sua esperança consiste em ver dias melhores no que tange a possibilidade de reverter o quadro de insucessos que a educação angolana acumulava desde a primeira reforma educativa (1978).

Expressam como motivos da reforma, para além de fatores estritamente educacionais, fatores que ensejaram a inflexão do rumo do sistema político angolano e da política econômica na década de 1990, fatores estes que estiveram na base da transição de Angola da experiência socialista para capitalista, cuja consequência resultou na construção de um novo projeto sociopolítico ou visão educacional, que hoje funda os programas curriculares vigentes.

Dessa forma, ambos, técnicos e gestores, veem a reforma vigente como uma verdadeira ruptura com o passado malsucedido, e projeção de um futuro melhor para a nação angolana. Essas duas dimensões (ruptura e projeção) estão presentes em toda reforma, conforme comenta Lessard (1992):

147 Enquanto projeto político, projeção num futuro em que uma coletividade escolheu e decidiu deliberadamente construir, uma reforma está também definida na sua relação com o passado: um passado que dever ser contestado, que não aparece como algo a ser mantido intacto, mas percebido como algo que deve ser modificado pois imperfeito, como algo que perdeu o vigor e sentido, demonstrando rigidez e inadaptações. Assim entendido, uma reforma pretende modificar o eixo de um sistema, perturba a ordem das coisas, mas não completamente. (LESSARD, 1992, p.44-45).

Podemos ver que a reforma educativa vigente carrega esperança e sonhos de que as coisas melhorarão em Angola. É em nome dessa esperança que os formuladores da política, assim como os agentes da prática e a sociedade em geral passam a dar adesão e mobilizam-se a favor da proposta.

Em virtude da nova legislação educacional, a educação em Angola passou a organizar-se da seguinte forma:

Quanto aos objetivos, a educação deve:

(1) desenvolver harmoniosamente as capacidades físicas, intelectuais, morais, cívicas, estéticas e laborais da jovem geração, de maneira contínua e sistemática e elevar o seu nível científico, técnico e tecnológico, a fim de contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do país;

(2) formar um indivíduo capaz de compreender os problemas nacionais, regionais e internacionais de forma crítica e construtiva para a sua participação ativa na vida social, à luz dos princípios democráticos;

(3) promover o desenvolvimento da consciência pessoal e social dos indivíduos em geral e da jovem geração em particular, o respeito pelos valores e símbolos nacionais, pela dignidade humana, pela tolerância e cultura de paz, a unidade nacional, a preservação do ambiente e a consequente melhoria da qualidade de vida;

(4) fomentar o respeito devido aos outros indivíduos e aos superiores interesses da nação angolana na promoção do direito e respeito à vida, à liberdade e à integridade pessoal;

(5) desenvolver o espírito de solidariedade entre os povos em atitude de respeito pela diferença de outrem, permitindo uma saudável integração no mundo. (LBSE, 2001, p.3).

São definidos como princípios da educação:

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(a) integridade, ―pela correspondência entre os objetivos da formação e os de desenvolvimento do País e que se materializam através da unidade dos objetivos, conteúdos e métodos de formação, garantindo a articulação horizontal e vertical permanente dos subsistemas, níveis e modalidade de ensino‖ (LBSE, Art. 4º);

(b) laicidade, pela sua dependência de qualquer religião (LBSE, Art. 5º);

(c) democraticidade, referindo-se ao igual direito ao acesso e frequência aos diversos níveis de ensino e de participação democrática na resolução dos problemas da sociedade (LBSE, Art. 6º);

(d) gratuidade, assegurando a isenção de qualquer encargo escolar para o ensino primário (Ensino Normal e de Adultos) (LBSE, Art. 7º);

(e) obrigatoriedade do ensino primário normal (LBSE, Art. 8º).

Quanto à estrutura, conforme estabelece a LBSE, a educação realiza-se em três níveis, a saber: (1) primário; (2) secundário; e (3) superior. O processo educacional realiza-se numa estrutura organização da seguinte forma:

a) Subsistema de Educação Pré-escolar;

b) Subsistema de Ensino Geral;

c) Subsistema de Ensino Técnico-Profissional;

d) Subsistema de Formação de Professores;

e) Subsistema de Educação de Adultos;

f) Subsistema de Ensino Superior.

A educação pré-escolar realiza-se numa estrutura definida em dois ciclos:

a) creche;

b) jardim infantil.

Subsistema de Ensino Geral. Constitui o fundamento do sistema de educação. Tem por objetivo conferir uma formação integral, harmoniosa e uma base sólida para o prosseguimento dos estudos para outros níveis. Estrutura-se em:

1) Ensino Primário – compreendendo as seis primeiras classes (1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª classes);

2) Ensino Secundário – subdividindo-se em 1º ciclo, compreendendo as 7ª, 8ª e 9ª classes. O 2º ciclo do ensino secundário compreende as 10ª, 11ª e 12ª classes.

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Subsistema de Ensino Técnico-Profissional. Este tem por missão a formação técnica e qualificada de quadros em diversas áreas do conhecimento e da demanda profissional, garantindo uma vasta gama de especializações em nível da educação básica.

Compreende:

a) Formação Profissional Básica;

b) Formação Média Técnica.

A formação técnico-profissional básica ocorre após a 6ª classe, ou seja, após a conclusão do ensino primário, enquanto que a formação médica técnica, realização após a 9ª classe, podendo também ocorrer após a 12ª classe, de acordo com a necessidade específica de especialização.

Subsistema de Formação de Professores. Este subsistema encarrega-se a formar docentes para a educação pré-escolar e para o ensino geral, nomeadamente a educação regular, a educação de adultos e a educação especial. Estrutura-se em:

a) Formação Média Normal, realizada em escolas normais, após a 9ª classe.

b) Ensino Superior Pedagógico, ocorre nos institutos superiores de ciências da educação (ISCEDs).

Enquanto que a formação média encarrega-se a preparar professores de nível médio, capacitando-os para o exercício das atividades pedagógicas na educação pré-escolar, no ensino primário (educação regular, de adultos e educação especial), a formação superior pedagógica destina-se à formação de nível superior, com atuação no ensino secundário ou outros níveis de educação geral e pré-escolar.

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Subsistema de Educação de Adultos23. Este subsistema, pela natureza de seus beneficiários, visa, principalmente, a recuperação do atraso escolar (LBSE, Art.31º). Realiza-se em locais oficiais e não oficiais como unidades militares, estabelecimentos religiosos, escolas polivalentes, escolas particulares, unidades corporativas e associações agro-silvo-pastoris. Integra tanto adolescentes com 15 anos de idade, que tenham tido atraso escolar, como jovens e adultos maiores de 15 anos de idade que, devido às circunstâncias de que o país viveu, não tiveram oportunidade de escolarizar-se.

A educação de adultos estrutura-se em:

a) Ensino Primário, que compreende a alfabetização e a pós-alfabetização;

b) Ensino Secundário, compreende os 1º e 2º ciclos.

Subsistema de Ensino Superior. Este tem por objetivo primordial a formação de quadros de alto nível para os diferentes ramos de atividade econômico e social do País;

assegurar uma sólida formação científica, técnica, cultural e humana (LBSE, Art. 35º).

Quanto à estrutura, o ensino superior compreende os seguintes níveis:

a) Graduação, compreende modalidades como bacharelado e licenciatura24.

b) Pós-graduação, comporta as modalidades de graduação acadêmica e pós-graduação profissional25.