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A INSTITUCIONALIDADE DO MICROCRÉDITO E OS DESAFIOS DE

2.2 Fortaleza e o enfrentamento da pobreza e desemprego

Com uma realidade semelhante a outras capitais nordestinas, Fortaleza é alvo dos impactos da urbanização, provocada, sobretudo, pela migração campo-cidade, ocasionando o agravamento das questões sociais e demandando forte intervenção do poder público e da sociedade.

Segundo dados censitários (IBGE, 2003), a população do Município de Fortaleza está quantificada em torno de 2.141.402 habitantes. Destes, o maior número é de pessoas com faixa etária de 10 a 19 anos, num total de 454.927; em seguida, a população com idade entre 20 e 29 anos: 400.640 pessoas; em terceiro, o intervalo de idade de 30 a 39 anos, alcançando uma totalidade de 339.951 habitantes; e, finalmente, 945.884 pessoas que se distribuem nos outros espaços etários, numa proporção menor do que as anteriormente citadas.

Segundo informações contidas no Plano de Governo do Estado (2003/2006), o Município de Fortaleza ocupa 6,3% do espaço da Região Metropolitana de Fortaleza – RMF, abriga atualmente, da região metropolitana, cerca de (71%) de sua população, e concentra cerca de 62% do PIB estadual. 86% de sua arrecadação de tributos absorvem aproximadamente 855 dos empregos oferecidos na região metropolitana.

Em se tratando das vocações e potencialidades específicas do Município, os setores que mais se sobressaem são: o comércio, a indústria e os serviços. Fortaleza tem um comércio bastante atuante e diversificado, que se assemelha à realidade de alguns dos grandes centros do País, uma vez que além do comércio do centro da Cidade, cresceu bastante a quantidade de shopping centers, polarizados em diversas regiões da capital. A comercialização de produtos artesanais tem ainda boa expressão no Município. Tanto governos locais (Prefeitura e Estado) como iniciativas da sociedade civil (ONG´s, associações de bairros, cooperativas) apostam na revitalização da produção artesanal, seja por suas perspectivas como fonte de ocupação, trabalho e renda, seja por tornar mais evidente a cultura local.

Já a produção industrial centra-se nos ramos de vestuário, calçados, artefatos de tecidos, couros e peles, alimentos, extração e beneficiamento de minerais não metálicos e produtos têxteis.

O turismo se destaca como atividade de grande crescimento, desde meados dos anos 1990. Segundo informações contidas no site da Prefeitura Municipal, a demanda turística via Fortaleza aumentou, em média, no período de 1995 a 1999, 16,5% ao ano. Os reflexos desse dinamismo fazem-se sentir positivamente na indústria hoteleira, nos prestadores de serviços de alimentação, transporte e diversão e nos produtores e comerciantes de artigos regionais e de artesanato, e no turismo, o segmento segundo dados oficiais que mais enseja emprego e renda.

A tendência de crescimento ora apresentada oficialmente, porém não contribui significativamente para amenizar os altos índices de desemprego no Município de Fortaleza os quais, praticamente dobraram nos últimos nove anos. Em janeiro de 1994, o percentual

era de 9,53%, no período da pesquisa esse percentual quase dobrou, atingindo, em média, 18,3%. CEARÁ - (SINE/IDT 2001).

Dados do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho – IDT (Agosto/2004) expressam que a taxa de desemprego, em Fortaleza, passou de 18,61% em abril/2004, para 18,21% e 16,84% nos meses de junho e agosto, respectivamente, registrando, nesse ultimo mês, o menor contingente de pessoas em busca de trabalho, desde março do referido ano.

Obviamente, não é possível desarticular os dados dos problemas sociais enfrentados pelo País e as conseqüências de tal conjuntura no Município de Fortaleza, por exemplo, as questões relacionadas com a problemática do desemprego, que gera novas formas de exclusão, em decorrência principalmente de dois fenômenos que marcam o mundo do trabalho na sociedade contemporânea: o aumento do desemprego estrutural associado a precarização do trabalho. A ocupação no Brasil ficou mais escassa, mais precária, menos segura, mais informal e, quase como ironia, mais escolarizada31. Em Fortaleza, assim como na maioria das capitais brasileiras, o trabalho seguro com carteira assinada e com proteção de riscos e contingências sociais está cedendo lugar para ocupações terceirizadas, autônomas, temporárias, instáveis e de baixa remuneração, impulsionando o microcrédito como uma das primeiras referências estratégicas para amenizar esses efeitos sociais e contribuir com o desenvolvimento sustentável.

Na perspectiva de Torneto Jr e Braga (1999), “o mercado de crédito pode não estar cumprindo eficientemente seu papel de indutor do desenvolvimento, pois não tem alcançado o principal público para o qual está sendo direcionada a respectiva política”, além ainda de perdurarem preceitos imbricados na noção de crescimento econômico.

Na sua mais elevada forma de “inserção no mundo do trabalho”, o microcrédito para geração de trabalho e renda fomenta a economia informal, em que um significativo campo de relações econômicas se estabelece, em meio à “alegalidade”32 ante a ordem capitalista vigente, subvertendo-as e se expandindo em redes, ensejando a excluídos do capital a incorporação no processo produtivo e de consumo, que, segundo Mance (1999, p.34), “poderá fortalecer-se ao ponto de avançar em transformações não apenas econômicas, mas políticas e culturais que extrapolem as fronteiras regionais e nacionais, promovendo o surgimento de novas relações de produção pós-capitalistas – uma sociedade centrada na colaboração solidária”.

Vive-se nos dias atuais o desdobramento de uma nova fase da globalização capitalista, uma vez que o desenvolvimento das forças produtivas em consonância ao desenvolvimento tecnológico, legitimado por novas descobertas científicas, provoca novas alterações nas relações de produção, fato este visivelmente posto pela iniciativa dos milhões de excluídos que passam a criar relações produtivas em que o trabalho assalariado é paulatinamente reduzido.

A visibilidade da ação governamental quanto à oferta de programas de crédito como iniciativa do Governo do Estado do Ceará, ainda é muito incipiente. Somente a partir de meados de 2005, algumas ações se consolidam como resultados. Conforme já citado evidencia-se a experiência do Projeto Crédito Empreendedor, que implica na oferta de pequenos créditos voltados para o capital de giro e investimentos, incentivando, desse

32 Termo utilizado por Pochmann para conceituar pessoas ou empreendimentos que estão configurados na informalidade e que não estão na legalidade porque a legislação não responde as suas necessidade e não estão na ilegalidade porque não existe uma legislação que os ampare.

modo, pessoas com potencial produtivo a se inserirem no mercado de trabalho, e o Programa Credito Jovem, concebido pela Prefeitura de Fortaleza, em 2005, como política direcionada à geração jovem, via oferta de pequenos créditos.

Além de iniciativas governamentais, existe ainda um percentual bastante representativo de projetos e programas de microcrédito ofertados por organismos não governamentais, como ocorre com o Banco Palmas, o CEARAH Periferia, a Visão Mundial e a FUNDESOL, dentre outros. Essas instituições atuam diretamente com a população periférica, que não tem acesso ao sistema financeiro regulado pelos bancos oficiais.

Diante de todo esse quadro, fica evidente o fato de que os elos entre pobreza e desigualdade social exigem, para a sua superação, o investimento em enfoques diferenciados e combinados de ações de desenvolvimento orientadas para o futuro. É esse sentido que leva a uma revalorização do local como espaço para a integração de políticas públicas sob uma perspectiva de sustentabilidade, visando à criação e consolidação de padrões alternativos e inovadores de desenvolvimento.

FIGURA I

MAPA DO MUNICIPIO DE FORTALEZA POR